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Gerson Marques
Quase quinhentista, nossa Ilhéus amada segue sua sina de terras do sem fim, outrora pacata e pacífica, vive hoje as voltas com a violência, com o desemprego e com uma enorme pobreza. Já não ostenta mais o propalado título de Princesinha do Sul, já não é mais a capital mundial do cacau, nem mesmo a mais importante cidade do interior da Bahia. A Ilhéus deste início de século perdeu sua identidade, vive uma crise de personalidade e busca um rumo sem saber bem pra onde, foi-se uma era sem que outra tenha iniciado.
Não é fácil viver nestes tempos de transição. Pior ainda é viver sem saber para onde transitamos. Onde estão os planos? Qual é o projeto? Como será a Ilhéus de 2036, amanhã, quando faremos quinhentos anos? Não sabemos nem como será a Ilhéus de 2014, ano que o Brasil será sede de uma Copa do Mundo.
Fácil é dizer como é a Ilhéus de hoje, com sua paralisia criativa, sua inércia administrativa e sua indolência política e cultural. A Ilhéus pós-moderna não tem rumo, não tem face, nem tem alma. Vivemos em um clima asfixiante dominado pela obviedade ululante, irmã-gêmea da mesquinhez intelectual e da mediocridade coletiva.
É completa a ausência de planejamento e de visão estratégica. Não existe neste momento no poder publico municipal um só documento, nem mesmo uma só iniciativa que vise traçar um plano mínimo que seja para o futuro, nem para um futuro próximo, logo ali.
Dias destes o prefeito veio a público informar que o governo parou por falta de recursos. Mostrou planilhas, destilou números e praguejou da sorte. Assim ficamos sabendo que a febre de obras que inundou a cidade nos meses de agosto e setembro do ano passado, o tal do feijão com arroz, foi fruto de uma negociação ainda mal explicada, envolvendo a venda das contas bancárias do município…
Alguns milhões jorraram, os marqueteiros de plantão maquiaram e o povo engoliu a farofa. Elegemos um governo que parecia saber trabalhar, é verdade, mas somente quando tem dinheiro.
O problema é que ter dinheiro não é nossa realidade, a exceção às vésperas de uma eleição não passou de crime eleitoral, manobra eleitoreira bem engendrada que verteu em resultados nas urnas e grande prejuízo para a cidade, avalizados infelizmente por uma justiça leniente. Agora que chegou a hora da verdade, o que vemos? Lamúrias, lamúrias, lamúrias.
Triste Ilhéus, que sina cruel, que página negra de sua historia estamos a viver, onde andará a energia criativa de Misael Tavares, a praticidade de Mário Pessoa ou a inteligência de Eusínio Lavigne? Por que seus filhos não aprenderam a lição?
Qualquer mente um pouco mais inteligente sabe que na crise crescem os que vendem lenços. Nossos governantes optaram por chorar, terão que comprar lenços. Outras cidades em que as lideranças não enganaram seu povo para vencer as eleições estão aí a vender os seus. Basta ir a Vitória da Conquista e observar como é administrar em crise, com planejamento, transparência e apoio popular.
Ou melhor, é só observar a perspicácia do presidente Lula, que em nenhum momento lamentou a crise que quase inviabiliza seu sétimo e precioso ano de governo. Quantas iniciativas foram tomadas, quantas ideias inovadoras Lula tirou da manga da camisa, sempre criativo, quanta energia positiva soube ele passar para o Brasil.
Enquanto isso, paralisado, envergonhado e incapacitado, nosso prefeito vive a chorar milongas e a expressar em faniquitos frequentes sua inépcia para administrar em crise, além de sua incapacidade para enfrentar o adverso, é useiro e vezeiro em ameaçar demitir-se, uma chantagem emocional chula, própria dos fracos.
A Ilhéus de hoje, neste mundo pós-moderno, não pode viver aos sabores dos ventos, sem um plano de voo, sem projetos e sem objetivos. Sou dos que acreditam que o papel de um líder é liderar. Falar que estamos em crise e mostrar números para justificar o buraco são sempre saídas fáceis. Difícil é mostrar os caminhos, é apontar a direção é puxar para si a responsabilidade de conduzir, assim como tem feito Lula. É para isso que servem os líderes.
Todavia, não sou de perder meu sono, sei que outra Ilhéus é possível, ela existe, sei de uma Ilhéus bafejada pela sorte, riquíssima em alternativas, dona de possibilidades diversa e próspera em todos os sentidos, nossa cidade tem um futuro que nem nós mesmo sabemos dimensionar, como diz Paulo Coelho, quando o universo conspira a favor nada pode nos vencer, nem os mais pessimistas.
Não tenho dúvidas, a Ilhéus de amanhã será muito melhor que a de hoje.
No entanto, enquanto amanhã não chega o jeito é tentar sonhar na escuridão desta noite chamada mentira.
Até amanhã Ilhéus…
Gerson Marques é consultor de turismo.