Produto para combater a vassoura-de-bruxa é entregue para a comercialização
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A Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) entregou para empresa BioFungi a produção comercial do bioinsumo Tricovab (Trichoderma stromaticum). Essa foi a primeira tecnologia licenciada pela Ceplac para o controle da vassoura-de-bruxa do cacaueiro, doença causada pelo fungo moniliophthora perniciosa, responsável por graves prejuízos nas lavouras de cacau da Bahia e do Espírito Santo.

De acordo com a Ceplac, quando utilizado de forma correta, a eficiência do Tricovab pode chegar a 87% no controle dessa praga. O bioinsumo é resultado de estudos desenvolvidos pela equipe da Coordenação-Geral de Pesquisa e Inovação do órgão, comandada pelo engenheiro agrônomo José Marques Pereira. Tricovab pode ser usado na produção tanto de cacau convencional quanto de cacau orgânico.

Assinatura do contrato que autoriza a produção comercial do Tricovab || Foto Divulgação

Segundo a diretora da Ceplac, Lucimara Chiari, o momento representa muito para o produtor, que poderá contar com um fungicida natural e eficaz para o controle de uma praga que assolou as plantações de cacau em diferentes regiões. “O Tricovab sai da prateleira da pesquisa para auxiliar milhares de cacauicultores neste país”, ressaltou.

Leur comemora inclusão de dívidas de cacauicultores em medida provisória aprovada na Câmara
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A Câmara dos Deputados concluiu ontem (28) a votação da Medida Provisória (MP) 1.016/20, que prevê a renegociação extraordinária de dívidas junto a fundos constitucionais do Nordeste, do Norte e do Centro-Oeste (FNE, FNO e FCO). Segundo o deputado federal Leur Lomanto Júnior (DEM-BA), o texto incluiu as dívidas dos cacauicultores que contraíram empréstimos com base no Programa de Recuperação da Lavoura Cacaueira.

Ainda de acordo com o parlamentar, os produtores poderão quitar seus débitos com descontos de até 80%, no prazo de dez anos, com início do pagamento em 2023.

Para Leur, que defendeu a inclusão dos débitos dos cacauicultores no plano, esse é um momento histórico, mas “justo mesmo seria estarmos aqui hoje oferecendo a anistia total dos débitos dos produtores de cacau, pois isso só aconteceu porque eles investiram em um pacote apresentado pelo governo, que acabou não obtendo o resultado”.

O texto aprovado na Câmara segue para a avaliação do Senado.

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Ricardo Ribeiro | ricardo.ribeiro10@gmail.com

É impossível assistir ao filme sem ficar permanentemente com um nó na garganta e um embrulho no estômago, além do sentimento de impotência diante da crueldade.

A dispersão da praga da vassoura-de-bruxa na região cacaueira não foi algo natural e isso ficou totalmente comprovado em inquérito conduzido pela Polícia Federal há alguns anos. As investigações não conseguiram apontar os autores, mas concluíram que a forma como a doença se instalou denuncia um “modus operandi” todo especial, um plano macabro e destruidor, um ato humano deliberado, como sugere o excelente e fundamentado documentário produzido por Dilson Araújo.

O filme traz uma série de depoimentos e documentos oficiais, além de histórias de perdas financeiras, familiares e humanas ocorridas nessas terras a partir do fim dos anos 80 do século passado. Foi o fim de uma era, e é impossível traduzir em palavras a tragédia que se deu nessa região, onde mais de 250 mil trabalhadores perderam seus empregos nas fazendas de cacau e o êxodo para as cidades chegou a 800 mil pessoas.

Pesquisadores ouvidos no documentário atestam que o inchaço das favelas e todos os problemas sociais que vieram a reboque, como a falta de infraestrutura e a violência, têm relação direta com a bruxa que assombrou a região. Suas consequências foram também ambientais, com a destruição do sistema da cabruca em 600 mil hectares de fazendas. Muitas áreas onde a Mata Atlântica permanecia intacta, em uma convivência produtiva e ecológica de mais de dois séculos, foram transformadas em pastagens e a madeira nativa foi alimentar as serrarias.

Tragédia. Crime. Holocausto. Genocídio. Qual a palavra certa para descrever o que se deu nessa região? O Nó apresenta várias, sem deixar de mostrar que os cacauicultores foram vítimas duas vezes. Uma quando a vassoura se instalou, com galhos amarrados diligentemente por mãos assassinas; a outra quando a Ceplac recomendou providências equivocadas, que levaram os produtores a assumir dívidas que lhes atormentam até hoje. Os bancos exigem que eles paguem pelo que não surtiu efeito e o governo não assume o ônus pela falha.

É impossível assistir ao filme sem ficar permanentemente com um nó na garganta e um embrulho no estômago, além do sentimento de impotência diante da crueldade. São histórias destruídas, vidas destroçadas, uma cultura secular que deixou de existir por obra e graça de alguma ideia psicótica. De quem? A polícia diz que não sabe.

Não por acaso, O Nó é narrado quase num sussurro, por uma voz que parece ser de alguém que fala em meio a um velório. O tom é triste, o filme fala de morte.

Ricardo Ribeiro é editor do Cenabahiana.

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OUSARME FOI “DESMASCARADO”

Ousarme Citoaian

Demorou. Dentre as pessoas que gentilmente (às vezes, nem tanto, ai de mim!) comentam esta coluna, notou-se certa perplexidade com o alterônimo (?) Ousarme Citoaian. Alguém “ouviu o galo cantar”, mas não chegou ao que, como se dizia em tempos pretéritos, âmago da questão. Até que Fernando, na semana passada, nos chamou de Às armas, cidadãos! É isso aí: cometemos uma tentativa de figurar a pronúncia de Aux armes, citoyens! (do refrão de La marseillaise) – e não pensem que se trata de inocente nostalgia: Aux armes, citoyens! é grito perene do descontentamento social. La marseillaise e a França (aquela da Revolução Francesa de 1789-1799) são, embora não de forma oficial, componentes da cultura de todas as gerações.

UM CANTAR REVOLUCIONÁRIO

La marsellaise foi composta pelo oficial Rouget de Lisle, em 1791, em Estrasburgo, como um canto para encorajar os soldados no combate de fronteira da região. O nome atual foi proposto pelo prefeito daquela cidade. Durante a Revolução, a música se tornou muito popular, e foi a trilha patriótica que embalou Paris, quando o exército de Marselha entrou na cidade. Devido a seu caráter revolucionário, La marseillaise foi proibida por Napoleão (foto) e, depois dele, por Luís XVIII. Mas em 1830 os revolucionários devolveram à canção o status de hino nacional da França. Lá pelos fins do século XVIII, com o prestígio da cultura francesa, hoje afogada pela (in) cultura americana, ganhou o vasto mundo, incluindo o Brasil.

CANTEMOS, MESMO DESAFINADOS

A letra de La marseillaise é, no mínimo, quatro vezes maior do que a do Hino Nacional Brasileiro, considerado laudatório. Em geral, só se canta seu primeiro grupo de versos e o refrão – de onde tirei a marca Ousarme Citoaian. Aproveitando o embalo, (re) veja esta cena de Casablanca, o filme, quando, no bar de Rick (Humphrey Bogart), o líder da resistência, Victor Lazsio/Paul Henreid (na foto, à esquerda de La Bergman e Bogart), faz calar a voz dos nazistas. Vive La France!

Clique e confira a cena memorável

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TEVÊ QUE DISTRIBUI PEDRADAS

Mal saio da cama, levo da tevê a primeira cacetada: “Supostos índios Tupinambá invadem fazenda em Buerarema”, diz a apresentadora. Está em moda essa grosseria com a linguagem. Em vez de a boa e clara construção “índios tupinambás…”, opta-se pela agressiva (à gramática e aos ouvidos) “índios Tupinambá”. Onde teria nascido essa excrescência?, perguntaria um atencioso falante da nossa língua. E não há, para o caso, resposta plausível, a não ser que, com risco iminente de virar Judas do próximo sábado de aleluia, apontemos, como berço dessa heresia, o pedantismo acadêmico, embalado pela tendência da nossa mídia em repetir as bobagens que lhe chegam. Juntar ignorância e arrogância (rima mas não soluciona) tem sido péssimo para a Pátria.

“MINHA PÁTRIA É MINHA LÍNGUA”

E suponho que, ao dizer “Pátria”, digo-o bem, porque “a minha pátria é a língua portuguesa”, conforme um Fernando Pessoa em que ninguém mais parece acreditar. O professor Nilson Lage (foto), da cadeira de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina, reconhece que escrever corretamente (seguindo os ditames de Antenor Nascentes, João Ribeiro e assemelhados) é condenar-se à pecha de obsoleto, a ninguém agrada. “Sei que a língua nacional é a expressão da pátria e o canal pelo qual a cultura escoa e se transmite no tempo. Mas quem se preocupa com a pátria, a essa altura da expansão do Império?”, pergunta o mestre. A mim me falece competência para responder a questão de tão grande profundidade.

OS PATAXÓS VIRARAM “OS PATAXÓ”

“Estamos sós”, diz o professor, ao referir-se àqueles poucos que não aceitam o abastardamento da linguagem. O pernosticismo, que transformou os pataxós, os goitacases, os tupis, os guaranis, etc. (de tanta importância histórico-social) em os Pataxó, os Goytacá, os Tupy, os Guarany (dessa canhestra forma, com maiúscula e no singular) traumatiza o estilo formal e tangencia o hilário. É provável que na origem (uma academia ainda doente do ranço elitista do século XIX), a curiosa fórmula encontre defensores, armados de argumentos arrevesados; mas o porquê de as redações reproduzirem esse monstrengo, dificilmente elas saberão dizer.

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O ANTIEXEMPLO DA ECONOMIA

A carta dos cacauicultores ao presidente Lula é antiexemplo de economia de palavras, já começando com uma agressão: “Em um bom momento, maio de 2008, na cidade de Ilhéus…”. Palavras ao vento. Bastava dizer “Em maio de 2008, em Ilhéus…” – e economizaríamos 40% de texto. “A criação do PAC do Cacau deu um novo alento…” dispensaria esse um; “… três milhões de habitantes que aqui vivem…” (os habitantes daqui vivem aqui mesmo, pois não?); “… ao tentar distorções históricas” (não seria tentar corrigir distorções históricas?); “… há mais de vinte anos passados” (redundância); “há 53 anos atrás” (idem). Dispensando-se a piada previsível de que o presidente é iletrado, lembremo-nos de que a carta vai às mãos dos letrados do governo. Com tanta gente que sabe escrever nesta terra, lamenta-se que a falta de humildade tenha gerado tal texto.

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DA ARTE DE ESCREVER BEM

Parece que criamos uma seçãozinha, para recomendar boa leitura de textos de jornalistas. Antes, Hélio Pólvora; na semana passada, Ruy Castro; hoje, Denise Paraná (foto), que nos brinda com A história de Lula, o filho do Brasil. É para quem quer apreciar uma história bem contada, em linguagem simples e correta – como deve ser o texto jornalístico. O livro é resultado de pesquisas da autora no sertão pernambucano e em São Paulo, para a tese (USP/1995) “Da cultura da pobreza à cultura da transformação – a história de Luiz Inácio Lula da Silva e sua família”.

SECTARISMO FORA DE MODA

A história chama a atenção pela distância que procura (e consegue) manter daqueles exageros comuns às teses acadêmicas. E também não é a sacralização do presidente Lula, mas a história verdadeira de uma mulher nordestina, pobre e com muita fibra, coragem e fé – a dona Lindu (vivida por Glória Pires, na foto). Ela enfrentou seca e fome, criou uma renca de filhos e aguentou um marido irresponsável e cruel. Mais tarde, em São Paulo, para onde levou os filhos num pau-de-arara, seu primogênito, o sindicalista Frei Chico, seria submetido a outro pau-de-arara, o da ditadura. Um livro para ser lido pela direita raivosa e a esquerda esfuziante, sem sectarismos. Que, de resto, estão fora de moda.

DENISE PARANÁ DE SÃO PAULO

Jornalista, roteirista e doutora em Ciências Humanas pela USP, com pós-graduação na Universidade de Cambridge, Inglaterra, Denise Paraná é de São Paulo (ops!). O New York Times saudou o trabalho da pesquisadora com grande entusiasmo. “Muito do que se conhece do início da vida de Lula vem do trabalho de história oral feito nos anos 90 por Denise Paraná”, disse o jornal. Denise foi corroteirista do longa-metragem Lula, o filho do Brasil. O filme, não vi (em geral, as obras excessivamente badaladas não me acordam o interesse); o livro, adorei.

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A MELHOR DE TODOS OS TEMPOS

Que me desculpem Ella Fitzgerald (1917-1996) e alguns especialistas, mas eu acho Sarah Vaughan (1924-1990) a melhor vocalista de jazz de todos os tempos. Por coincidência (juro que só soube quando redigia esta nota!) ela morreu há 20 anos, em 3 de abril de 1990, o que nos dá um ótimo”gancho” para este registro. Em 1972, no Japão, ela gravou um dos discos mais importantes de sua carreira, o duplo Live in Japan, pela Tapecar, que o lançaria no Brasil somente três anos depois. Diga-se que Sarah e Ella gravaram discos de música brasileira: Ella (foto) fez um LP duplo com temas de Tom Jobim e Sarah gravou outro, de vários compositores – incluindo Caymmi, com Das rosas.

OMISSÃO INDESCULPÁVEL

Aos 48 anos, ao gravar Live in Japan, Sarah (foto) está em plena forma, com toda aquela garra que identifica as vocalistas negras, acompanhada comme il fault (piano, baixo e bateria). O repertório é de clássicos do jazz, os chamados standards (algo próprio para apreciadores menos sofisticados desse gênero). Lá estão Round midnight, My funny Valentine, Misty, All of me e Wave. Há também uma incursão pelo mais popular, com Over the rainbow e até a concessão ao já muito explorado Love story. Era um álbum duplo, mas a Tapecar dividiu o conjunto em dois LPs comuns, além de omitir informações sobre os instrumentistas que acompanham a divina (uma omissão “criminosa” no mundo do jazz).

WAVE NUNCA MAIS FOI A MESMA

Wave, de Tom Jobim (foto), no primeiro volume, é alguma coisa que não tem preço. Logo de entrada, a extraordinária cantora mostra a que veio: emissão de graves fantástica, com noção de ritmo e respiração, claro, suficientes para comover até uma estátua (ela leva 10 segundos para dizer o “to be” do segundo verso e emenda com o terceiro, “sem respirar”). Depois dessa gravação, que me fascina há muitos anos, Wave nunca mais foi a mesma. O Ministério da Saúde recomenda aos amadores que não se metam a imitar Sarah Vaughan, pois terão que chamar o Samu e pedir oxigênio urgente. Todo mundo sabe que ela tem, no mínimo, quatro pulmões.



(O.C.)

Pouco sei de futebol (prefiro basquete e o xadrez), mas a discussão, sob o prisma da língua portuguesa, me fascina. Entendo que o Brasil é, de maneira indiscutível, bicampeão mundial, pois venceu as Copas de 1958 e 1962. Ao voltar a ganhar em 1970 (com a melhor seleção etc. etc.), tornou-se campeão pela terceira vez – e isto é diferente de ser tricampeão. Acontece que a mídia, por ignorância ou interesse, às vezes assume aquele comportamento atribuído a Goebells (ministro das Comunicações de Hitler): bate na mentira até que ela se transforme em verdade. O rito é mais ou menos este: lança-se a invenção, as ruas a adotam e ela adentra os compêndios, já travestida de verdade. A língua é viva, certo. Mas não precisa ser burra.