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Walmir Rosário 3Walmir Rosário | wallaw2008@outlook.com

 

Gostaria de tecer mais comentários sobre a minha generosidade a esses amigos, cuja pobreza franciscana me deixa bastante consternado, mas vou parar por aqui para não despertar a ira da imprensa e pessoas maledicentes…

 

Não é pra me gabar, não, mas sou um homem bastante rico e excêntrico. Não sou de exibir muito luxo, mas gosto de tratar os amigos com bastante carinho. Para eles dedico parte de minha fortuna com a finalidade de que vivam bem, sem qualquer aperto ou constrangimento por pequenas coisas, afinal, temos que dividir o que temos para não sermos considerados avarentos.

Eu poderia, até, guardar mais dinheiro ou gastá-lo sozinho em viagens e outros prazeres mundanos, mas não me sentiria bem vivendo nessas orgias sem a presença e o bem-estar dos amigos, especialmente os mais chegados. Afinal, trabalho muito para isso e gasto o meu dinheiro não com a rapidez que ganho, é verdade, mas diria que num tempo considerável, como requer a vida em sociedade.

Como vocês devem ter percebido, não sou de ostentar bens de luxo, embora reconheça que são excelentes para o lazer nos finais de semana e receber bem os amigos e os amigos dos amigos. Não tenho propriedades como iates, carros esportivos das marcas Ferrari, Jaguar, Lamborghini, Porsches ou os aviões a jato da moda para percorrer o mundo. Acredito que discrição faz parte da minha personalidade.

Os que ainda não sabem fiquem informados da minha influência junto aos políticos das três esferas de poder: federal, estadual e municipal, cada um com a parte que lhe toca. Os que vivem em Brasília recebem uma ajuda mais substancial, pois a vida lá está por hora da morte. Além do mais é um local inóspito e nossos políticos precisam de mais cuidados, a exemplo de bons restaurantes, aviões confortáveis e hotéis de primeira.

Parte dos meus recursos destino ao pagamento de correspondências e outras formas de comunicação mais modernas, como a telefonia fixa e celular, pois não é todo o mundo que tem tempo disponível para ficar em busca de wi-fi para teclar nos wathzapps da vida. Também ajudo no pagamento dos régios salários dos assessores, ajudantes eficientes na elaboração de projetos e contato com as bases eleitorais.

Como não sou homem de mentira, jamais negarei que minhas empresas também contribuem de forma especial para as campanhas eleitorais, que custam os olhos da cara e não está pra qualquer um. Mas esse apoio desinteressado é retribuído com pequenas compensações nas votações no congresso e algum direcionamento nas verbas públicas, coisa de somenos importância.

Tenho me esforçado bastante para eleger os amigos mais chegados e os por chegar, pois minha prodigalidade é conhecida no Brasil e exterior, onde volta e meia faço questão de depositar alguns dólares e euros nos paraísos fiscais. E nada mais justo que isso, pois os amigos políticos sempre precisam de recursos extras nos seus passeios internacionais. Ninguém é de ferro e precisa sempre distrair as ideias no exterior. Tudo feito às claras.

Possuo amigos a mão cheia e em qualquer lugar, pois esse é o meu estilo de vida. No judiciário não deixo por menos e tenho destinado alguns mimos para esses sábios que cuidam da justiça. Além da inteligência, precisam se apresentar bem, o que não poderiam fazer sem nosso apoio, por isso faço questão de liberar o chamado “auxílio-paletó”, para que possam se vestir bem e com marcas de conceito internacional.

Ainda mais recentemente liberei o “auxílio-intelectual”, para juízes e promotores, no valor de R$ 14 mil – em alguns estados – para a aquisição de livros jurídicos, ampliando o cabedal de conhecimento forense. Alguns amigos até censuraram esse apoio, ressaltando que seria impossível a qualquer cristão ler, mensalmente, todos esses títulos, mas não importa, o que vale, é a minha generosidade.

E, por falar em generosidade, também promovi outra doação, esta, na forma de “auxílio-moradia”. Não acho justo que nossos magistrados, procuradores e promotores usem parte dos seus salários em aluguéis, que estão pelo preço da morte. E a morte é um assunto que me sensibiliza bastante e há muito instituí a pensão permanente para filhas de funcionários públicos civis e militares de algumas carreiras de Estado. Nada mais justo.

Minhas graciosas ações não ficam apenas no campo político, pois coleciono amigos tantos na área cultural, especialmente músicos, artistas das várias linguagens, como teatro, plástica e até os chamados agitadores culturais. Para eles, incentivei a Lei Rouanet, onde distribuo recursos aos meus chegados, de forma gratuita, e por desvario acredito que eles fazem a prestação de contas, na forma da lei. Até que fazem, mas sei que não resistem a uma perfunctória auditoria. Mas o que se há de fazer…

Gostaria de tecer mais comentários sobre a minha generosidade a esses amigos, cuja pobreza franciscana me deixa bastante consternado, mas vou parar por aqui para não despertar a ira da imprensa e pessoas maledicentes. Ainda mais nesses tempos de hoje, em que gravam tudo que fazemos em áudio e vídeo, como se fossem os detestáveis paparazzi que não nos deixa em paz, nem mesmo no recôndito dos nossos lares.

Às vezes me perguntam quem sou eu, por que vivo de fazer altruísmos distribuindo benesses e recursos financeiros aos meus amigos, como se no meu íntimo não fosse eu um ser solidário, humanitarista e filantrópico. No meu âmago, benevolência não é apenas uma palavra, mas uma atitude que pode mover o mundo através do amor e do afeto ao próximo, notadamente os amigos que nos governam.

E ainda me perguntam: Quem é você? Ora, sou apenas o cidadão brasileiro que paga seus impostos e contribuições em dia.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

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CÉSAR E UMA CONFUSÃO DE DOIS SÉCULOS

Ousarme Citoaian | ousarmecitoaian@yahoo.com.br

Júlio César, aquele mesmo, morreu em 44 a.C., por falta de informação. Sem o Ibope, a Gasparetto Pesquisas ou o Vox Populi, não percebeu que, a exemplo de alguns prefeitos regionais, tinha a popularidade no chão. Enquanto o ditador estava “se achando”, um grupo de senadores tecia seu assassinato, com a ideia geral de que cada um dos ilustres parlamentares desse uma facada no homem, de modo que todos dividissem a culpa pela execução. À frente do complô estavam Marcus Brutus e Decimus Brutus, respectivamente filho (para alguns historiadores, apenas amigo) e companheiro de armas do general romano. E aqui começa uma confusão que já dura mais de dois séculos.

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2Júlio CésarUma frase inventada por Shakespeare

Já furado feito um queijo suíço, César vê Brutus (qual deles?) vindo em sua direção, de adaga em riste, e, surpreso, teria decidido deixar uma frase para a história. Pronunciou um Et tu, Brute? (Até tu, Brutus?), segurou na mão de Deus e foi-se. Há controvérsias. Diz-se que a frase foi dita em grego, Kai su, teknon? (Até tu, filho?), enquanto a latina teria sido inventada por Shakespeare, em Júlio César (Ato III, cena 1). Para o cientista político Michael Parenti (O assassinato de Júlio César – Record/2005), é tudo mentira, pois César nunca pensou em  Marcus Brutus como filho: se o general ficou mesmo consternado teria sido com o traiçoeiro Decimus Brutus, companheiro de guerras.

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Líder popular hostil aos privilégios

Segundo Parenti (na contramão da história oficial), César foi o último de uma linhagem de reformistas assassinados por conservadores, por abraçar a causa do povo, tido em Roma como uma turba interessada apenas em pão e circo. Por que um seleto grupo de senadores assassinou Júlio César, aristocrata como eles? – inquire o autor. E responde: mataram César porque viam nele um líder popular hostil a seus privilégios de classe. O assassinato teria sido mais um dos atos violentos que marcaram grande parte do século, “manifestação dramática da velha disputa entre conservadores ricos e reformistas apoiados pelo povo”. A morte de César é, vista assim, algo bem contemporâneo.

ENTRE PARÊNTESES, ou

4VelinhaE assim se passaram doze meses…
Parece que foi ontem. Em agosto de 2012, centenário de Jorge Amado, o UNIVERSO PARALELO voltou a “circular” aqui nas asas do Pimenta. Antes, ficáramos no ar durante dois anos, de 2009 a 2011. A coluna, se nos perdoam o que possa parecer cabotinismo, é aquilo que os publicitários chamam de case de sucesso: surpreendeu os leitores, o Pimenta e, sobretudo, a mim surpreendeu-me (adoro esta redundância!). Valho-me do humor e do talento de Aldir Blanc e digo como aquela Miss Suéter: “Dedico esse êxito ao Pimenta/ que tantos sacrifícios fez/ pra que eu chegasse aqui no apogeu/ com o auxílio de vocês”. Obrigado a todos.

AS PIORES VOZES JÁ GRAVADAS EM DISCO

Quem seria o maior vocalista do Brasil? Orlando Silva, Dick Farney, Cauby, Nelson Gonçalves, Agnaldo Timóteo, Sílvio Caldas, Emílio Santiago? E a melhor voz feminina? Elis Regina, Nana Caymmi, Gal Costa, Ângela Maria, Alcione, Marisa Monte, Elizeth Cardoso? Difícil dizer, pois toda opinião de valor porta em si o perigo da injustiça. E como música é arte e técnica, sequer me acho no direito de apontar os melhores, o que poderia ser feito, se muito, por alguém de grande saber musical – área de que, sem demagogia, estou muito distante. Mas abro uma exceção: creio ter, há muito tempo, identificado as duas piores vozes que já ouvi gravadas em disco: Xuxa e Pelé.
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Deus perdoa aos bêbados e aos  loucos

5Xuxa-PeléObservem que não falo de amadores, sambistas de mesa de bar, cantores de caraoquê (eu os detesto, mas Deus perdoa aos bêbados e aos loucos!) ou vocalistas de banheiro. Falo de profissionais, de gente que grava música, põe no mercado e ainda encontra colher de chá na mídia. Xuxa é, todos sabem, grande vendedora de discos, com o apoio da Globo/Som Livre; Pelé, em 1969, no auge da fama, teve o desplante de gravar com Elis Regina duas canções da autoria dele. Felizmente, ficou nessas duas, salvo uma ou outra investida pela publicidade. Se a gentil leitora nunca ouviu o disco da dupla Pelé-Elis, aceite meu parabéns.

COMPROMISSO RENOVADO COM A (BOA) MPB

7CanindéCanindé, ou Francisco Canindé Soares, nasceu em Currais Novos/RN, em 1965, e, cerca de 20 anos depois, mudou-se para Jacobina/BA. Cantor da noite, só ficou conhecido do grande público a partir de 2000, quando gravou seu primeiro CD. Vieram outros seis, até o DVD História de amor, em 2010. Já com um quarto de século na estrada (o tempo voa!) ele se mantém compromissado com a boa música brasileira, do forró à balada romântica. Nos últimos tempos, revisitou temas muito conhecidos, a exemplo de Canteiros (Fagner-Cecília Meireles), Tocando em frente (Almir Sáter) e Cidadão (Lúcio Barbosa). Meiga senhorita (Zé Geraldo?) é sua gravação mais ouvida, no momento.
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Sem medo de Belchior nem Elis Regina

Cultor das baladas românticas, o artista norte-rio-grandense-quase-baiano conserva a influência daqueles que se dizem menos cantores do que “cantadores”. Vem da linhagem de Geraldo Azevedo, Xangai, Almir Sater e Elomar, mas com sintaxe própria. De Xangai ele gravou o engraçadíssimo ABC do preguiçoso (que me parece velho tema do folclore, adaptado). De Belchior, no vídeo, uma composição cheia de brasilidade, misturando passado e futuro, clima interiorano, incertezas da juventude e velhas canções da riquíssima pauta nacional. Poucos cantores gravam Belchior – talvez intimidados pelas interpretações de Elis Regina. Canindé tocou em frente, com Tudo outra vez.

O.C.
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ricardo artigosRicardo Ribeiro | ricardo_rb10@hotmail.com
 

Não obstante as evidentes e inegáveis diferenças no aspecto pessoal, a semelhança que vai se revelando entre Vane e Azevedo encontra-se no vácuo existente no gabinete do prefeito.

 
O eleitor itabunense optou pela moral ao escolher seu prefeito em outubro de 2012. Não preferiu o mais competente, se é que havia alguém com esse perfil no cardápio, mas sim o que era ou parecia ser mais correto, no sentido de probo, honesto, homem de família e princípios.
Vane do Renascer oferecia-se como o exato contraponto ao então prefeito e candidato à reeleição, José Nilton Azevedo. Hoje, porém, parecem surgir semelhanças indesejáveis no que pertine à gestão. Ou à falta desta.
Como símbolo, a espessa fumaça negra que subiu aos céus nesta quinta-feira, 4, em um incêndio no “canteiro de obras” da Prefeitura, falou por si. Um internauta brincou no Facebook: “ainda não habemus prefeito”.
O engraçado é que em nenhum momento, durante a campanha, Vane procurou evidenciar que seria um gestor eficiente. Sua propaganda destacou de maneira mais forte a defesa de bons valores e a construção de uma onírica “cidade de paz”. Falava a um eleitor que aprova os bons costumes, embora nem sempre os pratique, e que está cansado de viver em uma cidade dominada pela desordem e a violência. Sobre o “como fazer”, nada disse nem lhe foi perguntado.
Não obstante as evidentes e inegáveis diferenças no aspecto pessoal, a semelhança que vai se revelando entre Vane e Azevedo encontra-se no vácuo existente no gabinete do prefeito. Assim como o ex-gestor, o atual aparenta ser alguém que não tem efetivamente as rédeas do poder nas mãos. Há certa dispersão no campo das responsabilidades, mas o precipitado desgaste do eleito junto à opinião pública indica que o eleitor já decidiu a quem condenar.
Quem votou no certinho, hoje exige o competente e nem se preocupa se a imagem apresentada em campanha deixa de corresponder à realidade em algumas situações. Prova disso é a pequena repercussão do ato pelo qual o prefeito agraciou o próprio filho, servidor efetivo do município, com uma função gratificada.
Não é incomum o eleitor aquiescer a tais práticas, admitindo inclusive que “se estivesse lá, faria o mesmo”. O que irrita de fato o sujeito é a deficiência da coleta de lixo, o buraco na rua, a falta de água na torneira, o salário e o ônibus atrasados. Uma prova inequívoca de que os critérios das cobranças diferem dos critérios do voto e se aproximam dos valores efetivamente vivenciados pelo eleitor. Na campanha, ele sonha como a vida poderia ser; depois do voto, preocupa-se com as mazelas da vida como ela é.
Ricardo Ribeiro é advogado e blogueiro.