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Allah Góes | allah.goes@hotmail.com
 

É a você, Alberto “Parafuso”, Meu Pai, grande responsável por eu ser quem sou, na impossibilidade de lhe dar um forte abraço neste Dia dos Pais, que presto homenagem.

 
O velho “científico” (hoje chamado ensino médio), além de servir de preparação para que possamos adentrar numa boa universidade, também funciona como uma espécie de transição para a vida adulta, pois é nessa fase que solidificamos os conceitos e enfrentamos os primeiros desafios do início de nossa vida adulta.
No meu caso, além de ter passado pelas experiências próprias daquele período, e que foram responsáveis por ter encontrado os amigos que até hoje nos acompanham, os quais considero meus “irmãos escolhidos”, tive a felicidade de poder contar com os conselhos de meu pai, que, mesmo com a saúde bastante debilitada, foi muito presente naquela complicada transição.
Uma das maiores dúvidas surgidas na passagem para a vida adulta, senão a maior de todas, foi: “e agora, concluí o segundo grau, o que vou fazer com a minha vida? O que quero ser?”.
Eu achava que queria ser jornalista, por entender que, nessa profissão, poderia ajudar a minha cidade, levando conhecimento e informação a todos. Mas em Itabuna não havia faculdades para aquela área, e o que mais se aproximava era o curso de letras na Uesc, pois o Curso de Comunicação na Ufba era um sonho impossível, dada a nossa situação financeira, decorrente da doença de meu pai.
Confesso que pendia para o curso de Letras, por acreditar ser mais fácil para mim passar naquele vestibular. Quando meu pai soube de minha inclinação, não por conta do curso escolhido, que é um dos melhores da Uesc, mas por conta do motivo da escolha (a pseudo-facilidade em ser aprovado no vestibular), ele me chamou para uma conversinha.
De início, não fiquei assustado com o convite, pois sempre conversávamos abertamente sobre tudo, mas confesso que o tom utilizado por ele foi de assustar, pois falava sobre futuro, realização pessoal, legado e afins, assuntos bem distantes para o “eu de 16 anos de idade”, e ainda mais naquele momento em que pensava apenas em ser aprovado no vestibular.
Ele me falou que na vida precisamos ter opções. “Nunca devemos colocar todos os ovos numa única cesta”, me disse. “Você não pode fazer um curso que será a prioridade de sua vida, no mínimo, pelos próximos 4 anos, com a única intenção de ser jornalista, até porque este curso não lhe preparará para esta profissão”, sentenciou.
“Sabe qual o curso que temos aqui em nossa região, que, além de lhe preparar melhor para ser um jornalista, pois lhe dará uma visão mais ampla da vida, lhe possibilitará um leque maior de opções, caso não dê certo o trabalho em comunicação? Direito, pois, além de poder ser jornalista, você também poderá ser delegado, juiz, promotor, professor e, se nada mais der certo, poderá, inclusive, ser advogado. Enquanto que cursando letras, se não conseguir se firmar como jornalista, você poderá ser apenas professor”, finalizou.
Assim, refletindo sobre o que acabara de me dizer meu pai, resolvi, mesmo temendo não conseguir a aprovação, prestar vestibular para Direito, no qual acabei aprovado, e, no ano de 1997, 5 meses após seu falecimento, me formei Advogado.
Hoje, passados quase 20 anos daquele conselho, graças a Meu Pai, sou advogado, militante na área pública e, além de exercer minha profissão, participo, como articulista, de diversos periódicos, realizando meu adolescente sonho de ser um jornalista e contribuir com o debate de ideias e de temas.
E é a você, Alberto “Parafuso”, Meu Pai, grande responsável por eu ser quem sou, na impossibilidade de lhe dar um forte abraço neste Dia dos Pais, que presto homenagem, tanto reverenciando a sua memória, dando o seu nome ao meu primeiro filho, como aqui eternizando a lembrança daquele dia em que você me mostrou o caminho a ser seguido. Meu muito obrigado por tudo.

0 resposta

  1. Nobre Allah,
    Falar sobre a contribuição do nosso autor na grande maioria das vezes é sempre muito mágico.
    Sentir a devoção de maneira fantastica, faz crê que estimulos e incentivos são levados para a vida inteira e isso você traduz muito bem.
    E hoje, quem leva parabéns também é você: Feliz dia dos pais!!
    Forte abraço!

  2. O que observo na sua locação é um preconceito da parte do seu pai e sua pela profissão de professor, pois com essa fala ..”apenas poderá ser professor”,demonstra em que país nos vivemos os chamados DOUTORES sem ao menos terem título de Doutorado de fato.

  3. Ô Leandro,
    É memlhor vc ler novamente o texto e ver q a homenagem prestado por Dr. Allah a seu Pai, não tem nada de preconceito ao fato de se querer ser professor.
    E caso vc não saiba, Dr. Allah, além de ser filho de uma professora, já lecionou em sua vida.
    Agora a vc Dr. Allah, PARABÉNS PELA LINDA HOMENAGEM PRESTADO.
    de seu primo, Mario Anunciação

  4. Parabéns por seu pai poupar você do exercício do magistério. Note que ele falou “…e se nada mais der certo, vai ser advogado…”. Ele não era preconceituoso, tinha bom censo, não pode?

  5. Sem trocadilhos. Contudo seu saudoso pai lhe ensinou a importancia das escolhas na vida de uma pessoa. Seguindo o conselho,você literalmente escolheu DIREITO. Parabéns pela linda homenagem.

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