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Karol Vital | karolinevital@gmail.com
 

Meu pai era quem me dava banho, levava para a escola, para o médico, para passear, penteava meus cabelos, cortava minhas unhas e até brincava de boneca comigo.

 
Este domingo (14), será o dia dos pais. Infelizmente, não poderei comemorar a data ao lado do meu, já que estamos separados por mais de 700 quilômetros. A vantagem é que, mesmo com grande distância física, sempre estamos próximos em coração. E as tecnologias ajudam a diminuir a saudade. Compartilhamos nossas vidas através de longas conversas por telefone, ele vê um pouco do que estou fazendo pela internet… Mas nada substitui o contato físico, que é o único remédio eficaz contra a saudade.
Meu pai e eu sempre fomos próximos, apesar de sermos bem diferentes. Quando eu era pequena, era ele quem cuidava de mim enquanto minha mãe trabalhava. Costumo dizer que tive uma criação às avessas. Meu pai era quem me dava banho, levava para a escola, para o médico, para passear, penteava meus cabelos, cortava minhas unhas e até brincava de boneca comigo. Uma das lembranças mais gostosas é quando ele me colocava para dormir, aconchegada em seu peito e cantando alguma música de Roberto Carlos ou impostando a voz bem grave para imitar Nilo Amaro e seus cantores de Ébano: “Ô, leva eu, minha saudade. Eu também quero ir, minha saudade. Quando chego na ladeira tenho medo de cair…”
Eu não posso me queixar que não tive um pai participativo. Ele é um pai tão completo que já chegou ao ponto de não precisar de mim para desempenhar o papel e receber as honras do título. Quando eu estava na pré-escola, o colégio organizou uma festa diferente para homenagear os pais. Nada de apresentação de coral infantil ou lembrancinhas feitas com macarrões colados. Seria uma corrida de pais, levando ao extremo a ideia de “pai super-herói”. A competição seria na manhã do domingo dos pais, na Avenida Soares Lopes.
Quando cheguei com a proposta da corrida do dia dos pais, o meu velho se empolgou na hora. Ele sempre foi meio tirado a atleta, pulava corda, exercitava-se com um par de alteres, fazia flexões, barras, abdominais… Todos os exercícios ritmados com inspirações violentas que faziam suas narinas vibrarem e expirações pela boca, as quais geravam pequenos assovios. Eu sabia que ele não faria feio na competição e estava doida para torcer por sua vitória.
Na manhã do domingo, acordei e não encontrei o meu coroa em casa. Conferi a hora e vi que estava mais que atrasada para a corrida dos pais. Já passava das 9h30min e o evento estava marcado para as 8 horas. Fiquei tão desapontada, pois meu pai tinha prometido participar da competição e ele nem em casa estava. Mas a frustração durou pouco tempo. Quando ouvi o barulho da corrente do portão de entrada, fui correndo para receber meu pai com uma bronca, mas fiquei meio sem reação quando o vi. Ele estava todo suado, com a camisa da corrida e uma medalha feita de broa, pendurada no pescoço por uma fita verde.
– Oxe, painho! Onde é que o senhor estava? – indaguei.
– Ora, fui participar da corrida. Você não acordou na hora. – respondeu.
Confesso que a frustração acabou se transformando em raiva. Como é que meu pai foi participar de uma homenagem aos pais sem o principal: a filha. Afinal, ele só era pai por minha causa.
– Mas e por que o senhor não me chamou?
– Você estava dormindo tão bonitinho!
Essa foi a resposta que quebrou minhas pernas. Mesmo sabendo que participar da competição seria apenas uma chance de exibir seu bom condicionamento físico para
as professoras solteironas ou frustradas, o meu velho demonstrou o que fazia dele um pai. Sua preocupação constante com o meu bem-estar.
Karol Vital é comunicóloga.

0 resposta

  1. Sorte Karolzinha, poder falar do seu velho mesmo distante mas
    possível de um abraço.
    Hoje não posso abraçar o meu nesta vida, contudo, ainda
    desfruto da lembrança gostosa de coisas como sentir o forrar
    dos meus pés durante as noites de frio, a presença forte e firme em nosso lar.
    Meu PAI ainda norteia nossa vida enquanto
    pai e cidadão, saudade, saudade, como é bom possuir.
    Cheiro a ÔCES

  2. Felizes daqueles que ainda têm seus pais vivos, mesmo à distância, …!!!
    Para mim, que estou entre os que já viram os pais passarem para outro plano, fica apenas a esperança de encontrá-los numa outra existência, num outro plano, …, se é que isso é posível, …!!!
    Por enquanto, só as orações nos confortam, …!!!
    De qualquer forma, estando do outro lado do balcão, pois há algum tempo eu passei da condição de filho à de pai, é muito gratificante ver alguém nos chamar de pai, achar que somos os seus heróis, que podemos protegê-los, resolver os seus problemas, …!!!
    A vida é assim: Dá com uma mão, mas tira com a outra, …!!!
    Viver é uma arte, …!!!
    Feliz dias dos pais a todos, …!!!

  3. Já havia lido o texto no blog de Karol (http://karolescreve.blogspot.com) e compartilhei via Google Reader, mas não posso deixar de comentar aqui. 😉
    Bom ver que o Pimenta homenageia os pais através de um texto bem humorado mas carregado de emoção, escrito por uma ilheense(ainda que, no momento, distante da terrinha)e AINDA não incluída no rol dos escritores famosos.
    Saudades, amiga, especialmente de nossos passeios, das comilanças e do dolce far niente na AABB todos os sábados!
    Beijo enorme!

  4. Adorei o comentário de Karol. Vi Karol nascer. Uma menina que se transformou numa profissional de valor. Fui colega de sua mãe nos bons tempos do CEAMEV. Tesmunho com alegria as suas palavras. Prof. Josevandro Nascimento

  5. Ói Karolzinha,
    Gostei de saber notícias suas e que bom vc está feliz e nos fez feliz, também, com seu texto. Lembrei muito do meu velho que há mais de 10 anos, com certeza, contempla a face do Senhor.
    Valeu amiga,
    Bjs
    Rúbia Carvalho

  6. Ao leitor que assina “Insanidade”: o seu desrespeito às normas mais elementares de regência também é bastante insano. Lá ele! “A escolha das palavras não foram felizes” (putz!)

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