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Ricardo Ribeiro | ricardo.ribeiro10@gmail.com

 

É ilusão acreditar que sozinhos os professores conseguirão promover a transformação que se faz necessária.

 

Os problemas que afetam a rede pública de ensino em Itabuna não são diferentes dos que se verificam no resto do País. Entre os mais corriqueiros, estão os baixos salários, o modelo arcaico e desestimulante, a dificuldade em estabelecer um relacionamento efetivo entre escola e comunidade. Neste último ponto talvez se encontre o grande desafio dos educadores, principalmente em se tratando de escolas situadas em bairros muito pobres, com famílias desestruturadas e onde a droga se estabelece, cria estados paralelos e convida até mesmo as crianças a entrar por um caminho que não leva a lugar algum.

Sempre menciono dois casos que me chamaram bastante atenção. O primeiro é o de uma amiga que pertence à Pastoral da Criança e certa vez foi a um bairro da periferia de Itabuna, num domingo, Dia das Mães. A intenção era fazer com que as famílias daquela comunidade vivessem momentos de harmonia, expressando o amor entre mães e filhos. Para surpresa dessa amiga, a maioria das mulheres não conseguiu a menor espontaneidade quando o grupo da Pastoral pediu que as crianças as abraçassem. A impressão clara foi a de que o carinho e o afeto eram elementos ausentes daquelas vidas.

Em outro bairro, uma professora conta que os alunos de determinada escola choram quando toca a sirene que marca o encerramento do dia de aula. Muitas têm medo dos pais, da violência e da droga. Vivem numa situação que lhes rouba a infância, ao deparar cotidianamente com a pior e mais cruel face da miséria.

Diante de quadros como esses, qual é o papel da escola? O que ela pode fazer para ir além do programa curricular e promover mudança efetiva?

O primeiro passo certamente é assumir a incapacidade de encarar tal empreitada sem um concerto social amplo. É preciso chamar a sociedade, toda ela, apresentar-lhe o problema e dividir responsabilidades. É ilusão acreditar que sozinhos os professores conseguirão promover a transformação que se faz necessária. Nem mesmo com valorização salarial, formação continuada e escolas bem equipadas esse milagre será possível.

Há problemas intra e extramuros e o que se vê até o momento é uma escola incapaz de enfrentá-los. Percebe-se um conformismo que resulta da impotência para combater o inimigo, como quem joga a toalha.

A escola precisa sair das cordas, juntar forças com a sociedade e iniciar a revolução. Mas não só ela, pois essa é uma luta de todos nós.

Ricardo Ribeiro é advogado e blogueiro.

9 respostas

  1. Obrigada, Ricardo!

    Você foi incisivo na questão. Eu digo sempre que enquanto ficarem discutindo o sexo dos anjos, a sociedade continuará rebaixando o lastro social. Os exemplos que você expôs são apenas dois no universo de problemas diuturnamente vividos pelos professores, obrigados a conviver com situações que emperram o processo ensino/aprendizagem com enorme prejuízo para a nação. A educação tem que atingir positivamente 80% da população em formação. 20% é exacerbadamente crítico.

  2. Prezado Ricardo, parabéns pela reflexão.
    Sabemos que muitos outros fatores fazem parte desse conjunto, mas quero me ater específicamente a um deles: a falta de responsabilidade da SOCIEDADE como um todo principalmente a família e também a falta de Fôlego com que o assunto é abordado, sempre é Cansativo e desnecessário discutir EDUCAÇÃO…!
    Que o tempo nos ensine a ter PACIÊNCIA E TOLERÂNCIA para Mudar a CARA desse PAÍS.

  3. Parabéns Ricardinho, a cada dia que passa seu texto fica mais impecável e suas observações e instigações para reflexões da sociedade mais oportunas e atuais.

    Tenho orgulho de ser seu amigo e lhe acompanhar desde antanho.

    Um abraço

  4. Artigo muito bom! Sou profesor da rede pública e volta e meia toco nessa tecla. Professor nao é capaz de mudar a realidade da educaçao sozinho, as condiçoes socioeconomicas em torno da escola refletem diretamente no desempenho escolar dos alunos.
    Parabéns

  5. Dizem que a gente só deve opinar daquilo que se tem conhecimento, mas dessa vez vou discordar um pouco. Gostaria de saber qual o modelo de ensino implantado no Colégio Inácio Tosta Filho pois há décadas atrás este colégio era contra-referencia, hoje é um dos mais procurados aqui da área. Fala-se em organização e compromisso da direção com a coisa pública. Até no ENEM já aparece este colégio, quando antes o que se via era um colégio depredado. Nunca estudei nesta escola, meus flhos estao em escolas particulares, mas aqui o que mais se ouve são elogios e a mudança positiva em relação a este colégio. O que fez mudar o conceito deste colégio pela comunidade local?

  6. Obrigado a todos pelo carinho.

    Sérgio, em seu comentário você apresenta um dos caminhos para que encontremos a solução: identificar exemplos positivos e tentar reproduzi-los em outras escolas. Muitas vezes as soluções são simples, mas eficientes.

    A propósito, eu escrevi o artigo depois de ler a entrevista da professora Dinalva Melo, futura secretária da Educação de Itabuna, que fala em coisas como “investir em tecnologia” etc. Penso que a professora está certa, mas não atacou o “X” da questão.

    Abraços!

  7. Prezado Amigo,

    Parabéns pela forma que abordou o assunto.

    Tenho consciência de que o Professor por si só não poderá mudar a cara da educação. No entanto existe coisas que podem ajudar o Professor no minimo a exercer a sua pratica pedagógica de forma digna se o Estado como um todo dotar as unidades escolares de um quadro de profissionais competentes e responsáveis para poder dá suporte ao Professor enquanto regente que deverá se preocupar só com a sala de aula, onde a unidade escolar deverá ter: porteiros, serviços gerais (pessoal para limpeza), secretária composta por pessoas responsáveis pela elaboração de atividades que hoje e o Professor que é obrigado a fazer como por exemplo: além de elabora o Professor tem que ele mesmo digitar e imprimir as atividades que irá aplicar na sala de aula. A unidade escolar deverá como você bem mencionou buscar interagir com a familia e a comunidade onde a escola está inserida. Existem outra ações que são necessárias adotar.

  8. Ora Viva Ricardo!!!!!! Penso exatamente assim, como seu belo texto. Quando vc cita dois momentos pontuais em depoimentos de amigas suas que presenciaram fatos ” corriqueiros” para essas comunidades , é de chorar! Percebo isso quando ministro oficinas de teatro em escolas , diferenciando quando se trata de particulares e públicas e acreditem o feedback na escola pública é impressionante pela participação, envolvimento,resultado mesmo, ai vc percebe a carencia deles para essas ações e que é tão pouco meu Deus! na rede particular existe o desinteresse próprio do alunado, guardando as propoções é lógico, porque a eles nada falta como lazer,viagens,celulares e tablets de ponta,shopings enfim esse lado é todo preenchido pela sua condição social e financeira e aí, vai fazer teatro em sala de aula? Mas na rede público eles ” abraçam” essa oportunidade como se fosse sua propria respiração e isso nos acalenta o coração!!!
    Eva Lima, atriz e produtora cultural

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