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Allah Góes | allah.goes@gmail.com
A nossa cidade é realmente bastante estranha, pois nem bem completamos 100 anos, oportunidade em que poderíamos festejar a data relembrando os feitos daqueles que desbravaram esta terra e fizeram de Itabuna uma das maiores cidades de nosso Estado, constatamos que, por aqui, não se respeita o nosso passado e se destrói o nosso futuro.
Sim, pois nesta cidade, que hoje se vangloria de ser o berço de Jorge Amado, onde se exalta a herança recebida das raças que compõem a “nação grapiúna”, se vem, bem devagarzinho, esquecendo-se dos símbolos que tornam Itabuna tão diferente e ao mesmo tempo especial.
Em Itabuna, por ser grande a memória afetiva, mesmo possuindo mais de 200 mil habitantes, ainda se tem o costume de: tomar um “café da manhã” no Tico-tico ou um mingau nas imediações da Rodoviária; de se refrescar na “Danúbio Azul” ou bebericar um “mate com limão” no, hoje recém-salvo, Café Pomar, e de, mesmo com a modernidade, ainda poder se sentar com alguma segurança nas praças, à sombra das árvores.
E é justamente por conta deste misto entre o antigo/tradicional e o moderno/pujante, que somos especiais. Mas nos últimos tempos, estamos olhando apenas para frente, e esquecendo do passado. Por aqui, além de já se ter deixado destruir o Castelinho, o Teatro ABC e o Amélia Amado, pretende-se destruir o pouco que ainda restou do início de nossa saga, de nossa história, pois querem destruir o prédio do Divina Providência.
Criado em 08 de abril de 1924, e funcionando na Rua Vicente de Paulo até 2008, o Colégio que inicialmente serviu para cuidar da educação das filhas dos coronéis do cacau e fazendeiros da região, pertence à Obra Unida São Vicente de Paulo e hoje é a mais antiga instituição de ensino ainda em funcionamento em nossa cidade.
Mas infelizmente, mesmo o prédio do CDP tendo sido declarado como: “Patrimônio histórico e cultural de nossa cidade”, isto através do Decreto Municipal nº 8.171/08, mesmo assim, este encontra-se em vias de ser derrubado, jogando-se no lixo tudo aquilo que aquele local representa e simboliza.
Minha geração que, assim como a de outros ilustres grapiúnas a exemplo de Ramiro Aquino, Renato Costa, João Otávio, Eduardo Anunciação etc, teve a honra de estudar naquela instituição e gozar do privilégio de uma educação primorosa, feita por educadores de primeira linha, como: Mercedes Suzart, Cosme Reis, Norma Coelho, Jonas Boamorte, Antônio Eduardo e outros; que nos forjaram, não apenas para “passar nos vestibulares da vida”, mas para sermos cidadãos.  Não compreende a inércia e o descaso dos poderes públicos quanto ao nosso passado.
Sim, pois além de ter sido a escola de gerações de grapiúnas, o prédio do CDP é hoje um dos poucos representantes de uma época na qual se criou a chamada “civilização do cacau”, e que, assim como outros símbolos do período, está em vias de ser destruído, esquecido.
Mas o prédio, até por conta de se encontrar na área central, pode e deve ser utilizado pelo próprio poder público, não apenas como símbolo de uma época que passou, vez que é capaz de ser muito mais que um simples Museu. Com sua estrutura e história, pode muito bem ser utilizado como um vetor que evite a degradação do local, fato este em vias de acontecer por conta da insegurança e do perfil não-residencial da área.
Será um verdadeiro absurdo se nossa cidade, que parece ser formada de carneirinhos conformados, permitir que se destrua tanto o prédio do CDP como um símbolo da história grapiúna, e isso nossa sociedade organizada não poderá permitir que aconteça. Ou pode?
Um povo sem respeito à sua memória, é um povo fadado ao insucesso e ao esquecimento de sua obra, de suas lutas e de seus ideais. Para que o nosso futuro não venha a ser perdido, o prédio do CDP precisa ser preservado.
Allah Góes é Advogado Municipalista, Ex-Aluno do CDP, turma de 1991.

16 respostas

  1. A sociedade itabunense precisa se mobilizar para impedir que a cidade perca mais um símbolo de sua história. O Colégio Divina Providência era (e ainda é) grandioso demais para acabar nessa situação, prestes a ser derrubado e esquecido.

  2. Tive a oportunidade de produzir e dirigir alguns comerciais do CDP, junto com Paulo Fumaça, lembro-me que uma peça era com depoimentos de ex-alunos, a exemplo de Ramiro Aquino, Jairo Xavier, Renato Costa, dentre outros. Allah foi muito feliz em sue artigo, uma cidade de não preserva seu passado, não pode ter um futuro digno. Só para lembrar o Divina obteve a melhor nota entre os colégios da cidade no último ENEN.

  3. O que se esperar de uma sociedade passiva que aceita inerte os desmandos de uma administração local que utiliza-se do cinismo como principal característica? Como filho grapíuna sofro a distância com o desrespeito não só com o patrimônio histórico, mas também com a uma cidade que nos últimos anos vem agonizando em todos os seus aspectos.
    Como membro da família CDP sugiro um abraço simbólico no prédio, nem que seja para despedida… uma triste e infeliz despedida.
    Adalberto Costa Jr, ex-aluno CDP, Turma de 1993

  4. Qual o Motivo para que isso aconteça? Vamos mobilizar a sociedade como um todo para defender o velho e bom CDP, onde passei bons anos de minha vida estudantil.
    Alô Dr. Clodoaldo vamos abrir o olho!!! tendo em vista o prédio ser patrimonio histórico, não cabe ao MP monitorar essa violência contra o patrimonio de nossa cidade?

  5. Eu estudei minha vida toda no Divina, no qual tenho muito carinho e respeito, pela a instituição que me formou e me mostrou os caminhos da vida, com ética e respeito ao próximo, se o mesmo vim a acontecer será um absurdo para a socidade que esquece sua historia como se troca de roupa.

  6. Isto é uma pena e uma vergonha para nós Itabunenses! Estudei da 5ª ao 3º ano (1988 a 1994) do Ensino Médio, no saudoso Colégio Divina Providência, chamados por nós carinhosamente de CPD. Até hoje e para sempre guardo os seus ensinamentos, assim como as amizades que lá constitui. Não podemos deixar isso acontecer.
    Em Salvador, algum tempo atras, também houve um levante contra a venda do Colégio Marista, no Canela, para que lá fosse contruido um novo condomínio, pelo que me consta a pressão da sociedade deu resultado, e aqui como agiremos??? Seremos omisso mais uma vez???

  7. Excelente oportunidade de reivindicar ao Estado, ali seja construído um complexo educacional, tendo como objetivo principal uma biblioteca de grande porte. A cidade é carente deste equipamento, desde que os vereadores se apoderaram do Espaço cultural Josué Brandão e não providenciaram outro espaço à altura.
    Mas não havemos de reivindicar qualquer coisa, administrada por alguém que direcione a verba para outros casos, porque “acha” cultura, “coisa de fresco”, mas alguém que acredite na Educação, de fato, biblotecários formados; queremos espaço para os estudantes das escolas públicas, desenvolverem atividades afins à Arte literária, algo que desperte o gosto pela Poesia e pela Literatura; que ofereça oportunidade de boa formação da cidadania.

  8. Também sou um ex-aluno desse colégio, em que fiz todo o meu Ensino Médio, e fico muito triste com a possível e sangrenta retirada de uma parte da história itabunense. O Colégio Divina Providência, que recentemente se tornou a mais bem colocada entre as escolas particulares (à frente de grandões como Sistema e Galileu, diga-se de passagem), não merece se transformar apenas em uma mera lembrança.

  9. Manifesto meu apoio ao artigo e aos comentários postados, o CDP faz parte de minha infância e adolescência e como bem dito não formava apenas para a vida estudantil,mas formou cidadãos. Devemos nos mobilizar para preservar este capítulo de nossa história, sonho com o dia em que levarei meu filho para conhecer o colégio em que passei anos de minha vida.Um povo que não preserva seu passado não pode construir um futuro digno.
    Mateus Santiago – Advogado.

  10. Itabuna não tem memória e nem tampouco valoriza sua história. É triste ver nosso patrimônio arquitetônico sendo demolido sem sentimento algum por pessoas ignorantes. Fico indignada com tudo isso, mas somente se indignar não basta, precisamos de líderes que iniciem um movimento de protesto eficaz e tbm que nossos comunicadores chamem cada vez mais atenção para o fato, para que com isso se consiga intimidar essas ações.

  11. Concordo plenamente que algo deva ser feito imediatamente para evitar a demolição do antigo predio do Divina. Como itabunense e professora da instituição guardo otimas lembranças daquele lugar… e acredito que a população venha a se manifestar e impedir que mais uma parte da nossa história seja destruida. No entanto, gostaria de registrar que um colégio é mais do que um prédio! Conseguimos resgatar e reerguer o Colégio Divina Providencia que hoje, funciona em instalações modernas e confortaveis, na av. do cinquentenário, 191 e na Rua Eduardo Guimarães – Zildolandia, e vem realizando um trabalho pedagogico de excelencia, despontando em primeiro lugar no novo ENEM, como já foi lebrado aqui.

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