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Felipe de PaulaFelipe de Paula | felipedepaula81@gmail.com

A Universidade Federal do Sul da Bahia, que recebe seus primeiros estudantes no mês que vem, propõe uma formação diferenciada. A centralidade está no estudante.

Lembro-me de, há alguns anos, estar no meio de uma aula na universidade e perceber uma estudante com o celular apontado para mim, filmando minha explicação. Ao ser “flagrada” ela pareceu bastante tímida e foi logo se desculpando. Interrompi as explicações e disse: tudo bem, pode gravar. É até bom que, em caso de dúvidas, pode rever alguma explicação.
Depois de algum tempo e de atentar para falas de alguns colegas docentes, percebi o motivo da preocupação demonstrada pela estudante após ter seu ato notado: muitos professores se incomodam com a ideia de sua aula ser gravada.
Recentemente, ouvi professores se queixarem da ideia de terem suas aulas registradas. Poderiam, entre outros argumentos, não “estar inspirados” naquele dia. Ora, independente das tecnologias envolvidas, onde fica então o planejamento? Onde ficam os objetivos da ação educativa?
Particularmente, creio que a função de um professor (em sala ou fora dela) deva ser orientar a obtenção da maior quantidade de conhecimento possível para o maior grupo possível de estudantes. Não há sentido no conhecimento para poucos. A universidade não é um panteão para privilegiados detentores do saber. Ela deve ser um espaço de fronteiras cada vez mais alargadas – assim como os conhecimentos que ela propaga.
E, nesse processo, o centro nunca deve ser no professor. O centro é o estudante. No mundo repleto de tecnologias em que vivemos, não vejo o menor sentido em negar a um estudante que faltou a uma aula a chance de assisti-la em casa. Ou proibir aquele que não entendeu bem de ouvir novamente a explicação.
Toda celeuma em torno da presença da tecnologia em sala – seja gravando aula ou servindo de fonte de pesquisa – passa, no meu entendimento, por um processo de insegurança dos docentes. É mais simples “controlar o ambiente” e repetir o mesmo conteúdo por sucessivos períodos letivos. O estudante com visão ampliada, com as paredes da sala de aula derrubadas, representa sempre um desafio maior, um “incômodo” para muitos docentes.
A Universidade Federal do Sul da Bahia, que recebe seus primeiros estudantes no mês que vem, propõe uma formação diferenciada. A centralidade está no estudante. Todos terão suas formações baseadas em pedagogias ativas. A tecnologia é uma parceira e uma edificadora do aprendizado e não uma inimiga.
A sociedade contemporânea exige que sejamos todos educadores (e consequentemente aprendizes). Que bom que cada vez mais as “novas” tecnologias estão sendo aproveitadas. O papel e a caneta que os estudantes utilizavam são tecnologias. O papel evoluiu, o caderno evoluiu. Qual o pecado em, ao invés de copiar, fotografar o quadro? Gravar o áudio de uma explicação ou filmar uma aula? A sociedade mudou. A relação com o conhecimento mudou. O modo de aprender mudou. O modo de ensinar, também. Aprendem aqueles que ensinam. Estejamos todos dispostos a aprender.
Felipe de Paula é professor da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB).

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