Tempo de leitura: 3 minutos

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Edgard Freitas | edgardfreitas_dm@hotmail.com

Ontem, quando cumpria minha cota diária de leitura do Pimenta na Muqueca, me deparei com um texto assinado pelo professor Gustavo Haun, onde o mesmo traçava considerações sobre supostos “grupelhos” civis. Terminada a leitura, só pude suspirar e questionar: Cuma?

Perdoem o latinório, mas o texto inteiro é um non sequitur. Trata-se de uma modalidade de falácia lógica, na qual as premissas elencadas não correspondem às conseqüências assumidas.

No caso concreto, se bem entendi, o professor questiona a utilidade da existência de tais grupos dedicados à discussão política, os quais, desvinculados da práxis concreta de sindicatos e “movimentos sociais”, não passariam de mera masturbação ideológica.

Neste sentido ele cita a conivência da sociedade brasileira com o regime militar e o fatos de poucos terem pego em armas para lutar “pela liberdade” para, em seguida, acusar os membros destes grupos de serem direitistas, de estarem a contramão da História, de quererem mamar nas tetas da Viúva, e de planejarem orgias com Whisky, Cocaína e putas, “à la”(sic) Berlusconi. Não fica claro, entretanto, se a raiva dele vem do fato de os grupos proporem discutir a política local, ou se por que seus membros seriam “direitistas”.

Pois bem. A formação de grupos civis dedicados à interpretação da realidade, ao contrário do que diz o professor Haun, não é coisa nova. A Academia grega era formada por grupos de aficionados por política & filosofia, volta e meia entregues à farra. Mais recentemente, as Revoluções Americana e Francesa não ocorreram senão após longos anos de maturação intelectual, em tavernas e salões literários.

Atualmente, os think tanks são muito comuns em países como os EUA, e são eles que fornecem os dados indispensáveis para subsidiar a discussão política séria. Se foi criado um grupo civil para pensar e discutir a cidade, ótimo, estamos precisando mesmo refletir sobre Itabuna.

A primazia da reflexão sobre a ação é a base de uma evolução política sustentável. Seu antípoda, preconizado por Karl Marx na sua 11ª Tese sobre Feuerbach, foi a mola mestra para o império de terror gerado pelos movimentos revolucionários marxistas em países como Cuba, China, Coréia, Albânia (todos países espelho e patrocinadores de Lamarca, Marighella e sua patota).  A falta de diversidade nas discussões políticas, e a própria pobreza destas discussões, preteridas em prol da ação, é uma das causas da miséria política de hoje.

Quanto à acusação de eles serem “da direita”, todas as premissas ocultas e explícitas na peculiar definição de direitista do professor Haun caem por terra.

Primeiro, pelo óbvio: O fato de alguém estar politicamente à sua direita não o torna ipso facto direitista. Lula está à direita de Heloísa Helena, mas nem por isso é direitista. Serra está à direita de Lula, mas a social-democracia é uma doutrina de centro esquerda. Mesmo o finado PFL abriu mão do seu direitismo em prol da nova roupagem sem sal “democrata”, explicitamente inspirado no Partido Democrata americano. Os direitistas brasileiros, se ainda existem e resistem, pontilham aqui e ali, sem um partido que realmente tenha coragem de defender o ideário básico da direita tradicional.

Entrementes, ainda que estas pessoas fossem direitistas – e não o são, conheço muitos deles pessoalmente – isto, em si, não significa nada de necessariamente desabonador. Afinal, direitista não é mais patrimonialista ou apegado a cargos que o gauche. Ao contrário, em matéria de aparelhamento do Estado, a esquerda é hors-concours, seguindo a estratégia de ocupação de espaços preconizada por Gramsci.

Mais a mais, por acaso direitista é herege, merecedor da fogueira santa da revolução?

Enfim. A crítica do professor Haun não se amarra. Ele não demonstra, sob nenhum aspecto lógico, qual o mal em si do movimento que pretende criticar, ou qual o nexo da ditadura militar com uma OSCIP de hoje, ou como ligar um bate papo com cerveja a Berlusconi, Evo ou Chávez. Seu texto limita-se a uma verborragia de clichês políticos subginasiais para passar a impressão de crítica embasada.

Edgard Freitas é advogado e blogueiro em Itabuna

www.febeajus.blogspot.com

0 resposta

  1. A crítica do Professor Haun, volta a baila através de Edgar Freitas, que faz uma análise pertinente. Também achei meio desconexa a posição do professor e com todo o respeito aos seus dizeres, ao findar a leitura dos mesmos, veio de imediato a minha memória um filme de bastante sucesso com o sugestivo título: “O PROFESSOR ALOPRADO”.

  2. Parabêns! no popularesco, sem a menor intenção de (desfilar sua intelectualidade na passarela do Pimenta) vc quis dizer: que o professor Haun apenas largou no texto um punhado de palavras rebuscadas, ” um espasmo de erudição” que não acrescentam absolutamente nada a intrincada realidade politica brasileira!!

  3. Entendo as colocações do advogado.
    Do mesmo modo as do professor.
    Prefiro me apegar à ideia central do professor ao discurso prolixo e rebuscado do advogado.
    No meu humilde entender, vejo que a suposta intenção de discutir a política grapiúna mascara segundas intenções. A composição da mesa era de pessoas sem qualquer envolvimento social com a cidade. Jamais os vi empenhados em qualquer trabalho social que beneficiasse nossa mal-tratada Itabuna. Mas, fartamente os encontro nos vis bastidores da politicagem, na tentativa infame de garantir o famoso “osso” ou a “teta”, que muitos ali presentes estão agarrados. Em terra onde moral é escassa o belo discurso é importante, mas o exemplo é ainda melhor!

  4. Pois eh Edgard, o “professor” Haun, esqueceu de seguir a lição preconizada por seu Avô, o saudoso Elieis Haun de q,antes de se atacar alguém ou alguma ideia, se deve verificar q ideia é esta.
    o “professor” Haun, da forma como “mal-redigiu” seu texto, esta mais para quem, por incomodado por não ter sido convidado, lança verborragia para tentar desqualificar algo q não entende, não tem a coragem ou não sabe como defender, q é a transformação através da discussão de ideias.
    Parabéns, não apenas pelo texto elucidativo, mas por defender a ideia de que Itabuna merece e deve ser pensada e repensada.

  5. Olha, Olha…,

    Parece que o nobre advogado Edgar Freitas virou juiz sem ser…
    Tal análise osfuscada de sua própria ideologia liberal e de direita em decadência no Brasil derrama-lhe comentários opositores a verbalização de Haum.

    Capacidades discertativas a parte do dois autores, o importante aqui é o debate, que por hora se transformou em debate de idéias.

    A crise da direita perante a ação do estado através da esquerda está mudando até conceitos clássicos e deixa os homens do “campo idelógico” sem ação e sem oção.

    Att.
    Dias

  6. Vamos ver no que vai dar essa reuniao de defensores de Itabuna. Só o tempo dirá se terá algum resultado prático ou somente reunião de blablabla.

  7. Concordo com as idéias que o Chico defendeu de forma prática e coerente! O professor acertou, em toda sua atacada verborragia, pois nunca vi os supostos defensores da cidade pondo em prática algo para melhorar a situação da esmagadora parcela da população de nossa terra, esquecida e tão somente lembrada na hora da necessidade eleitoral. Onde estão os sábios pensadores e/ou opositores das idéias atacadas pelo advogado quando a cidade passa fome, ou fica sem remédios para seus doentes? Onde estes, quando a educação é tratada com descaso e a população feita de massa de manobra (por não serem ensinados a pensar)? Discordo muito do comunismo fisiologista, MAS TAMBÉM TEMO PELA SITUAÇÃO DO NOSSO PAÍS APÓS AS PRÓXIMAS ELEIÇÕES, onde os ficaram sem mamar por oito anos estarão ávidos por secar o leite da mãe gentil!! Pelos menos, desejo que o intento de nossos irmãos mais afortunados seja realmente o de ajudar os menos favorecidos (em todos os sentidos), e que, em sendo esta a vontade, se cumpra pelo menos a conta-gotas, pois até assim já seria de grande ajuda!!

  8. Caramba!
    Não percebi que discutir a situação de hoje de nossa terra, para que possamos planejar um futuro no qual não seja preciso que os nossos jovens tenham que deixar Itabuna para que possam ter oportunidades seria um problema. Pessoal, o Sr. Gustavo Haun ou não vive em Itabuna ou quer se iludir de uma realidade que não existe, ou seja, quer tapar o sol com a peneira. Porque não discutir nossa cidade? Se existem pessoas que tem interesse em realizar tal discussão só quem tem a ganhar é a sociedade, ou não?

    Sr. Edgar parabéns pelo texto e pela coragem de rebater tal asssunto.

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