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Erick Ettinger: tempos de paz.
O biomédico Eric Ettinger inicia seu segundo mandato consecutivo à frente da provedoria da Santa Casa de Misericórdia de Itabuna, com desafios como o o projeto de construir um prédio com 12 andares que abrigará o novo centro médico da instituição que já é o maior complexo hospitalar do interior do Norte/Nordeste. Em entrevista ao PIMENTA, o provedor fala sobre as dificuldades enfrentadas pelas instituições filantrópicas, aborda a necessidade de contar com apoio político para manter e ampliar os serviços e toca num tema delicado: a dívida de 5 milhões do município com a Santa Casa.
Leia abaixo os principais trechos:
PIMENTA – Quais são os planos da provedoria neste novo mandato à frente da Santa Casa?
Eric Ettinger – Nosso plano está calcado na busca do equilíbrio econômico-financeiro da instituição, que tentamos alcançar nesse último ano, mas não conseguimos devido aos cortes que foram feitos pelo Estado. Nós pretendemos primeiramente obter esse equilíbrio e estamos com boas conversações com o município, já que a gestão plena voltou e nós esperamos este ano receber em dia a remuneração pelos serviços da Santa Casa. Com isso, será possível cumprir o nosso orçamento.
PIMENTA – Sem perder de vista o equilíbrio financeiro, que investimentos a instituição projeta para este novo biênio?
Eric Ettinger – A gente pensa em construir um centro médico aqui no Hospital Calixto Midlej Filho. É um projeto que temos desde 2006 e que a Santa Casa, pela falta de recursos, não conseguiu. Será um prédio com 12 andares, em frente ao laboratório e ao banco de sangue, onde haverá atendimento tanto particular como para pacientes do SUS. Se nós tivéssemos iniciado a construção desse centro em 2006, já teríamos inaugurado. Desde então, já surgiram três centros médicos em Itabuna. Faremos também novos investimentos em aparelhagem, adquirindo equipamentos que ainda não há em Itabuna e região, e vamos melhorar nosso pronto-atendimento, levando-o para esse novo prédio.
PIMENTA – Você falou sobre a expectativa da Santa Casa quanto a uma maior agilidade dos repasses financeiros da Prefeitura. Como está hoje esse relacionamento com o governo municipal?
Eric Ettinger – A relação hoje, tanto com a Secretaria de Saúde como com o próprio prefeito, é muito boa. Eles estão no início da gestão plena, ainda na arrumação da casa, então a gente está dando um crédito e espera que, no máximo em 60 dias, esteja tudo organizado e que tudo venha a ocorrer a contento.
 

Temos em nosso planejamento a construção de uma UTI no Hospital Manoel Novaes, outra no São Lucas e a ampliação geral da UTI do Calixto Midlej Filho.

 
PIMENTA – A carência de leitos de UTI é uma questão que preocupa a Bahia e também a região sul do estado. Como a Santa Casa tem enfrentado essa deficiência?
Eric Ettinger – Temos em nosso planejamento a construção de uma UTI no Hospital Manoel Novaes, outra no São Lucas e a ampliação geral da UTI do Calixto Midlej Filho. Há uma carência de 3 mil leitos de UTI na Bahia e nós estamos buscando aumentar nossa oferta. Queremos transformar o Hospital São Lucas em um centro de referência em cardiologia, o que vai ser muito bom não só para Santa Casa, como para Itabuna e toda a região. Vamos realizar um simpósio de cardiologia, reunindo a macrorregião sul, para apresentar nossa disponibilidade. Nós temos cirurgiões cardíacos, temos hemodinâmica e contamos com especialistas em cardiologia que são referência na Bahia e no Brasil.
PIMENTA – A gestão plena voltou, mas a Santa Casa ainda briga na justiça para receber um passivo que ficou em 2008, quando o município perdeu o comando único do SUS. Como está essa situação?
Eric Ettinger – A Santa Casa teve que entrar na justiça para recuperar esses valores que lhe são devidos. São quase 5 milhões de reais. Fizemos carga no processo no final do ano passado, com toda a documentação dos atendimentos, e não vamos descansar nem um instante enquanto a instituição não receber esse pagamento. Foi um trabalho nosso, já pagamos a médicos e outras despesas e estamos aí, pode-se dizer, num buraco econômico, agravado pelo não recebimento desse dinheiro.
PIMENTA – Há alguma possibilidade de solução negociada?
Eric Ettinger – Já tivemos reunião com o pessoal da Prefeitura, da gestão atual. Queremos fazer um acordo com eles. Nós sabemos da dificuldade que este governo pegou e não queremos botar a faca no pescoço do gestor, mas queremos receber o que é de direito.
PIMENTA – Apesar das dificuldades e do subfinanciamento do SUS, a Santa Casa tem conseguido investir, por exemplo, na ampliação de sua estrutura. Como isso tem sido possível?
Eric Ettinger – Tem sido um sacrifício muito grande, mas também contamos com parceiros. Por exemplo, os neonatologistas emprestaram os recursos para construirmos essa nova UTI de 20 leitos no Manoel Novaes, e nós vamos pagar abatendo mensalmente um valor da receita.  Temos feito alguma evolução em nosso parque hospitalar, com parcerias. O centro médico no Calixto Midlej Filho também vai ser uma parceria, assim como a aquisição de equipamentos novos, que chegam a custar 2 milhões de reais. A Santa Casa realmente não tem esse dinheiro. Somente por meio de parcerias a gente consegue manter a saúde de Itabuna no patamar diferenciado em que se encontra.
 

Não vamos descansar nem um instante enquanto a instituição não receber esse pagamento. Foi um trabalho nosso, já pagamos a médicos e outras despesas e estamos aí, pode-se dizer, num buraco econômico, agravado pelo não recebimento desse dinheiro.

 
PIMENTA – O que sua gestão projeta para a Santa Casa, no médio e no longo prazo?
Eric Ettinger – As Santas Casas de todo o Brasil passam por uma dificuldade muito grande e em Itabuna não é diferente. Nós temos contado com o apoio do deputado Antônio Britto (coordenador da Frente Parlamentar de Apoio às Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas na área de Saúde). Ele tem defendido e conseguido alguma melhora nos repasses destinados à Santa Casa de Itabuna. O próprio ministro da Saúde, Alexandre Padilha, tem recebido o deputado e concordado com nossos pleitos e os de outras entidades filantrópicas. A gente também espera, em nosso mandato que está iniciando, que a parceria com a Prefeitura  vingue, pois 80% de nossos serviços são vendidos para o SUS e o grande gargalo está na média complexidade, assim como em todo o Brasil. A saúde enfrenta dificuldade no país, sobretudo devido ao subfinanciamento, o que é reconhecido pelo ministro Alexandre Padilha e pelo secretário de Saúde do Estado, Jorge Solla.
PIMENTA – Nesse cenário de dificuldades, é fundamental contar com apoio político?
Eric Ettinger – A Santa Casa segue uma trilha de independência, mas a gente recebe apoio político, principalmente por meio de emendas parlamentares. Estamos reformando e ampliando a recepção do Calixto Midlej, uma recepção que tinha 96 anos sem passar por nenhuma reforma. Isso está sendo feito graças a uma emenda do deputado Roberto Britto (PP), de Jequié. Esperamos inaugurá-la dentro de 60 dias a 90 dias. O deputado Geraldo Simões (PT) também tem contribuído bastante com emendas parlamentares para a instituição, além do próprio Antônio Brito (PTB), o Josias Gomes (PT), Edson Pimenta (PSD), Paulo Magalhães (PSD) e Jutahy Júnior (PSDB), com apoio também do deputado estadual Augusto Castro. Estamos próximos de receber algumas emendas parlamentares em equipamentos, no valor de 3 milhões de reais,  o que vai permitir que melhoremos muito nossa aparelhagem. As próximas emendas poderão ser para construções.
PIMENTA – Os investimentos previstos para a região, a exemplo do Porto Sul, têm alguma influência sobre os planos de ampliação da Santa Casa?
Eric Ettinger – Precisamos ampliar nossos leitos porque a perspectiva da região é muito grande, com esses investimentos projetados: Porto Sul, novo aeroporto, duplicação da rodovia Ilhéus-Itabuna. Com isso, virão muitas pessoas e empresas para a região e a gente precisa estar preparado para isso. É isso que estamos procurando. Fizemos agora um upgrade em nossa Provedoria e no próprio conselho deliberativo, trazendo sangue novo. Estamos trazendo ideias novas para somar em prol da Santa Casa e de toda a região.

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