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professor júlio c gomesJúlio Cezar Gomes | advjuliogomes@ig.com.br
 

Não fazer um carnaval local e popular é, na verdade, uma jogada de marketing para passar uma falsa imagem de austeridade, tal como cortar o cafezinho servido nas repartições para mostrar contenção de despesas. Pura balela.

 
Começou no sábado à noite, e não na sexta-feira, como sempre foi de costume nos carnavais de Ilhéus. Mesmo assim, de forma tímida, vacilante, sem nenhuma decoração específica. Mas o povo veio, embora em pouca quantidade. E foi bom, deu para pular carnaval até 1 ou 2 horas da madrugada, horário em que a última banda encerrou a apresentação.
A segunda noite teve um público melhor, embora nada que lembrasse os grandes carnavais de Ilhéus. É importante dizer que, de fato, este carnaval com bandas locais ou, no máximo, regionais, sem renome na mídia, em nada se compara àqueles que já tivemos em Ilhéus, com bandas e artistas nacionalmente conhecidos. Mas valoriza os artistas de nossa cidade, e talvez por isso muitos deles se apresentam dando o melhor de si.
Na terceira noite já havia uma quantidade de pessoas digna de um carnaval. Os blocos afros, marca do carnaval de Ilhéus, infelizmente se apresentaram muito juntos. Ficou a impressão de que o show proporcionado por estas importantes agremiações poderia ser melhor aproveitado. Mas estavam presentes os elementos que caracterizam um carnaval: presença e alegria popular, e blocos diversos. Ao fim dos shows no palco, uma tremenda chuva alagou completamente a Avenida Soares Lopes. Ninguém controla a natureza.
Na quarta e última noite, o clima de carnaval literalmente tomou conta da avenida. As pessoas vieram em grande quantidade, e até as brigas, até então surpreendentemente poucas, aumentaram de volume. Mas a Polícia Militar, a Polícia Civil e, para minha alegria e orgulho, a Guarda Municipal desempenharam muito bem a tarefa de conter a violência. Até onde fui informado, não houve nenhum homicídio ligado às festas carnavalescas. Se for verdade, é uma vitória histórica e uma bênção!
Não culpo o poder público por fazer com que as festividades carnavalescas terminem, no máximo, às 2 horas. Em tempos de violência extrema como este, infelizmente tem de ser assim. Só achei que o horário do início é que poderia ser mais cedo, no início ou meio da tarde. É muito bom pular carnaval de tarde, com o sol quente brilhando, e com a possibilidade de refrescar o calor diretamente no mar de Ilhéus. Neste horário a violência também costuma ser menor.
É importante dizer tudo isso porque, apesar de todas as limitações, quem gosta de pular na rua teve um bom carnaval. Sem atrações de peso, mas com cheiro e gosto de alegria popular. E este é o principal ingrediente do carnaval.
Nossa cidade tem uma vocação turística, e não tem o direito de não fazer carnaval, como ocorreu no ano passado e em várias gestões de prefeitos anteriores. Sabemos que o custo das bandas locais, de um palanque, de sonorização e outras pequenas despesas é relativamente baixo, e que há verbas do governo estadual e de empresas públicas que podem ser captadas para cobrir ao menos parte destes custos. Não fazer um carnaval local e popular é, na verdade, uma jogada de marketing para passar uma falsa imagem de austeridade, tal como cortar o cafezinho servido nas repartições para mostrar contenção de despesas. Pura balela.
Foi um bom carnaval, dentro das possibilidades do Município. Teria sido melhor com grandes atrações? Claro que sim, tal como é melhor andar em um carro zero km do que em um usado. Mas aconteceu, e nos livrou da demagogia do “não tenho recursos para fazer”, tantas vezes utilizada em anos anteriores.
Também desejo que todos os que trabalharam, sobretudo os artistas locais, recebam sua remuneração sem ter de esperar meses a fio sentados na porta da Secretaria de Finanças, como já vimos acontecer tantas vezes com os artistas de nossa terra.
Acho necessário fazer mais um registro: como gosto muito de carnaval, que para mim é A Festa, faço um esforço tremendo para fazer um relato o mais imparcial possível. Não sei se consigo. Cabe ao leitor julgar.
Por fim, em atenção a todos os artistas da cidade que se apresentaram, quero registrar os excelentes shows da Banda Preto Bom, com Fábio Souza e sua grande qualidade artística; e da Banda O Quadro, que, sem tocar uma só música de carnaval – pois cantam Hip Hop e Rap – em minha humilde opinião fez o melhor de todos os shows. Coisas do Carnaval!
Júlio Cezar Gomes é professor e advogado.

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