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Lucas França

 

 

Em última análise, os smartphones que temos no bolso, tornaram-se um computadorzinho superpoderoso, aliás, muito mais poderoso do que aqueles que levaram o homem à Lua.

 

 

Marina Silva tinha 11 anos e vivia num seringal no Acre, quando tudo aconteceu. “Antes de ver alguma imagem de televisão, alguma movimentação, eu vi as fotos na Revista Manchete”. O Cid Moreira estava no estúdio do Jornal da Globo. “Não só a mim, mas todos que assistiam o evento, estávamos todos emocionados. Foi sensacional”. Também participou daquela cobertura com o Cid, o jornalista Hilton Gomes, que morreu em 1999. “Resta-nos desejar boa sorte aos astronautas Armstrong, Collins e Aldrin”. E eu? Bem, eu nasceria somente cinco anos após o feito, no mesmo mês.

Celebridades, parentes dos astronautas, engenheiros e 3.550 jornalistas de 54 países estavam em postos de observação mais próximos do lançamento, cerca de dois quilômetros da plataforma. A nave americana Apollo 11 tinha deixado a Terra, mais especificamente o Cabo Canaveral, na Flórida, no dia 16 daquele mês. Mais de duas toneladas de combustível foram queimadas em dois minutos. “…dois minutos e quarenta segundos depois, a Apollo está a 64 quilômetros de altura e se prepara para soltar o último estágio”, narrava, ao vivo, o jornalista Celso Freitas, dos estúdios da TV Globo. Pois é! O 20 de julho de 1969 é de certa forma o 11 de setembro de uma geração, onde é comum lembrar onde se estava, e o que se estava fazendo.

Conta a história que a Apollo 11 atravessou 350 mil quilômetros para ir da Terra até a Lua. É tipo você ir 80 vezes do Norte ao Sul do Brasil em linha reta, só que em quatro dias e meio. A espaçonave foi atraída pela força da gravidade lunar e entrou em órbita na superfície da Lua, quatro minutos antes do horário previsto. Eles estavam a 6.007 quilômetros por hora. E às vinte e três horas, cinquenta e seis minutos e trinta e um segundos, horário de Brasília, o homem tocou o solo da Lua pela primeira vez. Sábado, dia 20, foi o aniversário de 50 anos daquele dia.

O espetáculo foi, inclusive, transmitido pela televisão, ao vivo, para um bilhão e duzentos milhões de pessoas. Pra você não se perder aqui, os três tripulantes eram: Neil Armstrong, Buzz Aldrin (segundo homem a pisar na Lua) e o Michael Collins, que ficou em órbita, esperando os dois brother’s voltarem com o módulo lunar. Estive pesquisando em um blog que fala sobre o assunto, e li a opinião da biomédica Helena Nader, que presidiu a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Ela estava na faculdade quando tudo aquilo estava acontecendo.

“Marcou a minha vida em termos de ciência. Foi a prova de tenacidade e determinação do ser humano, da conquista daquilo que parecia impossível. E eu lembro da frase do Armstrong, quando ele andou, sobre o pequeno passo. Eu percebi com aquilo que, ciência bem-feita, a gente pode conseguir muitas coisas para a melhoria da humanidade”, relatou a cientista.

Os astronautas levaram quatro câmeras fotográficas e duas cinematográficas para registrar a missão. Não era só uma questão de …ah beleza, chegamos, que legal! Era uma missão científica, fazer registros e coletar dados. Entre outras coisas, eles relataram que a Lua era mais dura do que parecia, que o solo era mais fofo do que eles pensavam. Fofo no sentido de macio, para ficar claro. Segundo Armstrong, o pé dele afundou cinco centímetros na primeira pisada. Claramente fofo.

A visão que os dois astronautas tiveram na superfície era uma espécie de ‘dia e noite’ ao mesmo tempo. Se olhassem para o chão era dia, se olhassem pro céu era noite. Eu explico. O solo lunar é iluminado pelo sol, mas o céu é negro e estrelado, já que a Lua não tem uma atmosfera como a Terra. Os cosmonautas americanos aproveitaram, intencionalmente, para fincar a bandeira americana dos Estados Unidos (EUA). Quando estavam por lá, prestaram a primeira continência lunar à bandeira norte americana.

As edições dos jornais daqueles dias contam tudo o que estava acontecendo no satélite, trazem artigos de opinião e registram os parabéns ao feito, de autoridades internacionais e brasileiras, entre elas, o presidente Artur da Costa e Silva. Os jornais também registram todas as tenções da guerra fria quando tudo aquilo acontecia. Porque sim, a ida na Lua era muito bonito, mas fazia parte de uma disputa de poder entre os EUA e a União Soviética. Os soviéticos levaram a melhor mandando o primeiro satélite para o espaço, o primeiro ser vivo, a pobre da cachorrinha Laica, que morreu em órbita, e o primeiro homem, Yuri Gagarin. Mas no final, contou mais pontos para a corrida espacial, o feito americano de ir mais longe, prometido pelo presidente John Kennedy.

Além de toda esta questão geopolítica, a saga da Lua tem outro momento que vale mencionar, pois na época, dividia opiniões, e a principal delas, a de que o homem não havia pisado a Lua. A opinião não é nova e também é bem atual. Ainda hoje, tem gente que não acredita no feito de Neil Armstrong e dos outros 11 homens que lá estiveram. Segundo pesquisa Datafolha do começo deste mês, 70% das pessoas consideram que sim, o homem pisou no satélite. Já outros 27%, acham que não e 4% declararam não saber. A pesquisa mostrou que existe uma correlação entre o nível de escolaridade e a descrença nas missões lunares. Entre quem cursou apenas o ensino fundamental, 38% dizem que as viagens à Lua foram uma mentira, e entre quem tem curso superior, são 14%, ainda bastante coisa.

Muito frustrante, e por vezes, não muito justificável que as pessoas não consigam aceitar que a humanidade esteve na Lua. Não que faltem evidências – sobram evidências. São 380 quilos de rocha analisados por cientistas do mundo inteiro. Foram vídeos, filmes e fotos tiradas na época, além das fotos tiradas recentemente, com espaçonaves novas, não apenas dos EUA, mas da China e Japão, que confirmam as missões e registraram a presença dos artefatos deixados pelos astronautas. Contrariar isto baseado nos argumentos, beiram a insanidade com coisas elementares.

Os benefícios da viagem à Lua já foram colhidos. Os celulares, as tecnologias que nos ajudam hoje no dia a dia. Mas, uma coisa é certa: a maravilha da ciência, tanto faz se você acredita ou não, ela funciona – é o que aprendemos de fundamental com essa viagem, tanto do ponto de vista tecnológico, quanto filosófico. Os especialistas dizem que a tecnologia contribuiu com enormes ganhos, a exemplo dos tecidos usados para uniformes de bombeiros, que não queimam com o fogo, os equipamentos de musculação para academias, que foram usados para manter os astronautas em forma em ambientes sem gravidade.

Dizem os cientistas que a coisa mais abrangente herdada das missões lunares, do ponto de vista tecnológico, foi o desenvolvimento da computação. Evidente que os computadores já vinham da época da segunda guerra mundial, mas, ocupavam uma sala inteira. O desafio era colocar esses computadores dentro de uma pequena nave, então, relatam que existiam um processo de miniaturização muito agudo, pois, o consumo de circuitos integrados que já existiam naquela época, era grande e caríssimos. O Programa Apollo consumia mais da metade de toda produção de circuitos integrados dos EUA.

Em última análise, os smartphones que temos no bolso, tornaram-se um computadorzinho superpoderoso, aliás, muito mais poderoso do que aqueles que levaram o homem à Lua. Teria acontecido se não tivéssemos ido? Sim, mas, não nesse ritmo. O viés filosófico está numa das imagens mais icônicas da exploração espacial, aquela que foi obtida pela Apollo 8, a primeira orbitar a Lua, e que registrou o nascer da Terra, visto da Lua. Essa perspectiva de enxergar a Terra como um planetinha, em meio a um enorme vazio, isso muda completamente a forma como a gente encara e se preocupa com o nosso planeta.

Não é por acaso que os movimentos ambientais começaram a ganhar força depois das missões Apollo, pois mostraram a riqueza e a preciosidade que é o nosso pequeno mundo na imensidão do cosmo. Mais do que descobrir a Lua, nós descobrimos a Terra quando fomos à Lua. Me perguntam sempre: …mas, se foi tão bom, por que não continuar? A última vez que a gente pisou lá foi em 1972, três anos depois da primeira vez. Não sou nenhum especialista, mas tá na cara que são os custos. Mas, apesar da ressaca, ainda há interesse e muito na Lua. Outros países já mandaram objetos pra lá sem enviar pessoas, entre eles a China, a nova rival geopolítica dos EUA.

De volta a julho de 1969, o presidente dos EUA na época, Richard Nixon, tinha um discurso pronto, para o caso de uma tragédia acontecer e os astronautas morrerem. O texto começava assim: “O destino ordenou que os homens que foram à Lua para explorá-la em paz, ficarão na Lua para descansar em paz”. Felizmente, o discurso nunca precisou ser lido, até tem ‘paz’ nessa história, mas na plaquinha que os astronautas deixaram no nosso satélite dizia: “Aqui, homens do planeta Terra, pela primeira vez, colocaram os pés na Lua – julho de 1969 – Viemos em paz por toda a humanidade”. Depois de uma viagem de oito dias, três horas e dezoito minutos, os paraquedas automáticos da capsula da Apollo 11 abriram, e à 01h50 da tarde, Armstrong, Audrin e Collins caíram suavemente no oceano pacífico.

Lucas França é jornalista.

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