:: ‘Carlos Alberto Brilhante Ustra’
MAU COM U E MAL COM L. O BRASIL PADECE DOS DOIS
Cláudio Rodrigues
Mau ou bom, mal ou bem, ainda haverá 1.248 dias pela frente. É melhor jair se acostumando ou se arrependendo com o estilo e o corte de cabelo…
Muitos confundem ou têm que parar para pensar quando usar mau com ” U” e mal com “L” em uma frase. Mau é adjetivo. Usa-se mau como oposto, antônimo de bom. Já a palavra mal, pode ser substantivo comum, conjunção ou advérbio. É o contrário de bem.
O presidente Jair Bolsonaro faz o país padecer do mau com “U” e do mal com “L”. O mandatário brasileiro propaga o “mau” que traz em sua índole. Bolsonaro é o caso típico do escorpião. Se alguém se dispuser a perder 10 minutos para pesquisar sobre ele, verá que em toda sua carreira – desde militar até homem público – o presidente praticou e pratica o mal.
Em 1986, revoltado com os vencimentos de sargentos e capitães do Exército, Bolsonaro planejou instalar explosivos em quartéis e em outros pontos estratégicos do Rio de Janeiro, a exemplo da adutora do Guandu, que abastece a capital fluminense. Bolsonaro – que sempre negou a autoria de plano para colocar bombas em unidades militares – recorreu ao Superior Tribunal Militar (STM). A Corte, por 8 votos a 4, considerou Bolsonaro “não culpado” dessa acusação.
Em setembro de 2000, a ex-mulher e candidata a reeleição para a Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, Rogéria Nantes, acusou Jair Bolsonaro de ter sido o mandante do espancamento de um assessor político e seu ex-colega de Exército Gilberto Gonçalves. O motivo, de acordo com o depoimento de Rogéria, foi o fato de Gonçalves estar trabalhando, à época, como cabo eleitoral de sua candidatura. Quando o fato ocorreu, ela já não era mais esposa de Bolsonaro, e o ex-capitão do Exército tentava eleger para o seu lugar na Câmara o filho Carlos – o 03, então um estudante do ensino médio.
Em seus 28 anos como deputado federal, a mediocridade e o mau acompanharam os mandatos de Bolsonaro. Como parlamentar ele defendeu a pena de morte, usou o auxilio moradia “para comer gente” – conforme disse em entrevista, fez uso de funcionários fantasmas, agrediu com palavras de baixo calão a jornalista da Rede TV. Já com a deputada Maria do Rosário, ele afirmou que “não a estuprava por ela ser feia”.
No ano de 2014, em uma solenidade que homenageava o ex-deputado Rubens Paiva, assassinado e que teve o corpo desaparecido pela ditadura militar, além de agredir os familiares de Paiva, o então deputado cuspiu no busto do ex-parlamentar. O busto estava sendo inaugurado no saguão da Câmara Federal.
Nos sete meses como presidente do Brasil, Jair Bolsonaro segue destilando, pregando e fazendo o mal. A educação, o meio ambiente, os direitos sociais e humanos são os alvos de destruição do mandatário de plantão. Some a isso, as ameaças à liberdade de imprensa, aos indígenas, à comunidade LGBT e aos governadores e à população do Nordeste.
A cada dia, as medidas e os disparates verbais do presidente chocam boa parte dos brasileiros e da comunidade internacional. Como indicar o filho Eduardo, o 02, para embaixador do Brasil nos Estados Unidos ou fazer uso da aeronave da FAB para seus familiares irem ao casamento do 02. Acusar o Ministério Público do Rio de perseguir o seu filho Flávio, o 01 – hoje senador da República, que é réu junto com seu assessor Fabricio Queiroz, na operação Furna da Onça, acusador de embolsar salários de funcionários de seu gabinete na época que era deputado estadual.
O Brasil padece do mal quando o presidente prega a divisão do país, ao assumir que é o presidente somente dos que votaram nele, mantendo o clima de campanha eleitoral com o debate e discussões sobre ideologias e não sobre o que mais afeta a população, a exemplo dos quase 13 milhões de desempregados, entre outras demandas.
Bolsonaro já afirmou ser fã, admirador e defensor das ações do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI-CODI, acusado de torturar e matar presos políticos no período da ditadura militar. Em entrevista ao programa Roda Viva de julho de 2018, o então candidato Jair Bolsonaro disse que seu livro de cabeceira era A Verdade Sufocada – A história que a esquerda não quer que o Brasil conheça, do próprio Ustra. Mas tudo leva a crer que o presidente brasileiro é seguidor do livro Mein Kampf – em português Minha Luta, de um certo Adolf Hitler.
Mau ou bom, mal ou bem, o Brasil ainda vai padecer, pois ainda haverá 1.248 dias pela frente. É melhor jair se acostumando ou se arrependendo com o estilo e o corte de cabelo…
Cláudio Rodrigues é consultor.
UNIVERSO PARALELO
ANALFABETOS COM DIPLOMA E ANEL NO DEDO
Vão pensar que brinco em serviço, se lhes repetir o que li: segundo o Indicador do Alfabetismo Funcional (Inaf), 65% dos brasileiros que concluíram o curso médio não são plenamente alfabetizados. Isto quer dizer: têm dificuldades para entender, interpretar, analisar, avaliar conteúdos, relacionar as partes do texto e distinguir fato de opinião. Se os gentis leitores e leitoras ficaram abalados, sentem-se, pois o pior está por vir: diz o Inaf que 38% das brasileiras e brasileiros de nível universitário encontram-se na mesma situação, ou seja, possuem nível insuficiente em leitura e escrita. Estes seriam os analfabetos de terno, gravata, diploma e anelão no dedo.
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Boçalidades exuberantes e barulhentas
E como fica a tese da classe média dita “formadora de opinião”, em defesa da leitura que liberta, transforma, constrói? É pregar no deserto, discursar para ouvidos moucos, mostrar imagem a cegos. Somos uma nação de analfabetos funcionais tácitos e hereditários, alguns desses (devido à sua alta titularidade sem conteúdo) autoconsiderados sumidades, quando não passam de boçalidades exuberantes e barulhentas. Recentemente, uma desembargadora do Rio, no texto de sua sentença, recomendou aos advogados da causa examinada “adquirir livros de português de modo a evitar expressões que podem ser consideradas como injuriosas ao vernáculo”.
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Atentado contra a língua portuguesa
E ela cita exemplos que atestam serem completamente ignorantes em ortografia os nobres causídicos que apresentaram as contrarrazões do processo: em fasse (no lugar de “em face”), aciste (“assiste”), cliteriosamente (“criteriosamente”), doutros julgadores (“doutos”), estranhesa (“estranheza”), discusão” (“discussão”), inedoneos (“inidôneos”). Fico sabendo de uma curiosidade: “o advogado que atenta contra o vernáculo comete infração disciplinar”, de acordo com a Lei nº 8.906/94 (Estatuto da Advocacia). Logo, este caso sugere a ideia de que os advogados dessa causa deveriam ser processados por tentativa de homicídio. A vítima? A idosa, inculta, porém bela língua portuguesa.
AS GRANDES HISTÓRIAS DE ANTÔNIO JÚNIOR
Antônio Nahud Júnior, depois de publicar, pelo menos, oito títulos (em gêneros variados), está de livro novo na praça, ainda quente do prelo: Pequenas histórias do delírio peculiar humano. São contos da mais diversa feitura, alguns ditos minimalistas, outros extensos, uns na primeira pessoa, outros tendo o autor como narrador “distante” – mas, em conjunto, todos formando uma celebração da maturidade do artista. E mais não digo para evitar a ociosidade da chuva no molhado, pois Pequenas histórias… é apresentado por Jorge Araújo e Ruy Póvoas, ainda com luxuosas orelhas lavradas por uma especialista em Coelho Neto, a pesquisadora Danielle Crepaldi, da Unicamp.
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O lado penumbroso do ser humano
Para Jorge Araújo, Pequenas histórias…“é livro inquieto e inquietante, que convida ao debate e à inteligência não conformados ainda à inércia do pensar de calças curtas”. E destaca o conto “Sem notícias de Deus” como “soberbo, antológico e definitivo”. Danielle Crepaldi percebe a erudição do autor, salientando que Poe, Miller e Ibsen “ecoam nessas histórias”, também destacando “Sem notícias…”, em que “a crítica social singelamente brota da aridez da fome e do clima nordestino”. Ruy Póvoas afirma que Nahud Júnior tem personagens “em crise de delírio”, que mostram “o lado sombrio do ser humano, sua rede de trevas, que a maioria teima em negar ou ignorar”.
ALITA PRESTA HOMENAGEM A JORGE AMADO
A Academia de Letras de Itabuna (Alita), presta homenagem a Jorge Amado, com o projeto “A Alita vai à escola”, de 27 de agosto a 5 de setembro. Dia 27 – 19 horas: Cyro de Mattos, com o tema Jorge Amado em Itabuna (auditório da FTC); Dia 28 – 9 horas: Margarida Fahel, com Jorge Amado: um humanista nas terras do cacau (Colégio Militar); 29 – 9 horas: Antônio Lopes, com Jorge Amado: o pão e a liberdade (Campus 2 da Unime); 30 – 9 horas: Gustavo Veloso e Ceres Marylise, com exibição de documentário sobre Jorge Amado, seguido de atividades interativas (Escola Lourival Oliveira – Ferradas); Dia 5/9: Ruy Póvoas, com o tema Jorge Amado: ficcionista, ogã e obá.
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ENFIM, CORONEL RECEBE TÍTULO MERECIDO
A Justiça demorou mas reconheceu, agora em agosto, que o coronel da reserva do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra (sem foto, para a coluna não cheirar mal), chefe dos serviços de repressão a presos políticos em São Paulo (1970-1974), merece o título que com tanta determinação perseguiu: “Torturador”. Ele é tido como símbolo dos agentes da ditadura militar (1964-1985) que, em nome do Estado, sequestraram, torturaram, estupraram, mataram e ocultaram corpos de presos políticos e “inimigos” do regime. Estima-se que 17 pessoas foram assassinadas na “gestão” de Ustra (que usava o codinome de Doutor Tibiriçá e raramente sujava as mãos: apenas dava ordens e supervisionava o “serviço”).
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Dante aprendido no pau-de-arara
Não se sabe (nem interessa saber) se Ustra, um bandido vestido de verde-oliva, lia os clássicos. Mas seus presos tomaram conhecimento, pelo modo mais doloroso, do Inferno de Dante: a quem entrasse naquelas masmorras modernas a lógica perversa mandava, como noCanto III de A divina comédia, renunciar a qualquer esperança de rever o céu. Na minha tradução (de Fábio Alberti, para a Abril Cultural) está, à página 18, uma indagação apropriada ao caso: “Que dor tão cruel se apodera deles e os faz gritar, urrar tão fortemente?” O Doi-Codi de São Paulo, era um inferno; o coronel Ustra, o capeta-chefe.
SEM TREJEITOS, CHICO CANTA A MULHER-MULHER
Sem aqueles trejeitos homossexuais (que transmitem ridícula caricatura da mulher) Chico Buarque tem um lado lucidamente feminino, isto é, político: não canta a mulher “gostosa”, objeto de desejo sexual, nem tão pouco a mulher-musa, deusa no alto do panteon. Seu discurso é o da dor, da discriminação, do “veneno” e da grandeza dessa costela tirada de um ser já também esfacelado chamado homem. Sua visão, prenhe de poesia e beleza, não é sobre a mulher, mas da mulher. São tantas as canções (Atrás da porta, Olhos nos olhos, O meu amor, Teresinha, Folhetim), mas me detenho numa que ele fez especialmente para Nara Leão: Com açúcar, com afeto.
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“Quando a noite, enfim, lhe cansa…”
O malandro sai de casa em busca de dinheiro para sustentar sua Amélia, mas ela sabe que até a oficina “há um bar em cada esquina” – e ele vai beber, cantar, discutir futebol e olhar as pernas das moças – “coisas de homem”. Isto tudo é dito com rimas magníficas, um ótimo trocadilho (“alegre, ma non tropo”) e um fecho de ouro: finda a farra, o cara (que saiu “com seu terno mais bonito”) retorna “maltrapilho e maltratado” feito um gato após orgia no telhado. Ela tenta zangar-se, mas qual! “Ainda vou esquentar seu prato/dou beijo em seu retrato/e abro os meus braços pra você” – que mulher! A cantora erra a letra (onde estava“há” ela canta “existe”, quebrando o verso), mas não reclamo. Nara Leão tem direito.
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Como se fosse uma conversa de botequim
E antes que vocês queiram ver/ouviresta injustamente pouco executada canção de Chico, um aviso a quem interessar possa: a partir da próxima terça-feira, pretendo responder aos comentários que necessitem de resposta. Nada de chat – ou coisa igualmente chata (ops!): só esclarecer pontos de vista e retribuir a gentileza dos que gastam tempo e tutano opinando sobre esta coluna (alguma coisa como uma inocente conversa de botequim, com permissão de Noel). E com vocês, Nara Leão!
O.C.
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