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Ramiro Aquino

O cerimonial do governador chegou a Itabuna três dias antes, trocamos ideias e gentilezas, só estragadas quando o Bispo Dom Ceslau foi barrado na UTI por um segurança “qualificado” do governo.

Alguns episódios recentes, e outros nem tanto, me inspiraram a escrever este artigo, que trata de um assunto de área onde atuo, no caso o cerimonial. Por definição e por tradição, cerimonial é um conjunto de normas de conduta e de comportamento em público ajustados por lei e algumas condições indispensáveis de etiqueta e de respeito às relações sociais, sejam no âmbito privado ou público.
Os últimos governos da Bahia, desde o longo domínio carlista (mais acentuado com Paulo Souto) aos dias hoje (quinto ano da gestão Wagner), têm dado demonstrações de uma truculência inimaginável quando se trata dessas relações. Nem ACM, reconhecidamente grosseiro em suas atitudes, tinha equipes do seu cerimonial ao nível do que já vimos e acompanhamos nos dois governos de Paulo Souto e no recente governo Wagner.
Como atuo na área, frequentemente sou contratado para realizar eventos que contam com a presença do governador. Aprendi, desde Souto, que é exigência na área governamental, usar o cerimonial do governo nas atividades em que o maior mandatário baiano esteja presente. Nada contra. Acho até um cuidado especial para que se preserve o governador e ele não sofra qualquer tipo de constrangimento. O que não é admissível é que o cerimonial do governo atropele as convenções sociais, a lei e as regras mais elementares de convivência, como nos exemplos a seguir.
O primeiro exemplo é positivo (para não dizerem que não falei de flores) e vem, imaginem, da cúpula carlista. Maio de 2000, inauguração do Jequitibá com as presenças do governador César Borges e do senador ACM. Uma semana antes o cerimonial do governo fez contato com o shopping pedindo o roteiro da solenidade. Como responsável pelo ato encaminhei o material para o governo, que o aprovou sem restrições apenas com uma exigência: que as demais autoridades e os anfitriões usassem traje esporte, já que o governador, o senador e sua comitiva, estariam assim trajados. O evento foi tranquilo.
Um segundo episódio foi no governo Paulo Souto. Inauguração da Fábrica Inaceres, em Uruçuca. Fui contratado para conduzir a cerimônia, mas adverti aos dirigentes da empresa que se o governador estivesse presente o cerimonial seria dele. Mas Paulo Souto não trouxe um mestre de cerimônia e sim um locutor de comícios, arrogante e mal educado, mal trajado e sem qualquer conhecimento de cerimonial. Por conta do seu despreparo deixou de chamar para o palanque o Embaixador do Equador, país sócio e investidor da Inaceres e, mais que isso, representante de um país estrangeiro. O avisei da gafe.  “E agora o que é que eu faço” perguntou-me, não tão arrogante como na chegada. “Assuma a culpa, peça desculpas e chame o homem”, respondi-lhe.
As mais recentes são dedicadas ao cerimonial do governo Wagner. Em 2009 a Santa Casa inaugura a nova UTI com a presença de Jaques Wagner. O cerimonial do governador chegou a Itabuna três dias antes, trocamos ideias e gentilezas, só estragadas quando o Bispo Dom Ceslau foi barrado na UTI por um segurança “qualificado” do governo (segundo consta um tenente coronel da PM), que não identificou a autoridade religiosa nem pelo anel, o colarinho clerical, a cruz peitoral ou pela mitra (chapéu), que os bispos usam. Ignorância pura.
Para encerrar a série de truculências fui convidado para conduzir a cerimônia de inauguração do SEST/SENAT. Novamente adverti: “o cerimonial será do governo”. Por se tratar de cerimônia padrão em suas inaugurações o roteiro que foi para as mãos do mestre de cerimônia governamental seguia esse padrão. Mas ele atropelou tudo: não exibiu o vídeo sobre a unidade, não leu um texto sobre o SEST/SENAT, não pediu o Hino Nacional. E mais: se armou uma trama para o prefeito Azevedo não usar da palavra, felizmente abortada pela pronta intervenção dos dirigentes do SEST/SENAT, Carlos Knitel à frente.
E mais: Wagner Chieppe, da Viação Águia Branca, um dos principais responsáveis pela vinda da unidade para Itabuna, ficou esquecido, em pé, sem qualquer gentileza, nem citação dos oradores, não fossem os pronunciamentos do prefeito Capitão Azevedo e de Carlos Knitel, que fizeram justiça, numa tarde de tantos equívocos protocolares.
Ramiro Aquino é cerimonialista, membro do Comitê Nacional de Cerimonial e Protocolo, jornalista e radialista.

0 resposta

  1. Esse Ramiro, deve colocar uma melancia na ceveça e decer a Ciqentenário. Vá gostar de se aparecer assim lá longe. Agora já se mete neste blog?

  2. Zelão diz: – Truculência não combina com nada
    Vejo a truculência como uma forma de violência praticada, justamente por quem ou por aqueles que têm a obrigação de zelar pelas boas relações interpessoais.
    Concordo serem troculentas as formas aqui relatadas por Ramiro, por reconhecer nele a capacidade em apontá-las, por ser um profissional cioso dos seus compromissos e, acima de tudo, pela sua formação ética e moral.
    Cito também como troculentas as reações diárias de muitos governantes e dirigentes, no trato com o público e colaboradores. Como exemplo, refiro-me as falhas do cerimonial da prefeitura de Itabuna, com as atitudes do atual prefeito de Itabuna ao se dirigir ao público em discursos políticos inoportunos, em eventos festivos, pagos pela prefeitura, onde o público foi convidado para o lazer e a diversão, em uma clara atitude de “promoção pessoal,” o que considerado crime.

  3. Parabéns sr. Ramiro Aquino, se todas as críticas fossem feitas como o sr. conduziu as suas, efetivamente estaríamos numa democracia.
    Que aprendam a criticar dessa maneira, com fatos e relatos e não com palavras levianas.
    Parabéns.

  4. Isso sim é um artigo… interessante essas revelações e a falta de respeito do que se dizem cerimonialistas, Parabéns Ramiro, ética e profissonalismo na imagem da pessoa que é ao vivo e a cores!

  5. Ainda bem que nem tudo tá perdido nesse país, ontem (16-08) tive o prazer de assitir na TV SENADO o pronunciamento do deputado Aldo Rebelo e também os depoimentos dos pequenos agricultores em relação ao “PROJETO CÓDIGO FLORESTAL”, muita gente que anda por aí condenando esse deputado perdeu uma boa oportunidade de conhecer um pouco seu país, e hoje somos brindados com outro esclarecimento nota 10 do ilustre Ramiro Aquino, obrigado a ambos e que “DEUS” continue lhes protegendo das péssimas companhias que os cercam.

  6. Boa crítica, Ramiro. Além dos oficiais militares da segurança do Governador há também os sem-cerimônia, incluindo fotografos oficiais, que desdenham dos profissionais de imprensa -alguns mal educados ou exibicionistas, é verdade – e de pessoas comuns que muitas vezes querem apenas serem gentis com o Chefe do Executivo estadual, mas são enxotados. É hora, pois, de rever comportamentos…

  7. Parabéns, Ramiro,pela iniciativa de revelar tais incidentes protocolares.Sua atitude é mais do que um desabafo,é contribuição importante para o aperfeiçoamento da nobre missão cerimonialista e uma advertencia aos despreparados.

  8. Parabéns Ramiro,
    Vc, como o profissional mais gabaritado de nossa região, além de ter revelado o q acontece nos bastidores do poder, também deixou claro q um pouco de civilidade não faz mal a ninguém.
    Grande texto

  9. Caro colega do Cerimonial Ramiro, aceite meu apoio e solidariedade nas questões do desrespeito e despreparo dos tais membros do corpo de cerimonial de governo que por tantas vezes insistem em banalizar a sagrada ORDEM e os devidos tratamentos para o bom andamento das solenidades. Sei de sua competência e sei também da grande carência que existe nesta area para os diferentes tipos de autoridades. Essas três situações que você citou, é uma gota perto do ar de grosserias que ouvimos relatos pelas prefeituras da região.
    Att. Dodô Ivan Nilton.

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