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Karoline VitalKaroline Vital | karolinevital@gmail.com

Se até cães podem ser adestrados com reforços positivos, por que os seres humanos, com cérebro tão avantajado e evoluído, precisariam de castigos físicos para entender o é errado e fazer o que é certo?

Parei a alguns centímetros da garrafa que passou rolando à minha frente, caindo da calçada em uma poça de lama. Olhei para o lado e vi um garotinho, de aproximadamente dois anos, observando o trajeto da tal garrafa. Em segundos, apareceu uma mulher irada, puxando-o pelo braço. Enquanto chacoalhava e xingava o menino – que nada respondia em sua defesa, além do olhar assustado – ela cerrou o punho e simulou um soco no queixo dele, empurrando sua cabeça para trás.
Segui meu caminho com aquele episódio lamentável na minha mente. A mulher não tinha aparência de miserável para que, no máximo, dois reais fizessem falta para sua existência. Ela não o machucou fisicamente, mas não deixou de ser violenta. Aí, logo me veio à cabeça toda discussão sobre a famigerada Lei da Palmada ou Lei Menino Bernardo.
Fiquei imaginando como aquela mulher tratava o menino quando tinha sua privacidade garantida. Afinal, não se constrangeu em humilhar em público aquele ser pequenino, que ainda está descobrindo e entendendo o mundo. Aparentava ser a mãe, o que lhe dá autoridade para fazer o que julga melhor pela boa educação do filho. Mas, o que seria “melhor” em seu conceito? Quais seriam suas atitudes para fazer com que o guri ande na linha?
Em nossa cultura, criança pouco ou nada tem direito sobre o próprio corpo. O reconhecimento de sua individualidade só vem quando atinge a idade adulta e olhe lá! Muita gente afirma categoricamente que o castigo físico é a solução para frear a rebeldia, que a “palmada educativa” não mata e ainda nutre um enorme sentimento de gratidão aos pais por cada tabefe que levou, etc.
Repetimos as brutalidades sofridas na infância sem questionarmos sua real eficácia. Dando uma busca rápida pela internet, é fácil encontrar vários artigos e pesquisas de autoridades científicas mostrando que somos inteligentes o suficiente para aprendermos sem pancada e que crianças agredidas tendem a se tornar adultos agressores. Se até cães podem ser adestrados com reforços positivos, por que os seres humanos, com cérebro tão avantajado e evoluído, precisariam de castigos físicos para entender o é errado e fazer o que é certo?
Criança é um ser meio selvagem, um desafio à maturidade, paciência e equilíbrio emocional de qualquer um. Por isso, a seguinte frase atribuída a Platão faz sentido: “Não deverão gerar filhos quem não quer dar-se ao trabalho de criá-los e educá-los”. Pois, acima de tudo, criança também é gente, com direitos que devem ser garantidos e, efetivamente, cumpridos.
Karoline Vital é jornalista.

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