Tempo de leitura: 2 minutosDo Política Etc:
Do alto do trio elétrico de Ivete Sangalo, o ídolo teen sertanejo Luan Santana proclama que sua maior admiração ao povo baiano se deve ao fato deste ser “um povo patriota”. O garoto confundiu patriotismo com a defesa veemente dos valores locais, o que em alguns casos poderia ser definido como bairrismo. Patriota é quem tem amor pela sua pátria e, desde que façamos um favor ao artista e consideremos a Bahia como nossa pátria, está tudo bem.
O “patriotismo” baiano se revela exacerbado neste carnaval, em que muitas vozes se levantaram contra a proteção conferida pela Rede Globo à folia carioca. Sobrou também para a Band, que este ano deu mais espaço ao Carnaval de Recife, e até para o SBT de Seu Sílvio. O baiano, por assim dizer, se arretou.
Na TV, zapeio em busca de algum canal que mostre algo sobre o Carnaval da Bahia. Paro na TVE, onde o destaque foi a belíssima festa do Pelourinho, uma homenagem aos velhos carnavais, na qual até criança curtia músicas como Chão da Praça e Vida Boa. Bem diferente da música que diz: “Lex Luthor e Coringa roubou o laço da Mulher Maravilha”. Gilberto Gil tenta ser delicado, mas há uma ironia no ar: “não se pode exigir que esse povo se atenha à norma culta”.
Do Pelô, emanam belos acordes. “Olhos negros tu és tentadores/ Às multidões encantou…”. Encantava o público diminuto da TVE, pois a maioria assistia à guerra do bem contra o mal nos circuitos Dodô e Osmar. O bem, encarnado pela Mulher Maravilha e pelo Superman. O mal, por Lex Luthor, Coringa e a Rede Globo.
O responsável pelo marketing do Itaú, banco que apoiou o carnaval soteropolitano, reclamou da pequena exposição da festa. Acha que ela está se restringindo à posição de evento regional, quando deveria ter dimensão nacional.
Eu, humildemente, acredito que antes de se discutir a dimensão do carnaval baiano, é preciso encontrar uma definição para a festa, debater se ela evoluiu ou se está regredindo. Parece discurso saudosista, mas a verdade é que a coisa está feia e, sinceramente, às vezes dá vergonha.
Já não vou a carnavais há muito tempo, mas participar de uma festa para ouvir músicas como uma da banda Chicabana (um Chiclete com Banana made in China), que diz “E você me adoraaaaa/ E me acha f#%daaaaa”, é demais, não dá.
Está na hora do Carnaval da Bahia se reinventar e os Levanoiz da vida precisam ter a humildade de ouvir os artistas que fizeram esse estado ser reconhecido por sua riqueza cultural. Menos discurso de vítima e mais esforço para transformar essa esculhambação que aí está em um produto digno de ser mostrado ao mundo.
Por enquanto, a beleza fica por conta da autêntica e espontânea alegria do povo baiano, que tem festa no espírito. Baiano pula e dança até com baticum de panela, mas o som que se ouve hoje é de doer.
Ricardo Ribeiro
ricardoribeiro@pimentanamuqueca.com.br