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Leandro Afonso | www.ohomemsemnome.blogspot.com

Em Nosso Lar (idem – Brasil, 2010), Wagner Assis pode deixar muitos com vontade de morrer. Se esse foi seu desejo, bingo; mas se ele quis chegar a um resultado que, além da religião, demonstrasse fé no meio usado para tal, ele falhou.

Desde toda a publicidade envolvendo as cifras (teoricamente R$ 20 milhões), muito se falou dos efeitos especiais. O porém é que quase todas computações gráficas chamam mais atenção para si que ajudam na criação de um filme além do deleite de imagens.
Por “imagens”, no entanto, vejo uma espécie de deslumbramento “arquitetônico” e religioso que não vão além disso. As palavras, as imagens, os efeitos, todos são apenas belezas individuais (palavras e efeitos nem isso) e narcisistas; não formam um todo.
Assis não parece acreditar no cinema que faz, mas na ideia que faz do que seria um cinema se feito no mundo espiritual. Uma mistura entre Niemeyer (citado por Inácio Araújo) e Walt Disney com efeitos americanos década de 80; só que acrescido de açúcar e álcool. A soma é mundo perfeitamente asséptico no qual, entre reacionários, encarnações a fins, há sempre uma nova chance.
É nisso que Assis acredita, o que ele deixa claro a cada cena, muito mais do que cinema. A quem ele não deu chance alguma.

Visto no Shopping Barra – setembro de 2010.
8mm

Poderia falar horas sobre Superoutro (1989), de Edgard Navarro, mas dificilmente falaria algo de novo ou, pelo menos, relevante. Dito isto, só friso uma impressão: não sei em qual filme dos últimos 20 anos, entre os feitos aqui, temos uma Salvador tão pulsante. Se há, ou não vi ou não lembro.
Filmes da semana
1. Antes do Pôr-do-sol (2004), de Richard Linklater (Cine Vivo – DVD) (****1/2)
2. Nosso Lar (2010), de Wagner de Assis (UCI Orient Shopping Barra) (**)
Curta:
3. Gibraltar e as Bicicletas (2009), de Marccela Vegah (Youtube) (***)
Média:
4. Superoutro (1989), de Edgard Navarro (TVRip) (****)
______________
Leandro Afonso é comunicólogo, blogueiro e diretor do documentário “Do goleiro ao ponta esquerda”.

<p style=”text-align: center;”><a href=”http://www.pimentanamuqueca.com.br/wp-content/uploads/70-MM2.jpg”><img title=”70 MM” src=”http://www.pimentanamuqueca.com.br/wp-content/uploads/70-MM2.jpg” alt=”” width=”559″ height=”95″ /></a></p>
<p style=”text-align: center;”><a href=”http://www.pimentanamuqueca.com.br/wp-content/uploads/Final-3.jpg”><img class=”aligncenter size-full wp-image-30092″ title=”Final 3″ src=”http://www.pimentanamuqueca.com.br/wp-content/uploads/Final-3.jpg” alt=”” width=”42″ height=”13″ /></a></p>
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<p><strong>Leandro Afonso</strong> | <a href=”http://www.ohomemsemnome.blogspot.com”>www.ohomemsemnome.blogspot.com</a></p>
<p><em><img class=”alignright” src=”http://roteiroceara.uol.com.br/wp-content/uploads/2009/09/BLOG2_viajo_porque_preciso_volto_porque_te_amo_cultura.jpg” alt=”” width=”368″ height=”182″ />Viajo porque preciso, volto porque te amo</em> (<em>idem</em> – Brasil, 2009), de Karim Aïnouz (<em>O Céu de Suely</em>, <em>Madame Satã</em>) e Marcelo Gomes (<em>Cinema, Aspirinas e Urubus</em>), é um <em>road-movie </em>experimental (também por isso inevitavelmente irregular) que tem de melhor o que de melhor seus dois diretores podem oferecer – especialmente Aïnouz. É um filme em um meio, o semi-árido nordestino, e sobre sentimentos – carinho, amor, rejeição – já visitados por ambos, mas trata também e principalmente das divagações e aflições do personagem principal.</p>
<p>Faz sentido dizer que a maioria dos planos de <em>Viajo porque preciso…</em> não tem significado concreto ou função narrativa. Do mesmo modo, praticamente tudo aquilo que visa o horizonte e paisagens afins dura mais que o que o plano de fato mostra – mas esses fatos são menos um demérito que uma defesa da contemplação. E ainda que muitas vezes simplesmente não haja o que ser contemplado, faz parte do personagem esse sentir-se parado – a agonia e o tédio do personagem chegam a nos atingir, às vezes, sem eufemismo algum</p>
<p>Em filme que se assume tão ou mais experimental quanto narrativo, temos aí, no entanto, talvez – e paradoxalmente – uma tentativa de evitar uma monotonia que a ideia do filme sugere. Quase tudo não acontece em cena, mas na cabeça do personagem principal, a escrever suas cartas – trata-se de um filme epistolar de mão única. Como, então, filmar isso – algo tão ligado a um diário, algo a princípio tão anti-audiovisual?</p>
<p>Não temos uma resposta, mas uma opção arriscada, na qual os melhores momentos vêm de depoimentos (prostituta falando em vida-lazer, por exemplo), quando percebemos que os dois souberam extrair uma sinceridade tocante que emana daqueles que dirigem. Isso sem falar do personagem como entrevistador/provocador, em situação que nos liga inevitavelmente a ele fazendo o papel de diretor.</p>
<p>Esse caráter experimental, contudo, pode camuflar desnecessários tremeliques de câmera ao mostrar o personagem em meio à sua jornada, uma vez que não dá para chamar de experimental (ou dar qualquer mérito aqui) o que já virou um quase padrão – a câmera na mão nos dias de hoje.</p>
<p>Ainda assim, vale dizer que os altos do filme atingem um nível de sensibilidade que vem, entre outras coisas, justamente dessa abstração da narrativa convencional: da por vezes completa imersão em um mundo acima de tudo sensorial. Torto, talvez fatalmente torto, talvez o mais fraco trabalho de ambos, mas com momentos de coragem e brilhantismo bem-vindos.</p>
<h2><span style=”color: #800000;”>8mm</span></h2>
<p><strong>Paixão do visível</strong></p>
<p style=”text-align: left;”><em><img class=”aligncenter” src=”http://harpymarx.files.wordpress.com/2009/03/sylvia2.jpg” alt=”” width=”480″ height=”270″ />Na Cidade de Sylvia</em> (<em>En La Ciudad de Sylvia</em> – Espanha/ França, 2007) é meu primeiro contato com José Luis Guerín, catalão que teve três de seus longas exibidos no Panorama Internacional Coisa de Cinema. (Alguém sabe falar sobre?)</p>
<p>Guerín se mostra preocupado com a cidade, às vezes mais que com seus dois personagens principais, ou – o que pinta com alguma prioridade – as relações entre personagens diversos e o lugar onde vivem. No entanto, a busca dele (Xavier Lafitte) por ela (Pilar López de Ayala) é interessante a ponto de causar angústia quando algo foge do esperado. Ele desenha e retrata a cidade, é ele o mais afetado e sobre quem é o filme, é ele que não sabemos de fato o que sente, viveu ou viu; mas é ela que magnetiza a tela quando aparece.</p>
<p>Todavia, e felizmente, o filme vai além da contemplação de um sensacional rosto de uma boa atriz. Pode-se entrar em longas discussões e análises sobre memória e imagem, sobre miragem e dúvida; em uma palavra, sobre cinema. E, o que é melhor, através do cinema.</p>
<h2><span style=”color: #800000;”>Filmes da semana<br />
</span></h2>
<ol>
<li><strong>Viajo porque preciso, volto porque te amo (2009), de Karim Aïnouz e Marcelo Gomes (Cine Vivo) (***)</strong></li>
<li><strong>Batalha no Céu (2008), de Carlos Reygadas (sala Walter da Silveira) (***1/2)</strong></li>
<li><strong>O Refúgio (2009), de François Ozon (Espaço Unibanco – Glauber Rocha) (***)</strong></li>
<li><strong>O Profeta (2009), de Jacques Audiard (Espaço Unibanco – Glauber Rocha) (***1/2)</strong></li>
<li>O Demônio das 11 Horas (1965), de Jean-Luc Godard (DVDRip) (****)</li>
<li>Na Cidade de Sylvia (2007), de José Luis Guerín (DVDRip) (***1/2)</li>
</ol>
<p>______________</p>
<p><strong>Leandro Afonso</strong> é comunicólogo, blogueiro e diretor do documentário “Do goleiro ao ponta esquerda”.</p>

13 respostas

  1. Ainda, não vi o filme. Mas, conheço quase toda a obra de André Luiz.
    Não discuto seus comentários sobre cinema.
    Quanto aos (comentários) que se referem à grande obra de André Luiz e do Espiritismo, não deve ser tema de discussão, mas de estudo.
    Boa leitura…

  2. A propósito, não vejo sentido em uma obra acabada não ser discutida. Se não quiser que ela seja discutida, comentada, depredada ou idolatrada, melhor não fazê-la.
    Até o próprio estudo (defendido por você no que se refere a André Luiz) leva a uma discussão. Mas para isso, obviamente, esse estudo não pode ser feito através de uma acrítica reverência pré-concebida e imutável. Uma conversa entre duas pessoas que pensam assim, aliás, é uma conversa falada entre surdos.

  3. Quem é você pra julgar o espiritismo ? André Luiz ? Se de o respeito garoto.
    Você não deve discutir essa obra. Você conhece o espiritismo ? Seus comentários foram pífios.
    Pense primeiro e depois escreva.
    Lamentável

  4. Entramos num campo minado no qual o debate é inócuo sem o estudo de uma doutrina: a dos Espíritos.
    Até porque esse estudo leva tempo. No mínimo, alguns anos.

  5. Antes, Luana, você poderia traduzir o que seria “Se de o respeito”. Sonoramente falando, parece nome de personagem: “Cid o respeito”.
    Não sei se percebeu, mas essa coluna é de cinema. É disso que falo. O espiritismo, e qualquer coisa falada em qualquer filme, é apenas o tema para o meio, o veículo, a linguagem, do que tratamos em primeiro lugar nesse espaço.
    Se quiser discutir espiritismo, não é comigo. (Nem com Souza Neto, pelo que ele disse.) Se preferir falar de cinema, podemos conversar.
    Abraços

  6. Leandro Afonso, rapaz, não é a primeira vez que você comenta texto espírita, colocando rótulo de religião, de fantasia, e nós temos que aconselhá-lo a estudar o Espiritismo para poder comentar com maestria, se não eu não vou poder ler seus comentários sobre cinama com certo crédito no que diz. Se eu não sou crítica de cinema, tenho que dar algum crédito a você, mas agora vejo que você pode andar escrevendo sem criticidade…
    Olha, aproveita e toma Marcel Souto Maior como exemplo. A Doutrina Espírita conta com cientistas de toda ordem. Seja mais um, tome coragem e comece a ler. Seja mais um estudioso espírita para não falar do que não sabe…

  7. Prmeiramente, você leu a obra? Acredito que se tivesse lido não teria feito esses comentários. Para fazer crítica de um filme baseado em um livro, antes, é preciso ler o livro.

  8. Não, Rafael Santana.
    Para fazer uma crítica sobre a adaptação, é preciso ler o livro. E ter bagagem fílmica e literária.
    Para escrever crítica sobre um filme, é preciso ter bagagem fílmica.
    Com relação a NOSSO LAR, me enquadro no segundo caso. Não à toa, sequer cito o livro.
    leidikeite, no texto (repito, ratifico, reitero,), falo da obra audiovisual, e todos os termos ali usados dizem respeito ao filme. A crítica não é ao espiritismo, mas a abordagem feita pelo cineasta; e não pelo fato de sua religião, mas porque é pobre como audiovisual. Pode funcionar dentro do meio espírita (é um mérito), mas não no meio do cinema.

  9. Como quem gosta de cinema, não me importa se o cineasta é budista, espírita, católico, ateu; se é de esquerda ou de direita. Se o panfleto que ele defende funcionar como cinema, ótimo.
    Kubrick (em quase tudo) faz muitos terem certeza que Deus não existe, Lars Von Trier (em ONDAS DO DESTINO) fez muitos questionarem seu ateísmo e – vá lá – passarem a acreditar em Deus. Stallone faz ótimos filmes reacionários, Kusturica monumentos de esquerda. (E, que fique claro, não reduzo nenhum deles a apenas isso, apenas tento falar de extremos.)
    As crenças dos diretores, ou a falta delas, não têm necessária ligação com talento. Nenhuma.

  10. Foi o que eu tentei dizer…
    Entendi o foco de suas críticas.
    Nosso Lar é uma das obras mais difíceis para serem entendidas na literatura espírita.
    É preciso começar o estudo pelas obras básicas de Alan Kardec.
    Nosso Lar deve ser uma das últimas.

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