Tempo de leitura: < 1 minuto

Juvenal Nonato foi morto pelo traficante Bolota

O representante comercial Juvenal Nonato de Oliveira Filho, assassinado no dia 17 de maio de 2009, foi uma das vítimas do traficante Sidmar Soares Santos, o Bolota, preso na última sexta-feira, 26, em Porto Seguro. Além dele, a polícia também prendeu Áureo Santos da Silva e Elisson Simões Leal.
Bolota é acusado de vários homicídios em Itabuna, inclusive o de um garoto de 10 anos de idade, crime ocorrido em junho do ano passado no bairro Pedro Jerônimo. Já o representante comercial Juvenal Nonato foi morto supostamente por engano. O traficante o teria confundido com um vaqueiro de quem era inimigo. Juvenal recebeu cinco tiros, todos pelas costas.
Em função dos diversos crimes cometidos pelo traficante Bolota em Itabuna, o delegado regional Moisés Damasceno solicitará sua transferência para o conjunto penal desta cidade.

Tempo de leitura: < 1 minuto

O grupo Se Toque, que oferece apoio a pessoas com câncer, realizará palestra no próximo sábado, dia 4, a partir das 9 horas, no auditório do Hospital Calixto Midlej Filho. O tema será “Reeducação alimentar para uma melhor qualidade de vida”, com exposição a cargo da nutricionista Ana Júlia Mafuz.
As pessoas interessadas em assistir devem levar um quilo de alimento.

Tempo de leitura: < 1 minuto

A paróquia de Nossa Senhora da Conceição, em Itabuna, iniciou as celebrações relativas ao dia de sua padroeira. Mas o cenário não agrada aos fiéis, principalmente por causa da sujeira. Na Praça dos Capuchinhos, em frente à Igreja da Conceição, o lixo se mistura ao mato e a impressão é de abandono.
Dada a gravidade da situação, muitos devotos já incluíram um pedido especial à santa: que ela ajude Itabuna a ter um governo decente.

Tempo de leitura: < 1 minuto

O deputado federal Geraldo Simões (PT) muda a face quando é chamado de “coroné” do diretório itabunense. Agora, sabe-se que vai além disso. Na sexta, o diretório do partido condenou a opção do vereador Claudevane Leite pelo colega Ruy  Machado para a presidência da Câmara. E o que fez Geraldo? Aconselhou Vane a relevar a posição do PT. E teria afirmado que o edil petista está no “caminho certo”.
Se não fica claro que caminho é esse citado pelo deputado, não é necessário muito esforço para entendê-lo. Machado é muito próximo de Geraldo. Como também é da cozinha de Fernando Gomes e de Capitão Azevedo. É tido nos bastidores como o mais habilidoso “leva-e-traz” da (porca) política itabunense. Tendo Machado na presidência, Geraldo pensa ter, assim, algum poder (ou naco de poder) na Câmara – num enredo já cheio de traições.
Não se sabe, aliás, o que teria feito Geraldo voltar atrás nesse lamaçal da Câmara. Na sexta, dizia a amigos que só a candidatura de Vane à presidência da Casa seria fator de moralização. Entre o “leva-e-traz” e a “moralização”, já está claro com quem o deputado ficou.

Tempo de leitura: 3 minutos

Marco Wense
De cada quatro ministros em atividade nos tribunais que compõem a cúpula do Judiciário, três deverão sua indicação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O levantamento não inclui os ministros do TSE, já que o sistema de escolha segue um critério diferente das demais cortes.
A previsão é do Anuário da Justiça 2010, com a informação de que o atual presidente da República já nomeou 51 ministros dos 78 em ação. E mais: Lula, até o fim de seu mandato, ainda pode indicar 15.
Alguma coisa tem que ser feita – uma urgente reforma na Constituição, por exemplo – para evitar que o Judiciário se torne coadjuvante e submisso. Uma instituição sob a batuta do presidente da República de plantão.
Sem a necessária e imprescindível independência entre os Poderes, como preceitua a Carta Magna, no título dos Princípios Fundamentais, o Estado democrático de Direito, que custou muito suor, sangue e lágrima, fica ameaçado.
O primeiro passo para fortalecer o Judiciário, acabando com essa nociva e cada vez mais escancarada dependência, é criar critérios constitucionais para o sistema de escolha dos ministros.
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), instância maior da Justiça brasileira, é nomeado pelo presidente da República depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal.
Ora, basta o presidente da República ter maioria na Casa Legislativa para nomear o nome da sua vontade, independente do critério constitucional do notável saber jurídico e reputação ilibada.
O critério de escolha, que deveria ser técnico, baseado no que diz o artigo 101 da CF (notável saber jurídico e reputação ilibada), passa a ser político. O ministro escolhido fica devendo “favores” ao presidente da República e aos senhores senadores.
A discussão sobre a Lei da Ficha Limpa no STF, se seria aplicada na eleição de 2010 ou não, parou em decorrência da falta de interesse do presidente Lula em nomear o décimo-primeiro integrante para ocupar a vaga deixada pelo ministro Eros Graus.
“Provavelmente teremos que aguardar a nomeação do décimo-primeiro ministro do Supremo para desempatar”, disse o ministro Ricardo Lewandowski sobre o impasse (e o empate) na votação da Lei da Ficha Limpa.
O Poder Judiciário, principalmente sua Corte máxima, o nosso digno Supremo Tribunal Federal (STF), não pode ficar subordinado aos interesses e as conveniências políticas dos governantes de plantão.
O presidente Lula fará sua nona nomeação para o STF. O chefe do Executivo, até o fim de seu mandato, terá nomeado nada menos que nove ministros de um total de 11 que compõem a Alta Corte.
Que os Poderes da República sejam independentes e harmônicos entre si. É o que todo o povo brasileiro deseja.

COISA FEIA

A atual Câmara de Vereadores de Itabuna vai ficar conhecida, quem sabe até lá no estrangeiro, como a mais de tudo: a mais nojenta, a mais podre, a mais ridícula, a mais subserviente, a mais titica e a mais corrupta.
Pouquíssimos edis, talvez dois ou três, no máximo quatro, não estão atolados no lamaçal que toma conta da Casa Legislativa. Os outros, indignos representantes do povo, são “viriadores”.
Marco Wense é articulista do Diário Bahia.

Tempo de leitura: 2 minutos

Da esq. p/ dir.: Wenceslau, o secretário da Administração, Gilson Nascimento (que apoia o grupo) e Ruy Machado

Verdadeira convulsão política na Câmara de Vereadores de Itabuna. Na disputa pela mesa diretora da casa, que terá eleição nesta terça-feira, 30, aconteceu o inimaginável: Roberto de Souza (PR) acaba de se tornar aliado do presidente Clóvis Loiola (PPS), de quem até poucos dias atrás era arqui-inimigo.
Souza rompeu com os ex-aliados Wenceslau Júnior (PCdoB), Ricardo Bacelar (PSB) e Claudevane Leite (PT), que estão apoiando a eleição de Ruy Machado (PRP) para a presidência, tendo Didi do INSS (PDT) como primeiro secretário. Segundo Machado, o próprio Roberto de Souza foi quem o incentivou a ser candidato, mas exigia a primeira-secretaria.
Há pouco, o PIMENTA finalmente conseguiu fazer contato com os vereadores Claudevane Leite, Wenceslau Júnior e Ricardo Bacelar. Eles confirmaram o apoio a Ruy Machado e o rompimento com Roberto de Souza, por iniciativa deste.
“Ninguém pode ter a pretensão de possuir cadeira cativa na mesa diretora”, declarou Wenceslau, criticando a postura do vereador do PR. Segundo o comunista, a partir do momento em que a oposição perdeu a maioria política, foi necessário iniciar a discussão de alternativas. Além de Machado, os nomes de Milton Cerqueira (DEM) e Milton Gramacho (PRTB) foram cogitados.
POUCO CONFIÁVEL
Gramacho teria sido descartado por causa da pouca confiança junto aos demais vereadores. “Ele não cumpre acordo”, afirmou Wenceslau, acrescentando que “dar a presidência a Gramacho seria o mesmo que entregar a Câmara ao Executivo” (como está, com Loiola).
O vereador Ricardo Bacelar assegurou que não existe “acordão” com o Executivo. Segundo ele, Machado assumiu compromisso com “a moralização e a independência da Câmara”. Segundo ele, com Gramacho presidente, os cargos do legislativo já estariam loteados pela secretária particular do prefeito, a poderosa Joelma Reis. A diretoria, por exemplo, seria de Otaviano Burgos, filho do secretário da Fazenda da Prefeitura, Carlos Burgos.
“Você vai ver, nosso diretor será um nome respeitado pela esquerda e que é consenso (entre os vereadores que apoiam Machado)”, disse Bacelar, acrescentando que o candidato a futuro diretor teve passagem no governo do ex-prefeito Geraldo Simões (PT). Ele só não quis antecipar o nome.

Tempo de leitura: < 1 minuto

Em conversa com o PIMENTA, o vereador Claudevane Leite declarou ter sido autorizado pelo deputado federal Geraldo Simões (PT) a desconsiderar uma resolução do diretório municipal do partido. Na sexta, a presidente local do PT expediu o documento, que orientou o vereador a não apoiar Ruy Machado para a presidência da Câmara e determinou que ele lançasse candidatura própria.
“Geraldo (Simões) me telefonou e disse que eu estou no caminho certo, que relevasse a resolução do PT”, declarou o vereador. Para Claudevane Leite, a opção por Ruy Machado seria “a menos grave”.
Sobre a não-entrega do relatório da Comissão Especial de Inquérito da Câmara de Vereadores ao Ministério Público, Claudevane Leite informou que o documento ainda não foi encaminhado por causa de obstáculos criados pelo presidente da do legislativo, Clóvis Loiola. Ele estaria utilizando prerrogativas regimentais para impedir o encaminhamento do relatório e dos autos da investigação.
“Loiola quer entregar o relatório e os autos somente após a eleição da mesa (na próxima terça-feira)”, declarou o petista.

Tempo de leitura: 2 minutos

Ricardo Ribeiro | ricardoribeiro@pimentanamuqueca.com.br
O vereador Claudevane Leite (PT) é dos poucos integrantes do legislativo itabunense pelos quais este blogueiro sempre nutriu admiração. Sóbrio, tranquilo, de uma humildade franciscana, Vane (assim ele é carinhosamente chamado por todos) jamais ofereceu qualquer chance para que duvidassem de seu caráter.
Alguns podem dizer que, no momento em que o petista passou a se relacionar bem demais com o governo do DEM, ele já dava mostras de certa “flexibilidade”. Mas, na dúvida, pesou mais a boa fama do vereador que, como tantas outras pessoas, considerava oportuno dar um voto de confiança à nova gestão (quando ela ainda era nova). Petista heterodoxo, Vane chegou a ser alertado pelo seu partido quando a afabilidade com o os democratas ficou exagerada.
Veio a Comissão Especial de Inqúerito da Câmara de Vereadores e o petista foi escolhido relator. As denúncias eram cabeludas e pareciam indicar a existência de uma quadrilha no legislativo, com ramificações de extensão indefinida. Acreditava-se que a CEI não só confirmaria as suspeitas de sempre, como também destruiria reputações até então tidas como inabaláveis.
Sessenta dias de trabalho e Vane se mostrava inquieto. Revelou que era pressionado a cobrir o relatório da CEI com mussarela, presunto e molho de tomate, mas garantiu que estava firme e iria até o fim. Mesmo antes de ler o parecer em plenário, o petista demonstrava a intenção de levá-lo ao Ministério Público, sendo impedido pelo presidente da Câmara, Clóvis Loiola (PPS), hoje tutelado pelo Executivo.
Lembro-me de Vane na sala das comissões técnicas da Câmara, diante de alguns profissionais de imprensa, mostrando-se decepcionado por não ter conseguido – naquela ocasião (o dia era 5 de novembro) – protocolar o relatório da CEI no Ministério Público. Ele repetia a orientação da Secretaria Parlamentar, informando que somente poderia apresentar o documento ao MP após a leitura do mesmo em plenário, o que dependia de autorização de Loiola.
O relatório da CEI foi lido finalmente no dia 16 e esperava-se que, logo em seguida, o documento chegasse ao MP. A pressa demonstrada por Vane fazia todos crerem que, imediatamente após a leitura em plenário, o vereador sairia em disparada até o escritório da Promotoria, situado a poucos metros da sede do Legislativo.
A pergunta é: por que Vane não foi ao MP? Essa é a indagação que tentamos fazer ao vereador desde sexta-feira (26), mas seu telefone celular encontrava-se desligado em todas as tentativas. Também perguntaríamos se o petista manterá a disposição de votar em Ruy Machado (PRP) para a presidência da Câmara, mesmo com a recomendação em sentido contrário feita pelo PT. Infelizmente, Vane parece não estar com muita vontade de dar explicações. Por que será?
A atual situação da Câmara de Itabuna aguça desconfianças. Sabe-se que uma apuração rigorosa dos malfeitos daquela casa pouparia pouquíssimas cabeças, o que talvez explique o acordão feito entre governistas e oposicionistas para mudar o regimento e eleger uma nova mesa diretora presidida pelo vereador Ruy Machado.
De mãos dadas, governo e oposição tentam flutuar na lama, enquanto a parcela atenta da sociedade acompanha tudo estarrecida.
Ricardo Ribeiro é um dos blogueiros responsáveis pelo PIMENTA e também escreve no Política Etc.

Tempo de leitura: 6 minutos

AFINAL, ELA É PRESIDENTE OU PRESIDENTA?

Ousarme Citoaian

Retomemos, conforme promessa, a discussão sobre as opções presidente/presidenta, assunto pertinente, quando o Brasil escolhe sua primeira presidenta. E pronto: já fiz, antecipadamente, minha escolha. Mas, como tudo neste espaço, trata-se de opinião, preferência, havendo argumentos igualmente ponderáveis para Dilma presidente. O professor Pasquale Cipro Neto, em moda nas diversas mídias, prefere presidente – argumentando que as palavras terminadas em “nte” não variam de gênero, sendo marcadas pelo artigo “o” ou “a” (e exemplifica: o gerente, a gerente; o pedinte, a pedinte e, claro, o presidente, a presidente).

PROFESSSORES MOSTRAM OPINIÕES DIFERENTES

Mas não há unanimidade entre os professores. Em Salvador, o Instituto Kumon, que tem mais de 2,5 mil alunos, não concorda com Cipro Neto (foto). “Presidenta é melhor porque deixa claro ser uma mulher e a questão de gênero agora vai tomar novo fôlego no Brasil,” entusiasma-se a professora baiana, filha de pais russos, Nadegda Kochergin. Em favor de presidenta, a história da língua portuguesa mostra que a forma feminina teve dificuldades para se estabelecer em professora, doutora e juíza, que também soaram estranho nos primeiros tempos, mas depois foram assimilados no falar cotidiano dos brasileiros.

EXEMPLOS BONS DO CHILE E DA ARGENTINA

Na Argentina, Cristina Kirchner jamais deixou dúvidas sobre sua preferência: “Presidenta! Comecem a se acostumar: presidentaaaa… e não presidente!”,  gritava nos palanques. Empossada, devolvia os documento que chegavam à Casa Rosada endereçados à “presidente”. No Chile, Michelle Bachelet (foto) adotou o mesmo modelo e se fez chamar presidenta. Mas é verdade que as brasileiras não têm contribuído para o avanço: a jurista Ellen Gracie se disse presidente do Supremo Tribunal Federal, a escritora Nélida Piñon era “a primeira presidente” da Academia Brasileira de Letras e a nadadora Patrícia Amorim se anuncia como presidente do Flamengo.

PRECONCEITO SERÁ SEDIMENTADO PELA MÍDIA

Data vênia, o professor Cipro Neto põe gerente, pedinte e presidente no mesmo saco, misturando, não se sabe com que intuito, alhos e bugalhos: as duas primeiras são invariáveis em gênero, identificando-o apenas pela anteposição do artigo. Já presidente tem como feminino presidenta. Na campanha, Dilma se mostrou inclinada a se fazer chamar de presidenta. Mas a mídia – em geral tão conservadora quanto a própria sociedade – tende para presidente, em nome da “facilidade” e do hábito. Vai ignorar a lógica, opor-se ao novo e sedimentar o preconceito gramatical contra as mulheres – e, por certo, com a inteira colaboração destas. Clique e veja a preferência de Dilma.

A MELHOR HERANÇA É O EXEMPLO DE VIDA

Em recente artigo na Envolverde (Aos nossos filhos, 11.11.2010), Frei Beto (foto) fala do legado a ser deixado para os filhos, e afirma que não há mal em “fazer um pé-de-meia, de olho no futuro dos seus rebentos”, mas faz uma advertência: “Não é dinheiro o que um filho mais espera dos pais, ainda que não saiba expressá-lo. É amor, amizade, apoio e, sobretudo, exemplo de vida”. E cita Thomas Mann (autor de A montanha mágica): “Um bom exemplo é o melhor legado dos pais aos filhos”. O religioso conclui que “nada mais perigoso a um jovem que centrar sua autoestima na conta bancária ou no patrimônio familiar”.

MILTON SANTOS: DA ALDEIA PARA A GLÓRIA

Embora concorde com a tese de Frei Beto, não entro em detalhes sobre ela (quem quiser fazê-lo já sabe onde encontrá-la), por fugir ao espírito da coluna. O que eu queria dizer é que, a certa altura, em favor de seu argumento, o autor anota: “O professor Milton Santos, da USP, enfatizava a importância de se perseguir os bens infinitos, e não apenas os finitos”. Confesso meu orgulho ao ver as freqüentes referências ao velho mestre do Instituto Municipal de Educação (IME), de Ilhéus, um nome que ilumina o pensamento nacional, mas é desconhecido aqui na região onde despontou para a glória do mundo.

EXISTIR É O MAIOR DIREITO DE TODOS NÓS

A escritora Aninha Franco (foto) trouxe aos jornais, com a eleição do dia 31, a divisa “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”, da Revolução Francesa de 1789, como foco a ser perseguido pelo  Brasil dos próximos tempos – e me fez lembrar um texto de Robespierre (escrito uns quatro anos mais tarde): “O pensamento diretor é o de existir. A primeira lei social é, portanto, a que assegura a todos os membros da sociedade o direito de existir – todos os demais lhe são subordinados”. Vê-se como os princípios gestados no Iluminismo ainda estão pulsantes, seculares, mas jovens e “perigosos”. E todo esse francesismo me remete, de alguma forma a Gilberto Gil e seu eterno deus Mu Dança.

A MUDANÇA É FEITA COM PAZ OU COM ARMAS

“Sente-se a moçada descontente onde quer que se vá/ Sente-se que a coisa já não pode ficar como está/ Sente-se a decisão dessa gente em se manifestar/  Sente-se o que a massa sente, a massa quer gritar: ´A gente quer mudança´./ O dia da mudança, a hora da mudança, o gesto da mudança/. Sente-se tranqüilamente e ponha-se a raciocinar/ Sente-se na arquibancada ou sente-se à mesa de um bar/ Sente-se onde haja gente, logo você vai notar/ Sente-se algo diferente: a massa quer se levantar pra ver mudança, o time da mudança, o jogo da mudança, o lance da mudança”. É o novo chegando, anuncia o poeta: “Talvez em paz Mu dança/ Talvez com sua lança!”

TODOS OS HOMENS NASCEM LIVRES E IGUAIS

Estamos vivendo uma transformação de hábitos à brasileira: lenta, silenciosa, sem sangue, mas persistente. Nossa revolução, sem a guilhotina dos homens insensatos ou a lança do irado deus Mu dança, aproxima-nos, aos poucos, da liberdade, da paz, da igualdade, da fraternidade, da igualdade entre os brasileiros, com base em mais este legado da Revolução Francesa: “Os homens nascem e permanecem livres e iguais em direitos; as distinções sociais não podem ser fundadas senão sobre a utilidade comum”. No  Brasil já se extinguiu o voto de qualidade, deixando todos com o mesmo valor e sepultando a odiosa frase “brasileiro não sabe votar”. É um (bom) começo.

COMENTE»

E MILES DAVIS RECRIOU ZÉ COM FOME…

Zé com Fome, Zé da Zilda ou José Gonçalves (1908-1954) teve seu samba Aos pés da cruz (com Marino Pinto) lançado por Orlando Silva, com êxito retumbante. A canção ganhou registros surpreendentes do violonista Baden Powell (cantando!) e de Miles Davis, o divino trompetista do jazz, do rock e da fusion. Aos pés da cruz carrega um verso nada cartesiano que deu muito o que falar: “O coração tem razões que a própria razão desconhece”  – uma transcrição direta de Pascal (1623-1662): Le coeur a des raisons que la raison ne connaît pas, suficiente para que um crítico indignado apontasse seu dedo acusador, aos gritos de “Plágio! Plágio!” .

PASCAL: “NOME DE CACHORRINHO DE MADAME”

Já não me lembra o nome do crítico apoplético, mas sei que em defesa de Zé da Zilda veio o jornalista Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta), e veio com tudo: disse (a rigor, escreveu) que o compositor jamais ouvira falar do filósofo francês e que para o homem simples que era o letrista de Aos pés da cruz, Pascal deveria ser “nome de cachorrinho de madame”. Excessos à parte, também acho improvável que o autor da marcha Saca-rolha, nascido e vivido na cultura das ruas, houvesse alguma vez lido um erudito francês do século XVII. Imagino que Zé com Fome ouviu a frase por aí e se apossou dela, como quem pega passarinho em visgueira.

JOÃO TIRA O CHAPÉU PARA A VELHA-GUARDA

Em 1959, no LP Chega de saudade (aquele que é tido como o abre alas da bossa-nova), João Gilberto faz novas gravações, em homenagem à turma da velha-guarda do samba. Ao lado de temas que consagrariam o novo movimento musical (como Chega de saudade e Desafinado), ele recuperou temas eternas do cancioneiro nacional, alguns então esquecidos: lá estão Rosa morena, de Caymmi, É luxo só (Ari e Luiz Peixoto) e Morena boca de ouro, de Ari Barroso (foto). Nessa leva, mostrando que a bossa-nova queria manter um pé em nossos clássicos populares, Aos pés da cruz ganhou leitura especial. Clique e veja um trecho.

(O.C.)