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Daniela Galdino

Ao lado das candidaturas hereditárias, as nada discretas candidaturas de alcova despontam no cenário político baiano. Com a diferença de que essa segunda modalidade é mais, digamos, “democrática”.

Há poucos dias fiz circular um texto no qual apresentava o meu primeiro critério para a eliminação de candidatos nas eleições de 03 de outubro. Na oportunidade, fui categórica ao afirmar que abomino as candidaturas hereditárias. Agora volto à cena não para negar o já dito, mas para apresentar o meu segundo critério de eliminação: abaixo as candidaturas conjugais!
Poderia ser uma piada, mas não é. Ao lado das candidaturas hereditárias, as nada discretas candidaturas de alcova despontam no cenário político baiano. Com a diferença de que essa segunda modalidade é mais, digamos, “democrática”. Afinal, pode ser encontrada em coligações diferentes, unificando, em torno da estratégia do “vote em meu cônjuge/minha consorte”, figuras políticas da direita, da pseudoesquerda e do centro (se é que ainda se pode trabalhar com essas categorias separadamente).
No âmbito dos partidos com histórico de enfrentamento à direita, muitos quadros já foram limados em nome da imposição conjugal. Quando isso começou a ocorrer – claro, ao lado de outras posturas antidemocráticas –, a pseudoesquerdice floresceu.
Ditas essas coisas é bom prestar atenção que, na modalidade das candidaturas conjugais, por vezes o mote é o investimento no “novo” associado ao discurso de gênero, “potencializando” a participação da mulher na política.
No entanto, basta uma rápida análise para que o (e)leitor perceba o engodo discursivo, até porque muitas dessas candidatas encenam uma fala sem voz, já que a apresentação de propostas e justificativa para a candidatura é verbalizada por seus esposos, maridos, cônjuges, “companheiros”.

Bonecas/os e ventríloquos esperam que o eleitor não reclame, afinal, tem-se o dito popular para ensinar que “em briga de marido e mulher não se mete a colher.

Nesse emaranhado político acho desnecessário citar nomes. Com os nomes ofuscados e a provocação do debate, a nossa curiosidade fica acentuada e, inevitavelmente, como (e)leitores – condição que ultrapassa o caráter de meros votantes -, passamos à identificação das candidaturas que se enquadram em tal perfil.
Nas candidaturas conjugais o (e)leitor atento também irá perceber uma estratégia de “ventriloquia” protagonizada por experientes lobos cinzentos para se perpetuar no poder e imaginário eleitoral. O caráter “inovador” e mais útil, obviamente, reside na utilização da fidelidade conjugal em substituição à fidelidade partidária.
E se após o pleito, já com a eleição garantida, houver algum desentendimento entre as partes, bonecas/os e ventríloquos esperam que o eleitor não reclame, afinal, tem-se o dito popular para ensinar que “em briga de marido e mulher não se mete a colher”.
Eu defendo que nós, (e)leitores, passemos a combater o desenvolvimento desses tentáculos conjugais na política. Até porque, com a ascensão das candidaturas de alcova, os  lobos cinzentos experimentam a sensação de ocupar vários espaços ao mesmo tempo, utilizando as figuras (sem autonomia) dos cônjuges como suas devidas extensões.
Isso nada tem a ver com militância política, mas com o desejo de conter adversários dentro das próprias legendas e, como não poderia deixar de ser, a necessidade e o incontrolável desejo de reter o poder. Psicanálise pouca é bobagem…
Daniela Galdino é doutoranda em Estudos Étnicos e Africanos – UFBA, professora da rede pública e professora visitante da Uneb.

14 respostas

  1. Dra. se “em briga de marido e mulher não se mete a colher” mais os dois podem meter as mãos nos bolsos da gente?.
    Casa de pai escola de filho, farinha pouca meu pirão primeiro, o espinho de pequenos traz a ponta, etc… e coisa ital.

  2. Candidaturas como a de César Borges x esposa (senado); Geraldo x esposa (prefeito), são exemplos dessa ideologia suprapartidária.
    O povão, minha cara Dani, vive na utopia, anestesiados pelas promessas mentirosas dessas figuras que há muito acompanhamos e apoiamos né?
    Beijão!

  3. Voçê estar de parabéns. Pior para nós, porque infelismente estamos a mercê dessa coisa hoje ruim que é a Politica. Com essa que a constituição dá o direito de quem vota pode ser votado, estão levando o caso que poderia ser de grande responsabilidade, cabide de emprego, para Partido Politico, parentes de poderosos sujos como nunca. Pobre nosso povo!.

  4. A lógica do vote em um, leve dois.
    Textos como os que o Pimenta divulga servem para fomentar a discussão democrática sobre assuntos que são importantes para nós.
    Perceba as características desses que apresentam seus cônjuges para serem votados.
    Aí, o que fazer?
    Não votar em nenhum dos dois.
    Até o momento, a lição da professora é:
    Uno, não votar em candidato hereditário;
    Duo, não votar em candidato cônjuge de político.
    Essa lista vai aumentar…

  5. Você inclui aí, em sua lista, Juçara Feitosa, que Geraldo agora, colocou como segunda suplente de Lídice, e fez o PT de Itabuna engolí-la como candidata a prefeita?

  6. Profa.
    Voce tem razao. Entretanto, nosso grande Waldir Pires, cujo comportamento eh incontestavelmente exemplar incorreu no mesmo “erro”.
    Everton Morais
    Salvador-Bahia

  7. Hoje pela manhã conversava com um grupo de jovens sobre dois temas importantes e agora me deparo com esse artigo da Daniela Galdino. Eu dizia para os jovens o meu ponto de vista a respeito de reeleição e sobre candidaturas de filhos e esposas ou maridos de detentores de mandadatos. O que mudou é que a Daniela usou um terminologia mais adequada: hereditárias e conjugais.
    Na reeleição o uso da máquina para beneficiar o ocupante do cargo e candidato a reeleição, é feita de maneira explícita, sem pudor e impunemente, o que fortalece o condenável tráfico de influencia, abuso de Poder e solidifica a corrupção.
    Permitir candidaturas de filhos, filhas, esposo e esposa, de politicos no exercício de mandatos é uma aberração permitida por nossa legislação eleitoral. Conheço um político cuja esposa é Prefeita, ele deputado federal candidato a reeleição e o filho candidato a deputado estadual.
    Parabéns a professora pelo artigo e ao pimenta na muqueca por publicá-lo

  8. Novaamente voce confunde alho com bugalho, Na democracia o que importa e se o candidato tenha respaldo nos votos dados pelo eleitor. Devemos ser sim contra o nepotismo que e o aparelhamento do estado pelos politicos que confumdem a coisa publica como se fosse sua propriedade, nao tem nada a ver seu parentesco. A historia esta cheia de bons exemplos de esposas e maridos que continuaram bons projetos. Voce precisa fazer um nexo casual entre parentesco e desempenho na vida publica, com uma analise mais qualificada voce nao vai identificar nenhuma correlacao.

  9. Parabens pela lucidez do comentário. O que não chega a ser novidade para mim, conhecendo você como conheço. Continue na trilha e, quem sabe, mais adiante veremos o time crescer!!!
    Marcelo ” Categoria “

  10. Penso que a querida professora doutoura, gostaria muito de ser uma dessas mulheres citadas acima, ai veriamos se sua opinião seria essa. ÔOOOOO inveja!!!!

  11. será que conseguiriamos transformar em casal moema e roberto muniz (responda, Pinheiro, responda); ou seria melhor transformar em casal dona Lídice e Nestor Duarte ( e então dona Lídice trairia Leonelli pelo amor de Nestor, depois de Nestor ter enriquecido desviando milhões do metrô de salvador). estamos mui bem arranjados. Viva o casamento de leonelli e lidice!!!

  12. Zelão diz: – “Votando nela, é o mesmo que votar em mim.”
    A desfaçatez da política de alcova, as vezes nem busca disfarcar o “continuísmo,” e, agregando aos “qualificativos da madame” (mulher, mãe e companheira), vem o apelo: – “Para continuar o que vem dando certo,” que esconde o ápice da senvergonhice: – “Para nós… Da família.”

  13. Nos estudos da história da Africa, temos o exemplo do casal Mandela. Se não fosse a mulher ter continuado a luta política do marido, enquanto o mesmo estava preso, então o que seria da Africa do Sul hoje?
    E o casal Clinton? A influência do marido, bem avaliado em 2 mandatos, não foi suficiente para levar a esposa ao poder. O povo lá soube separar as coisas…
    Política não se faz só com cargo, mas a participação da mulher (ou do homem) na vida política de um casal é fundamental e inseparável. Cabe ao povo decidir se a candidatura é boa ou não. E aos poderes responsáveis resguardar pela aplicação das leis existentes.

  14. Não é só na bahia. Rosinha Garotinho e Marta Suplicy são outros exemplos. A bahia, portanto, é um retrato do que é o Brasil. Ou de como é o mundo: Os Bush e os Clinton do EUA, os Castro de Cuba, tão defendida etc.

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