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Com enredo polêmico patrocinado pela Guiné Equatorial, a Beija-Flor foi eleita campeã do Carnaval 2015 no Rio. O resultado foi revelado durante apuração das notas, realizada nesta quarta-feira (18), na Sapucaí. Este é o 13º título da Beija-Flor. O penúltimo foi em 2011, com enredo sobre o cantor Roberto Carlos.

“Sentimento de dever cumprido. A nossa comunidade merecia. Aquele sétimo lugar do ano passado ficou engasgado”, disse Neguinho da Beija-Flor, que acompanhou a apuração no sambódromo.

A Beija-Flor foi a terceira escola a entrar na Sapucaí na segunda noite de desfiles do Carnaval carioca. Ovacionada pela plateia aos gritos de “é campeã!”, a agremiação de Nilópolis defendeu um enredo patrocinado pelo país africano comandado há 35 anos por Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, que, segundo a ONG Anistia Internacional, é acusado de violações de direitos humanos, tortura e prisões arbitrárias. Do Portal Uol.
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DE LIVROS, EMPRÉSTIMOS E APROPRIAÇÕES

Ousarme Citoaian | ousarmecitoaian@yahoo.com.br

1 LivrosÉ curioso o comportamento das pessoas a respeito de livros. Não falo de lê-los, mas de tê-los. Conheço um professor, culto e gentil, íntimo de preciosismos como grego e latim, de quem tomar um livro emprestado torna-se quase uma violência. Apegado à sua biblioteca, em lhe sendo possível negar, não deixa jamais que lhe saia de sob as vistas uma unidade sequer, com receio de que ela não volte mais ao aconchego do lar. A justificá-lo ficam na outra ponta os leitores que não devolvem livros emprestados. Eduardo Anunciação (que Deus o acolha!) era do tipo: livro que a suas mãos chegasse mudava de dono, pois o bom Eduardo sofria de amnésia quanto a este assunto. Mas essa categoria é variada.

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Em nova casa, protegido contra traças
Dois exemplos: jornalista e escritor (dois títulos publicados), Daniel Thame gosta muito de livros, comprados ou não. Mas a quem lhe quiser emprestar algum eu sugiro ser generoso e o fazer com dedicatória, isto é, não emprestar, doar. Tenha a certeza de que o livro que outrora lhe pertenceu será lido e cuidado, mas não retornará, pois é pra frente que se anda. Por fim, o mais, digamos assim, sofisticado desse grupo, o professor de Direito e ex-roqueiro Adylson Machado: não devolve livro e ainda disserta sobre os motivos de não fazê-lo. Dá ao volume lugar de destaque em sua larga estante, espana-o, protege-o contra traças e outros malefícios, e questiona: “O primitivo dono faria tanto?”
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Não faltam bibliotecas, mas leitores
Não tenho ciúmes dos meus livros. Poderia emprestá-los todos, se encontrasse quem os lesse e os devolvesse intactos (para servir a outros leitores). Mas não quero doá-los a bibliotecas que vivem às moscas. O brasileiro acostumou-se a dizer que nos faltam bibliotecas públicas, o que é uma questão de senso comum: aprende-se a repetir isso, sem atentar para o fato constrangedor de que as bibliotecas existentes (poucas, é verdade, muito poucas, se nos comparamos com a mal falada Argentina) são ociosas. Voltando ao tema central, atribui-se a Bernard Shaw (ou seria Oscar Wilde?) esta frase: “Idiota é o homem que empresta um livro; mais idiota é o homem que o devolve”.
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ENTRE PARÊNTESES

4 AlugaHá tempos, esta coluna lamentou que certos redatores tenham posto a prêmio a cabeça do “se”: já não grafam “aluga-se”, mas “aluga” (e, em igual desvario, “vende”, em vez de “vende-se”, e “inicia”, em lugar de “inicia-se”. Seria, imagino, a Lei do Menor Esforço, aquela que festeja a preguiça e agride a boa linguagem. Pois lhes digo que acabo de surpreender um “se” inteiramente fora do lugar: entrou em moda, ficou bonitinho dizer coisas como “ele quer se aparecer”.  Seja gentil com a língua portuguesa, não empregando tão despautério. Há verbos que nasceram pronominais e pronominais vão morrer. Não é o caso de aparecer, sabidamente inimigo do “se”.

O MICROCONTO, DE HEMINGWAY A TREVISAN

5 Dalton TrevisanA literatura brasileira registra, ao lado do romance, do conto/novela e da crônica, um segmento ainda um tanto enjeitado, o microconto. Mesmo não sendo novo (Hemingway já o praticou), ele não é aceito como gênero literário. O paranaense e mal-humorado Dalton Trevisan é um dos expoentes do que os americanos chamam microfiction (no Brasil há quem chame isso de microrrelato). Se acaso o microconto é uma competição para ver quem o faz menor, Trevisan está longe de ser o campeão, mas está no jogo: ele começou com o “conto curto” (40 linhas, 150 palavras) e fica cada vez mais econômico. Falemos de dois autores notáveis desse modelo, que parece irmão do haicai.
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A tragédia em apenas sete palavras

Augusto Monterroso (1921-2003), premiado escritor guatemalteco é autor de um miniconto famoso, com apenas trinta e sete letras e sete palavras (O dinossauro): “Quando acordou, o dinossauro ainda estava lá”. Antes dele, o americano Ernest Hemingway (1899-1961) gastou também sete termos, mas apenas vinte e seis caracteres, para fazer sua, digamos, narrativa: “Vende-se: sapatos de bebê, sem uso”. O dinossauro integra antologias em vários países, com muitos estudos de suas faces literária e política; o texto de Hemingway “fala” de uma tragédia familiar, uma criança que não chegou a nascer, ou que logo morreu. O trágico não é explícito, mas sugerido.

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Célio Nunes: drama em poucas palavras

Célio Nunes (1938-2009), contista sergipano de fortes ligações com Itabuna, teve lançado postumamente em 2001 seu livro Microcontos, com 62 narrativas curtas. Experimentado – publicou o primeiro livro em 1963, o último em 2005 – Célio não adentra os caminhos de Hemingway e Monterroso: é econômico em suas histórias, a maioria com menos de 200 palavras, mas a todas dota de princípio, meio e fim – conforme o modelo clássico, com finais, quase sempre, surpreendentes. Os personagens, conforme faz notar o poeta itabunense Plínio de Aguiar, na apresentação, “transitam por histórias marcadas pela dramaticidade da sobrevivência, por histórias que não raro terminam no pênalti da tragédia humana”.

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MANSO, SERENO, TRANQUILO, VOZ AFINADA

8 Paulinho da Viola“Solidão é lava/ que cobre tudo (…)/ Solidão, palavra/ cavada no coração/ resignado e mudo…”. São versos de um artista reconhecido na MPB, sambista, chorão, cantor de voz pequena, porém afinada e segura – Paulinho da Viola. Homem manso, tranquilo, sereno, ele abriu um caminho pessoal na selva que é o meio artístico, impôs uma marca, criou um estilo de compor e de cantar. De 1968 (Paulino da Viola, Odeon) até nossos dias, são, pelo menos, oito discos fundamentais, entre eles (já disse ser o meu preferido) Bebadosamba (1996), o único de inéditos que ele gravou até hoje, parece-me. No vídeo, o grande Paulinho coadjuva Marisa Monte em Dança da solidão (do LP do mesmo nome, Odeon/1972).
(O.C.)
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NAÇÃO DE BEBEDORES FERIDOS E CHOROSOS

Ousarme Citoaian | ousarmecitoaian@yahoo.com.br

1AlencarAtônito, Caboco Alencar, com sua “farmácia” assaltada na calada da noite, teria se perguntado: “Mas, por que eu?”. É duro de aceitar um mundo em que nem o boteco (refúgio de vagabundos e cavalheiros, espaço da solidariedade, do sonho e da poesia) é respeitado. Quando grandes empresas comerciais ou industriais predadoras, molas mestras do enriquecimento nem sempre lícito (muitas vezes movido a sangue dos trabalhadores) são assaltadas é maior nosso nível de compreensão. Assaltar o ABC da Noite é mais do que atentar contra o diminuto patrimônio pessoal do Caboco; é ferir de morte uma imensa nação de bebedores – ato próprio de bandidos sem coração, lirismo ou paladar.

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O mundo fica cada vez mais inabitável
O ABC (justo, D. Ceslau não há de me recomendar à excomunhão por essa verdade nua) é espaço sagrado. Bem que ali, não se pode negar, possam  ter surgido algumas manifestações anticlericais, motivadas por uma dose a mais de batida.  Mas foram apenas engrolados discursos tentativos de consertar o vasto Brasil sem porteira, insuficientes para abalar o teto da Capela Sistina. Constato, com imensa tristeza, que o mundo se faz um lugar cada vez mais inabitável, pois nem líricos e inocentes botecos são dignos do respeito dos assaltantes, que invadiram o templo do ABC como se adentrassem um depósito de rinchona. Bem fez Eduardo Anunciação, que, em protesto antecipado, recusou-se a testemunhar tamanha heresia.
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NÃO QUEREMOS A MENTIRA COMO APANÁGIO

Decidi-me a “responder” (na verdade, ninguém me perguntou nada!) a alguns comentários, o que não fiz. Poderia dizer que foi devido à “roda viva” que tritura os que escrevem com data marcada. Mas não digo, pois tenho sido invadido por completo desapreço à mentira. Expulsemo-la, portanto, do capital dos jornalistas, para integrá-la ao apanágio dos políticos, que de tal valor não podem prescindir. Se não fiz o que me prometi foi por falta de planejamento – e não se pode debitar a culpa ao lixo nas ruas e a outras mazelas pequenas e provincianas. Então, mãos à obra, como disse o prefeito, diante do indefeso cofre municipal.
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4BebadosambaDebatedor culto, coerente e corajoso
Devo informar a Yan Santos, que me propõe discutir a questão “Camilo de Jesus Lima” com o professor Adylson Machado, ser impossível a tarefa. Quando Adylson (ex-roqueiro, professor de Direito e autor de, pelo menos, dois livros) fala, eu silencio. Culto, coerente e corajoso (eis uma inesperada aliteração!), ele está mais para ser ouvido do que contestado. Mas só a sugestão já me eleva, honra e consola. Comunista da Sibéria me emocionou com a citação de Paulinho da Viola (“Se lágrima fosse de pedra eu choraria”). Bebadosamba é um dos meus discos preferidos, que ganhei de uma “amiga secreta” de bom gosto, no Natal de 1996, ainda quentinho.
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Jornalismo genial e ditadura estúpida
5Tarso de CastroPor fim, não gostaria que passasse em branco a dica de leitura de Ricardo Seixas, o livro Memórias do esquecimento, de Flávio Tavares. Também acho pertinente o emprego de protetor auricular durante o Carnaval, mas esta é outra história… A referência me conduziu a dois outros livros de jornalistas: 75 Kg de músculos e fúria (Tarso de Castro – a vida de um dos mais polêmicos jornalistas brasileiros) e O sequestro dos uruguaios (Operação Condor – Uma reportagem dos tempos da ditadura), de Luiz Cláudio Cunha. São dois grandes momentos da vida brasileira: no primeiro, o jornalismo em tempos emoldurados pelo golpe militar; no segundo, a específica estupidez das ditaduras em nuestra America.
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(ENTRE PARÊNTESES)

Nas arquibancadas, assistindo a fumacinhas negras e brancas, torcedores verde-amarelos de eventos vaticanos lamentam o resultado do Habemus papam, como se fosse um jogo em La Bombonera: Argentina 1 x 0 Brasil. “Só nos faltava mesmo um papa argentino!”, lamentou-se um dos meus amigos mais pessimistas. Mas pior seria se pior fosse: dizem que o novo sumo não se chamou Maradona II porque Pelé, ao perceber a tendência, ameaçou fazer haraquiri na Praça de Maio. Entende?

BIBI FERREIRA E SUAS MALAS DE LIVROS

7Jane F.Levando duas malas de livros, Bibi Ferreira embarca para Nova Iorque, quando abril chegar. A artista vai comemorar o aniversário de 90 anos com uma apresentação no Lincoln Center, com ingressos disputadíssimos: a espevitada Jane Fonda (foto), que não é boba, reservou camarote no ano passado. A mala é de obras literárias, filosóficas e algumas partituras, publicações de que Bibi não se separa, textos que ela quer ter ao alcance da mão em qualquer tempo, em qualquer lugar. Uma curiosidade sobre a filha de Procópio Ferreira: estreou no palco com apenas 20 dias de nascida, em 1922, na peça Manhã de sol, no colo da madrinha Abigail Maia, mulher Oduvaldo Viana, padrinho do bebê.
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Matrícula negada em colégio paulista
Com cerca de oito anos, Bibi começa a trabalhar na companhia do pai famoso e aos nove, por ser filha de artistas, tem sua matrícula negada no tradicional Colégio Sion, de São Paulo. Mas Procópio responde à altura: manda a filha para a escola em Londres, onde ela também estuda teatro. Em 1936, outra vez no Brasil, participa de filmes, como atriz e cantora, monta sua própria companhia (por onde passam Cacilda Becker, Maria Della Costa, Sérgio Cardoso e Henriette Morineau) e não para mais: canta, representa, produz. Uma das primeiras mulheres a dirigir teatro no Brasil, fez tevê, mas não  novela. Aqui, um corte de show da Globo, em 1992, comemorativo dos 50 anos da artista.

(O.C.)