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O diretor de Obras da prefeitura de Itabuna, José Pascoal Alves de Brito, é tido como homem de confiança do prefeito Capitão Azevedo (DEM). No sábado 13, caiu em desgraça quando a polícia apreendeu um caminhão na rodovia Ilhéus-Itabuna, carregado de material. A carga era transportada para a casa de praia do diretor de Obras.

Pascoal concedeu uma entrevista ao PIMENTA. Ao se defender, disse que existe um grupo que está “armando” contra ele. Diz que o material de construção apreendido lhe pertence. Ou foi comprado por ele ou é fruto de doação, feita há mais de 60 dias. As notas de doação e fiscal o desmentem, pois foram emitidas há menos de 30 dias. Acompanhe a entrevista em que sobrou até para o secretário de Administração, Gilson Nascimento.
O sr. é acusado de desvio de material. Como o sr. explica essa situação?
O material é meu e provo isso com as notas. Não tinha bloco em cima de caminhão. Havia pedaço de bloco que foi doado a mim. Há mais de 60 dias que esse material estava guardado.
Como o sr. explica um caminhão guardado na prefeitura, mesmo pertencendo a particulares?
Esse caminhão não é da prefeitura. Ele presta serviços [ao município]. No fim de semana, ele estava disponível. Eu carreguei o caminhão [na ADEI] porque o motorista não tinha como guardar na casa dele. De manhã, carregamos o veículo e o motorista viajou.
E aí acontece a prisão.
É. Meia hora depois eu tô sabendo que o caminhão foi apreendido. Mas eu estava com as notas. O pessoal foi preso injustamente. As pessoas não tinham nada a ver, estavam apenas ajudando. Eram três pessoas, exclusive (sic) um de menor.

Eu considero isso uma ação criminosa e irresponsável. Tenho certeza que o relatório não terá nada que me comprometa.

Houve armação?
Se eles dizem que estavam me investigando, eu considero isso uma ação criminosa e irresponsável de quem provocou. Tenho certeza que o relatório não terá nada que me comprometa, pois sempre honrei o meu nome. Não tem nota fiscal nenhuma que prova que a prefeitura mandou pra lá.
O senhor fala em armação, mas quem teria o interesse de prejudicá-lo?
Eu não posso citar nomes, porque eu não tenho provas.
Existe disputa entre o senhor e o secretário de Obras, Fernando Vita?
Não. Eu sempre me dei bem com o secretário. A imprensa está aí dizendo que isso tem a participação do secretário Gilson. Eu quase fico sem acreditar porque a minha relação com ele é muito boa.
Como assim?
Todos os pedidos que o secretário fez a mim, eu atendi. Eu tenho bilhetes lá, assinados por ele, com pedidos de materiais fabricados nessa marcenaria comunitária. Eu quero que essas pessoas prova (sic) que a prefeitura comprou material e colocou lá.

Meu salário é de R$ 3 mil. Eles ganham muito mais do que eu e ficam colocando essa imagem triste em cima do cidadão.

Então, o sr. seria inocente?
Eu tenho consciência de que eu não fiz nada de errado. Meu salário é de R$ 3 mil. Eles ganham muito mais do que eu e ficam colocando essa imagem triste em cima do cidadão. Sábado, se eu vou na delegacia, eu seria até preso. Eu sou inocente. Falo isso com muita consciência.

O material apreendido era todo para a casa de praia?

Não era ainda para concluir, mas para fazer três paredes para cobrir [a casa na zona norte de Ilhéus]. Num canteiro, eu tenho telha e material usado para fazer cobertura para ver se eu posso rebocar e passar o  final de ano lá.
O sr. citou o nome do secretário Gilson. O sr. acha que ele tem participação nesse caso?
Não posso confirmar, até pela relação que nós sempre teve (sic). Eu acho um absurdo que Gilson tenha planejado isso. A Justiça vai apurar. Se foi ele, ele vai ter que pagar o preço. Eu confirmo que a ação foi irresponsável, criminosa. A imprensa tá dizendo que foi ele quem fez a açaão. Eu não quero acreditar nisso.
O senhor teve algum contato com o secretário após o episódio?
Não. Eu não quis me manifestar. A gente nesse momento fica muito abatido, abalado.
O senhor se reuniu a portas fechadas com o prefeito. Qual foi o teor dessa conversa?
Eu falei com ele por telefone. Ele falou que eu estava afastado do canteiro (ADEI) e disse que depois da apuração a gente conversaria. Ele é o gestor e tem que apurar mesmo. Eu tenho certeza que a verdade vai prevalecer.

O secretário [Vita] deu entrevista dizendo que a [obra da] Cinquentenário não tinha nada a ver com ele.  O secretário abandonou a obra.

O senhor era tido por Azevedo como um homem de confiança. Com essa denúncia, como é que o prefeito está lhe vendo nesse momento?
A colocação não é bem essa. O prefeito entendeu no cidadão Pascoal o profissional cuidadoso e dedicado. Ele me deu condição de trabalho. Para você ter ideia, o secretário [Fernando Vita, da Sedur] deu entrevista dizendo que a [obra de revitalização da avenida do] Cinquentenário não tinha nada a ver com ele.  O secretário abandonou a obra. Eu e minha equipe assumimos a obra. Pascoal é o homem de ação do prefeito. Enquanto alguns secretários iam descansar, Pascoal estava na rua.
O senhor acha que retorna ao cargo?
Quem põe a mão no arado não pode olhar para trás, tem que olhar pra frente. Voltar ou não vai depender do prefeito.

Mesmo sendo investigado há quatro meses, o senhor sustenta que é inocente?

Essa coisa de que eu estava sendo investigado… Como é que vai investigar um homem que está no campo acompanhando “pião”? Isso é mais uma versão para criar uma nova armação. Isso não procede.

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O depoimento que o motorista Adélio Silva Costa prestou à delegada Marilene Aboboreira, no Complexo Policial de Itabuna, será determinante para fisgar mais gatunos na prefeitura de Itabuna, além do diretor de Obras, José Pascoal de Brito.
Adélio foi preso ontem transportando material de construção da prefeitura para a casa de praia do diretor de Obras da Secretaria de Desenvolvimento  Ubano, no litoral norte de Ilhéus (relembre a história aqui).
Beneficiando-se de uma  delação premiada, Adélio livrou-se do flagrante e afirmou que outros ocupantes de cargos de primeiro e segundo escalões da prefeitura participavam do esquema de desvio de material de construção adquiridos pelo município. Os nomes estão sendo investigados, mas o setor de inteligência do governo já sabem quem são as pessoas.
O Pimenta conversou com o secretário de Administração de Itabuna, Gilson Nascimento. Segundo ele, o prefeito ficou “indignado” com o amigo Pascoal de Brito e determinou que se apurasse tudo. Pascoal teria abusado da confiança de Azevedo.
Gilson disse que ainda ontem Pascoal tentou invadir o depósito da prefeitura, na Adei, mas foi impedido por guardas municipais. “Ele não poderá entrar mais naquele local e até os bens que lhe pertencem somente serão entregues ao final de processo administrativo”, afirma o secretário.
A Operação João-de-Barro já tira o sono de peixe graúdo na prefeitura. Ninguém mensura, ainda, o poder de destruição do depoimento do motorista Adélio, um homem que presta serviços à prefeitura há cinco anos e que diz estar há cinco meses sem receber.