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PORTAS CERRADAS: Café Pomar fecha às vésperas do centenário de Itabuna (Foto Pimenta).

Foram 67 anos de história. Passava um pouco das 18 horas desta terça-feira, dia 30 de junho de 2010, quando o Café Pomar, um dos estabelecimentos comerciais mais emblemáticos de Itabuna, fechou as portas. Pela última vez.

O café foi inaugurado em 1943, pelo comerciante Bartolomeu Mariano, e desde 1959 é administrado por Roberto Mariano, filho de “Bartô”, como o fundador era conhecido. Ao longo de quase sete décadas, o local se tornou ponto de encontro de figuras como o saudoso jornalista Ariston Caldas, o sindicalista e ex-vereador Luís Sena, o músico Davi da Silva e muitos outros.

Sena e Davi relembram histórias no Café Pomar (Foto Pimenta).

Frequentadores habituais compareceram hoje ao café, para se despedir. Seu Mariano não assistiu ao fechamento, preferiu ficar longe, em Salvador. Entre a freguesia, lembranças e uma certa tristeza, mas sem perder o humor.

O velho músico Davi lamentava perder não somente o café e o mate gelado com limão, mas também outras peculiaridades do lugar. “Amigo, aqui se contava cada mentira que você nem pode imaginar… Vou sentir falta”, suspirava. Sena, no mesmo espírito, manifestava preocupação com o café-da-manhã dos maridos em conflito doméstico. “Onde é que esse pessoal vai tomar café quando brigar com a patroa?”, indagava, emendando que em Itabuna existem outros cafés, mas nenhum com “a alma” do Pomar.

O café de Seu Mariano se identifica com boa parte da história de Itabuna, o que torna dolorosa essa perda, principalmente no momento em que a cidade está às vésperas do centenário. Com o fechamento do Pomar, a cidade morre um pouco, fica um sentimento de perda, ausência e saudade de um tempo que também vai morrendo.

Rosilene atende clientes na despedida do café do Seu Mariano.

Rosilene Ferreira  Mariano, a neta de “Seu Bartô”, foi quem dirigiu o último ato do Café Pomar. Ao Pimenta, ela explicou que o negócio já não era viável, as despesas estavam maiores que as receitas.

Alguns acham que a tradição era o charme do estabelecimento. Outros acreditam que a empresa ficou velha e muitos dos fregueses antigos se foram, sem que tenha ocorrido renovação da clientela.

A neta do patriarca não escondia o lamento, ao sepultar uma parte significativa da história grapiúna. Mas, encarando a realidade em toda a sua dureza, disse-nos: “infelizmente, tradição não paga as contas”. E Itabuna, quando quitará a enorme dívida que acumula com a sua memória? Talvez nunca…

32 respostas

  1. Novamente a velha frase se enquadra: “A única coisa permanente no universo é a mudança”, …!!!

    Ao contrário do que ocorreu com o referido e tradicional café, o exemplo da Sorveteria Danúbio Azul que, ao longo do tempo, ao invés de atrofiar e fechar as portas, cresceu e ampliou os negócios e, por coincidência, tem uma das unidades bem defronte, antagoniza com tanto pessimismo, …!!!

    Aproveito a oportunidade e pergunto uma coisa: O simples fato de alguém ser filho e/ou neto de um comerciante já o credencia a seguir o mesmo caminho dos seus ascendentes, …?!?!?!

    Se o imóvel é próprio, se as pessoas da família estavam à frente, inclusive no caixa, se o negócio já funciona há tanto tempo, será que os preços estariam defasados a ponto de não mais cobrir os custos, …?!?!?!

    Quanto à renovação da clientela, ao longo do tempo, a combinação de cinco fatores são fundamentais, a saber: Administração, atendimento, diversidade (opções oferecidas ao cliente), qualidade dos produtos ofertados e preço, …!!!

    De qualquer forma, é uma pena, …!!!

  2. Estou em Itabuna há 15 anos e só agora tomei conhecimento desse café (e isso que eu gosto de café). Ou sou muito “out” como diz minha filha ou era muito escondido.

  3. UMA PENA! SINTO COMO SE ESTIVESSE PERDENDO UMA “PESSOA QUERIDA”! ME ACOSTUMEI A PASSAR POR ALI E VER PESSOAS CONHECIDAS BATENDO PAPO, FALANDO DE POLITICA, FUTEBOL. QUEM SABE A FAMILIA NÃO ARRUMA UM PARCEIRO, PARA REPAGINAR O NEGOCIO, E MANTER O NOME TRADICIONAL!

  4. Lamentável. Para mim o Café Pomar era um pequeno oásis. Sentirei muitas saudades do atendimento carinhoso do Sr. Roberto e família, do mate gelado inimitável, do chocolate quentinho, do bolo de aipim que oferecido pelo seu Roberto parecia ganhar um gostinho especial. Frequentei este café por 10 anos, desde que aportei nesta cidade. O Café Pomar tinha lirismo e alimentava não só o corpo, como também a alma. Foi alí que ouví pela primeira vez as histórias pitorescas desta cidade, conheci figuras históricas, enfim, minhas humildes homenagens !

  5. Itabuna é campeã do já teve. Teve cinemas, teve castelinho, teve teatros ABC e TEI, teve Cacau 2000, teve Chão de Estrelas, teve Amaralina, teve Dromedário, teve Estrela do Sul, teve Benton Bar. Agora entra na lista teve Café Pomar. Não é de dar dó?

  6. Esse é apenas mais uma vítima do Desgoverno Azevedo. Deixar uma avenida intrasitável por mais de 60 dias acaba com qualquer negócio… VIVA O 25! Muitos ainda vão falir… Obrigado Azevedo!
    Que belo presente voce nos deu nesse centenário….

  7. Realmente é muito triste. Mais triste ainda é ter a certeza que daqui a cem anos vai estar tudo do mesmo jeito ou pior. Infelizmente não é possível mudar a cabeça de todo um povo!

  8. Ilhéus e Itabuna integram uma região sem alma, sem memória e sem jeito. Dias atrás, o capitalismo selvagem, sob o nome fantasia de atacadão, demoliu a bela e histórica casa do coronel Gileno Amado, na Estância Santo Antônio, Km 24 da rodovia BR-415-Jorge Amado, onde constrói uma grande loja.

    Nem um piu se ouviu a lamentar a tragédia que simboliza a pá de cal que faltava na outrora “pobre região rica”, um chavão nascido a pretexto de retratar-nos. Ou da pujante Região Cacaueira dos frutos de ouro ou ainda, das Terras de Santa Cruz onde se plantando tudo dá da Carta de Caminha.

    A mídia silente emudeceu. Um dia nos jactamos das emissoras de rádio e TV e dos jornais que tínhamos. Pelo que se vê esta é a terra do já teve, onde cada pedaço de nós morre como uma metástase. Nenhuma lágrima, nenhuma vela…

  9. Rapaz, esse Sérgio é sem noção… dando pitaco no estabelecimento alheio…

    Seu Mariano, obrigado por nos servir esse tempo todo.. Você serviu meus avós, país e a mim… sinto que quando tiver um filho, por que ele não terá esse prazer…

    Entendo que a família Mariano deve fazer o que achar melhor…. não são obrigados a se modernizar nem a nada… cada um cuida de si.

  10. Roberto L. Mariano, maçon, uma das pessoas mais honestas e honradas que conhecí na vida. Meus pais e toda minha família frequentaram o Café Pomar e sempre contavam com um dedinho de prosa do aprazível Roberto. Como tudo nesta vida tem um fim, não foi surprêsa para mim saber que Roberto e família, até no momento de encerrar um empreendimento, o faz com dignidade e respeito.

    Abraços triplos amigo Roberto, pessoas da sua envergadura nascem de tempos em tempos.

  11. É deveras nostalgico saber que o Café Pomar entrará para a história
    de Itabuna, lembro-me bem nos anos de 75, 76 estudando no Divina Pro-
    videncia e nos intervalos das aulas corria até lá para degustar a
    famosa “merenda das 10hs” e conversar com Seu Mariano sempre atenci-
    oso e tranquilo nas suas colocações. É… realmente chega um momento
    que a vida se transforma num filme e êsse é bom de recordar!!

  12. É com pesar que vemos o Café Pomar fechar as portas, local que na minha infância de Divina Providência frequentava para comprar deliciosos salgadinhos ao tempo que mais tarde na volta dos estudos frequentei algumas vezes pela parte da tarde onde encontrava com Calixto Midlej Filho, Dr. ALberto Seixas, Dr. Fernando Mendonça, Dr. Luiz Coelho, etc… que eram frequentadores de carteirinha. É triste, muito trista.

  13. Volto a ter o mesmo sentimento de perda de quando morava em São Paulo, capital, e foi fechado um estabelecimento similar ao Café Pomar na Rua São Bento, também no centro da cidade. Há quase 10 anos em Itabuna, desde o início me habituei a tomar café, chocolate e capuccino nessa esquina, um lugar sempre bem frequentado e onde encontrava conhecidos da cidade como Antônio Lírio, Fernando Andrich, Paulo “Índio” Lima, Jorge Coelho, o falecido João Paulo Bastos e alguns ícones do comércio tradicional da cidade. Foi com o atual proprietário, Sr.Roberto Mariano, que aprendi a gostar e a fazer mate gelado com limão, uma especialidade muito pertinente para um lugar caloroso como Itabuna.

    Carlos Malluta

  14. Fico muito triste com o fechamento do estabelecimento mais respeitado e tradicional…
    O lugar onde eu sabia que nos fins de tarde encontraia meu Avô José Martins (Zé Quinha) e que desde muito criança aprendi a tomar os refrescos de Maracujá e Limão, ia com meu Pai e Meu avô eles tomavam o tradicional matte com limão e eu os refrescos(o matte não me agradava)
    Agora vai ficar só na memória!!!!!

    Muito Triste!!!!

  15. Além do Danúbio Azul, há, ainda outros exemplos de empresas locais que cresceram ao longo do tempo:

    – ALASCA – Comercial de refrigeração;
    – Pai Mendonça.

    Claro que ainda há outras, mas creio que estes exemplos são bastantes e suficientes para mostrar que nem tudo é o fim do mundo, …!!!

  16. O Sérgio Oliveira não gosta de poesia.
    Não compreende a realidade subjetiva POIS NÃO A SENTE . O Tema não é para aula de administração “Homi”. Você é do SEBRAE ? ou não gosta de mate gelado, cafezinho e história ?
    Vai tomá café no shopis…

  17. Lamentável. Quando Itabuna está prestes a completar 100 anos mais esta triste notícia. Porque empresários não se juntam e tentam revitalizar esse importante ponto de encontro itabunense. Vou um dia contar este fato para o meu filho, itabunense sim e com orgulho.
    Dou o exemplo da cidade onde estou morando agora (Santa Teresa – ES), onde o Circolo Trentino não deixa as tradições morrerem e nem os pontos comerciais mais tradicionais, como o Bar Elite. Então, quem sabe os itabunenses se juntem e pensem em conservar as tradições de seu povo.

    Andréa Moreira – Jornalista

  18. MAIS UMA COISA PARA AZEVEDO COMEMORAR NO CENTENARIO, O FECHAMENTO DO CAFÉ TRADICIONAL DE ITABUNA, PARABÉNS AZEVEDO, PARABENS ITABUNA…POR NADA!

  19. Zelão diz: – – Fecham-se as cortinas!

    Mas um triste espetáculo da tragicomédia de uma cidade e de um povo se encerra. Pouco ou quase nada restará na lembrança dos filhos, netos e dos seus descendentes.

    “Triste de um povo que não tem memória.” Pior, é o povo que parece querer apagar qualquer resquício de memória que ainda lhe resta.

    Nos festejos do cinquentenário de Itabuna, a história da terra e dos seus fundadores, ainda pode ser mostrada. Nos festejos do seu centenário, Itabuna cabisbaixa, como se envergonhada da sua história, nada tem para mostrar aos seus filhos mais jovens, legítimos ou adotados.

    Não digam que o progresso não pode ser escrito, se forem mantidas as conquistas do passado. Apenas aceitem a nossa incapacidade de construir e manter viva a nossa história. Ao longo dos tempos, temos sidos filhos pródigos. Construímos edifícios sobre as ruínas daquilo que nós mesmos destruímos por insensatez e pelo descompromisso com o passado.

    O fechamento do Café Pomar às vésperas do centenário de Itabuna, talvez seja o grito desesperado e mais presente da nossa história que morre vítima da nossa incúria.

    Que futuro estamos construindo no presente, se somos incapazes de manter viva a nossa história? Sobre quais bases estamos alicerçando e projetando este decantado desenvolvimento, se até mesmo as lições que poderiam ser colhidas da nossa história, estão sendo apagadas?

    Estamos morrendo física e moralmente: – Morre agonizante o Rio Cachoeira, envenenado pelos nossos esgotos. Morremos economicamente, sem representação política e empresarial. Morremos culturalmente, pela falta de espaços públicos ou privados onde a arte latente do nosso povo, possa ser exercitada.

    Fecham-se as cortinas do espetáculo improvisado, que nem mesmo será lembrado ou reencenado, porque nem mesmo foi escrito.

  20. Conheci o “Café Pomar” em 1961, quando servia um bolinho de arroz inigualavel, que no decorrer do tempo deixou de ser produzido, além do Mate tradicional e admirado, existia uma solução servida gelada que na Bahia só encontrei no POMAR, chamava-se “HIDROLITOL” uma espécie de bebida digestiva.

  21. Olha! Fiquei surpresa com essa noticia! Hoje, moro na Suiça, tenho 32 anos, mas me lembro perfeitamente desse café, do bolo.Sim; Desse cheirinho.Eu estudei ai, no antigo Divina Providencia e cansei de passar por essa esquina com minha mae e irmas, comprava o bolinho de aipim.Itabuna tem muitas lembranças , mas infelizmentes nossos filhos e os que ai hoje moram; estao pobres de cultura rica.

  22. Ai que saudade da aurora e da infancia da minha vida! creio que faz parte de um poema e sempre vejo o meu pai recitar, são coisas imensuravéis! ver seu Mariano naquele balcão durante todos esses anos é uma poesia da vida real e de uma história construida.Quando menino o meu pai me levava para seus plantões como oficial de justiça no Forum Rui Barbosa e ao sair iamos lanchar no café Pomar, fiz o mesmo com meu filho e foi muito bom repetir com a nova geração. Desejo ao Sr, Mariano muitas felicidade e conforto ao seu coração que com certeza deve sentir uma dor maior que a nossa. Deus o Abençõe!!! e a toda Itabuna resta a lembrança e a história de um bom café.

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