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Daniel Thame | danielthame@gmail.com

Uma foto, às vezes, “fala” mais do que mil, milhões de palavras.

Em sendo assim, o que acrescentar à foto do repórter Oziel Aragão, que mostra duas adolescentes, de 14 e 16 anos, se prostituindo no viaduto Paulo Souto, no trevo entre a BR 101 e a BA 415? (Veja aqui)

Tirando essa maldita mania bajulatória de se dar nome de políticos vivos a pontes, viadutos, prédios públicos e quetais, verdadeira praga nacional, a foto revela justamente a ausência do poder público, a histórica inoperância dos nossos governantes para combater essa outra praga: a exclusão social.

Pode parecer ingênuo ou piegas, mas se houvesse menos investimentos em viadutos, pontes e prédios faraônicos que alimentam a vaidade de quem lhes empresta o nome e, não raro, engorda dos bolsos de quem patrocina a obra; e fossem injetados mais recursos em educação, saúde, esporte e geração de empregos, muito provavelmente essas duas jovenzinhas não estariam ali, sob o viaduto, comercializando o corpo e a alma.

As duas meninas captadas pelas lentes de Oziel Aragão, se prostituindo em troco de 5 ou 10 reais, submetidas a humilhações, constrangimentos e muitas vezes agressões físicas; se multiplicam em viadutos, postos de gasolina e restaurantes ao longo da BR 101 e em outras rodovias brasileiras.

São centenas, milhares delas, num desfile de corpos desde cedo marcados pela brutalidade. Meninas-moças precocemente transformadas em mulheres sofridas, sem presente e sem perspectiva de futuro.

Jovenzinhas que deveriam estar na escola ou em atividades de esporte e lazer, lançadas à incerteza das estradas da vida.

Empurradas para a prostituição pela fome, pela desestrutura familiar e, conseqüência natural, pela necessidade de manter o vício das drogas.

As duas meninas sob o viaduto Paulo Souto vendem o corpo não apenas para saciar a fome, comprar roupas e perfumes baratos e eventualmente ajudar no sustento de famílias paupérrimas.

Elas oferecem ao primeiro que aparece por uma quantia irrisória também para comprar crack, essa bomba-relógio de efeito devastador.

É como se a uma tragédia pessoal se acrescentasse outra, mais outra e mais uma outra, compondo a tragédia coletiva da prostituição infanto-juvenil.

Pena que fotos que falam por mil palavras e palavras que tentam acrescentar o que as fotos falam, por mais que despertem compaixão e/ou indignação, não sirvam para mudar a vida das duas garotas do viaduto.

Por que isso não depende de compaixão ou indignação, mas de ação.

Na prática, sempre haverá gente interessada em construir mais viadutos, mais pontes, mais prédios suntuosos.

Quanto às meninas do viaduto e suas colegas de infortúnio, bem, elas que se fodam!

Daniel Thame é jornalista e blogueiro

www.danielthame.blogspot.com

0 resposta

  1. Zelão Alerta: – Retrato Ampliado

    Caro Companheiro “Danié”;

    Mesmo estando em acordo com a máxima jornalística de que “uma foto fala mais que mil palavras”, diria, que as palavras usadas por voce nesse artigo (como ademais em muitos outros) são um complemento válido e que não interferem nem negam a dura realidade exibida na foto de Oziel Aragão.

    Me permita, no entanto, tentar incluir na foto e no comentário à mesma, a imagem das milhares de meninas não retratadas, que no interior das suas próprias residências ou no escondido dos “prostíbulos de luxo”, são igualmente vítimas silenciosas desse ediondo crime, praticados pela sociedade que as expõe e não protege devidamente e até por pais e mães, que muitas das vezes são igualmente vítimas.

  2. Muito boa esta reportagem das meninas do veaduto Paulo Souto, ou para quem prefira “paulo foruxo” digo fouxo porque esse que foi governador poderia ter feito justamente o que o amigo reporte escreveu ao inves de construir pontes e obras, para com certeza supervalorizar, a fim de tirar as comissões que todo mundo ja sabe.
    Com certeza meu querido reporter, o Brasil, a Bahia e Itabuna, etc, esta precissando mais de oportunidade, empregos, tecnicos, vagas para que o cidadao possa exercer a cidadania bem como educar seus filhos, ou melhor, educar-se a fim de não permitir este tipo de destino tracoeiro que realmente resta para esses filhos e filhas de pais desempregados, maes solteiras.

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