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celina santosCelina Santos | celinasantos2@gmail.com

 

A realidade de Itabuna traz um recorte ainda mais grave. A cidade ouve há mais de 20 anos a promessa de que uma barragem no rio Colônia iria corrigir o já irregular abastecimento de água.

 

Uma espécie de antiprofecia se cumpre no sul baiano, porque a região do mar enfrenta uma seca semelhante à do sertão. A população vê os rios, cujas nascentes não foram preservadas, secarem. Enquanto isso, a peregrinação por um balde de água é cercada de absurdos que fazem dos cidadãos – e do poder público – vítimas e vilões de um filme indesejável, mas real.

O “sul”, como é chamado no restante do estado, lamentavelmente, amarga o mesmo dissabor experimentado com a crise do cacau. Na linha do Titanic (“ninguém afunda esse navio”), imperou por aqui a ideia de que nada abalaria a produção do “fruto de ouro”. E não havia um “plano B”. Da mesma forma, ocorreu com a chuva.

Acreditou-se que a água seria para sempre farta, que “São Pedro” abriria as torneiras, tal como nos tempos dos “atoleiros” nas estradas. A exemplo do que houve com a cacauicultura, não foi elaborado um plano alternativo para compensar uma eventual escassez hídrica. A situação afeta um grande número de cidades, a ponto de ser decretado “Estado de Emergência” em muitas delas.

Contudo, a realidade de Itabuna, maior município sul-baiano, traz um recorte ainda mais grave. A cidade, com cerca de 220 mil habitantes, ouve há mais de 20 anos a promessa de que uma barragem no rio Colônia iria corrigir o já irregular abastecimento de água, impulsionar a vinda de indústrias etc. O assunto, certamente, integrou o programa de vários candidatos a prefeitos, deputados e governadores.

Ocorre que, agora, os tanques dos bairros nobres ficam vazios na maior parte do mês; algo, até então, mais frequente na periferia. E o pior: a água chega com 32 vezes mais sal do que o mínimo aceitável para consumo humano. O orçamento das famílias, por sua vez, pode ficar 32 vezes mais alto. Afinal, é preciso pagar pelo líquido inadequado e também por galões de água supostamente própria para ser ingerida.

Esperamos que a obra da barragem, reiniciada neste momento em que a crise arrastou o problema para cima do tapete, não encontre, novamente, entraves no sombrio universo das licitações. Porque, na prática, é inadmissível ver uma cidade de médio porte depender apenas da chuva para haver água a ser distribuída. É, no mínimo, arcaico demais para o “pós-moderno” século 21.

Voltando à dupla vítima-vilão, há de se convir que a falta d’água balance o cidadão, para que reveja a maneira como usa o bem mais fundamental à vida. Em Itabuna, segundo a Emasa, 50% do total distribuído se perdem pelo caminho. Parte desse volume (32%) é atribuída ao desperdício “nosso de cada dia”, além das ligações irregulares (gatos). O restante fica na conta das perdas ditas naturais (???) ao processo de captação e distribuição.

Até que chegue uma solução, seguem os protestos alimentados com fogo, que demanda uma infinidade de litros de água para ser debelado. Dentre tantos “senões”, urge a necessidade de começar um trabalho eficaz para recompor as matas ciliares que circundam as nascentes e tentar ressuscitar os rios.

Ah! E prossegue a expectativa (sempre ela!) de que o poder público finalmente faça o “dever de casa” e providencie os investimentos necessários para ampliar a captação. Finalmente, carecemos todos de um novo começo, sob pena de continuar vendo as mínimas necessidade básicas – comer, beber e tomar banho – escoarem “por água abaixo”.

Celina Santos é pós-graduada em Jornalismo e Mídia e chefe de redação do Diário Bahia.

4 respostas

  1. Se pairasse na mente dos políticos o nobre pensamento da articulista, certamente não teríamos esse problema grave nesta importante cidade da Bahia!

    Mas que pena! Eles tem mais em que pensar: ? ? ?

  2. Parbens Celina, o seu comentario é mito oportuno e muito bem elaborado, mas, diferentemente das opiniões politicas, não creio que esta barragem seja a nossa solução visto que o Colonia hoje é rio temporario e por esta razão, uma nova estiagem deste porte (que eu aqui do alto dos meus 61 anos nunca tinha visto) e ele, na~consguira sustentar a cidade porque a agua sera apenas a represada ja que o mesmo seca no momento que a chuva para.(igualznho ao Cachoeira que o recebe). Ainda creio que a nossa soluão esta na barragem do funil em Ubatã.

  3. Agora aparece o Ruim Costa, por ser ano eleitoral, promete o inicio da barragem, a mesma promessa que WAGNER/51 fez em 2006/2010, ainda tem militonto petista que acredita. Mundo do faz de conta, so podeia ser o PesTe.

  4. Um desabafo mais do que justo de uma jovem diante das promessas e, hajam promessas, que nunca são realizadas. Ver muita gente da região dando vivas e ainda cantando loas aos governos que liquidaram uma outrora pujante economia e continuam massacrando a região, é deveras chocante.

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