Tempo de leitura: 3 minutos

Sócrates Santana | soulsocrates@gmail.com

 

Por esta razão a indústria brasileira desenvolveu-se e viabilizou-se em torno de uma cadeia altamente eficiente e orientada aos mercados externos. Atualmente, cerca de 35% dos pomares que fornecem laranja para processamento pertencem às próprias indústrias processadoras e possuem altos níveis de produtividade.

A bola da vez é a laranja. Após uma série histórica de recordes, houve um recuo de 12% em volume e 8% em receita das exportações do suco de laranja brasileiro. Em números, o faturamento recuou de US$ 1,052 bilhão para US$ 968,62 milhões. O detalhe é a negativa participação dos Estados Unidos, que agora atuam diretamente no recuo das vendas. Na safra anterior, os americanos embarcaram 151,26 mil toneladas do suco de laranja brasileiro, enquanto agora este número baixou para 112,65 mil toneladas para portos norte-americanos, um recuo de 26%.Os embarques para a União Europeia, principal mercado para as exportações de suco de laranja brasileiro, também caíram, com queda de 14%. O volume financeiro também caiu 7%.

Ao contrário do mercado europeu, com quem o atual governo mantêm uma relação hostil, o recuo dos EUA não é condizente com o empenho – próximo da subserviência – do presidente Jair Bolsonaro de aproximar os dois países. Não bastasse o presidente americano incitar o Brasil a romper relações comerciais com a China e depois correr para selar um acordo de paz com Xi Jinping, Donald Trump ainda celebra a exportação da carne bovina americana para o consumidor brasileiro, algo que não ocorria desde 2003.

Mas não é a primeira e, certamente, não será a última vez que os EUA pregam uma peça no Brasil. Em 2009, a Organização Mundial do Comércio (OMC) examinou a legalidade de medidas antidumping aplicadas pelos Estados Unidos contra o suco de laranja brasileiro. Felizmente, após 6 anos de sanções, em 2011 o Brasil saiu vencedor. Isso mesmo! Após 6 anos, porque, apesar da OMC só examinar a legalidade das medidas antidumping em 2009, desde 2005 o Departamento de Comércio dos EUA aplicam medidas duras e muitas vezes de conteúdo técnico questionável para o suco importado do Brasil. Na época, o governo brasileiro defendeu os interesses dos produtores nacionais e enfrentaram uma dura batalha comercial com os EUA. Vencemos.

Não era para menos. O Brasil exporta 98% do suco de laranja que produz. Embora os brasileiros sejam apreciadores do suco de laranja, consumimos o suco fresco em função da oferta abundante de fruta. O brasileiro consome aproximadamente 12 litros per capita/ano de suco de laranja, dos quais apenas um litro é de suco industrializado. No Brasil, bebe-se o suco que qualquer outro mercado sonharia em consumir: o suco fresco produzido na hora, seja em restaurantes ou nos domicílios.

Por esta razão a indústria brasileira desenvolveu-se e viabilizou-se em torno de uma cadeia altamente eficiente e orientada aos mercados externos. Atualmente, cerca de 35% dos pomares que fornecem laranja para processamento pertencem às próprias indústrias processadoras e possuem altos níveis de produtividade.

O atual governo, contudo, inicia uma política de comércio exterior até aqui desastrosa. De volta para a China, chama a atenção a queda da participação chinesa no comércio do suco de laranja brasileiro. Além de ser o maior parceiro comercial do Brasil, correspondente a 30% de toda a exportação nacional, o país oriental também é a quarto maior mercado consumidor do suco de laranja brasileiro. Coincidência ou não, a China deixou de importar menos suco produzido no Brasil. Os chineses reduziram a importação do suco de laranja brasileiro de 18,99 mil toneladas para 14,74 mil toneladas. A queda foi de 22% no volume e de 19% no faturamento, reduzindo de US$ 36,9 milhões para US$ 29,9 milhões.

“O Brasil está stand by”, disse o presidente da Câmara de Indústria e Comércio Brasil-China, Charles Tang. E, pelo jeito, é pra valer. A China tem comprado muito suco não concentrado (NFC) de países como Chipre, Espanha e – coincidência ou não – Israel. Enquanto isso, o Brasil assiste passivo aos ânimos comerciais entre EUA e China, sendo uma espécie de moeda de troca do presidente Donald Trump.

Sócrates Santana é jornalista e gestor de inovação da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado da Bahia.

Deixe aqui seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *