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Nelson Simões |

Caro Ramiro, como seu admirador e leitor, e por dever de ofício, cumpro o dever de responder ao seu artigo no PIMENTA, Cerimonial e Truculência não Combinam. Em primeiro lugar para registrar minha dispensável concordância com o título do artigo, que por si só diria tudo.
O conteúdo também é digno de elogios, pois enfoca um tema de quase nenhum foco na mídia em geral, a não ser quando é para receber críticas. Você, como profissional exitoso da área, sabe perfeitamente dos melindres e rococós que o cercam, e noves fora o folclore e até deboche que o profissional de cerimonial é visto, por puro desconhecimento geral de suas atibuições.
Dito isso, e como chefe de cerimonial do Governador, diretamente citado em seu artigo, quero fazer os seguintes esclarecimentos:
– sobre o evento em 2009, na Santa Casa, em Itabuna, nenhum reparo, a não ser mais uma vez desculpar-me pelo erro; embora não tenha sido eu, ou algum membro do cerimonial que cometeu a descortesia, mas um membro da segurança pessoal do Governador, é minha responsabilidade conduzir os eventos em que S.Exa. está presente; ficou como um aprendizado;
– sobre o evento do SEST/SENAT, no último dia 28/07, comemoração aos 101 anos de fundação de Itabuna, aí sim, um reparo; o evento era privado, da CNT, em que o senhor governador era o principal convidado, portanto, minha responsabilidade de executar o cerimonial; porém, mesmo assim, minha equipe tem a orientação de fazer isso em comum acordo com o dono do evento, seja quem for; a execução do hino e a exibição do vídeo constavam do texto do mestre de cerimônia e ele solicitou ambos no microfone; porém, o técnico de som e imagem contratado pelo promotor do evento, naquele exato momento precisou ir ao banheiro; convenhamos, a mesa não podia ficar esperando ele retornar, e nem tampouco podíamos anunciar isto no microfone; tivemos que improvisar em cima da hora; quanto à formação da mesa principal, sempre o fazemos ouvindo a sugestão do promotor, neste caso a CNT.
O promotor nos sugeriu as seguintes personalidades: prefeito Capitão Azevedo, presidente da CNT Senador Clésio Andrade, presidente da federação das empresas de transportes da BA e SE, Antonio Carlos Knittel, e homenageado sr. Pedro de Freitas Barros Júnior, todos acatados por este cerimonial, acrescidos das autoridades institucionais, vice-governador Otto Alencar, presidente da AL, Marcelo Nilo, e senador Walter Pinheiro; quanto às falas, de fato, pelo horário e agenda corrida do governador, propusemos falar apenas o senador Clésio e o governador Wagner, mas, depois revimos e foram acrescidas as falas de Pinheiro e Azevedo, sem nenhum sentimento de exclusão.
Bem, feitos os registros, quero colocar-me ao seu inteiro dispor. E pela sua experiência e competência reconhecida na área sempre aberto a qualquer crítica ou sugestão. Como sabe, jamais fui ou pretendi ser “cerimonialista”. “Estou”, por vontade exclusiva do senhor governador, que entende que na função deve ter alguém com um mínimo de visão política, o que é o meu caso.
Sempre seu leitor e do Pimenta na Muqueca, para continuar antenado às coisas e fatos da nossa nação grapiúna.
Cordial abraço.
Nelson Simões Filho, chefe de Cerimonial do Governador.

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Ramiro Aquino

O cerimonial do governador chegou a Itabuna três dias antes, trocamos ideias e gentilezas, só estragadas quando o Bispo Dom Ceslau foi barrado na UTI por um segurança “qualificado” do governo.

Alguns episódios recentes, e outros nem tanto, me inspiraram a escrever este artigo, que trata de um assunto de área onde atuo, no caso o cerimonial. Por definição e por tradição, cerimonial é um conjunto de normas de conduta e de comportamento em público ajustados por lei e algumas condições indispensáveis de etiqueta e de respeito às relações sociais, sejam no âmbito privado ou público.
Os últimos governos da Bahia, desde o longo domínio carlista (mais acentuado com Paulo Souto) aos dias hoje (quinto ano da gestão Wagner), têm dado demonstrações de uma truculência inimaginável quando se trata dessas relações. Nem ACM, reconhecidamente grosseiro em suas atitudes, tinha equipes do seu cerimonial ao nível do que já vimos e acompanhamos nos dois governos de Paulo Souto e no recente governo Wagner.
Como atuo na área, frequentemente sou contratado para realizar eventos que contam com a presença do governador. Aprendi, desde Souto, que é exigência na área governamental, usar o cerimonial do governo nas atividades em que o maior mandatário baiano esteja presente. Nada contra. Acho até um cuidado especial para que se preserve o governador e ele não sofra qualquer tipo de constrangimento. O que não é admissível é que o cerimonial do governo atropele as convenções sociais, a lei e as regras mais elementares de convivência, como nos exemplos a seguir.
O primeiro exemplo é positivo (para não dizerem que não falei de flores) e vem, imaginem, da cúpula carlista. Maio de 2000, inauguração do Jequitibá com as presenças do governador César Borges e do senador ACM. Uma semana antes o cerimonial do governo fez contato com o shopping pedindo o roteiro da solenidade. Como responsável pelo ato encaminhei o material para o governo, que o aprovou sem restrições apenas com uma exigência: que as demais autoridades e os anfitriões usassem traje esporte, já que o governador, o senador e sua comitiva, estariam assim trajados. O evento foi tranquilo.
Um segundo episódio foi no governo Paulo Souto. Inauguração da Fábrica Inaceres, em Uruçuca. Fui contratado para conduzir a cerimônia, mas adverti aos dirigentes da empresa que se o governador estivesse presente o cerimonial seria dele. Mas Paulo Souto não trouxe um mestre de cerimônia e sim um locutor de comícios, arrogante e mal educado, mal trajado e sem qualquer conhecimento de cerimonial. Por conta do seu despreparo deixou de chamar para o palanque o Embaixador do Equador, país sócio e investidor da Inaceres e, mais que isso, representante de um país estrangeiro. O avisei da gafe.  “E agora o que é que eu faço” perguntou-me, não tão arrogante como na chegada. “Assuma a culpa, peça desculpas e chame o homem”, respondi-lhe.
As mais recentes são dedicadas ao cerimonial do governo Wagner. Em 2009 a Santa Casa inaugura a nova UTI com a presença de Jaques Wagner. O cerimonial do governador chegou a Itabuna três dias antes, trocamos ideias e gentilezas, só estragadas quando o Bispo Dom Ceslau foi barrado na UTI por um segurança “qualificado” do governo (segundo consta um tenente coronel da PM), que não identificou a autoridade religiosa nem pelo anel, o colarinho clerical, a cruz peitoral ou pela mitra (chapéu), que os bispos usam. Ignorância pura.
Para encerrar a série de truculências fui convidado para conduzir a cerimônia de inauguração do SEST/SENAT. Novamente adverti: “o cerimonial será do governo”. Por se tratar de cerimônia padrão em suas inaugurações o roteiro que foi para as mãos do mestre de cerimônia governamental seguia esse padrão. Mas ele atropelou tudo: não exibiu o vídeo sobre a unidade, não leu um texto sobre o SEST/SENAT, não pediu o Hino Nacional. E mais: se armou uma trama para o prefeito Azevedo não usar da palavra, felizmente abortada pela pronta intervenção dos dirigentes do SEST/SENAT, Carlos Knitel à frente.
E mais: Wagner Chieppe, da Viação Águia Branca, um dos principais responsáveis pela vinda da unidade para Itabuna, ficou esquecido, em pé, sem qualquer gentileza, nem citação dos oradores, não fossem os pronunciamentos do prefeito Capitão Azevedo e de Carlos Knitel, que fizeram justiça, numa tarde de tantos equívocos protocolares.
Ramiro Aquino é cerimonialista, membro do Comitê Nacional de Cerimonial e Protocolo, jornalista e radialista.