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walmirWalmir Rosário | wallaw1111@gmail.com

 

Tão importante quanto a descoberta de novas tecnologias é saber “vendê-las” a um mercado ávido para “comprá-las”. E aí é que reside o nosso “calcanhar de Aquiles”.

 

Em meio à inundação de notícias desconstitutivas sobre o Brasil como um todo, começamos a vislumbrar que a região do cacau, finalmente, começa a nos mostrar alguma coisa de boa, útil e produtiva. Trata-se da implantação da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) na área Ceplac, às margens da Rodovia Jorge Amado.

Finalmente, a razão, a inteligência e o bom senso conseguiram superar o atraso, o corporativismo maléfico, o provincianismo, as ideias retrógradas, a pequenez e o atraso. E essa tomada de atitude posso credenciar, principalmente, ao então Superintendente de Desenvolvimento da Região da Cacaueira do Estado da Bahia (Sueba), Juvenal Cunha Maynart, e o Magnífico Reitor da UFSB, Naomar Monteiro de Almeida Filho.

É a produção de ciência, de conhecimento, implantada no mesmo local que, por décadas, pesquisou e entregou à Nação Grapiúna todo um pacote tecnológico de desenvolvimento. Concebida num tripé de pesquisa, extensão e ensino, a Ceplac foi além de sua proposta inicial de prestar serviços financeiros aos cacauicultores e transformou a socioeconomia regional numa das mais eficientes do Brasil.

Não se conhecia no final da década de 50, toda a década de 60 e 70 região com uma infraestrutura igual ao Sul e Extremo Sul da Bahia. De repente, da luz do candeeiro passamos à energia elétrica; do transporte ao lombo de burros às boas estradas; das demoradas cartas ao telefone e telex; da economia precária à retomada do crescimento agropecuário e comercial.

Tudo isso foi possível com o trabalho eficiente dos técnicos da Ceplac, liderados  por Carlos Brandão e José Haroldo Castro Vieira, Paulo Alvim, dentre outros. Com o passar dos anos, a Ceplac se consolida como instituição científica, muda conceitos e costumes. Como toda grande instituição, sofre com as ingerências, seu técnicos se acomodam. Um novo despertar chega com a terrível descoberta na vassoura-de-bruxa nos cacauais do Sul da Bahia.

A partir desta época, a região já carecia de lideranças capazes de aglutinar os segmentos políticos e produtores em torno de uma projeto inovador eficiente. Mesmo assim a região soube sobreviver, agora com a capacidade da iniciativa privada, formada por um novo perfil de cacauicultores, preocupados com os investimentos realizados.

Essa dicotomia permaneceu até a chegada de Juvenal Maynart à Superintendência Regional, apresentando propostas inovadoras, o que causou um certo desconforto em um grupo de servidores e a sensação de alívio para os produtores de cacau. Nada que não fosse possível administrar com o aparecimento dos novos resultados positivos.

A proposta do novo superintendente era bem simples e se calcava em premissas conhecidas no agribusiness internacional que pretende produzir com eficiência, conviver pacificamente com o meio ambiente e agregar valores ao seu produto. Essa inovação aqui já é considerada uma prática vitoriosa em grande parte do mundo.

Preserva-se o que tem, amplia-se a produção com produtividade, evita-se o ataque de pragas e doenças e promove uma defesa fitossanitária eficiente para o aparecimento de novas endemias. Entretanto, essas ações somente serão possíveis a partir do momento em que a agricultura e a ciência caminharem juntas para oferecer um produto inovador ao mercado.

E essa moderna concepção de produção só conseguirá atingir o seu alvo a partir do momento em que a ciência possuir todos os meios de transferir esse conhecimento ao produtor. Tão importante quanto a descoberta de novas tecnologias é saber “vendê-las” a um mercado ávido para “comprá-las”. E aí é que reside o nosso “calcanhar de Aquiles”.

Mesmo com toda a transferência de tecnologia já feita por instituições como Ceplac, Uesc e empresas privadas, os nossos agricultores ainda carecem, e muito, dessas ferramentas para trabalhar. Uns não têm capacidade de contratar recursos, outros não acreditam nessas inovações, e um grupo maior sequer tem conhecimento das novidades.

Daí que acredito ter sido o magistral o salto de qualidade da gestão de Juvenal Maynart na Ceplac ao abraçar e propor parceria à  Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB). Outras existem, mas a UFSB apresenta uma proposta inovadora, que não basta fazer ciência, mas apresentar o conhecimento para todos, com uma metodologia diferente.

A UFSB, nos moldes pensados sob a liderança do professor doutor Naomar Monteiro de Almeida Filho, oferece o conhecimento e a ciência para todos, mas prima pela formação de acadêmicos entre a população das várias cidades onde atua. Isto, sim, é a universalização do conhecimento, mudando o conceito de cidade dormitórios para estudantes.


A partir da implantação desse conceito, teremos em praticamente todos os municípios uma massa forjada na academia com capacidade de enfrentar os  desafios e superar as velhas dificuldades. Na área esvaziada da Ceplac passaremos a contar com parque tecnológico atuando em quatro vertentes – Tecnologia da Inovações; Biotecnologias em Alimentos, com ênfase em cacau e chocolate; Logística, e Agroflorestais.

Nas cidades onde estão sendo implantados os Colégios Universitários, os alunos poderão cursas as matérias gerais, agora sem o esforço de enfrentar intermináveis e cansativas viagens de ônibus, o que facilitaria o aprendizado. A população como um todo ganharia, de imediato, na qualidade dos serviços, e no futuro, de uma grande massa pensante capaz de transformar a realidade.

A grande sacada é que em cada um desses colégios deverão ser implantados cursos que completem a vocação da cidade, dentro de diretrizes que apontam  as matrizes econômicas e sociais de desenvolvimento. Essa simbiose entre as ações governamentais, academia e iniciativa privada darão direcionamento às atividades de pesquisa, extensão e ensino.

Walmir Rosário é advogado e jornalista.

6 respostas

  1. O Sul da Bahia terra do cacau e dos coronéis já foi uma descoberta,ou talvez o que seria um redescoberta de amor ou tesão por te doce região cacaueira,o anunciado mim faz pensar do que seria um mergulho ou aventura na inteligência da humanidade.

    O surgimento da sociologia positivista e o marxismo,duelando entre se,de um lado o positivismo criando corpo de caráter cientifico e o marxismo demarcando espaço do materialismo histórico por uma nova metodologia científica.

    A origem da sociologia natural e seu caminho aos dias de hoje e sua importância em produzir métodos científicos pra ser dominado pelo homem na sociedade moderna,que alimenta disputa política e cultural do capitalismo moderno.

    O que o anunciado retrata da região cacaueira uma visão utópica sobre avanço cientifico na política implantada há 12 anos que se quer investiu um tostão furada em produzir ciência nem pelos métodos empíricos.

    A nível de país é um desastre a produção científica imagine aqui na doce região
    do cacau o que sonhar segundo o anunciado só faz bem,é uma prova que o sujeito vive.

    O marxismo é uma é eterna luta de classe pra construir uma ciência social de um lado o proletariado verso a burguesia que representa o positivismo e o mesmo defende como solução em resolver o desenvolvimento cientifico e o pregresso da humanidade.

    Se o Brasil incorporou o marxismo e o Brasil virou uma eterna luta de classe,o que nasceu pior do que o próprio marxismo,são sem-terra,sindicatos,une legião lutando contra o Brasil,contra pesquisas tecnológica cientifica e o Brasil se perdeu no empirismo,a volta do primitivo.

    O que fez-me pensar,”redescobrindo o sul da Bahia” como assim? Se até o presente
    não tem nova ordem social,econômica e política,pelo menos pra se pensar,porém os
    sonhos são livres o mesmo prova que a sociedade vive.

  2. Zelão diz: – Autoridade

    Este é o mais completo e inteligente comentário que li, a respeito da Ceplac. Sempre considerei Walmir Rosário – um ex-funcionário da Ceplac – o mais bem informado e, apaixonado, jornalista da região, sobre o assunto Ceplac.

    Em concordar com tudo o que Walmir expressou neste comentário, torço com todo o ânimo de um grapiúna (termo há muito não utilizado), para que o futuro da nossa sofrida e rica, região cacaueira, seja construído com base nesta nova premissa de desenvolvimento regional. E, quando longe eu estiver daqui, quero poder ler – se possível em outros comentários escritos por Walmir Rosário – que o futuro chegou e, que já não seremos mais; uma pobre região rica.

  3. Amigo Walmir, foi um prazer enorme reencontrá-lo. Um texto com essa qualidade só poderia sair de sua pena, que além de conhecer a realidade da região do cacau, a vivenciou no passado glorioso, quando trabalhou na Ceplac e agora vem acompanhando como jornalista e brilhante escritor. Grande abraço .

  4. Excelente artigo, ainda que com alguns desvãos de análise sobre o agronegócio, que talvez mereça (a análise) algum reparo. Mas, repito, o texto é excelente. Uma menção pessoal ao Ceplac. Em 1969 ou 1970, Levy Cruz — sociólogo de quem perdi o paradeiro atual — esteve no Rio de Janeiro, acompanhado por Manuel Diégues Júnior. Convidou alguns de nós, então concluintes do curso de Sociologia, a pleitear ingresso no Ceplac. Eu fui o único que manifestei abertamente minha intenção de ingressar no Ceplac que, àquela altura, ainda planejava abrir concursos públicos. Em 1971 veio o convite formal para minha transferência ao sul da Bahia, como sociólogo já formado. Nunca pude vir, por razões familiares. Pois há um ano, por esses caminhos de Deus nunca previstos, recebi o convite para colaborar com o belo projeto da UFSB, como professor visitante. Eu queria contar isso ao Levy Cruz, quase 50 anos depois de nosso contato no Rio, com o velho e bom Professor Diégues Júnior.

  5. Não esqueceram a cota cacauicultor, rsrrs, tô falando sério; é o minimo de gratidão que o governo e a CEPLAC podem fazer, para os filhos dos cacauicultores poderem estudar, já que após o crime da VB…

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