Tempo de leitura: 3 minutosJosé Lessa
Simples de vida, e humilde de coração, Léo era ao mesmo tempo generoso. As suas atitudes, sem ser anarquista, não obedeciam a regras fundadas nos textos das leis escritas, e sim, nas exigências de sua grandiosidade, no amor e na solidariedade às pessoas. Portanto, do seu estado d’alma, da leveza de seu espírito.
É não apenas enriquecedora, senão também gratificante, a oportunidade que a vida, às vezes, oferece a duas gerações de viverem tão próximas, a ponto de se confundirem, e de conviverem até o final da existência de uma e do inicio da escalada derradeira da outra. A interação é extremamente proveitosa, em todos os sentidos. Ah…Se os jovens tivessem disso consciência.
Escrevo a respeito do recente passamento do exceler ser humano, e do grande atleta que foi LÉO BRIGLIA.
Voltando as vistas à longínqua década de 50 (segundo meado), do século passado – que tive o privilégio de viver – revejo-me, com nítida perfeição, na calçada da então Rua Benjamin Constant, hoje Ruffo Galvão, onde, invariavelmente, nas tardes de domingo, encontrava os amigos e os colegas para assistirmos, no Cine Itabuna, os “imperdíveis” filmes de Tarzan, Zorro, Flash Gordon, Roy Rogeres, Errol Flynn, etc.
Reuníamo-nos, antes e depois do filme, para a troca de figurinhas dos atletas (do saudoso e maravilhoso futebol brasileiro), nossos ídolos, as quais eram, depois, coladas nas revistas que representavam os times de nossas respectivas preferências.
Era o ano de 1957, do famoso e inesquecível quarteto de atacantes do Fluminense, time pelo qual torcia: Telê, Léo, Valdo e Escurinho.
Evidente que, porque artilheiro, Léo era o meu ídolo. Mas, àquela época, então com 12 anos, não sabia que ele era um Itabunense, até mesmo porque não tinham meus pais qualquer atração pelo futebol e, por isso, nenhuma influência sobre os filhos exerciam a respeito.
Sequer imaginava que iria conhecê-lo pessoalmente, até que no final da década de 60, também do século pretérito, obviamente, nos saudosos “babas” na praia do Cururupe, em Ilhéus, foi-me dada a grata oportunidade de iniciar uma espontânea amizade, não apenas com o jogador, mas, sobretudo, com o ser humano LÉO BRIGLIA.
Léo, apesar de ter, como todos nós, nascido chorando, era diferente, porque o seu choro, antes de revelar dor, sofrimento, apresentou-se com o tom da alegria, do prazer de estar vindo ao mundo para conhecer e conviver saudavelmente com seus semelhantes, com os animais, plantas, pássaros e tudo o mais que a natureza lhe oferecia.
Portanto, nasceu de bem com a vida!
Abria seu cativante sorriso ao ouvir o gorjeio dos pássaros; seus olhos brilhavam com o deslizar das águas do Rio Cachoeira; sensibilizava-se com o revoar das folhas que os ventos alvissareiros lhe traziam; encantava-se com o desabrochar das flores; sua alma renovava cada vez que recebia auspiciosas notícias de amigos seus; seus olhos mourejavam ao se referir a sua família.
Foi um avô extremoso. Às tardes de domingo colocava os netos em dois táxis e os levava ao Shopping, onde, com a sua inseparável companheira, a cerveja, vigiava-os atenta e carinhosamente.
Simples de vida, e humilde de coração, Léo era ao mesmo tempo generoso.
As suas atitudes, sem ser anarquista, não obedeciam a regras fundadas nos textos das leis escritas, e sim, nas exigências de sua grandiosidade, no amor e na solidariedade às pessoas. Portanto, do seu estado d’alma, da leveza de seu espírito.
Era, por tudo isso, um gentleman. Um altruísta.
As decisões que tomava, sem titubeios, brotavam da convicção de que eram corretas, por isso não carregava o peso das amarguras nem o do ressentimento.
Este foi o Léo que conheci.
Do atleta fabuloso, pela diferença de idade, exatos 17 anos, considerando que ambos somos do mês de agosto, pouco ou quase nada conheci, a não ser pelas histórias que a seu respeito me era contadas e pelas narrações que ouvia de extraordinários locutores de rádio da época.
Fomos, como visto, de gerações distintas, mas que se confundiram numa só, pela intensidade da aproximação que a vida nos proporcionou.
A ele, Léo, fica o meu eterno reconhecimento, por me ter oferecido a sua amizade.
Vai fazer falta!
José Lessa é advogado.