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Valéria Ettinger | lelaettinger@hotmail.com

É por você, Ingrid, e por tantas outras mulheres agredidas e mortas que, no dia 24 de novembro de 2012, às 9h, Itabuna irá às ruas na marcha pela igualdade, pela dignidade e pelo respeito ao “ser mulher”.

Há quem afirme que a culpa do pecado original partiu da mulher, pois foi ela quem se deixou seduzir pela serpente e induziu o homem a comer do fruto do pecado e, ao fazer isso, ambos foram expulsos do paraíso.

Nesse processo de expulsão o homem, para fugir de sua responsabilidade do ato proibido e pecaminoso, diz, categoricamente, que a mulher é a culpada e com isso tenta se isentar da pena decorrente do seu ato. No Direito, o agente de um ato ilícito não será punido se provar a culpa de terceiro ou a culpa exclusiva da vítima.

Essa passagem bíblica nos remete a uma realidade dura e cruel que sofrem as mulheres vítimas de violência, pois em muitos casos elas são colocadas como promotoras e indutoras da agressão, a partir de estigmas decorrentes da sua identidade, da forma como se vestem e da forma como se posicionam na vida pública e privada.

As mulheres que se vestem de maneira sensual ou se comportam de um modo mais expansivo, caso venham a ser agredidas, saem da condição de vítima e passam para a condição de provocadoras e incentivadoras do ato, diminuindo ou até mesmo isentando o agressor da sua culpa.

A difusão dessa interpretação machista do pecado original fomentou estigmas sociais que levaram a mulher a uma condição de submissão e fragilidade, transformando-a em um objeto a ser usado pelos seus homens (pais, irmãos, maridos), nos fazendo crer, que essa foi à pena imputada a mulher por ser culpada pela sedução no paraíso.

Nisso foram se desenvolvendo muitas formas de violência contra mulher, pois os homens tinham a convicção de terem o poder de vida ou morte sobre as mulheres e essas, pela força da dominação, entendiam-se como seres dominados e submissos, como bem retratou Jorge Amado no seu romance “Gabriela”, situação que se perdura nos dias atuais.

A violência contra a mulher é exposta de diversas maneiras, das mais sutis às mais agressivas e, muitas delas, pelo processo da massificação cultural, tornam-se referenciais de vida e comportamento do “ser mulher”. É o que se chama de violência simbólica, as quais são retratadas nas músicas, nas festas populares, nos programas de televisão, induzindo as mulheres a adotarem um padrão de beleza e de comportamento, como se elas fossem apenas “perna, peito e bunda”.

Observa-se, ainda, a violência moral e a violência física que matou, no Brasil, nos últimos 30 anos cerca de 91.932 mulheres, colocando o Brasil no 7º lugar em “feminicídio” no ranking de 84 países, a Bahia em 6º lugar nacional, Salvador em 94º e Itabuna em 33º lugar estadual.

Na tentativa de frear e reduzir os índices alarmantes de violência contra a mulher muitas ações afirmativas vem sendo implantadas nas esferas governamentais, bem como atos de resistência e movimentos de mulheres, tornando visível a realidade feminicida e preconceituosa que, ainda, padecem as mulheres no Brasil e no mundo.

Um desses movimentos é a “Marcha das Vadias” que surgiu no Canadá em protesto a uma fala preconceituosa de um policial que disse a estudantes universitárias que elas poderiam ser agredidas por conta das roupas que vestiam.

Surge aí o movimento “Slutwalk”, traduzido como “Marcha das Vadias”, que vem sendo realizado em diversas capitais brasileiras e, em Itabuna, entra no seu segundo ano consecutivo, como agenda dos dezesseis dias de ativismo pelo fim da violência contra a mulher – de 20 de novembro a 10 de dezembro.

Então, vamos ignorar a denominação do movimento e aderir ao seu objetivo principal que é mostrar a sociedade que as mulheres devem ser tratadas como seres autônomos capazes de gerir a sua própria vida, que não sejam tratadas como objeto ou coisa a serem usadas ou desfrutadas como meio ao prazer alheio, que podem sim estudar, trabalhar, ser mãe, mulher e feminina, sem que com isso torne-se uma vadia ou uma ameaça aos seus homens.

É por você, Ingrid, e por tantas outras mulheres agredidas e mortas que no dia 24 de novembro de 2012 Itabuna irá às ruas na marcha pela igualdade, pela dignidade e pelo respeito ao “ser mulher”.

Valéria Ettinger é professora universitária e mestranda em gestão social e desenvolvimento (Ciags/UFBA).

6 respostas

  1. Voces mulheres deixaram de votar em JUÇARA,tá ai VANE fazendo pior que AZEVEDO.Que secretario de Obras e Emasa é este VANE,DEUS NÓS LIVRE.

  2. Sou fã incondicional dessa mulher, fui seu aluno no curso de Direito e, continuo tendo aulas ao ler seus artigos, parabéns Valéria, sua contribuição é muito importante para uma sociedade melhor.
    Alcântara Pellegrini

  3. Pelo menos no secretariado de Vane têm MULHERES!
    Agora falta o povo escolher BEM seus DEPUTADOS(não DEPUTADOS”vadios”que não respeitam as mulheres, mantendo um harém com o dinheiro público)e SENADORES,criando leis que punam esses covardes.

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