Tempo de leitura: 2 minutos

Karoline Vital | karolinevital@gmail.com

Na mesma hora, liguei a lição aprendida ao meu cotidiano. Neste período de campanha eleitoral aparecem pretensos cientistas políticos a torto e a direito trazendo soluções infalíveis para tirar a cidade da barafunda

Fábulas são modos divertidos de ensinar regras de convivência. Sempre me diverti com as historinhas despretensiosas tentando ilustrar a melhor maneira de nos comportarmos para tornar a vida mais suportável.

Ultimamente, tenho me deparado com imagens de uma fábula moderna nas redes sociais. A cara que o He-Man fazia explicando a lição de moral passada ao final dos episódios. O pior é que os argumentos até faziam sentido, apesar de não passarem de falácias. Ah, anos 1980, quando o politicamente correto era coisa de hippie! Brinquedos com rebarbas cortantes e pintados com tintas à base de chumbo, cigarrinhos de chocolate e um desenho animado cheio de monstros e musculosos em modelitos homoeróticos, com um tentando matar o outro, ostentando a pretensão de ter alguma autoridade para promover a moral e os bons costumes.

Apesar de não concordar com a fórmula usada por He-Man, eu acho a tentativa válida. Em uma época em que as famílias estão cada vez mais desmanteladas, sem núcleos sólidos, qualquer meio de passar normas de comportamento vale a pena. O legal é que, mesmo com o povão e a mídia classificando os desenhos animados contemporâneos de violentos e vazios, há muita coisa de qualidade e com mensagens boas sendo produzidas.

Infelizmente, grande parte fica restrita aos canais educativos que têm audiência proporcional à massa pensante do país. Ou então, só quem tem o privilégio de pagar uma TV por assinatura com canais infantis de conteúdo criteriosamente selecionado e classificado para cada fase da infância. Dia desses, deparei-me com um programete bem legal no canal Rá-tim-bum, “O papel das histórias”. São bonecos de recortes de papel cartão que contam fábulas clássicas do grego Esopo e do francês La Fontaine.

Assistindo com minha filha de dois anos “O papel das histórias”, pude refletir sobre a fábula “Assembleia dos Ratos”, de Esopo. É a história de uma colônia de ratos que não suporta mais o terror ditado por um gato e se reúne para discutir uma solução para o pesadelo.

Cada rato dá sua sugestão até que um vem com a melhor de todas: colocar um sino no pescoço do felino. Assim, todos ouviriam ele se aproximar e poderiam fugir antecipadamente. O ratinho foi aplaudido pela brilhante ideia. Até que um rato mais velho fez o sábio questionamento: “Quem colocará o sino no pescoço do gato?” Os ratos se entreolharam e foram saindo um a um. Moral da história: falar é fácil, fazer é que é difícil.

Eu não conhecia esta fábula e, na mesma hora, liguei a lição aprendida ao meu cotidiano. Neste período de campanha eleitoral aparecem pretensos cientistas políticos a torto e a direito trazendo soluções infalíveis para tirar a cidade da barafunda. Eles não se limitam a dar opiniões. Já traçam todo o percurso para a salvação da lavoura com uma propriedade tirada sabe Deus de onde. Muitas vezes são sugestões coerentes, plausíveis, perfeitamente realizáveis. Todavia, eu me pergunto: Quem está realmente disposto a amarrar o sino no pescoço do gato?

Karoline Vital é jornalista.

5 respostas

  1. Respondendo sua pergunta final, minha cara, diria que a sociedade civil organizada, consciente, e a justiça, por nós pressionada.

    E se a justiça corrompe-se, então que também coloquemos sinos nos pescoços dos maus juízes e algemas em suas patas.

  2. Um gato de nome Faro-Fino fez tais estragos na rataria de uma casa velha que os sobreviventes, sem coragem para saírem das tocas, estavam quase a morrer de fome. Tornando-se muitíssimo séria a situação, resolveram reunir-se em assembleia para o estudo da questão. Aguardaram para isso, e certa noite em que Faro-Fino andava pelos telhados, fazendo versos à lua.

  3. Se colcar sino, ninguém dorme!
    Tenham cuidado com Loiola, pelo amor de Deus, pois muita gente está querendo a cabeça dele. Não entendo porque Loiola teve que ir pros raios do perigo, enquanto os outros ficam aqui fora, se todos são uma coisa só… As igrejas deviam desabonar candidatos complicados com a justiça, ao invés de se vangloriar, justificando o erro em nome de Deus. Que cidade sem sorte é Itabuna!

  4. Muito pertinente o artigo, muito interessante também a comparação, a mensagem é clara ideias revolucionarias nem sempre é a melhor opção, devemos conhecer o problemas pois se fosse tão fácil de ser resolvido, não seria um problema. Gostei da mensagem. Parabéns!

Deixe aqui seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *