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Leandro Afonso | www.ohomemsemnome.blogspot.com

Que eu tenha visto, o melhor resumo do maior porém de O Segredo dos Seus Olhos (El Secreto de sus Ojos – 2009, Argentina/ Espanha), de Juan José Campanella, foi feito por Filipe Furtado. Na comunidade do Cinemascópio no Orkut, ele disse que “a história policial ocupa 70% do filme, a história de amor horrivel ocupa 70% das preocupações do Campanella”. Mas, verdade seja dita, não acho nem a história de amor nem o filme (tão) ruins quanto ele.

Por mais que o diretor (do ótimo O Filho da Noiva e do meio fraco Clube da Lua) invista tanto no que há de menos convincente (o romance), temos um ótimo roteiro, ótimas atuações (exceção feita à não exatamente expressiva Soledad Villamil) e uma direção relativamente firme. Enquanto filme policial, ele segue um inevitável esquema, mas traz ainda algo de genuíno, com um gênero essencialmente americano com pitadas de um certo jeito de ser platino. Já o plano-sequência no estádio de fato é vaidoso, e parece filmado para chamar mais atenção para si do que para ajudar no ritmo do filme, mas é incrível não só sua engenhosidade, como tudo que Campanella reúne em uma única cena.

Nela, ele junta a paixão pelo futebol (daquele povo no estádio), pelo filmar (por mais narcisista que seja, só um apaixonado pelo ato pensa em plano tão megalômano) e por uma causa, a busca pelo assassino Nesse momento, ele é feliz nos três pontos. E embora apenas aí ele comulgue, numa mesma cena, o sucesso da trinca, em outras ele faz com que pelo menos um elemento delas funcione.

Como exemplos mais claros temos a discussão no bar que os leva ao estádio, a cena em que a advogada Irene (Villamil) percebe que o assassino é de fato o culpado (e o que ela faz), o momento em que ela pensa erroneamente que Benjamín (Darín excelente, como sempre) flerta com ela, e a descoberta do paradeiro do assassino.

Por mais que o filme tenha os seus poréns escancarados, ele também consegue reunir elementos a princípio – e que de fato se mostram algo – incompatíveis (o romance com pretensões eternas e melodramáticas dentro de um filme policial) para chegar a um todo cuja eficácia é mais estranha que infeliz. E se o resultado está longe de ser brilhante, por outro lado é tão oscilatório dentro de um caráter pré-determinado (claramente comercial) que não dá pra chamar de medíocre.

Visto no Cine Vivo – Salvador, abril de 2010.

O Segredo dos seus Olhos (El Secreto de sus Ojos – 2009, Argentina/ Espanha)

Direção: Juan José Campanella

Elenco: Ricardo Darín, Soledad Villamil, Pablo Rago, Javier Godino

Duração: 127 minutos

Projeção: 2:1

8mm

Tempo

Vi As Melhores Coisas do Mundo na antevéspera de O Segredo de Seus Olhos. Um teve cinco, o outro teve sete dias para digestão. E embora a cotação de ambos tenha sido a mesma a princípio, filme de Campanella parece agradar (bem) mais ao se pensar nele.

Griffith

Em alguns filmes não vou usar o sistema de estrelinhas. Isso porque, como no caso de um D.W. Griffith [e praticamente tudo dele, embora aqui fale especificamente de seu Lírio Partido (1919)], existe tanta coisa por trás dele e do filme que soaria injusto colocá-lo no mesmo nível dos outros – é hors concours.

A propósito, o que são as imagens do sorriso?!

Filmes da semana

  1. Rashômon (1950), de Akira Kurosawa (DVDRip) (***)
  2. 2. O Segredo de seus Olhos (2009), de Juan José Campanella (Cine Vivo) (***)
  3. Macbeth (1948 – 114minutos), de Orson Welles (DVDRip) (***1/2)
  4. Lírio Partido (1919), de D.W. Griffith (DVDRip) (hc)
  5. Antes do Pôr-do-Sol (2004), de Richard Linklater (DVDRip) (****1/2)
  6. 6. O Cavalheiro do Telhado e a Dama das Sombras (1995), de Jean-Paul Rappeneau (Walter da Silveira) (**)
  7. 7. A Moça com a Pistola (1968), de Mario Monicelli (Walter da Silveira – DVD) (**1/2)
  8. Identificação de Uma Mulher (1982), de Michelangelo Antonioni (DVDRip) (**1/2)

Curta:

  1. Noite de Sexta Manhã de Sábado (2006), de Kleber Mendonça Filho (Vimeo) (****)

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Leandro Afonso é comunicólogo, blogueiro e diretor do documentário “Do goleiro ao ponta esquerda”.

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