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rpmRosivaldo Pinheiro | rpmvida@yahoo.com.br

 

Temos respirado o ar da esperança na última década, fase posterior à queda da nossa principal cultura econômica, duramente atingida pela crise imposta pela vassoura-de-bruxa.

 

O sul da Bahia há muito alega que ao longo das últimas décadas não recebeu a atenção devida do Estado. A região cacaueira apresenta argumentos consistentes: custeou por extenso período a folha de pagamento estadual e ajudou a financiar a estruturação do Centro Industrial de Aratu e do Polo Petroquímico de Camaçari, mas não recebeu em contrapartida tratamento à altura dessa contribuição. O modelo econômico adotado pelo governo estadual sempre privilegiou Salvador e seu entorno.

Para uma corrente que reclama da desatenção dos governos estadual e federal, a raiz do problema está na falta de representatividade política.  O fato de elegermos baixo número de candidatos locais fragiliza a representação e dificulta as nossas reivindicações junto aos governos; perdemos na correlação de forças e, consequentemente, somos superados por regiões com maior representatividade política.

Outra corrente fundamenta que a não organização da cadeia produtiva acaba colaborando para a não implantação de mudanças estruturais necessárias diante dos poderes centrais, estado e União. A verdade é que as argumentações se fundem e, de fato, constatamos que a nossa região não recebeu, ao longo da sua existência, investimento proporcional ao grau de colaboração disponibilizado para o estado e para o país. A Ceplac é a clara materialização desse processo: nasceu a partir da articulação do capital produtivo lastreado na cacaicultura e sofre gradativo sucateamento em função da falta de força política necessária para o embate.

Temos respirado o ar da esperança na última década, fase posterior à queda da nossa principal cultura econômica, duramente atingida pela crise imposta pela vassoura-de-bruxa. O cacau, que já foi o principal gerador de renda do estado, responsável por quase 60% de toda a sua arrecadação, hoje dá sinais de recuperação, face à obstinação da classe produtora e ao implemento de ciência e tecnologia baseadas na pesquisa do cacau e na política de fabricação de clones com alto padrão genético pelo Instituto Biofábrica.

Resultado desse novo ambiente é a produção de cacau fino, um “case de sucesso” a partir de novas técnicas de processamento da amêndoa e a produção de chocolate com maior teor de cacau. Essa semana aconteceu em Ilhéus o oitavo Festival do Chocolate, evento que traz a marca de resistência e ousadia da cadeia produtiva do cacau. O ambiente de negócios confirma a existência de um novo pensar entre os produtores, incorporando cada vez mais tecnologia e conhecimento ao processo de gestão e produção, com vistas ao atendimento de mercados de consumo cada vez mais exigentes mundo afora.

Outro fio condutor desse novo momento é a chegada dos investimentos considerados como “macro vetores do crescimento”: UFSB, gás natural, complexo intermodal, ferrovia, porto e aeroporto, frutos da articulação entre os governos estadual e federal. A chegada desses equipamentos mudará o perfil da região, contudo, precisamos nos preocupar com os impactos desse novo momento econômico na estrutura ambiental, valendo ressaltar que o bioma Mata Atlântica é o mais devastado no Brasil… Nossa região resiste, supera e continua a sua saga.

Rosivaldo Pinheiro é economista, com especialização em Planejamento e Gestão de Cidades.

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