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DTDaniel Thame | danielthame@gmail.com

 

Diante de uma audiência planetária, lá estava Wendell Lira, ao lado de Messi, Neymar, Cristiano Ronaldo e outros craques, para receber o troféu Puskas. O gol mais bonito do ano é do Brasil, é de um brasileiro.

 

No universo do futebol, Neymar e Wendell Lira estão separados por milhões e milhões de anos-luz. Num hipotético Sistema Solar da bola, Neymar seria Júpiter, o planeta gigante, e Wendell Lira, Plutão, que tempos atrás foi rebaixado à categoria de planeta anão.

Uma realidade absurdamente desigual separa Neymar de Wendell Lira.

Neymar, dono absoluto da camisa 10 da Seleção Brasileira e astro inquestionável no Barcelona estelar de Messi, Lui Suárez e Iniesta, dispensa apresentações.

Wndell Lira era mais um desses milhares de jogadores anônimos que tentam ganhar a vida num time igualmente anônimo. Era sério candidato a passar pelo futebol sem deixar um mero registro de rodapé, posto que habita a base de uma pirâmide em que pouquíssimos – como Neymar – chegam ao topo.

Wendell com o Prêmio Puskás.
Wendell com o Prêmio Puskás.

Até que, num jogo que não valia nada, atuando pelo Goianésia, time de Goiás de quem até então poucos haviam ouvido falar, Wendell Lira marcou um daqueles gols que Pelé, Maradona, Messi e (olha ele aí de novo) Neymar assinariam com prazer. Um golaço aço aço, como diriam os narradores de antanho. Digno de placa no estádio.

Ainda assim, um gol desse era sério candidato a exagero, se contado pelos gatos pingados que testemunharam a obra prima no estádio, não fosse um detalhe: a partida estava sendo transmitida por uma tevê a cabo, que compra os direitos de transmissão e, para encher a grade de programação, cobre até a quinta divisão do campeonato acreano.

Nesses tempos de comunicação instantânea, da imagem valendo mais do que o conteúdo (com o adendo de que o gol em questão tem imagem e conteúdo), o lampejo de gênio de Wendell Lira foi parar nas redes sociais e, numa linguagem cibernética, viralizou.

Findo o Campeonato Goiano, Wendell Lira, como milhares de jogadores que não foram bafejados pelos deuses da bola, ficou desempregado.

E eis que, talvez numa concessão relâmpago desses mesmos deuses da bola, o gol de Wendell Lira foi parar na lista dos 10 mais bonitos da FIFA.

Wendell quem, perguntavam todos?

Wendell Lira, um brasileiro. Humilde, lutador, à procura de um time para ganhar o pão com o suor na sua camisa e que adquirira fama mundial, ainda que fugaz.

Um conto de fadas meio torto que obviamente produziu o efeito esperado. Uma imensa mobilização de brasileiros das redes sociais, já que a escolha do gol mais bonito se dá através de votação pela internet.

Na já memorável tarde/noite europeia, diante de uma audiência planetária, lá estava Wendell Lira, ao lado de Messi, Neymar, Cristiano Ronaldo e outros craques, para receber o troféu Puskas.

O gol mais bonito do ano é do Brasil, é de um brasileiro.

A tarde/noite que poderia ter sido de Neymar, afinal batido na escolha de melhor jogador do mundo por Messi e Cristiano Ronaldo, embora chegar ao topo seja questão de tempo, foi a tarde/noite de Wendell Lira.

Certo que não muda a ordem das coisas, Neymar continuará trilhando seu caminho de pedras douradas, enquanto Wendell Lira continuará tentando driblar as pedras de um tortuoso caminho, mas pelo menos dá um pouco de poesia nesse futebol tão movido pelo deus dinheiro, mas que ainda consegue produzir um pouco de poesia, que resgata a beleza perdida do jogo.

Daniel Thame é jornalista e edita o Blog do Thame.

0 resposta

  1. O anunciado do jornalista em tela, o que poderia concorrer pela maneira natural,elegante e beleza da construção das palavras em homenagem ao belo gol, bem como o sujeito da conclusão do gol, o que mereceria uma homenagem da Fifa pelo o anunciado. Simplesmente brilhante, parabéns!

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