Tempo de leitura: 3 minutosRicardo Ribeiro
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Sem querer desprezar a nossa história (que tantas vezes parece “da carochinha”) nem enxovalhar os heróis desta pátria amada, mas – “ainda que nos precipitem”, como diz o escritor Jorge Araújo – a verdade é que este feriado de Tiradentes não passa de mais uma das muitas patacoadas que os brasileiros engolem sem entender direito o que estão fazendo.
Muitos comemoram, é claro, a folga, a oportunidade de fazer aquela visita ao boteco e tomar uma cerveja gelada. Afinal, é feriado, dia em que quase ninguém vai pegar no batente e muito menos ver a cara do chefe. Saber o porquê dessa moleza é o que menos importa, um detalhe bobo e insignificante. O importante é o benefício, pensar no sentido das coisas dá muito trabalho.
Pô, calma aí, Tiradentes não era Lula, mas foi “o cara”. Lutou contra a opressão de Portugal, foi martirizado, esquartejado, teve o corpo exposto. Claro que ele não tinha um projeto de libertação nacional, seus sonhos mal ultrapassavam as fronteiras de Vila Rica. O movimento liderado por Tiradentes (que depois entrou para a história com a imprópria nomenclatura de Inconfidência Mineira) queria mesmo era impedir que um quinto do ouro de cada dia dos exploradores das Minas Gerais fosse tungado pela coroa portuguesa. Bandeira legítima, por certo.
Tiradentes – o alferes Joaquim José da Silva Xavier – não pleiteava a independência do Brasil, mas tão somente de Minas, e defendia a manutenção da escravatura para os cativos que não tivessem nascido no país. Finalmente, o grande mártir da “Inconfidência” queria criar uma nação sem exército, mas onde todos os cidadãos pudessem pegar em armas e ser eventualmente convocados para formar milícias. Em suma, um faroeste nas Alterosas.
Tudo bem, deixa Tiradentes pra lá, com aquela barba improvável (na cadeia, faziam barba, cabelo e bigode do sujeito para evitar os piolhos) e sua figura cristianizada que nada prova guardar a mínima semelhança com o original. A pendenga aqui não é com o mártir que foi traído pelo Judas… digo, Joaquim Silvério dos Reis, o “fidumaégua” que virou “fidalgo”… A bronca é com mais um feriado, mais prejuízo a esse país que já vive há muito tempo de brisa e pindaíba.
Revejo matéria de novembro do ano passado, que traz um dado da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan). É o seguinte: cada feriado dá à pátria amada um desfalque de R$ 13 bilhões, o que resultará em preju de pelo menos R$ 143 bilhões neste ano de 2009, quando 11 feriados nacionais ocorrem em dias úteis.
Calma, ainda falta contar dia de santo padroeiro, dia da cidade e por aí vai… É uma farra na qual nenhum governo jamais pensou em mexer, até porque o brasileiro típico prefere a elevação dos juros, do spread bancário, da alíquota dos impostos, mas faz favor, não bole na feriadolândia que é briga feia!
A propósito, 22 de abril é Dia da Mandioca, mas ainda não virou feriado. Ainda! Está na hora de algum deputado federal baiano tirar os glúteos da cadeira e propor essa justa homenagem à matéria-prima do produto que os conterrâneos amam de paixão. Dia da Mandioca – Feriado Nacional. E que tudo acabe em farofa!
Ricardo Ribeiro é um dos blogueiros do Pimenta.