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aldineto mirandaAldineto Miranda | erosaldi@hotmail.com

A saída é mudar as ações, fazer escolhas diferentes, pensar no outro mais do que no próprio umbigo, abrir-se à solidariedade, e entender que não somos uma ilha.

O título do presente texto foi tomado de empréstimo de um livro do Padre Zezinho, e toca num pressuposto ético fundamental: Como ser bom? Há três palavras que, na verdade, significam questões, que se pode colocar nessa discussão: Devo? Posso? Quero? Pois nem tudo que devo eu posso, nem tudo que posso eu quero, e nem tudo que quero, eu devo…
Essas questões pululam em nossa mente, ainda que não sejam conscientes, todas as vezes que temos que tomar decisões ou agimos socialmente, especialmente quando essa ação nos exige escolhas.  Toda ação individual ecoa no meio social. Por vezes, aprendemos isso a duras penas.
Aprender! Eis o pressuposto ético essencial. Sempre podemos aprender.  A palavra ética do grego ethos tem sua significação relacionada a costume, modo de ser. Ética tem a ver com vida humana, e se é humana, é inacabada, sempre com possibilidade aberta de mudança, considerando o ser humano um projeto em construção, como belamente defende o existencialismo sartreano.
Nesse sentido, não existe ética sem liberdade. O que ocorre, e isso se abre como problema, é que somos responsáveis por nossas escolhas, e elas agem sobre os outros e os influenciam em suas escolhas, as quais são responsabilidade deles também. Ética tem a ver com escolhas, as quais definem o modo de ser de cada um, e, paradoxalmente, por sermos éticos podemos escolher ser bons ou não.
Ser bom não é basicamente um pressuposto religioso, mas uma exigência ética fundamental! Ser bom não significa não errar, mas aprender com os erros. Nas palavras do Padre Zezinho: “As pessoas consideradas santas foram pessoas que erraram menos e acertaram mais.”
Nessa luta pela bondade, claro que haverá erros, daí o aprendizado é importante. O que nos faz éticos não é capacidade de não errar, ao contrário, é essa capacidade de transgredir que nos faz éticos e morais. E a transgressão nem sempre é antiética, especialmente quando ela serve para valorizar a dignidade humana e lutar contra valores hipócritas.
Ser cuidadoso com suas ações sempre, isso nos faz éticos! Se errarmos, temos saída, o que não podemos é estagnar perante os erros. Não é uma atitude censurável que vai fazer com que alguém seja uma pessoa ruim, mas a continuação habitual em praticar tal atitude pode torná-lo ruim. Aristóteles já dizia que é o hábito que nos faz ser bons ou ruins, e a virtude está no equilíbrio.
Há saída para políticos que fizeram ações ruins, professores que tropeçaram em sua tarefa de ensinar, médicos que atendem sem sensibilidade, namorados que amam sem ardor, amigos que o são por conveniência, e para uma sociedade que não valoriza o ser humano.

A saída é mudar as ações, fazer escolhas diferentes, pensar no outro mais do que no próprio umbigo, abrir-se à solidariedade, e entender que não somos uma ilha, não somos uma coisa separada de outras coisas, somos todos, e todos são um só!
Nós ainda não entendemos a frase do primeiro grande filósofo grego Tales de Mileto: “Tudo é água!”, ou seja, tudo é um só elemento, tudo é uma coisa só. Somos todos ligados, interligados, irmãos, e mais: somos um só na ilusão de sermos muitos. Somos feitos de uma só matéria e iludidos perante a aparência de que posso prejudicar o outro, pois ele não faz parte de mim, errado! Somos o outro, e o outro nos faz sermos quem somos…
Daí, voltemos a refletir e modificar nossas ações, pois: Nem tudo que posso eu devo, nem tudo que devo eu quero, e nem tudo que quero eu posso! Reflitamos sobre estas questões éticas que tão bem Mário Sergio Cortella, pensador brasileiro, nos lembra, e pensemos seriamente sobre nossas escolhas.
Fica uma dica: A melhor escolha parece-nos ser sempre aquela que valoriza a dignidade humana. O mestre da bondade já nos alertou para isso há mais de dois mil anos: “Amai-vos uns aos outros”. Resta-nos saber se vamos ou não escolher o amor.
Aldineto Miranda é graduado e especialista em Filosofia, mestrando em Linguagens e Representações e professor do Instituto Federal da Bahia (Ifba).

0 resposta

  1. Em uma tarde como essa, com tantas notícias que afetam o ânimo, ler um texto como esse é um verdadeiro energético para o intelecto e para o caráter. Mestre Aldineto, esse espaço que ocupa em minha formação e vida á mais que merecido. Parabéns pelo texto, parabéns ao Pimenta.

  2. Que bom professor Aldineto ler esse belo texto tratando de humanidade, algo que anda tão esquecido.
    È tempo de solidariedade, de abraços, de carinho!
    Um cheiro, amigo.

  3. Em um contexto social que as discussões sobre ética e moral estão monopolizadas por setores específicos da sociedade(academia, partidos políticos), eis que surge um texto como este, inteligente, criativo e provocador. Pra quem ainda não descobriu como ser bom numa “sociedade que não valoriza o ser humano”, esse texto deixa algumas pistas de como fazê-lo.
    Excelente texto Aldineto!
    Forte Abgraço

  4. Ler textos de Aldineto Miranda é sempre empolgante e satisfatório, nunca pare de escrever Neto, seus textos enriquecem o leitor … Parabéns do seu Irmão e leitor fiel !

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