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foto Cel artigoCelina Santos | celinasantos2@gmail.com

 

Em contrapartida, longe dos holofotes, um “fantasma” ronda a mente de seu “Zé da Bicicleta” em noites de insônia: “Não te aposentaraaaaás!”.

 

 

Em meio à série de notícias relacionadas à prisão do empresário Eike Batista, que mantinha um império com “generosas” doses de propina, um detalhe chamou a atenção: a peruca (ou implante?) raspada(o) quando ele foi para o presídio de Bangu 9 teria custado nada menos do que R$ 70 mil. Seria apenas o exotismo de um bilionário, se não estivéssemos num país absurdamente desigual.

O contraponto com nosso mundo real: um trabalhador comum, que ganhe um salário mínimo (R$ 937,00), precisaria de aproximadamente 75 meses (6,25 anos!) para disfarçar a calvície com “mimo” semelhante. Mas isso não é o pior. Conforme a proposta de reforma da Previdência Social – ainda à espera da apreciação dos nobres parlamentares, o mesmo sujeito só tem direito a aposentadoria integral após contribuir durante 49 anos.

Daí as inúmeras piadas disseminadas pela internet. Uma dessas “gracinhas” virtuais, perdão se parecer heresia, menciona um 11º mandamento, que profetiza: “Não te aposentarás!”. As brincadeiras ilustram o quanto o brasileiro consegue rir das suas lamúrias, ao passo que, infelizmente, pouco pode fazer para mudar muitas delas, embora se diga, oficialmente, que “a voz do povo é soberana”. Quem dera!

Voltando à reforma, o projeto desconsidera, ainda, o nível de desgaste que determinadas funções impõem ao longo dos anos. É surreal, por exemplo, igualar a idade mínima para aposentadoria de um trabalhador rural à de alguém que labuta na sombra e/ou no conforto do ar-condicionado.

Para haver bom senso, caberia ser levado em conta um princípio deixado por Aristóteles – um dos precursores do Direito: “Devemos tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de sua desigualdade”. Tal máxima não é só retórica; poderia muito bem ser imperiosa nesse Brasil de dimensões continentais, sempre que a intenção for fazer Justiça.

Porém, ao que tudo indica, a “bola da vez” é esmiuçar como serão penosos os dias e noites de Eike Batista numa cela comum, já que não tem diploma universitário. E tentar, a todo custo, conseguir imagens da expressão sofrida dele, sem a tão valiosa cabeleira. Em contrapartida, longe dos holofotes, um “fantasma” ronda a mente de seu “Zé da Bicicleta” em noites de insônia: “Não te aposentaraaaaás!”.

Celina Santos é pós-graduada em Jornalismo e Mídia e chefe de Redação do Diário Bahia.

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  1. Como sempre, uma pérola em forma de artigo! Parabéns amiga Celina, pela lucidez na articulação das palavras!
    (José Carlos Peixoto, jornalista)

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