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Calma, produtor de cacau. Antes que atire a primeira pedra em nós, avisamos que o que vai no título acima é opinião expressa de Vitor Hugo Soares, um dos principais nomes do jornalismo baiano e dono de espaço semanal cativo no Terra Magazine, de Bob Fernandes. Os produtores são chamados de “empresários do cacau”. Victor Hugo mantém o blog Bahia em Pauta. Abaixo, confira o petardo nos produtores e alguns “indígenas”.

NO VESPEIRO BAIANO

Vitor Hugo Soares

Com a ministra Dilma Rousseff a tiracolo, o presidente da República desembarcou em Ilhéus nesta sexta-feira. Coração da região cacaueira, onde Luiz Inácio Lula da Silva pisa pela primeira vez em seu segundo mandato, apesar da Bahia ser um dos solos mais frequentemente visitados por ele, que não se cansa de repetir a crença espírita de que um dia em outro tempo viveu por aqui, o que o faz enxergar o lugar (por sentimento humano ou estratégia de político) como talismã eleitoral, mesmo nas vezes em que foi derrotado em pleitos nacionais.

Ontem, Lula sofreu picadas como raras vezes ao andar pelo vespeiro baiano em que transformou-se a disputa sucessória presidencial atrelada ao embate sem trégua pelo Palácio de Ondina, onde Jaques Wagner deseja permanecer mais quatro anos. O problema é que o esquentado ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), o ex-governador Paulo Souto (DEM), nascido, bem votado e com largo trânsito na zona do cacau, e até o deputado verde e ex-petista, Luiz Bassuma, também estão de olho no “palácio das cigarras”, como dizia o cronista Raimundo Reis, e cavam buracos para afundar o governador.

No caso do ministro Geddel, só uma preocupação: bombardear Wagner sem derrubar os dois palanques de Dilma Rousseff no Estado. Situação que deixa Lula visivelmente constrangido, como o próprio presidente confessou há duas semanas, ao visitar Juazeiro, na região do Vale do São Francisco. Constrangimentos repetidos ontem na inauguração do Gasene, em Itabuna, e nos atos administrativos, mas principalmente políticos e eleitorais na vizinha Ilhéus, a terra de Gabriela e dos antigos e poderosos coronéis do cacau do sul do Estado.

Na véspera, em Brasília, o pleno do Superior Tribunal Eleitoral condenou Lula a pagar multa de R$ 5 mil por fazer campanha fora de hora, ou passando por cima de normas legais, se preferirem. Ainda assim, nada capaz de de assustar o condutor da marcha de Dilma à sua sucessão. No comício de quinta-feira em Osasco – inauguração de obras do PAC -, o presidente até brincou com a decisão e sugeriu que quem deve pagar a multa por sua infração: “vou mandar a conta da multa para vocês”, disse Lula, enquanto a plateia gritava ao fundo o nome de sua candidata.

Assim, Lula e a ministra desembarcaram com ar cansado mas aparentemente tranquilos no sul da Bahia na manhã de ontem, acenando com novas bandeiras. Não as flâmulas rubras do PT das companheiras metalúrgicas do ABC, mas as do Gasene (Gasoduto de Integração Sudeste-Nordeste), abertura das licitações para construção da ferrovia Leste-Oeste, e novos afagos da “mãe Dilma” em relação ao PAC do Cacau, de inegável apelo político e eleitoral na região visitada.

Afinal, alimenta sonhos e fantasias de reabilitação da economia da lavoura cacaueira devastada nas últimas duas décadas pela praga “vassoura de bruxa” e pela terceira geração de “empresários da cacauicultura” (às vezes pior do que praga que atinge e seca a plantação, segundo historiadores locais), viciados nas tetas dos empréstimos dos bancos públicos (e privados também), e no perdão paternalista das dívidas por sucessivos governos estadual e federal.

Além das vespas representadas pelos políticos com os quais terá de lidar nessa passagem em região conflagrada, Lula e Dilma atravessam zonas cercadas de boatos de que terão de enfrentar desta vez uma série de protestos, “puxados por fazendeiros de cacau, índios tupinambás e policiais civis e militares”.

Na verdade, os empresários do cacau brigam por mais uma mamata do governo federal: querem a anulação de uma dívida superior a R$ 400 milhões, relativa às duas primeiras etapas do Plano de Recuperação da Lavoura, implementado na década passada. Segundo alegam os cacauicultores, a própria Ceplac, órgão federal de apoio à lavoura, reconheceu erros nas recomendações repassadas aos produtores para conter a praga da Vassoura-de-Bruxa.

Quanto ao protesto dos indios, talvez seja necessário a comitiva presidencial ter cautela apenas com algumas bordunas. Os índios de verdade foram praticamente todos dizimados na região do Descobrimento e no sul baiano, em luta desigual e marcada pela omissão dos governos, da polícia e dos políticos, pelos próprios pioneiros da cacauicultura e seus jagunços, como está nos livros de Jorge Amado ou nos filmes de Glauber Rocha.

Apedrejado na região que visitou pouco antes de morrer, o falecido cacique Juruna, do gravador, desabafou em desalento diante do que viu por lá: “Aqui não tem mais índios, só tem caboclos”.

E ferroadas de vespas. Muitas vespas!

Acesse o blog de Vitor Hugo (www.bahiaempauta.com.br)

16 respostas

  1. Para colocar os pingos nos “is”, só mesmo um Vitor Hugo baiano – e de nome “abaianado”, sem o “c” em Victor.

    Aí estão algumas nuances que, aqui, poucos se aperceberam.

  2. Infeliz as colocações de Hugo, pois mostra o total desconhecimento sobre a tragédia que se abateu na lavoura do cacau.
    Triste imaginar que tem gente que calunia, modifica e falseia com a tragédia e o sofrimento de uma região que tanto ajudou, com sua economia(o cacau), outras regiões.

  3. Produtor de cacau não quer “mamata”. Quer respeito.

    A lavoura cacaueira baiana foi vítima de um crime hediondo. O ato de terrorismo biológico que introduziu a doença Vassoura-de-bruxa, que se alastrou numa calamidade pública. Foram 300 mil desempregados e 3 milhões de flagelados. A maior vítima foi o Brasil que deixou de exportar e passou a importar 100 mil toneladas de cacau por ano.
    Existem claras evidências, senão da autoria direta, da cumplicidade de funcionários públicos da Ceplac no cometimento do crime. Afora o dever de manutenção das barreiras sanitárias. Aliás, a doença não chegou aos cacauais de São Paulo, onde a Ceplac nunca esteve…
    O ônus de combater a calamidade, dever de Estado, foi transferido para os produtores que tomaram os empréstimos, vinculados a aplicação de um pacote tecnológico que resultou inócuo. A região que produzia média de 600Kg de cacau/hectare antes da doença, depois da aplicação do pacote (e do brutal endividamento) produz hoje 150Kg/hectare. Em resumo, o produtor foi forçado ao erro, e, o pior, com dinheiro emprestado!
    Em resumo: o endividamento pela Vassoura-de-bruxa pode até ser legal. Mas é IMORAL!
    Os produtores estão lutando, não apenas pela ANULAÇÃO destas dívidas espúrias, mas por uma indenização por danos materiais e morais. Podem e devem fazer isto, de queixo erguido!
    Quando o Governo abate animais contaminados com a febre aftosa ele indeniza o produtor, e isto nunca foi chamado de “mamata”. Barreiras sanitárias são dever do Estado.
    Jorge Amado foi, sim, um grande ficcionista. Mas foi um péssimo historiador!

  4. Quanta asneira !!!! . 600.000 hectares de uma cultura dizimados , e 3 milhões de pessoas de joelhos , vítimas de uma sabotagem , e ainda vem um aprendiz de articulista tripudiar sobre isso .

  5. Desculpe senhor Adeir Boida de Andrade mas discordo quase que por completo do seu texto.

    Quero deixar bem claro que não estarei fazendo nenhuma defesa da Ceplac até porque que se trata de uma instituição com grande potencial em pesquisa, mas que esta sendo perdido.

    “A lavoura cacaueira baiana foi vítima de um crime hediondo. O ato de terrorismo biológico que introduziu a doença Vassoura-de-bruxa, que se alastrou numa calamidade pública…Existem claras evidências, senão da autoria direta, da cumplicidade de funcionários públicos da Ceplac no cometimento do crime. Afora o dever de manutenção das barreiras sanitárias. Aliás, a doença não chegou aos cacauais de São Paulo, onde a Ceplac nunca esteve…”

    Sua primeira afirmativa trata-se de uma inverdade. O seu texto Vassoura-de-bruxa na Bahia: a radiografia de um crime foi bem escrito mas não consegui localizar os textos citados nele, gostaria de ter acesso.

    Mas vmos ao texto atual, se o senhor estiver doente e viajar para um outro pais seria um Terrorismo biologico??? Não. O terrorismo é caracterizado quando ha a intenção.
    A doença veio para a nossa região por plantas que aqui seriam introduzidas na busca de melhor produtvidade, infelizmente naquela epoca não havia politica de quarentena que hoje nos temos. Toda muda de Cacau que venha para ser introduzida aqui na região tem que passa por uma estação da CEPLAC em brasilia onde fica em quarentena.
    Qual cacauicultor que nunca pegou uma muda de uma planta de um amigo em outra fazenda por estar produzindo bem lá e levou para a sua fazenda. E este não faz nenhum trabalho de quarentena.
    Sobre o fato de não haver vassoura de bruxa em São Paulo pelo fato de lá não ter CEPLAC, trata-se de um desconhecimento seu a respeito da doença, pois o fungo tem condiçoes especificas para a sua ploriferação.

    “O ônus de combater a calamidade, dever de Estado, foi transferido para os produtores que tomaram os empréstimos, vinculados a aplicação de um pacote tecnológico que resultou inócuo. A região que produzia média de 600Kg de cacau/hectare antes da doença, depois da aplicação do pacote (e do brutal endividamento) produz hoje 150Kg/hectare. Em resumo, o produtor foi forçado ao erro, e, o pior, com dinheiro emprestado!
    Em resumo: o endividamento pela Vassoura-de-bruxa pode até ser legal. Mas é IMORAL!”

    O estado não transferiu o ONUS de combater a doença, não sei se vc sabe mas o Governo Federal e o Governo Estadual investe milhoes de reais por ano em pesquisa do CACAU. Realmente a CEPLAC errou ao lançar na epoca resultados de pesquisa ainda em andamento, o que levou os produtores da epoca a fazer investimentos precipitados, mas não me recordo em ter lido em lugar nenhum a obrigatoriedade da aquisição desses emprestimos, porém eles estavam APOSTANDO no unico orgao de credibilidade na area nessa epoca, coisa que nem todos os produtores fizeram.

    A questão do IMORAL eu julgo que seria o não pagamento do emprestimo. Primeiro que seria um prescedente sem tamanho, todo produtor iria fazer a mesma coisa.
    Segundo que não vou julgar todos os agricultores mas a sua maioria
    utilizaram dos emprestimos para manter os seus luxos, e não o aplicaram em suas fazendas. O cacau era tratado como extrativismo, apenas era feito poda e colheita, o que tornou ainda mais facil a infestação da doença, estudos recentes mostram que um trato correto diminui a infestação e aumenta a produtividade, e não se faz necessario nenhum emprestimo pra isso, somente um pouco mais de trabalho.

    Tenho como sonho o dia em que essa região se torne uma grande produtora de CHOCOLATE, pois só agregando valores poderiamos voltar a ser uma região economicamente viável com a produção de CACAU.

  6. Estou pasmo, um amigo que participa da Lista do Cacau – lista de discussão virtual, que para participar e necessário a indicação de pessoas já cadastradas – me enviou alguns email da tal lista. (Lista dos Maiorais ou lista do produtor virtual, pois um bando deles moram em Salvador ou em outros Estados) Os caras são loucos, ultra radicais, narcisistas, resumindo, se acham!!!. Mesmo tomando esse cacete na imprensa, bronca do Presidente Lula, artigos de jornais chamando-os de viciados nas tetas dos empréstimos dos bancos públicos, comunidade os rotulados de caloteiros. Contudo isso eles acham que arrasaram no protesto, eles chegam ao ponto de se auto elogiarem, trocam mensagem de parabéns, que fulano escreve bem, que beltrano é demais… Os Nobres não têm um pingo de censo critico, é muita loucura. Eles ainda não perceberam que se desgastaram.
    Vou tentar publicar através de comentários aqui no blog algumas mensagens da lista do cacau.

  7. Eles, os cacauicultores, são piores que a vassoura-de-bruxa, são, também, verdadeiros parasitas. A forma como sempre trataram os trabalhadores rurais, com a crueldade dos desalmados, é a herança maldita dessa cultura, além do hábito difundido do calote.

  8. Pior que Geraldo Simões eu não acho faleu Ricardo Seixas, o cara trouxe para a Ceplac uma amostra da varoura e vc brinca de politica!

    O caso é serio.

    Não concordo com vc cara e não sou politico.

    Boa Noite

  9. O que foi a cacuilcultura eu conheço muito bem! Meu bisavô – Zé de Souza – foi coronel (título comprado) na época do Império.

    Nasci em uma de suas fazendas no ano de 1950. Conheci muito de perto aquela “sociedade”. A pistolagem com o uso de jagunços fazia parte do cotidiano.

    O Coronel chegava a uma pequena propriedade cercado de jagunços e dizia ao pobre coitado: Fulano estou comprando sua fazenda! – Num tá a venda coroné! Má ieu tô comprando, amanhã eu vorto. Bote preço!

    O pobre coitado era obrigado a vender. Recebia a merreca paga pelo coronel e ia indo embora no lombo de burros com a família. No meio da viagem, os mesmos jagunços do coronel emboscavam e matavam a família inteira e retomavam o dinheiro.

    Verdade ou não, ouvia minha mãe contando esses casos quando ainda era guri.

    Uma época e uma dinastia que devemos esquecer. Minha única preocupação com a derrocada da lavoura é o risco cada dia maior que correrá a Mata Atlântica.

  10. Quando adolescente já enxergava com alguma criticidade o que se passava à minha volta.

    Fazendeiros de cacau formavam um bando de preguiçosos. Praticamente não havia cuidados com as plantações. O que se via era uma espécie de extrativismo. No máximo, jogavam a porra do BHC nas plantações.

    Os filhos dos fazendeiros não passavem de arruaceiros que viviam sem trabalhar e dando uma de playboy.

    Felizmente, nossa “riqueza” acabou antes que eu completasse dezoito anos. Fui estudar fora e lá estava quando tudo foi leiloado pelo Banco do Brasil. Consegui superar sozinho. Permaneci onde estava trabalhando e estudando. Cheguei a um posto elevado da carreira militar e fiz um curso universitário. Tudo sem o dinheiro das fazendas do coronel.

  11. Sr. Souza Neto.Meu nome é Dorcas, sou filho de um coronel do cacau (Godofredo almeida do Espírito Santo) e uma retirante ruralista do sertão da Bahia(Izabel Guimarães Espirito Santo). Meu pai, antes de ser coronel foi tropeiro,roçeiro,contratista. Mais, nunca bateu, nunca matou, nunca tomou fazenda de ninguén e mesmo tendo sido tropeiro, não admitia que chicoteassem, que fisessem pisaduras nos lombos dos animais e ensinava como trabalhar com a tropa sem carecer judiar dos bichos. Trabalhou duro para plantar, produzir e ter roça de cacau. As pessoas que viveram nessa época, muitas ainda estão vivas e podem comprovar o que estou lhe dizendo.Minha mãe chegou aqui no Sul da Bahia com as mãos,braços e pernas cheias de furos de espinhos de sisal,colheu e quebrou muito cacau nas roças dos outros,so não cuida de roça até hoje porque a idade não permite, tem humildade até em exesso e nunca foi preguiçosa. Eu tenho meus defeitos mas, nunca tive arrogãngia e prepotencia fiz caminho oposto ao seu pois larguei minha faculdade de economia e fui morar na roça, mas tb morei em Salvador, BH e no Rio do Janeiro, pois, é natural do ser humano gostar do que é bom, principalmente se puder pagar por isso sem presisar roubar. Concordo com o Sr., que na classe de cacauicultores existem pessoas nefastas, providas de vários defeitos como:arrogância,prepotencia e muito mais. Eu conheço muitos desses tipos. Porém, o Sr.ha de concordar comigo, que em todas as classes,e em todas as profissões existem pessoas desses tipos nogentos. Mas, o que quero lhe pedir, é que leia o relatório da Polícia Federal, onde se diz que: repute-se INDUVIDOSO que a introdução e disseminação da doença vassoura de bruxa no Sul da Bahia,se deu de forma criminosa.Informe-se também, que esse ato de terrorísmo biológico no cacau, desempregou 250 mil pessos de mão de obra especializada e que a maior parte desses seres humanos,sem emprego do cacau, foram para a periferia de cidades da região cacaueira em estado de miséria e consequentemente, Itabuna é considerada hoje a cidade mais violenta do país para jovens e tem muito mais consequências trágicas.Quando o cacau trazia milhões e até bilhões de dolares para o Brasil, quando contribuia com construção da BR 101, com construção da UESC,quando não deixava ninguém passar fome nessa região, ninguém falava mal. Agora, que é vitima desse crime bárbaro e covarde passou a ser tudo de ruim. Meu prezado, tente conhecer melhor a realidade dessa região para não cometer injustiça com quem não merece.

  12. Não sou produtor de cacau, mas faço minhas as palavras de Dorcas. o Inquérito Policial nº 2007.01.00.042532-6/BA, traz às fls 255/274, o seu RELATÓRIO FINAL onde a POLÍCIA FEDERAL conclui que a introdução e disseminação da vassoura-de-bruxa na região cacaueira se deu de forma criminosa. ISSO É UM FATO!

    Dessa forma, além da obrigação legal, a União tem o DEVER MORAL de desconstituir todas as dívidas relacionadas com o combate à referida praga e a recuperação da lavoura, pois são consequências de atos ilícitos que o poder público tinha obrigação de impedir, seja através das barreiras fitossanitárias, seja nas questões relacionadas à segurança pública. Contudo, mesmo diante de várias denúncias e alertas, fartamente documentado no referido inquérito, a UNIÃO permaneceu silente e não adotou nenhuma providência.

  13. A Ceplac está com seu sistema de produção ultrapassado. a Embrapa tem muito a contribuir para a atualização das informações pesquisadas,portanto o ministério deveria entregar a pesquisa a Embrapa e restante dos funcionários ficariam no ministério ou Emater´s nos estados.

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