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A comercialização de produtos de cooperativas e associações da agricultura familiar é um dos focos principais do Festival de Economia Solidária São João da Minha Terra, promovido pelo Governo da Bahia, por meio da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre). O evento começa dia 13 e vai até 30 de junho, de forma virtual por conta da pandemia, e reúne 15 Territórios de identidade da Bahia, atendidos pelas 13 unidades de Centros Públicos de Economia Solidária (Cesols),

A força da mulher baiana na economia solidária será um dos destaques do Festival. Um dos exemplos é a produção de balinhas de genipapo no município de Buerarema, no Sul da Bahia, pela Associação das Mulheres Empreendedoras de Buerarema (Ameb). Elas adoçam a vida e geram renda com a iguaria, que é muito apreciada, principalmente no período de festejos juninos.

CHOCOLATE

Além das balinhas de jenipapo, as mulheres da Ameb produzem geleia de mel de cacau, farinha de Buerarema, balas de cupuaçu, mel de cacau, torrão de cacau no pilão, nibs de cacau e barrinhas de chocolate com semente do cupuaçu, entre outras delícias orgânicas.

A presidenta da associação, Maria das Graças Silva Santos, mais conhecida como Gal Macuco, diz que a expectativa é grande para esse ano. Gal afirma que a Ameb, que foi fundada em 2018, ainda não possui uma sede, e todas as 12 mulheres associadas produzem as bolinhas em suas próprias casas. “Por isso contamos muito com as ações de estímulo à Economia Solidária, especialmente as feiras, porque abrem oportunidades, permitem que nossos produtos sejam conhecidos. Hoje nossos produtos são conhecidos em outras regiões”.

Gal Macuco observa que a Economia Solidária “transformou nossas vidas, fortaleceu nossa microeconomia e elevou nossa autoestima”. E completa: “O apoio de eventos como o festival é muito importante para fortalecer, cada vez mais, o homem e a mulher do campo”.

AROMA DA CAATINGA

A Associação Comunitária Agropastoril de Curral Novo e Jacaré tem 35 anos de fundada e nunca havia passado por uma crise como a causada pela pandemia do novo coronavírus, em 2020. Foi um momento de grandes desafios, e a solução encontrada reacendeu a esperança dos 66 associados: as vendas através da internet.Leia Mais

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walmirWalmir Rosário

 

Fraternidade e igualdade não faltam ao nordestino, que apenas precisa de mais liberdade para fazer o bem à humanidade.

 

Após quase 50 anos, venho rever a caatinga aqui para as bandas da divisa de Sergipe e Bahia e, dentre as novidades que vi, quase nada, a não ser o tamanho das cidades, num misto de crescimento e desenvolvimento. Ao invés das estradas carroçáveis e esburacadas, asfalto, um tanto cansado, é verdade, mas aceitável para os meios de transportes de hoje.

Nada mais de paus-de-arara, agora o sertanejo viaja em ônibus confortáveis, em pick-ups cabines duplas, carros modernos iguais aos que vemos nos grandes centros do Brasil. Pouca diferença no comércio, com supermercados oferecendo os melhores produtos das mais diversas regiões brasileiras e do exterior; lojas e boutiques acompanham os lançamentos mais recentes da Europa e Estados Unidos.

O sertanejo está com tudo, como sempre teve. Se antes não dispensava as notícias mais imediatas nos grandes aparelhos de rádio com seis, sete e até nove faixas, hoje dispõe da televisão a cabo e via satélite, além da internet que o conecta 24 horas com todo o mundo. Negocia sua safra com as cooperativas e empresas multinacionais via telefone celular, com equipados com os mais modernos apps.

Poderia eu dizer que o homem da caatinga disputa com seus colegas das outras regiões brasileiras em igualdade de condições, caso não tivesse informações outras coletadas ao longo dos anos. Se sobra coragem ao catingueiro, falta-lhe chuva no tempo certo, bem como outras benesses concedidas pelas autoridades governamentais, a exemplo de infraestrutura e crédito nos mesmos moldes.

Como afirmava Euclides da Cunha: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte”, o nordestino até hoje não desmereceu a citação desse jornalista e militar que acompanhou a vida, as adversidades e os conflitos dessa gente. Não desanima nunca e pede a Deus que no próximo ano reverta o quadro de dificuldades para que possa continuar sobrevivendo com os seus.

E é sempre atendido. Mas faz por merecer. “Acostumado aos revezes, sabe viver fritando o porco com a própria banha”, como dizem os mineiros, tirando lições de vida das constantes situações. Planta para sua família comer, alimentar seus animais e vender um pouco do que poderia sobrar, permitindo sua sobrevivência nas maiores dificuldades.

E essa situação fui observando ao longo das estradas, onde cada pedaço de terra é ocupado com uma pequena plantação de milho, feijão, mandioca, dentre outras plantações de sua cultura. Não dispensa a criação de pequenos animais, tratados como membros da família, que faz chorar o nordestino quando os vê “o couro e o osso”, igualzinho a que cantou Luiz Gonzaga na música o Último pau de arara.

Entretanto, se é obrigado a deixar seu torrão natal, vai para terras estranhas dar o duro para sustentar a si, sua família, seus bichos, com o pensamento de um dia voltar. E sempre volta trazendo na mala uma lição das terras por onde passou para juntá-la ao repertório de sabedoria e aplicá-la quando preciso for, sem a menor cerimônia.

Acostumados que fomos a ver o Nordeste brasileiro sob o estereótipo das terras pedregosas calcinadas pelo sol inclemente – o que é uma parte da sua paisagem –, deixamos escondida a grande extensão de terras férteis, sempre prontas a produzir quando as condições sejam favoráveis. Bastam três dias de chuva para a beleza plástica do verde de sua vegetação animar os olhos e encher de coragem o catingueiro.

Água! Esse é o ingrediente que quando em escassez faz “cortar o coração” do catingueiro, pedindo a Deus e aos seus santos de devoção que mandem chuva em abundância para poder plantar e colher. E quando são atendidos trabalham dia e noite para fazer a felicidade de todo um povo, de toda uma região, que conhece a pobreza, mas vive sem miséria, dividindo tristezas e alegria com fraternidade.

Se falta o pão a um vizinho, oferece um pedaço do pouco que lhe sobra; se a necessidade é a água, abre sua cisterna (melhor dizendo: de pedra e cal), seu pote ou moringa e mata a sede do semelhante. Fraternidade e igualdade não faltam ao nordestino, que apenas precisa de mais liberdade para fazer o bem à humanidade.

Até chegar em Cícero Dantas vou conversando com meu amigo Batista sobre as dificuldades e a sabedoria deste povo que poderia ser mais ouvido, ministrando lições de experiência e vivência. Enquanto isso não lhe é possível, continua vivendo com sua simplicidade, demonstrando que, quando não lhe é possível solucionar um problema que lhe surja, pede a intercessão de Nossa Senhora do Bom Conselho e a Jesus Cristo, que sempre estão prontos a atender aos seus amados filhos.

Walmir Rosário é jornalista, radialista e advogado.