Fernanda Montenegro e Maria Bethânia
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“Maria Bethânia e Fernanda Montenegro são das letras, exalam para a sociedade brasileira empoderamento e valorizam ainda mais os campos artísticos, entrelaçando-os”.

 

 

Efson Lima || efsonlima@gmail.com

A inscrição de Fernanda Montenegro para compor o quadro da Academia Brasileira de Letras tem gerado um debate interessante na sociedade brasileira. A pergunta “quem é das letras?” surge repentinamente. Não obstante, o tema adquiriu maior relevância em terras baianas com a escolha de Maria Bethânia, na segunda-feira última (11), para compor a Academia de Letras da Bahia, cuja instituição já ultrapassou o centenário.

Na semana passada, uma figura pública baiana, em diálogo comigo, informava que havia recusado o convite para pertencer a uma determinada Academia de Letras, na Bahia. A pessoa não se sentia à vontade, pois, mesmo com publicações em periódicos, não se encaixava no conceito das artes e das letras. Refutei, pois o currículo da pessoa a credencia para as mais diferentes funções. Além de inteligente, uma figura humana dedicada ao que faz e exemplar gestora.

De fato, a polêmica surge se nos mantivermos presos ao conceito estrito de “letras”, mas não é o que preconizam os objetivos e as finalidades dessas casas literárias. O termo deve ser compreendido no sentido amplo. Turva-se também, pois muitos veem o termo “arte” como sendo inerente apenas às atividades artísticas. Em uma sociedade em que se debate os conceitos de “criatividade” e “inovação” tardiamente, a confusão se justifica, mas não permite a nossa caminhada enquanto estratégia de desenvolvimento.

Surgem também outras polêmicas necessárias no caso da eleição de Fernanda Montenegro para a Academia Brasileira de Letras, pois a consideram uma mulher branca e de classe média alta. Recuperam rapidamente a figura de Conceição Evaristo, uma mulher destacada na literatura, mas, segundo alguns, foi defenestrada no processo eleitoral por razões raciais entre outras querelas. Considero uma injustiça à autora pois, esquecem de destacar o currículo do concorrente: Cacá Diegues. Não avançarei nessa polêmica, quase todas as críticas levantadas são válidas, mas não podemos analisar somente a fotografia do momento sem considerar a série histórica de fotografias e o processo histórico de quem é fotografado e de quem fotografa. De fato, o tecido social brasileiro ainda não está representado em diversos espaços.

Retomemos ao debate de quem são das letras. Como já esboçado, o termo “letras” deve ser compreendido de forma elástica. Não pode ser visto tão somente por quem escreve, pelo contrário, precisa ir em direção à oralidade. Não somente por aquele que faz e/ou estuda literatura, mas também por aquele que está a esboçar as diversas literaturas e diversos fazeres.

A práxis é uma arte constante. Bob Dylan ao ganhar o Prêmio Nobel, em 2017, provocou reflexões no planeta. As letras de suas canções justificavam a premiação na área da literatura segundo os julgadores. À guisa de curiosidade, o primeiro Curso de Letras no Brasil foi ofertado a partir de 1933, na então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Sedes Sapientiae, que, posteriormente, em 1946, foi transformada na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Portanto, a institucionalização do termo enquanto formação ocorre bem depois da fundação da Casa de Machado de Assis em 1897.

A Academia de Letras da Bahia assegura no seu artigo primeiro que “tem por objetivos o cultivo da língua e da literatura nacionais, a preservação da memória cultural baiana e o amparo e estímulo às manifestações da mesma natureza, inclusive nas áreas das ciências e das artes”. A Academia Brasileira de Letras estabelece que tem por finalidade promover “a cultura da língua e da literatura nacional” Portanto, essas instituições preconizam os saberes culturais, os valores humanísticos e a ciência encartada nas diversas áreas dos saberes.

Não me resta dúvida de que Maria Bethânia e Fernanda Montenegro são das letras, exalam para a sociedade brasileira empoderamento e valorizam ainda mais os campos artísticos, entrelaçando-os. As suas presenças físicas nessas instituições demonstram um louvor à interdisciplinaridade, cuja prática parece ser tão cara ao cotidiano brasileiro. Elas são guaxe de uma nova esperança. São poíesis para nosso tempo a despertar boa imaginação e bons sentimentos, sem prejuízo da práxis.

Efson Lima é advogado, professor, escritor e doutor em Direito pela UFBA.

Se vivo estivesse, Jorge Amado completaria hoje 109 anos || Foto Editora Todavia
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Jorge Amado merece muito mais. Merece uma casa melhor em Ilhéus para guardar sua memória e ser um centro de referência permanente. Merece ações em Itabuna. Merece uma Ilhéus zelosa com a memória de seu escritor maior.

Efson Lima

Jorge Amado,  nosso autor sul-baiano mais destacado da literatura nacional, completa 109 anos neste 10 de agosto de 2021. Imortalizado na Academia de Letras de Ilhéus, Academia de Letras da Bahia e Academia Brasileira de Letras, ele permanece vivo na literatura mundial. Certamente, ele continuará povoando nossas cabeças, nosso imaginário e seduzindo milhares de pessoas para a literatura, assim como eu fui atraído pela obras Capitães da Areia Gabriela, Cravo e Canela, entre outros clássicos.

Em Ilhéus, Jorge Amado se somou a Abel Pereira,  Nelson Schaun, Wilde Oliveira Lima e Plínio de Almeida, os quatro últimos foram membros da Comissão de Iniciativa, para fundar a Academia de Letras de Ilhéus, em 1959.  Na Academia de Letras de Ilhéus, o escritor pertenceu à cadeira de n° 13, cujo patrono, Castro Alves, o influenciou na produção literária.  A cadeira de n°13  também acolheu a sua companheira, Zélia Gattai e, agora, tem como titular o escritor Pawlo Cidade.

Para a Academia Brasileira de Letras, Jorge Amado foi eleito, em 6 de abril de 1961, para a cadeira n° 23, que tem por patrono José de Alencar e  primeiro ocupante Machado de Assis. Jorge Amado foi um crítico das academias, mas na fase adulta fez revisão de seus posicionamentos, como assinalou em seu discurso de posse na ABL:  “Chego à vossa ilustre companhia com a tranquila satisfação de ter sido intransigente adversário dessa instituição, naquela fase da vida, um que devemos ser, necessária e obrigatoriamente, contra o assentado e o definitivo, quando a nossa ânsia de construir encontra sua melhor aplicação na tentativa de liquidar, sem dó nem piedade, o que as gerações anteriores conceberam e construíram.”

O tempo é senhor de nossas razões. E como é.

No início deste texto, eu disse “nosso autor”, força de expressão para ressaltar a origem. O escritor pertence mesmo é ao mundo. É símbolo de nossa terra, nascido em Ferradas, em Itabuna, não só se imortalizou, mas imortalizou-nos na literatura universal. As suas obras de cunho regionalista conseguiram ter sentido no Chile, na França, em Portugal, na Itália, na antiga URSS. Conseguiu orgulhar a nação grapiúna e colocar a literatura brasileira em um patamar privilegiado. Acabou não sendo agraciado com o Prêmio Nobel, mas seu nome sempre foi forte candidato. Por sua petulância, acabou sendo preterido.

Geralmente, as pratas de suas casas não são vistas. São normalizadas. Agora, entre as duas cidades, sem dúvida, Ilhéus é quem melhor poderia ganhar com a imagem desse célebre escritor.

A passagem do tempo não apaga as memórias amadianas. As suas obras continuam atuais. Foram crônicas daquele momento e proféticas para o presente. Certamente, continuarão evidenciando o futuro.  Jorge Amado será sempre lembrado pela atual geração e pelas gerações futuras. Talvez, Ilhéus e Itabuna ainda não tenham percebido a importância desse escritor. Geralmente, as pratas de suas casas não são vistas. São normalizadas. Agora, entre as duas cidades, sem dúvida, Ilhéus é quem melhor poderia ganhar com a imagem desse célebre escritor. Infelizmente, a cidade pouco aproveita a difusão turística feita pelas obras amadianas. Gente boa na cidade não falta para colaborar e implantar projetos. Mas são pratas da casa, não servem. Até quando vamos manter esse raciocínio?

O escritor Jorge Amado, que recebeu diversas críticas, marginalizado pela crítica do Sul, continua vivo em nossas memórias e provocando críticas de diversos movimentos. Também continuará sendo lembrado em sua data de nascimento e em eventos acadêmicos, mas só essas ações não bastam. Jorge Amado merece muito mais. Merece uma casa melhor em Ilhéus para guardar sua memória e ser um centro de referência permanente. Merece ações em Itabuna. Merece uma Ilhéus zelosa com a memória de seu escritor maior. Merece um tratamento melhor pelas instituições universitárias e pelas escolas. É possível uma cultura amadiana. AMADO sejamos cada um de nós!

Efson Lima é advogado, professor universitário e mestre e doutor em Direito pela Ufba.

Músico e ex-ministro da Cultura confirma intenção de ocupar cadeira da ABL
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O músico e ex-ministro da Cultura Gilberto Gil vai se candidatar a uma vaga na Academia Brasileira de Letras (ABL). Ontem (5), a instituição iniciou a Sessão da Saudade, que terá quatro eventos para marcar a despedida dos membros que faleceram em 2020 e 2021.

Além da vaga do diplomata Affonso Arinos de Mello Franco, morto em 15 de março do ano passado, declarada aberta nesta quinta (5), serão declaradas abertas as candidaturas para as vagas do jornalista Murilo Melo Filho, morto em 27 de maio de 2020, do professor Alfredo Bosi, morto em 7 de abril de 2021, e a do advogado e ex-vice-presidente do Brasil Marco Maciel, que faleceu no último dia 12 de junho.

Gil ainda não anunciou para qual das quatro vagas se candidatará.

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Aproveite para resenhar. Vamos lá! Precisamos mudar nossos hábitos. Abuse dos telefonemas. Abuse das lives. Mas, por favor, lembre-se de limpar o celular. Vale ouvir uma música também! Vale desenhar. Vale criar! Vale todo esse esforço coletivo! Vale viver solidariamente, mesmo que eu não possa te dar um abraço neste momento.

Efson Lima || efsonlima@gmail.com

Senhores e senhoras, somos uma geração que pouco conheceu o sofrimento coletivo. Poucas vezes paramos diante da televisão para acompanhar os acontecimentos. Lembro-me do 11 de setembro de 2001 nos EUA, que minha geração ficou vidrada diante da TV. Naquele dia e nos outros que sucederam, tivemos nossas rotinas alteradas, mas nada igual a este momento. Nada!

Somos pequenos diante da realidade que ousa a nos impor. A palavra de ordem é: ficar em casa, preferencialmente, a 2 metros de cada pessoa. Para nós baianos, que adoramos os apertos de mãos, os beijos – não basta um, tem que ser dois, tem sido difícil. O tocar respeitosamente é marca de nossa identidade. Tão identificador que surge logo a pergunta: você é baiano? É muito pegar. É muito se aproximar.

Agora, nossos medos, nossos pessimismos ou nossa histeria, caso se aproxime do (não) presidente Bolsonaro são vivenciadas na TV, pelas redes sociais, pelos computadores. Tudo tem sido instantâneo. A pessoa morre e a família sabe pela TV.

Quem diria! está tudo paralisado! O futebol, o vôlei, Formula 1. Tudo segue parado! Vozes do mundo todo surgem para solicitar a mudança de data das Olimpíadas de Tóquio, cujo evento só três vezes foi cancelado, justamente, quando das duas grandes guerras. A Covid-19 paralisou os esportes. Certamente, vão surgir os campeonatos virtuais. O contato físico e a aproximação nem pensar nesse momento trágico. Tem sido um ano que parece ter ensinado a sermos pequenos.

E as artes? Os espetáculos foram suspensos. Ensaios reprogramados. Ontem, perguntei a minha amiga se o bar dela já havia sido fechado. Ela respondeu que sim e que nem pode fazer a festa de despedida. Estamos a viver dias com “Caras sem Bocas”, fiz um trocadilho com o nome do bar que era” Caras e Bocas”, pois, as cortinas se fecharam, não havia cenário, o palco estava sem ator e a plateia não foi. Os dias soluçam, cujo soluço parece sem fim.

Não é possível, temos que construir outro fim, pois, a criatividade humana, tão buscada e tão cara aos tempos atuais, surge com força. Inovamos nos processos, fazemos adaptações, novos modelos e modelagens, consolidamos a palavra mágica: design thinking. Assim surgem diversas práticas que estimulam as nossas presenças em casas.

Por vezes, questiono-me até onde vai o nosso limite ético, por exemplo, as livrarias aproveitam o momento para vender mais livros, induzem-nos a comprar. Aperfeiçoaram rapidamente o serviço de entrega nas casas. Na alimentação, os aplicativos não param de nos seduzir com promoções. Você não vai ao restaurante, mas eles vêm até nós.

Lembre-se, mesmo em casa, não podemos nos aglomerar. O sistema capitalista se renova e se reinventa. Vai percorrendo suas mazelas sem piedade. Sem crime, sem castigo. As missas podem ser online. Podemos de casa nos livrar do mal. Outras igrejas insistem em realizar cultos, mesmo diante de uma eventual aglomeração. São estratégias para sobreviverem diante do cenário da dor, do pessimismo e do desalento. Amém?

Em Portugal, os artistas se juntaram e fizeram um festival pela internet. No Brasil, já temos o nosso programado. Diversos artistas se juntaram para fazer uma maratona. A Academia Brasileira de Letras enviou e-mails para os seus contatos informando que vai turbinar o projeto, a ABL em Sua Casa, com entrevistas, contos dramatizados… Assim, poderemos acompanhar o conteúdo de nossos lares.

Então, é tempo de assistirmos a um bom filme. Rever aquele filme que marcou sua adolescência. Que tal fazer a leitura de um livro regional? Tantos são os escritores. Pode fazer a leitura de um clássico também. Aproveite para resenhar. Vamos lá! Precisamos mudar nossos hábitos. Abuse dos telefonemas. Abuse das lives. Mas, por favor, lembre-se de limpar o celular. Vale ouvir uma música também! Vale desenhar. Vale criar! Vale todo esse esforço coletivo! Vale viver solidariamente, mesmo que eu não possa te dar um abraço neste momento.

Efson Lima é doutor em Direito (UFBA), especialista em Gestão em Saúde (Fiocruz), escritor e advogado.

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Cony faleceu na noite desta sexta (5)

O jornalista e escritor Carlos Heitor Cony morreu, por volta das 23h desta sexta-feira (5), aos 91 anos. Ele estava internado desde 26 de dezembro no Hospital Samaritano, no Rio. A causa da morte foi falência múltipla de órgãos. A informação foi confirmada ao G1 pela assessoria de imprensa da Academia Brasileira de Letras (ABL), da qual o autor era membro desde 2000.
Com uma longa carreira de jornalista, iniciada ainda nos anos 1950, e atuação nos principais jornais e revistas do país ao longo das últimas décadas, Cony era considerado um dos maiores escritores brasileiros vivos.
Cony escreveu vários e premiados romances, como O ventre (1958), Pilatos (1973), Quase memória (1995), que vendeu mais de 400 mil cópias, e O piano e a orquestra (1996). Com os dois últimos, ganhou o prêmio Jabuti.
Também escreveu coletâneas de crônicas, volumes de contos e criou novelas para a TV. Foi comentarista de rádio, função que exerceu até o fim da vida, na CBN.