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Karoline VitalKaroline Vital | karolinevital@gmail.com

A evolução tecnológica acabou causando uma grande revolução no quanto as pessoas se contentam com explicações, já que é possível divergir com embasamento de qualquer resposta insatisfatória.

Quem assistiu ou ainda assiste o programa infantil Castelo Rá-Tim-Bum, imediatamente sabe o que acontece quando respondiam uma pergunta com “Porque sim!”. Imediatamente, surge o Telekid, personagem vivido por Marcelo Tas, para dar explicações a perguntas que muita gente tem preguiça ou não sabe responder como: por que as pessoas falam idiomas diferentes ou por que a cidade é cheia de gente?  E, usando o seu controle remoto avô do Google, o Telekid respondia as questões de maneira simples e ilustrativa.
Hoje em dia, responder algum questionamento com “porque sim” ficou cada vez mais complicado. Com a facilidade de acesso às informações, qualquer criança minimamente alfabetizada e com acesso à internet tem todas as suas dúvidas sanadas em instantes.
Quando eu estava na sétima série, a professora de geografia pediu uma pesquisa sobre chuva ácida. Fui à biblioteca da escola vasculhar as enciclopédias, desatualizadas ano a ano. Estávamos em 1995 e o exemplar disponível mais novo era de 1992. Folheei o pesado livro bolorento e achei a definição de chuva ácida: pouco mais de 15 linhas espremidas numa estreita coluna e ilustrada por uma diminuta foto preto e branca de uma estátua corroída.
Era pouquíssima informação, uma breve noção do assunto. Aí, era o jeito garimpar na Biblioteca Municipal. Se a pesquisa fosse pedida hoje, o Google me disponibiliza 415 mil resultados em 0,20 segundo. Sem sair de casa, sem ficar com as mãos grossas de poeira ou desafiar minha rinite alérgica.
Se, nos primórdios da humanidade, o povo criou mitos e lendas para explicar a vida e o mundo, atualmente, ninguém acredita facilmente em histórias fantásticas. Todos querem provas, imagens, documentos que certifiquem ao máximo as afirmações. São poucos os que engolem um “porque sim”.  A evolução tecnológica acabou causando uma grande revolução no quanto as pessoas se contentam com explicações, já que é possível divergir com embasamento de qualquer resposta insatisfatória.
Está cada vez mais complicado manter símbolos e dogmas religiosos ou políticos. As crenças, sejam elas no que ou em quem for, são cada vez mais questionadas, conflitadas. Se uma mãe diz para o filho que assistir TV de perto faz mal, em dois tempos ele acha a explicação de um oftalmologista afirmando o contrário e contraria o argumento materno com fundamentação científica.
A passividade em aceitar cegamente determinações está sofrendo um enfraquecimento progressivo.  Afinal, o “porque sim” não tem mais o poder de calar a dúvida por maior que seja a autoridade de quem o diz. Com o acesso a tanta informação, o que está valendo mais é o poder de argumentação. Ser vaquinha de presépio virou opção ou mera conveniência.
Karoline Vital é jornalista.