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Juvenal: Ceplac precisa ir além dos portões.
Juvenal Maynart.

Juvenal Maynart, ex-superintendente regional da Ceplac, tem uma visão polêmica do órgão federal que, por décadas, foi uma das principais referência para a antes pujante região sul da Bahia. Para ele, o que antes era sinônimo de região cacaueira hoje precisa se reinventar. “A modernidade chegou e engoliu a velha Ceplac”.

O ex-superintendente empolga-se ao falar de outros temas que se relacionam ao – e com o – órgão federal, a exemplo de sistema cabruca e Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB). Para ele, a instalação do Centro de Formação em Tecnologias Agroflorestais representa um novo paradigma, assim como a própria universidade.

Confira um papo rápido com ele, que, na segunda passada, disse rejeitar um retorno ao comando regional da Ceplac. 

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A UFSB acaba de lançar um equipamento que sequer estava previsto para Itabuna, em seu planejamento inicial. O que muda na relação institucional e como o produtor e a sociedade vão ser beneficiados?

Juvenal Maynart – Entendo que a instalação do Centro de Formação em Tecnologias Agroflorestais, numa proposta de levar domínio dessas tecnologias – com a transversalidade da sustentabilidade ao produtor, será uma revolução na ciência e na extensão rural. É a ocupação do novo paradigma. A implantação de uma visão da extensão que levará engenheiros florestais e agrônomos a núcleos regionais, em que a ciência prática será a validadora do final de cursos de cada discente (aluno), um projeto com aplicação prática será o passaporte para a conclusão do curso. É uma visão totalmente nova de extensão.

Explique o que o senhor chama de novo paradigma na ciência e na extensão. Para onde ele nos levaria, em sua visão?

Juvenal – É uma visão de extensão multiplicada com tecnologia, inovação, sustentabilidade e, acima de tudo, a matriz de cacau cabruca em usos de Áreas de Proteção Permanente (APP), a implantação de reservas legais com árvores nativas, dentro de um projeto maior, a Conservação Produtiva, que é o que foi validado na Rio+20. Aonde nos levaria? À recuperação das bacias dos rios Cachoeira e do Almada. Falei de tecnologia, uso do sistema cabruca em APP, implantação de reservas com nativas. Isso resultaria na recuperação das nascentes e das nossas bacias.

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A Ceplac ainda fala em contratar novos extensionistas para ir de porteira em porteira, chegando pela manhã e saindo à tarde, esperando o almoço do fazendeiro e pleiteando meia diária do governo.

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A UFSB vai “engolir” a Ceplac?

Juvenal – Estamos falando de uma instituição que tem, nesse campo de que tratamos, um pró-reitor que emplacou um artigo na capa da Nature. A Ceplac se tornou uma instituição analógica. Falei que a nova extensão é revolucionária, exatamente, porque prevê uma multiplicação a partir de um uso intenso da tecnologia. A Ceplac ainda fala em contratar novos extensionistas para ir de porteira em porteira, chegando pela manhã e saindo à tarde, esperando o almoço do fazendeiro e pleiteando meia diária do governo. Não há espaço para esse extensionista no modelo proposto pela UFSB.

Vai engolir?

Juvenal – A modernidade chegou e engoliu a velha Ceplac, mesmo que esta ainda não tenha sido digerida. Já a UFSB, chega antenada com a modernidade no fazer científico. O que a sociedade clama é que a Ceplac seja capaz de se ajustar ao novo paradigma, que seja mais moderna, que se insira dentro da GigaSul, a rede de banda larga que vai atender a UFSB, mas também às outras instituições. Claro, não é apenas estar dentro dessa rede, mas o que vai se fazer estando ali.

O que quer a Ceplac?

Juvenal – Na verdade, a luta do velho é pela manutenção do status quo. Quando falo do velho, falo de seu corpo diretivo. A luta do velho é apenas por um mecanismo que dá a ele plenos poderes, que é a singularidade ceplaqueana. Querem ser autônomos, distantes do Ministério da Agricultura. Será que essa singularidade é boa para a sociedade? Claro que não. Essa luta pelo velho modelo só atende a esse desejo de se manter fechado dentro daqueles portões.

Há saída?

Juvenal – Claro. Se o velho estiver disposto a se adaptar ao novo modelo, é claro que a sociedade abraça. Agora, não dá para continuar eternamente enganando. A sociedade está atenta, os produtores melhoraram seu discurso e a imprensa está acompanhando tudo.

O senhor já foi superintendente para a Bahia e foi coautor desse processo de aproximação entre Ceplac e UFSB. Voltaria a dirigir o órgão nesse momento?

Juvenal – Como agente político, em exercício pleno dessa proposta, como quadro de meu partido, [o PMDB], estou disposto a ajudar no debate. Agora, pensar numa volta à Superintendência, jamais. Me sinto realizado com o trabalho feito. Figurinha repetida não completa álbum.

5 respostas

  1. Ô dotÔ Juvenal, Universidade não faz nada não. Ela e seu mundo acadêmico é que é uma enganação hoje. Cadê a UESC E A UFBS na hora de encarar os problemas concretos da gente: violència, seca, desemprego, desenvolvimento, cadê a voz delas, as propostas delas? Escreva: Universidade é enganação! Só 10 por cento de quem começa a universidade conclui o curso. E os 90? Por quê saem? Para onde vão? Ela se preocupa como essa realidade trágica? E dos que se formam, 90% ficam desempregados, despreparados, “arrastando lata”. Eu tenho isso na minha familia, dr. Juvenal. Conhecimento é valor, mas universidade como a gente tá fazendo aqui não tá com essa bola toda não. Enganação é isso aí…

  2. Eu acho um tanto exagerado o desencanto no comentário de Ricardo Santana.
    Mas…acredito que o campo acadêmico deveria agir com mais eficiência quanto aos problemas existentes fora das estruturas das faculdades. Associar a gama de teoria tão pesquisada ali ao cotidiano das pessoas
    com certeza daria não somente uma motivação maior aos estudantes no campo do estudo como os prepararia melhor ao término de seus cursos. A integração entre escola e sociedade é imprescindível desde a fase pre-escolar até o pós-doutorado. O contrário disso seria a manutenção do que todos nós conhecemos e convivemos: um bando de microespecialistas alinhados a outro de macroignorantes. JÁ EST´MAIS DO QUE NA HORA DE SE ELABORAR E POR EM PRÁTICA UMA POLÍTICA QUE PONHA AS INSTITUIÇÕES À SERVIÇO DA SOCIEDADE COMO UM TODO, SEM CORPORATIVISMO.
    TRADUZINDO: A CEPLAC, POR EXEMPLO, A SERVIÇO DO PRODUTOR, MAS TAMBÉM, DO FABRICANTE DE COCADINHA DE CHOCOLATE.

  3. Coitada da CEPLAC. Na situação que está, e existe a possibilidade desse cidadão retornar. Por que ele não faz concurso para voltar ao Banco do Brasil?

  4. Entre o mundo que se deseja e o mundo real existe uma diferença muito grande. Entre a retórica e os fatos também. As áreas de APP devem ser de vegetação nativa e não de Cabruca. A ideia de recuperar nascentes dos rios plantando cabruca é completamente fora da previsão legal e da realidade social. Fosse isso mesmo as nascentes e a vegetação ciliar destes rios nunca teriam sido destruídas. Da mesma forma a “conservação produtiva” é uma construção para valorizar a CEPLAC que nunca saiu do papel. A universidade é muito importante. Mas não vai realizar essa mudança profunda que o entrevistado afirma. E tomara que os dirigentes da UFSB não caiam nesta armadilha, por conta da vaidade, criando expectativas que não podem cumprir, gerando frustrações e deixando de representar, um símbolo de avanço regional.

  5. ABEL, não sou agrônomo e tenho somente a vontade de ver nossa região voltar a crescer. Em sua réplica ás proposições de Juvenal, vejo um certo descrédito. Qual seria, então o caminho de volta para a CEPLAC e, por conseguinte para os produtores de nossa região? Qual seria a solução para a recuperação das nascentes de nossos rios? Só criticar não resolve os problemas, não é mesmo?????

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