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Professor Aldineto MirandaAldineto Miranda | erosaldi@hotmail.com

Vigiem senhores e senhoras! Vigiem seus pensamentos, palavras e ações, pois podem se tornar cruéis atitudes ou posturas belíssimas. A decisão é sempre nossa.

“A religião é o ópio do povo”. Com essa frase Karl Marx, pensador alemão, define com maestria uma das facetas que a religião pode adquirir. Certamente, estamos vivenciando uma epocalidade de crise: meio ambiente clamando por cuidados, relativização de valores, desenvolvimento tecnológico convivendo com a miséria e sofrimento de muitos seres humanos, adultos infantilizados, crianças e adolescentes tragados pelo tráfico, ou dependentes de drogas; alienados, depressivos, oprimidos.

Em meio a toda essa crise social, vemos o proliferar de igrejas – das mais variadas denominações – prometendo as benesses de um céu perfeito, e, para isso, fomentam o fanatismo e incitam o ódio contra qualquer outro tipo de postura diferenciada, fazendo com que muitos jovens e adultos utilizem uma forma de alienação que não é química (das drogas ilícitas), porém é uma forma de alienação ideológica ocasionada pelo entorpecimento das consciências. Ambas possuem o mesmo efeito: destróem o cérebro, a capacidade de escolha,  deixando as pessoas, que escolhem fazer uso delas, sem poderem mais escolher, abrem mão de ser indivíduos e se tornam fantoches.

O desespero é o terreno fértil para o fanatismo e a intolerância, e o discurso religioso que exclui, marginaliza, seleciona, é cruel, ainda que se realize em nome de Deus – na verdade, ser realizado em nome de um ser superior é o que o torna ainda mais nefasto.

Quem diz que A ou B vai está condenado à perdição eterna, inferno, ou algo parecido,  porque tem outro pensamento religioso, uma orientação sexual  diferente, uma opção de vida incomum, assume uma postura intolerante e intransigente, e se identifica com tudo que é mais diabólico. Lembrem que a palavra diabo, etimologicamente, provém do grego diabolo e significa separação, divisão. Ou seja, tudo o que exclui, separa, é diabólico. O contrário dessa categoria é o símbolo, tudo o que une, acrescenta, mistura, é simbólico. O sincretismo é simbólico, o amor provoca sinergia, por isso é um sentimento lindo que cria beleza, prazer e vida!  Cristo sabia disso, por isso ressaltou o amor como principal mandamento.

Dentre as religiões, ressalto a beleza da mística do candomblé, que resistiu ao racismo eurocêntrico sincretizando-se com o catolicismo e outras manifestações religiosas. Por ser uma religião que agrega, nele não há espaço para o diabo, pois não existe o diabólico. Tudo é simbólico!

Ouso não concordar totalmente com  o Marx. Eu não diria que a religião é o ópio, mas diria que algumas posturas, pseudo religiosas, são uma praga para o desenvolvimento da humanidade, tão grave quanto o crack. A religião é uma faca de dois gumes bem afiados,  podendo libertar ou aprisionar o indivíduo.

O problema não é a religião em si. Gandhi, líder religioso indiano, representativo de uma postura  respeitosa e amorosa, já afirmava que um homem sem religião é como um barco sem direção. O que critico, indignadamente, são as denominações religiosas e pessoas recheadas de intolerância e fanatismo, pois disto tenho medo, tenho muito medo! Medo que mais uma vez o horror de uma espécie de inquisição contemporânea volte a acontecer.

Ao mesmo tempo sinto um fio de esperança ao ver um líder religioso, como o papa Francisco, ao ser perguntado sobre a postura homossexual, responder: “Quem sou eu para julgar?”, afirmando posteriormente que não se deve marginalizar as pessoas. Postura humilde, de um líder carismático e sensato.

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CUIDADO COM A LEITURA QUE “CONTAMINA”

Ousarme Citoaian | ousarmecitoaian@yahoo.com.br
1Homem lendo jornalQue não sejam tão puristas e chatos os que se comunicam com a população, mas mantenham um mínimo de cuidado com a linguagem. Fazer isto é respeitar o leitor/ouvinte e (por que não?) ser didático, ensinar: já vimos nesta coluna que o jornalista e advogado Ricardino Batista, de Itabuna, dizia ter aprendido a ler não propriamente na escola, mas tentando decifrar os textos do jornal A Tarde. Hoje, considerando certas coisas que vejo publicadas, tal experiência resultaria em completo desastre. Há de se tomar cuidado para não se “contaminar” com certos escritos que por aí desfilam sua irresponsabilidade, impunemente.

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Vereador quer “encontrarem” soluções
 
Penso no bom Ricardino ao ler nota da assessoria do vereador ilheense Rafael Benevides, um atentado violento ao pudor do texto. Diz que o edil tem ouvido os “reclames” da população, “à cada dia” melhora seu desempenho, e (com outros poderes) procura “encontrarem” soluções para “às várias” necessidades do município. Por fim, a cereja do bolo da incompetência: há “problemas em que a todos preocupam de que, deverasmente, macula à imagem do município”, mas ele vai “enveredar” esforços para resolvê-los. Chuta-se a gramática, viola-se a concordância, constrange-se a regência. Pressionado por tão desmesurada insensatez, calo-me.
 
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SALDANHA, A CONVENIÊNCIA E A ALIENAÇÃO

3SaldanhaNestes bicudos tempos de questionável futebol internacional no Brasil, enquanto multidões incendeiam as ruas (às vezes literalmente), me vem à lembrança a perfeita associação de futebol e política, que foi o jornalista João Saldanha (julho, 1917 – julho, 1990). Em meio ao alheamento da crônica esportiva (parte por conveniência dos veículos, parte por alienação mesmo), Saldanha, politizado, militante do PCB, saberia dar seu recado sobre o esporte sem esquecer o clamor das ruas, que, certamente, estaria apoiando. Tem sido difícil aguentar os comentários ufanistas, quando o povo sofre e protesta contra tudo e contra todos.
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Os ônibus são para prestar serviço”O João sem Medo sempre encontrava o viés político, como neste trecho de crônica publicada no extinto JB, em 1988: “Os ônibus são para prestar serviço e não para dar lucros fantásticos, como o que estes indivíduos, seus proprietários, abocanham. Eles dizem abertamente: ´Com mais de oito cadáveres já estou no lucro´. E os cadáveres somos nós. Corrompem o poder público, andam por onde querem, violentam o trânsito, e os seus prepostos são os que fixam os preços e itinerários. Ninguém sofre mais do que o pobre coitado que se atreve a ir a um jogo noturno. Fica horas sentado num meio-fio à mercê da intempérie e do assaltante”.
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JOVENS, BONS MODOS E “ESQUISITICES”

5RestauranteCometi, há dias, um gesto de gentileza com uma (não muito) jovem senhora e ela, correspondendo, disse que eu era “das antigas”. Acreditem, isto foi um elogio, que me fez pensar se os bons modos são coisa de velhos, vedada aos jovens. Penso que dizer “obrigado”, “desculpe”, “por favor” e outras esquisitices deveria fazer parte da educação básica de todos – mas parece que esta é uma típica ideia de ancião. As adolescentes são, em geral, lindas, mas algumas delas deveriam ficar de boca fechada. Ser jovem, para muita gente, significa dizer palavrões, desdenhar dos “coroas”, empurrar, em vez de pedir licença. Talvez seja a este meu pensar que chamam “choque de gerações”.
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A rapidez do mundo muda os conceitos
Pois até o conceito de “choque de gerações” já não é mais o mesmo. Se antes esse “antagonismo” se dava entre pessoas de 40 anos e de 20, por exemplo, agora as de 18 já “encaram” as de 25 como se estas fossem figuras fugidas do museu. É a rapidez com que o mundo gira, a poder de chips, parafusos, teclas e botões. Há meio século, “coroa” era quem tinha 60 anos, enquanto hoje já ganha este epíteto quem passa dos 30. Mas, nem pensem, não é meu caso: já tenho outonos bastantes para ser chamado de coroa, pé-na-cova, sobrevivente – ou o que mais queiram inventar para caracterizar um tipo “das antigas”. Digo que gostei do que a gentil senhora me disse. “Das antigas” é estranho, mas, para o caso, serve.

A MÃO DIREITA QUE “TOCAVA” A ORQUESTRA

7Count BasieSe acaso existiu algum chefe de orquestra modesto terá sido Count Basie (1904-1984), na foto, com Frank Sinatra. Poucos merecem tanto a denominação de bandleader: sem gritar nos ensaios, sem gesticular exageradamente nos shows, discreto, ele “se esconde” atrás do piano e dali lidera seus músicos. Não faz grandes solos, apenas “ponteia”, dá sinais, abre caminho para o grupo. “Basie não toca o piano, toca a orquestra”, resumiu um crítico de quem já não me lembra o nome, talvez seja Bruno Schiozzi. Não é à toa que Basie era tido como exclusivamente “mão direita”: sem floreios harmônicos da mão esquerda, ele não permitia excessos a seu piano, mais para reger do que para tocar.
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Sem piano, não havia família “chique”
O piano teve grande influência na cultura do Brasil antigo. Pois saibam todos que a mesma coisa se deu nos Estados Unidos. Nos anos vinte, lá como aqui, toda família “chique” tinha piano. A house is not a home without a piano (“uma casa sem piano não é um lar”), diziam os americanos ligados a costumes europeus. Ao escolher o piano como seu instrumento de jazz, Basie se submeteu à formação clássica, até encontrar o próprio caminho: “amputou” a mão esquerda, e simplificou tudo. Aqui, um raro momento de solo do maestro, quando ele “provoca” o baixo de Cleveland Eaton e o trombone de Booty Wood, em Booty´s blues. O show, de 1981, foi no lendário Carnegie Hall.
 
 

O.C.