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Marcos-BandeiraMarcos Bandeira | marcos.bandeira@hotmail.com

 

Por que não revitalizar efetivamente essas praças públicas? Por que não utilizar o conhecimento científico das universidades e do projeto “Centro das Águas” para salvar o Rio Cachoeira? Precisamos não só de justificativas, mas de ações que transformem nossa cidade num lugar aprazível para vivermos.

 

A condição de cidadãos exige que sejamos autônomos, críticos e participativos em nossa comunidade. O município é o lugar onde moramos e construímos nossa história no cotidiano do trabalho ou nas horas de lazer e entretenimento. Certamente, será o lugar onde morreremos também.

O ser humano, como sujeito biológico e cultural, deve inscrever na sua identidade terrena, uma consciência ecológica de que nos fala Edgar Morin, de “habitar, com todos os seres mortais, a mesma esfera viva… a consciência cívica terrena… da responsabilidade e da solidariedade para com os filhos da terra”. E é essa minha consciência ecológica me instiga a fazer alguns questionamentos:

Qual modelo ideal de cidade desejo para minha família e para as futuras gerações? Se não posso viver na cidade ideal, como seria a cidade capaz de me proporcionar bem-estar e qualidade de vida? A cidade onde moro oferece itens como segurança, educação, saúde, comércio, lazer, dentre outros, com qualidades razoáveis para a boa convivência humana? Devido às limitações deste artigo, deter-me-ei em apenas em dois itens para testar o “bom viver” da cidade onde moro: segurança e lazer.

Itabuna, cidade com mais de 220 mil habitantes e polo comercial da região sul da Bahia, possui uma das taxas de criminalidade mais alta do estado, tendo ocupado o topo do ranking nacional como a cidade mais violenta para adolescentes entre 12 a 18 anos, nos anos de 2009 e 2010, conforme dados oficiais da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

Os delitos ocorrem invariavelmente no centro da cidade em plena luz do dia. Estamos inseguros, e essa sensação de insegurança é potencializada pelo sensacionalismo midiático que se encarrega de espalhar o clima de terror e pânico na cidade.

Quais discursos, quais ações podem ser implementadas para mudar esse quadro sombrio? Nas reuniões de segurança pública, o discurso para tomada de iniciativas sempre é o mesmo: mais armamento, mais viaturas, mais prisões. O presídio de Itabuna está atualmente com mais de 1.200 presos, quando a unidade comporta apenas 440. É uma bomba relógio que deverá explodir a qualquer momento.

Na verdade, não tenho a receita pronta, mas posso afirmar que há necessidade de um novo paradigma de segurança pública no país, e para isso, é preciso vontade política que rompa muitas resistências naturais visando a manutenção das atuais estruturas.

Enquanto o novo paradigma não vem, o jeito é apostar na prevenção, implementando projetos sociais para crianças, adolescente e jovens, abrindo escolas nos bairros nos finais de semana, criando espaços para a prática do esporte e lazer, valorizando nossas praças públicas. Uma praça pública bem iluminada, com espaço para o lazer, com banheiros públicos higienizados, constitui uma janela aberta para a segurança, pois certamente atrairá aglomeração de famílias e assim afastará os meliantes.

Ao contrário, uma praça pública mal iluminada, sem atrativo e abandonada, passa a se transformar num foco de marginais e usuários de drogas. É o que acontece com a Praça da Catedral de Itabuna, que há algum tempo não vem merecendo a devida atenção do poder público e hoje, é ponto de encontro de usuários de drogas, sendo cenário de vários delitos, como furtos e roubos. O mesmo acontece com a Praça do Bairro Santo Antônio, ponto de encontro de usuários de drogas.

Foi valorizando os logradouros e praças públicas, que o prefeito de Nova York em 1994 aplicou a teoria das janelas quebradas, reduzindo drasticamente os índices de criminalidade naquela cidade.

Outro ponto que merece destaque é o espaço com a oferta de lazer, para a prática de esportes, atividades lúdicas e culturais. O sociólogo Domenico de Masi em seu livro Ócio Criativo afirma que dispomos de mais de 300 mil horas livres para exercitar a nossa criatividade, seja no esporte, na ginástica, na cultura, na meditação, na interação com as pessoas, no amor ou no convívio com a família.

Passado o período da Revolução Industrial, onde o trabalho cansativo e de montagem ocupava o papel principal, valoriza-se hoje, o tempo livre, pois o ócio criativo é o que, de fato, acaba dando sentido às nossas vidas.

O grande problema é que, olhando para a minha cidade, vejo o rio Cachoeira agonizando sem que haja uma intervenção eficiente por parte do Poder Público, muito embora existam projetos, como o “Centro das águas” capitaneado pela professora Maria Luzia de Mello, que oferece estratégias para salvar o inditoso rio, cantado em verso e prosa por Cyro de Mattos, Lurdes Bertol e tantos outros escritores.

O itabunense normalmente gosta de andar, correr e pedalar na avenida Beira Rio; entretanto, o piso é acidentado e estreito, a iluminação é sofrível e o mau cheiro que exala do rio é insuportável. É incrível que uma cidade como Itabuna não possua um projeto para melhorar a qualidade de vida das pessoas. O que se observa são algumas e poucas iniciativas particulares que acabam dando um novo colorido à cidade, como o futevôlei e outras atividades físicas praticadas na Praça Hélio Lourenço.

Nos finais de semana, alguns esportistas são obrigados a interditar algumas vias da Avenida Beira Rio para praticar atividades físicas nos finais de semana e feriados sem o risco de serem atropelados por algum veículo. Indaga-se: por que o Poder Público não transforma a Praça Aziz Maron num local aprazível, construindo uma arena moderna com vestiário e instrumentos de ginástica para a prática de esportes diversos? Por que não realizar um projeto em torno da Avenida Beira Rio, alargando o passeio, melhorando a iluminação pública, construindo quiosques no seu entorno, oferecendo melhor espaço às pessoas que praticam atividades físicas e àquelas que transitam pelo local?

Por que não criar na cidade, pelo menos nos finais de semana e feriados, ciclovias móveis com cones, a exemplo do que já ocorre em grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, para as pessoas pedalarem?

Por que não revitalizar efetivamente essas praças públicas? Por que não utilizar o conhecimento científico das universidades e do projeto “Centro das Águas” para salvar o Rio Cachoeira? Precisamos não só de justificativas, mas de ações que transformem nossa cidade num lugar aprazível para vivermos.

Enfim, como cidadão itabunense, sou obrigado a exercer meu senso crítico no sentido de que a reflexão possa contribuir para que a cidade onde moro e moram milhares de pessoas, possa oferecer a todos uma melhor qualidade de vida, pelo menos, no que tange à segurança, lazer e entretenimento, tornando-se assim, mais humanizada.

Marcos Bandeira é advogado, juiz aposentado, professor de Direito da Uesc e ex-presidente da Academia de Letras de Itabuna.

6 respostas

  1. Que saudade da então Vila de Taboquinha! Doces eras, cujo povoado de paz com ares bucólico e a efervescência focada no trabalho e os sonhos de dias melhores,os nativos só fechavam as portas pra não entrar Tatu e outras espécies de caças.

    Hoje as casas são trancafiadas com alarmes,muros inexpugnável e mesmo assim,são invadidas por saqueadores e arrastões que não tem horas para os criminosos,ai se pudesse retroagir no tempo?

    Que saudade de então Vila de taboquinha e olhe que nem existia Taboca Grande,o que causou o fenômeno do crescimento populacional e o desenvolvimento da nossa terra foi a junção de Taboquinha e Taboca Grande e virou Taboca.

    A cidade era de paz,nada que não pudesse ser apaziguada com as sábias palavras em resolver quaisquer conflitos e sua arma poderosa era à palavra de Manoel Fogueira.

    Hoje o maior crime de Itabuna,não são os arrastões,os arrombamentos,até mesmo os
    ladrões de celulares,mochila dos estudantes etc e tal,o maior crime da nossa terra e extensão ao país,é o palavrão de “Golpe” é como incentivar os nazistas e fascistas a dominar o Brasil.

    Os taboquenses devem repudiar veemente este palavrão e ser exemplo ao Brasil,que
    estes marginais criadores desta ofensa ao povo brasileiro não fiquem impune. Na
    Alemanha é crime citar Hitler ou nazismo,que seja aqui no Brasil este crime de “golpe” e citar o PT.

    Eis ai o grande mau de destruição de Itabuna e extensão o Brasil, que nos faz sentir saudade da era de Taboquinha e o país só fez denegrir na violência há 13 anos.

  2. Concordo piamente com a opinião do Sr. Marcos Bandeira.

    Contudo, no que diz repeito a Nova York, na redução drástica da criminalidade, é preciso lembrar que o lema maior foi: “Tolerância Zero ao Criminoso”. O que não é possível aqui, dado aos muitos recursos e fragilidade das leis que, em muito, dá ousadia ao infrator a que continue na perpetração dos seus atos, certo da absolvição o mais rápido possível!

  3. ilustríssimo Dr, é imprescindível que o tecido social esgaçado pela cultura hibrida seja costurado.A Associação de Moradores e Comerciantes do centro Histórico de Itabuna – AMO ITABUNA. Temos 438 cadastrados,entre :famílias de base local ,empreendimentos e instituições .
    Convidamos o senhor e a sua esposa para próxima reunião,que acontece no Palace Hotel .
    aguardamos !

  4. Não há sensacionalismo midiático, talvez para aqueles que podem viver em bairros nobres e com seus carros blindados e por vezes com seguranças a tiracolo, tem sua visão um tanto quanto embaçada, assim não se permite ver que as notícias só traduzem o que está acontecendo diariamente em todo lugar, mas principalmente na periferia: tiroteios, arrastões, assaltos, roubos, furtos etc.
    E a questão é simples de ser resolvida, a receita está na pena dos juristas, senadores e deputados arcaicos, presos no tempo de uma lei ultrapassada para uma sociedade moderna em todos os sentidos, o crime sem dúvida é organizado, já o nosso sistema de garantia de direitos está aquém dos paradigmas de um país de primeiro mundo, a exemplo, só no Brasil credita no ECA ser uma lei de primeiro mundo, enquanto lá onde os países realmente o são as leis são mais duras, o tal infrator pensará duas vezes em cometer um crime, pois lá onde deveras as leis são cumpridas em sua integralidade de pena, os homens e as mulheres são seres críticos e participativos; como por exemplo, não babam ovo de pessoas da alta sociedade ou dos seus políticos, pois tem consciência que o homem ou a mulher pública na verdade são seus empregados, pois dos impostos que pagam que os mesmos recebem seus soldos, salários. Enfim, o que deve mudar são as leis, para com isso a sociedade acompanhar o ritmo das coisas. E humanizar teorias são fáceis, precisamos é humanizar a práxis.

  5. Alô, senhores do Pimenta!
    É impressão minha, ou o Filho de Mutuns tem parte neste blog?
    Comentariozinho mais sem noção! E tem mais, o texto é de Marcos Bandeira ou de Rosivaldo Pinheiro? Pessoalmente, nada contra, mas, inoportuna a campanha para vereador, não?!
    Quanto ao tema do artigo, vem pra rua, Dr. Marcos Bandeira! Use seu vasto conhecimento e ´transforme sua boa retórica em ação ao lado daqueles que têm o mesmo sentimento e pensamento mas que não sabe por onde começar e nem para quem apelar. NOSSA CIDADE PRECISA SER REVITALIZADA. ESTAMOS ÀS VÉSPERAS DE UM NOVO PLEITO. NÃO SERIA ESTE O MOMENTO OPORTUNO PARA UMA AÇÃO
    CONTUNDENTE AO PROBLEMA ?

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