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Cenas de "Tropa de Elite 2" não poderão ser gravadas na Câmara

A Câmara dos Deputados negou o pedido dos produtores do filme “Tropa de Elite 2” de gravarem algumas cenas no plenário da Casa. Segundo o diretor José Padilha, a produção do filme procurou a Câmara de dezembro a janeiro, mas jamais recebeu resposta oficial. “Disseram que foi Michel Temer quem barrou, a pedido da bancada do Rio. Eu preferi não acreditar.”

A assessoria de Michel Temer (PMDB-SP), presidente da Câmara, confirma que não foi dada autorização por decisão técnica-administrativa. Motivo: o plenário da Casa é destinado a sessões políticas. A cena barrada pela Câmara acabou ambientada num Conselho de Ética improvisado na Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro.

Informações da Folha de São Paulo

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Cinema do Jequitibá terá salas menores.

A gerência de marketing do Jequitibá Plaza Shopping assegurou ao Pimenta que o projeto de expansão do centro de compras e lazer não acabará com as duas (únicas) salas de cinema de Itabuna. Boatos no mercado davam conta da extinção do cinema.

Segundo Carol Monteiro, gerente de marketing do Jequitibá, o cinema será fechado “temporariamente”, para reformas. Pelo projeto, haverá um maior número de salas, mas com uma quantidade menor de assentos. “Temos duas salas [de projeção] com 230 lugares cada uma”.

Com a reforma, explica, o cinema terá três ou quatro salas. “Teremos um número maior de salas com quantidade menor de cadeiras”, diz. A mudança visa garantir um maior fluxo de filmes em cartaz.

A gerência de marketing não soube precisa quando começam as reformas nem o prazo de duração das obras. O shopping pertence ao Grupo Chaves e atualmente é administrado pela Aliansce. O grupo será o responsável pelos novos investimentos no cinema. Ontem, o Jequitibá completou 10 anos em funcionamento.

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Leandro Afonso | www.ohomemsemnome.blogspot.com

Marcada para as 20h, a pré-estreia de Quincas Berro D’Água (idem – Brasil, 2010), de Sérgio Machado (Onde a Terra Acaba, Cidade Baixa), começou com pontuais 20 minutos de atraso, quando Hélio de La Peña, Vladimir Brichta e Frank Menezes subiram ao palco*. Trouxeram um clima amigável, de humor e aproximação com o público. Depois, Sérgio Machado e o elenco da equipe, embora só Paulo José (Quincas) e ele tenham usado o microfone.

No que talvez tenha sido o mais belo momento da noite, Machado disse que Jorge Amado foi a primeira pessoa a ter acreditado no potencial dele como cineasta, e contou, com emoção transparente, o caso dos parabéns de Zélia Gattai. Em 2005, à época viúva de Jorge Amado, ela disse ter visto florescer a árvore onde estavam cinzas do escritor. Imaginou que ele deveria estar feliz, que algo de bom deveria ter acontecido. Entrou na Internet, buscou notícias e viu a premiação de Machado no Festival de Cannes. Foi de Gattai, a quem o filme é dedicado, o primeiro e-mail recebido por ele após o prêmio.

A sessão

Em momento alto da projeção, a abertura conseguiu mesclar Saul Bass (lembrança imediata de Anatomia de um Crime) e 007, com um, mesmo que bem discreto, tempero baiano. O porém é que, dali até o final do filme, o áudio parecia alto demais. E embora não dê pra dizer se o problema maior era da cópia, do meu lugar (muito ao lado, na frente e próximo à saída de som) ou da regulagem no teatro, sensação foi compartilhada com as duas pessoas com quem falei sobre o problema – mais centrais e acima, no teatro.

Finda a apresentação, começa a história de Quincas, que decidiu morreu (ou “se deixou” morrer) no seu canto, perto daqueles com quem convive. Mas estes, além de desconhecidos, são discriminados pela filha Vanda (Mariana Ximenes), mãe (Walderez de Barros) e genro de Quincas (Vladimir Brichta), exemplares da burguesia caricata. Não ajuda ainda a lembrança de Mariana Ximenes em O Invasor (2002), de Beto Brant, que compreende uma crítica bem mais contundente.

Por outro lado, mais que alfinetar um comportamento, aqui se exalta outro – o que não é necessariamente ruim. O filme é menos uma crítica a uma burguesia reacionária e de aparências que um entusiasta de um tipo de comportamento mais “alegre” dos menos abastados de Salvador. Aqui novamente filmada para exportação, com Pelourinho, Baía de Todos os Santos e Elevador Lacerda normalmente mais figurativos que qualquer outra coisa.

Outra impressão que fica é que em mais um ponto alto do filme, o texto, narrado por Quincas (como não li a obra, adaptação não é análise pra mim), é mais visual que sonoro. Em que pese aí o incômodo no áudio, esse encaixe de texto com imagem parece funcionar mais pelo que está escrito que pela forma como a combinação audiovisual é feita.

Antes do filme, Machado falou em ciclo fechado, iniciado por Jorge Amado, que acreditou nele, e também finalizado no escritor, uma de suas influências e quem ele agora adapta em distribuição grandiosa. De fato, comparado com Onde a Terra Acaba (2001) e Cidade Baixa (2005), embora estes sejam diametralmente opostos, Quincas Berro D’Água deve ter mais pontos em comum com o primeiro.

Aqui, mais que o caráter cru de Cidade Baixa, temos uma espécie de defesa de um ídolo, de uma referência. Só que se em Onde Terra Acaba ele assumia um caráter de mediador com um bom material (entre arquivos e entrevistas), aqui ele, ao pegar a ficção, não consegue chegar a tanto. Não há mais contemplação alguma, atores geralmente não têm tanto tempo de tela, e tudo parece corrido; sendo a epiléptica câmera na mão em corrida o melhor exemplo do que existe de pior na falta de esmero que se transforma em hipotética defesa de um tipo de cinema contemporâneo.

Talvez o material seja mais Globo Filmes que Jorge Amado, ainda que o final nos leve a crer que não, mas até o caráter supostamente desbocado do filme parece domesticado. Lógico que muito dessa análise, óbvia e infelizmente, é afetada pela não certeza do quão ruim é ou apenas estava o som. No fim, pensei: se eu, que sou baiano, tive tanto problema, imagine o resto?! Filme precisa de revisão.

Visto, em pré-estreia, no Teatro Castro Alves – Salvador, abril de 2010.

Quincas Berro D’Água (idem – Brasil, 2010)

Direção: Sérgio Machado

Elenco: Paulo José, Mariana Ximenes, Vladmir Brichta, Marieta Severo, Walderez de Barros

Duração: 102 minutos

Projeção: 2.35:1

*”Tão bom quanto o áudio, acredite, estava a sintonia entre cérebro e olhos. Confundi Luís Miranda, que de afto apresentou o filme, com Hélio de la Peña, que não faço ideia de onde estava no dia. Já falei mais de uma vez, não acreditem no que escrevo. (Valeu, Helena!)”

8mm

Brincadeira de birutas

É uma pena Lissi no Reino dos Birutas (Lissi und der wilde Kaiser – Alemanha, 2007), animação do comediante-escritor-produtor-diretor-prodígio alemão Michael Herbig (responsável pela maior bilheteria da história da Alemanha), ter lançamento nacional na mesma semana de Alice: tive de repetir três vezes à vendedora que o meu ingresso, na verdade, era para o filme sem A. Não que haja deméritos demais no filme Tim Burton, que nem vi ainda, mas porque, entre os de aparência “infantil”, a tendência monopolizadora é ir para o lado hollywoodiano – e muitos deixarem de ver essa ótima opção para o gênero da animação via comédia.

Apesar da acessibilidade incompleta para a maioria [trata-se de paródia a Sissi (1955), filme austríaco de Ernst Marichka com Romy Schneider e também com o trinômio império-Baviera-arrogância], ele não é exatamente anti-Hollywood. Afinal de contas, não dá para taxar assim um filme com referências que vão da própria Alice a Kink Kong, passando por Titanic e O Pecado Mora ao Lado.

Por outro lado, Lissi é um belo exemplo de narrativa com humor sutil e crítico; só que com toques do politicamente incorreto, o que é cada vez mais difícil de ver em produções com amplo alcance em Hollywood. Ainda que seu melhor talvez esteja, de fato, no que pode ser tirado de situações estapafúrdias.

Herbig consegue, por exemplo, fazer um diálogo entre o abominável homem das neves e o diabo; desenha um rei decadente com aparência roquenrol, em crise existencialista, para conversar (sem resposta) com Deus; sacaneia, várias vezes, a parte doentia de tudo estar à venda; e ainda consegue, no século XIX, enxertar a importância toque do celular (!). Mentes ordinárias não chegam a tanto.

Por mais que a maioria das críticas carregue uma dose até maior de ingenuidade (e pouco de forte como crítica de fato) e por mais que ele não tenha vergonha de abrir concessões (que vão do pastelão destoante – mas que prende as crianças – ao final hiper-adocicado), Lissi… não deixa de ser um exemplo de uma animação (e um tipo de comédia) com algo de genuíno. Pouco lembra o oásis de criatividade que é a Pixar, flerta com o que existe de não exatamente louvável na comédia-romântica genérica americana, mas consegue trazer um resultado que tem algo ligado ao local e a quem o fez.

Filmes da semana

1. Estranhos no Paraíso (1984), de Jim Jarmusch (DVDRip) (***)

2. Jovens, Loucos e Rebeldes (1993), de Richard Linklater (DVDRip) (***)

3. O Encouraçado Potemkin (1925), de Sergei Eisenstein (DVDRip) (hc)

4. Onde a Terra Acaba (2001), de Sérgio Machado (DVDRip) (***1/2)

5. Ela Matou em Êxtase (1971), de Jess Franco (sala Alexandre Robatto – DVD) (**)

6. Lissi no Reino dos Birutas (2007), de Michael Herbig (Multiplex Iguatemi) (***)

7. À Meia-Luz (1944), de George Cukor (DVDRip) (***)

8. Quincas Berro D’Água (2010), de Sérgio Machado (Teatro Castro Alves – Pré-estreia) (**)

Top-10 abril:

10. A Caixa (2009), de Richard Kelly (Multiplex Iguatemi) (***)

9. Lissi no Reino dos Birutas (2007), de Michael Herbig (Multiplex Iguatemi) (***)

8. Le Dernier Jour (2004), de Rodolphe Marconi (DVDRip) (***)

7. Onde a Terra Acaba (2001), de Sérgio Machado (DVDRip) (***1/2)

6. Crimes e Pecados (1989), de Woody Allen (DVDRip) (***1/2)

5. Macbeth (1948 – 114minutos), de Orson Welles (DVDRip) (***1/2)

4. O Filho da Noiva (2001), de Juan José Campanella (DVD) (***1/2)

3. Comédias e Provérbios: Pauline na Praia (1983), de Eric Rohmer (DVDRip) (****)

2. Antes do Pôr-do-Sol (2004), de Richard Linklater (DVDRip) (****1/2)

1. Noite Americana (1973), de François Truffaut (DVD) (****1/2)

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Leandro Afonso é comunicólogo, blogueiro e diretor do documentário “Do goleiro ao ponta esquerda”.

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Leandro Afonso | www.ohomemsemnome.blogspot.com

Que eu tenha visto, o melhor resumo do maior porém de O Segredo dos Seus Olhos (El Secreto de sus Ojos – 2009, Argentina/ Espanha), de Juan José Campanella, foi feito por Filipe Furtado. Na comunidade do Cinemascópio no Orkut, ele disse que “a história policial ocupa 70% do filme, a história de amor horrivel ocupa 70% das preocupações do Campanella”. Mas, verdade seja dita, não acho nem a história de amor nem o filme (tão) ruins quanto ele.

Por mais que o diretor (do ótimo O Filho da Noiva e do meio fraco Clube da Lua) invista tanto no que há de menos convincente (o romance), temos um ótimo roteiro, ótimas atuações (exceção feita à não exatamente expressiva Soledad Villamil) e uma direção relativamente firme. Enquanto filme policial, ele segue um inevitável esquema, mas traz ainda algo de genuíno, com um gênero essencialmente americano com pitadas de um certo jeito de ser platino. Já o plano-sequência no estádio de fato é vaidoso, e parece filmado para chamar mais atenção para si do que para ajudar no ritmo do filme, mas é incrível não só sua engenhosidade, como tudo que Campanella reúne em uma única cena.

Nela, ele junta a paixão pelo futebol (daquele povo no estádio), pelo filmar (por mais narcisista que seja, só um apaixonado pelo ato pensa em plano tão megalômano) e por uma causa, a busca pelo assassino Nesse momento, ele é feliz nos três pontos. E embora apenas aí ele comulgue, numa mesma cena, o sucesso da trinca, em outras ele faz com que pelo menos um elemento delas funcione.

Como exemplos mais claros temos a discussão no bar que os leva ao estádio, a cena em que a advogada Irene (Villamil) percebe que o assassino é de fato o culpado (e o que ela faz), o momento em que ela pensa erroneamente que Benjamín (Darín excelente, como sempre) flerta com ela, e a descoberta do paradeiro do assassino.

Por mais que o filme tenha os seus poréns escancarados, ele também consegue reunir elementos a princípio – e que de fato se mostram algo – incompatíveis (o romance com pretensões eternas e melodramáticas dentro de um filme policial) para chegar a um todo cuja eficácia é mais estranha que infeliz. E se o resultado está longe de ser brilhante, por outro lado é tão oscilatório dentro de um caráter pré-determinado (claramente comercial) que não dá pra chamar de medíocre.

Visto no Cine Vivo – Salvador, abril de 2010.

O Segredo dos seus Olhos (El Secreto de sus Ojos – 2009, Argentina/ Espanha)

Direção: Juan José Campanella

Elenco: Ricardo Darín, Soledad Villamil, Pablo Rago, Javier Godino

Duração: 127 minutos

Projeção: 2:1

8mm

Tempo

Vi As Melhores Coisas do Mundo na antevéspera de O Segredo de Seus Olhos. Um teve cinco, o outro teve sete dias para digestão. E embora a cotação de ambos tenha sido a mesma a princípio, filme de Campanella parece agradar (bem) mais ao se pensar nele.

Griffith

Em alguns filmes não vou usar o sistema de estrelinhas. Isso porque, como no caso de um D.W. Griffith [e praticamente tudo dele, embora aqui fale especificamente de seu Lírio Partido (1919)], existe tanta coisa por trás dele e do filme que soaria injusto colocá-lo no mesmo nível dos outros – é hors concours.

A propósito, o que são as imagens do sorriso?!

Filmes da semana

  1. Rashômon (1950), de Akira Kurosawa (DVDRip) (***)
  2. 2. O Segredo de seus Olhos (2009), de Juan José Campanella (Cine Vivo) (***)
  3. Macbeth (1948 – 114minutos), de Orson Welles (DVDRip) (***1/2)
  4. Lírio Partido (1919), de D.W. Griffith (DVDRip) (hc)
  5. Antes do Pôr-do-Sol (2004), de Richard Linklater (DVDRip) (****1/2)
  6. 6. O Cavalheiro do Telhado e a Dama das Sombras (1995), de Jean-Paul Rappeneau (Walter da Silveira) (**)
  7. 7. A Moça com a Pistola (1968), de Mario Monicelli (Walter da Silveira – DVD) (**1/2)
  8. Identificação de Uma Mulher (1982), de Michelangelo Antonioni (DVDRip) (**1/2)

Curta:

  1. Noite de Sexta Manhã de Sábado (2006), de Kleber Mendonça Filho (Vimeo) (****)

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Leandro Afonso é comunicólogo, blogueiro e diretor do documentário “Do goleiro ao ponta esquerda”.

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Informa o Radar que “na sua semana de estreia, O Livro de Eli foi o filme mais visto do Brasil entre sexta-feira e ontem com 211 588 espectadores. Bateu Ilha do Medo, primeira do ranking na semana passada, que teve público de 149 037. Outra estreia do fim de semana, Um Sonho Possível, também alcançou bons números. Ficou em terceiro lugar com 137 898 espectadores”.

Os três filmes são comentados por Leandro Afonso, que assina a coluna 70 mm, no Pimenta. Confira clicando aqui.

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Leandro Afonso | www.ohomemsemnome.blogspot.com

Um Sonho Possível (The Blind Side – EUA, 2009), como tantos outros, é um filme constrangedor eclipsado por uma história bonita – ou vice-versa, a depender de seu ponto de vista. E ainda que tenha seus momentos, é difícil imaginá-lo como algo além de “aquilo que levou Sandra Bullock ao Oscar”.

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O filme é adapatado e dirigido por John Lee Hancock, homem de esportes (Desafio do Destino) e de drama histórico (O Alamo), ambos baseados em fatos reais. Em Um Sonho Possível, ele parece renovar por vários anos o seu contrato com professores de história e defensores da auto-ajuda; com o importante adendo de que o contrato ecoa muito mais forte que o cinema.

A história é de Michael Oher (Quinton Aaron, de tão repetitivo, mais irritante que expressivo), jovem obeso, negro, pobre e sem família, que só consegue vencer na vida depois de ser adotado por uma abastada família branca. O filme tem lá suas boas ideias e pontos interessantes, mas o curioso é que o melhor dele talvez seja o fato de não falar de um quarterback, e sim de um left-tackle, uma posição (assim como a outra, sem correspondência exata no “nosso” futebol) pouco visível e nada vistosa para leigos no futebol-americano.

Logicamente, algo está errado se o maior mérito do filme está na sua sinopse, e não na sua execução. E o que mais soa equivocado em Um Sonho Possível é a obsessão de ele trazer para si um peso que nunca sustenta. Caso a tristeza e a agonia, que estão lá, fossem exibidas em CNTP, o resultado seria menos redundante, mais palpável e próximo de uma situação verdadeiramente real. A dor e circunstâncias já são tão inimagináveis para a maioria que não havia a necessidade de se passar tanto o marcador de texto. Machuca os olhos.

Quando chega em seu final, como acontece com o começo, Hancock volta a convocar o caráter esportivo e oficial, em tom que lembra muito 2 Filhos de Francisco – A História de Zezé di Camargo e Luciano (2005), de Breno Silveira. O senão é que no caso brasileiro o problema maior é a brusca mudança de tom (de um razoável melodrama a um embaraçoso institucional pretensamente intimista), enquanto que, aqui, o “real” não “intervém”, e sim completa da maneira mais preguiçosa possível. O que contribuiu para a vitória do caráter podre de oficial que Hancock parece tanto buscar. Bem maior que sua vontade em (e, provavelmente, de seu talento para) fazer cinema.

Ps: Curiosamente, Sandra Bullock é a melhor coisa do filme – e ainda que exista o óbvio demérito dele, existe também o mérito dela. Mais do que nunca, ela e o diretor parecem cientes não só das suas limitações, como também de como ela (depois de se conter e/ou de esforçar muito pouco em quase tudo que fez) pode funcionar através de seu carisma e de seu contido esforço em trazer algum humor para a cena. Por outro lado, também acho que contribuiu o contraste, a expectativa criada depois de vermos a loirice e a aparência inicial tão fútil e imbecil para uma atriz que, há tempos, não era mais levada a sério.

Visto, em cabine de imprensa, no Multiplex Iguatemi – março de 2010

Um Sonho Possível (The Blind Side – EUA, 2009)

Direção: John Lee Hancock

Elenco: Sandra Bullock, Tim McGraw, Quinton Aaron, Jae Head, Lily Collins

Duração: 129 minutos

Projeção: 1.85:1

8mm

Sem Teto, Nem Lei (1985)

Quando o assunto é o movimento hippie e seus ideais, começamos geralmente do irregular (mas relevante) Easy Rider – Sem Destino (1969), passamos pela excepcional adaptação de Hair (1979), de Milos Forman, e, infelizmente, chegamos a Ang Lee se lambusando com o fraco Aconteceu em Woodstock (2009). Independente da qualidade, a maior parte deles tendem a um olhar lúdico, de prazer sem ônus, ou, no máximo, de um enfoque na beleza da melancolia. Em Sem Teto, Nem Lei (1985), contudo, a belga Agnès Varda mostra a vida de uma francesa, a quem somos apresentados já morta e que, vamos assistindo, levou às últimas consequências seu modo de vida que, sem casa, vivia entre, e debatia sobre, a extrema liberdade e a extrema solidão. Apesar de alguma redundância talvez potencializadora, mas também maçante, temos um retratro cru (e cruel), com honestidade reforçada não só pela forma como tudo é mostrado, como também pela atuação de Sandrine Bonnaire. Quase obrigatório.

O Livro de Eli (2010)

O Livro de Eli (2010) pode ser resumido como uma versão, além de pouco feliz, catequizadora de 451 Fahrenheit (1966) de Truffaut. Mas se o filme do ex-Cahier é um de seus mais fracos, pelo menos carregava uma límpida paixão pelos livros. O Livro de Eli, por sua vez, se resume a dois ou três planos-sequências (ou que passam a ilusão de o serem), sem nada além da pura técnica ou da estilização, que não convencem. Nem a inerente paixão pelo tema se faz presente de verdade.

Filmes da semana:

1.    Boleiros – Era uma vez o Futebol… (1998), de Ugo Giorgetti (DVDRip) (**1/2)
2.    Os Esquecidos (1950), de Luis Buñuel (DVDRip) (**1/2)
3.    Not Quite Hollywood: The Wild, Untold Story of Ozploitation (2008), de Mark Hartley (DVDRip) (***)
4.    Sem Teto, Nem Lei (1985), de Agnès Varda (sala Walter da Silveira) (***1/2)
5.    Um Sonho Possível (2009), de John Lee Hancock (Multiplex Iguatemi – Cabine de imprensa) (**)
6.    O Livro de Eli (2010), dos irmãos Hughes (Cinemark – Cabine de Imprensa) (**1/2)
7.    Bons Costumes (2008), de Stephan Eliott (Cine Vivo) (***)

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Leandro Afonso é comunicólogo, blogueiro e diretor do documentário “Do goleiro ao ponta esquerda”

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Leandro Afonso | www.ohomemsemnome.blogspot.com

Desde a apresentação do logo da Paramount em Ilha do Medo (Shutter Island – EUA, 2010), embora flerte com o clichê, a soturna trilha sonora se distancia o suficiente do óbvio para trazer uma convincente agonia que parece não ter fim. E apesar do roteiro ser tão pouco crível (a ponto de nem se encaixar com a certa dose de exagero proposta), Ilha do Medo é também, enquanto combinação de som e imagem, um dos resultados mais potentes obtidos por Scorsese nos últimos anos – ainda que essa mesma potência termine por escancarar os contras do filme.

A paranoia – e praticamente tudo ligado a ela, o que não é pouca coisa – é sentida por Teddy Daniels (Di Caprio soberbo), detetive cujo passado tem o hábito de atormentá-lo, desde a passagem pela guerra a problemas familiares. Essas sequências são mostradas em cenas com expressividade e (em alguns casos) estilização que se juntam a uma leveza para a criação de uma violenta empatia com o atormentado Daniels. Obcecado por questões obscuras não só no seu passado como na inóspita, hostil e aterrorizante ilha-manicômio onde se encontra, ele mergulha cada vez mais em um mundo cheio de perguntas sem resposta.

O porém é quando essas perguntas, e outras que não eram feitas, ganham resposta – não li o livro e não sabia da reviravolta. É inevitável lembrar de detalhes e momentos marcantes do filme que, quando colocados juntos à sua mudança de rumo, fazem essa virada tão surpreendente quanto tola. Assim como boa parte da penúltima cena, que investe um bom tempo em uma explicação – quase tão irritante quanto detalhada – do que aconteceu. O fim da tensão aflitiva é a queda de um precipício de qualidade, é o término do que o filme tem de excelente.

É natural pensar que muito do que incomoda em Ilha do Medo vem justamente do poder de Scorsese em potencializar esse contraste. O brilhantismo na construção da atmosfera ressalta o esquematismo e a confusão do (mesmo assim interessante) roteiro. O que se nos deixa a sensação de ainda estarmos diante de um mestre (há algum tempo) no apogeu de seus domínios, também nos deixa a certeza de que ele já escolheu – ou escreveu – filmes mais bem resolvidos.

Visto em cabine de imprensa no Multiplex Iguatemi– Salvador, março de 2010.

Ilha do Medo (Shutter Island – EUA, 2010)

Direção: Martin Scorsese

Elenco: Leonardo Di Caprio,Mark Ruffalo, Bem Kingsley, Max Von Sydow, Michelle Williams, Emilly Mortimer

Duração: 1388min

Projeção: 2.35:1

8mm

Mãe – A busca pela verdade

Em Mãe – A busca pela verdade (Madeo – Coréia do Sul, 2009), de Joon-ho Bong, tudo é bem calculado, o mistério é cuidadosamente mantido, e o final é algo surpreendente. Sua mecânica, contudo, varia entre o completo domínio do meio e do público (é provável que em mais de uma vez você acredite estar certo quando não está), e uma necessidade – que me incomodou – de justificar a inserção de cada mínimo detalhe, de se assumir milimetricamente dominador e excessivo, pela potencialização da reviravolta. O que ele já tinha sido em O Hospedeiro (2006), é verdade, mas (talvez pelo fato de se tratar de um filme de gênero), o “deixar claro que tenho o controle”, pelo menos ali, parecia fluir mais naturalmente. Ainda assim, também como em O Hospedeiro, estamos diante de um entretenimento de altíssimo nível. Agora com um filme cujo gênero é menor que a mensagem. Aqui, ele faz uma defesa da cegueira do amor – e do viver bem isso. Bonito.

Filmes da semana:

1. O Medo do Goleiro diante do Pênalti (1972), de Wim Wenders (VHSRip) (**1/2)

2. Separações (2002), de Domingos de Oliveira (DVDRip) (***)

3. Mãe – A Busca Pela Verdade (2009), de Joon-ho Bong (Cinema da Ufba) (***1/2)

4. A Faca na Água (1962), de Roman Polanski (DVDRip) (***)

5. Intriga Internacional (1959), de Alfred Hitchcock (DVDRip) (****)

6. Ilha do Medo (2010), de Martin Scorsese (Cabine de imprensa – Multiplex Iguatemi) (****)

7. A Câmara da Morte (2007), de Alfred Lot (DVDRip) (**1/2)

8. Onde Vivem os Monstros (2009), de Spike Jonze (Cinema do Museu) (***)

9. Quanto Dura o Amor (2009), de Roberto Moreira (Cinemark) (***1/2)

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Leandro Afonso é comunicólogo, blogueiro e diretor do documentário “Do goleiro ao ponta esquerda”

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Cinéfilos que aguardaram a sessão das 18h40min do Starplex Cinemas, para assistir ao filme Idas e Vindas do Amor, sofreu. Foram tantos os problemas na projeção que os pagantes bateram em retirada.

Abandonaram a sala e seguiram para a bilheteria do cinema para exigir o dinheiro de volta. Relatos assim são constantes e várias comunidades foram criadas no Orkut com críticas à qualidade do Starplex.

As duas salas de projeção, aliás, vão sumir. O projeto de expansão do Jequitibá Plaza Shopping prevê a extinção do cinema.

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Leandro Afonso | www.ohomemsemnome.blogspot.com

Ah… o Amor!, a cretina tradução para Ex (2009 – Itália/ França, 2009), de Fausto Brizzi (roteirista tarimbado, terceiro longa), é o tipo de título constrangedor que, passados os primeiros dois minutos do filme, tende a te levar a todo tipo de previsão apocalíptica para as próximas duas horas. Todavia, apesar dessa aura negativa fazer questão de ter sua voz amplifica logo de cara, o resto da projeção se mostra como uma deliciosa comédia de costumes (mas não só), que, embora tente, não consegue ser estragada nem pelos dez minutos finais – proibidos para diabéticos.

A história é basicamente sobre vários casais que, passados seis anos, vêm suas situações assaz diferentes. Além de tola, a apresentação é funcional, e a elipse subseqüente é didática. Feita essa introdução, Fausto Brizzi deixa claro que o norte será menos o cinema do que a comédia – sem que, para isso, a narrativa audiovisual (o meio para se chegar ao resultado) tenha de ser ofendida.

O maior investimento desse humor, ao invés do tradicional pastelão que tanto caracteriza parte do bom cinema italiano, está principalmente no texto. Graças a uma cuidadosa escrita, Brizzi, que trabalha com uma humanização (vez ou outra, todos fazem alguma besteira) otimista (todos ficam juntos e/ou felizes com suas condições) de todos os seus personagens, consegue encaixes surreais que criam toda uma atmosfera própria. De Caravaggio a Nani Moretti, passando por situações absurdas (aceitáveis dentro desse mundo criado), tudo transborda uma anedota, uma vontade de rir, ou de fazer rir (ainda que da própria miséria) – sem apelar tanto para o chulo ou para a obviedade constrangedora.

Não é que Ah… o Amor! seja um filme sem defeitos, longe disso. A trilha sonora, que tem até The Calling (nada mais infanto-juvenvil sem gosto e identidade), é o que mais deixa a incômoda sensação de uma vontade desmedida de ter que abraçar o mundo inteiro; se assumindo, sem vergonha alguma, como um produto tipo exportação – o que pode levar a um curioso diálogo com Nine (2009). Se o filme de Rob Marshall resume um clássico do cinema italiano (8½ de Fellini), e parte da própria Itália apaixonante, ao mercado didático americano, Ah… o Amor! se mostra como um italiano colonizador (vemos muito da Itália linda e lindamente acessível – de se ver), mas também colonizado – das músicas genéricas americanas ao gênero abraçado.

De qualquer jeito, o filme de Brizzi está longe de ser um poço de preguiça ou de alienação (embora limpidamente burguês), e consegue também funcionar como sátira que alfineta, entre outras, a Igreja católica. E mesmo que ele se lambuze todo no final (deveras arrastado), esse problema é menos exclusivo de Brizzi que da fidelidade ao gênero. Gênero esse que, geneticamente ligado à continuidade da indústria, estaria próximo do ideal (ainda que, obviamente, relativo) se fosse sempre assim.

Visto no Cine Vivo – Salvador, fevereiro de 2010.

Ah… o Amor! (Ex – Itália/ França, 2009)

Direção: Fausto Brizzi

Elenco: Alessandro Gassman, Fabio De Luigi, Claudia Gerini, Cristiana Capotondi, Cécile Cassel, Flavio Insina, Gianmarco Tognazzi

Duração: 120 minutos

Projeção: 2.35:1

8mm

Filmes da semana:

  1. Quem Bate à Minha Porta (1967), de Martin Scorsese (DVDRip) (***1/2)
  2. Ah… o Amor! (2009), de Fausto Brizzi (Cine Vivo) (***1/2)
  3. Luz de Inverno (1962), de Ingmar Bergman (DVD) (**1/2)
  4. Quando Explode a Vingança (1971), de Sergio Leone (DVD) (**1/2)
  5. Sweeney Todd (2007), de Tim Burton (DVD) (***)
  6. Inimigos Públicos (2009), de Michael Mann (DVD) (****)
  7. Glauber o Filme, Labirinto do Brasil (2003), de Silvio Tendler (DVD) (***)
  8. O Piano (1993), de Jane Campion (DVD) (***)

Top-10 de fevereiro:

10. O que Resta do Tempo (2009), de Elia Suleiman (***)

9. Guerra ao Terror (2009), de Kathryn Bigelow (***)

8. O Raio Verde (1986), de Eric Rohmer (***1/2)

7. Baile Perfumado (1997), de Paulo Caldas e Lírio Ferreira (***1/2)

6. Quem Bate à Minha Porta (1967), de Martin Scorsese (***1/2)

5. O Sabor da Melancia (2005), de Tsai Ming-Liang (***1/2)

4. Estrada Perdida (1997), de David Lynch (***1/2)

3. Ah… o Amor! (2009), de Fausto Brizzi (***1/2)

2. Inimigos Públicos (2009), de Michael Mann (****)

1. Persona (1966), de Ingmar Bergman (DVD) (*****)

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Leandro Afonso é comunicólogo, blogueiro e diretor do documentário “Do goleiro ao ponta esquerda”

Tempo de leitura: 3 minutos

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É difícil defender, e até falar sobre, O Lobisomem (The Wolfman – Reino Unido/ EUA, 2010), de Joe Johnston (de Jumanji, Jurassic Park 3). O filme é a picaretagem travestida de homenagem, a preguiça disfarçada de tradição; em suma, é uma bobagem que só envergonha quem entrou nele.

A princípio, o filme é uma refilmagem do clássico de George Waggner, de 1941. No entanto, com base nas impressões deixadas, poderia ser descrito como qualquer blockbuster que envolva ação e aventura (à la Michael Bay): nada vai além do barulho, do sublinhar o já perceptível, do tesão em causar dor de cabeça, da vontade de explorar rostos e corpos potencialmente mais ligados à bilheteria que ao encaixe com o papel.

Um momento forte, por exemplo, mostra um homem que, após cair de certa altura, é esmagado por uma cerca. Imagem idêntica, embora com cena diferente, temos no norueguês O Homem que Incomoda (2006), de Jens Lien. Mas a diferença entre ambos, como o óbvio estereotipado pode sugerir, não está numa frieza nórdica diante de um jeito hollywoodiano de filmar ação. A diferença é que um diz o que quer dizer – o que já é um mérito – e diz do seu jeito. O outro não tem o quê nem sabe como dizer.

Pode-se afirmar que a reconstrução de época da Inglaterra é fiel, mas também é inegável que o caráter escuro-sombrio-úmido flerta menos com um classicismo (e domínio) do gênero de terror do que com um recurso fácil para deixar o espectador confuso.

Só a ideia – que temos aqui – de resumir um filme de terror a algum sangue (calculadamente corajoso), cenas violentas (às vezes mal filmadas) e sustos a base de “bus” e “tuns”, já dá uma tristeza absurda, mas, infelizmente, não é só isso o que O Lobisomem consegue. Ajudado pela maioria esmagadora dos filmes do gênero que chegam sem dó e sem talento às telas dos maiores cinemas, uma fatia igualmente marcante do público acha que um bom filme de terror se aproxima disso. E apesar da ideia de o demérito ser coletivo confortar os ligados ao filme, ela não vale para quem gosta do gênero.

O Lobisomem (The Wolfman – Reino Unido/ EUA, 2010)

Direção: Joe Johnston

Elenco: Emily Blunt, Simon Merrels, Gemma Whelan, Benicio Del Toro, Anthony Hopkins

Duração: 102 minutos

Projeção: 1.85:1

8mm

Walter da Silveira

Pela primeira vez tive contato direto e mais abrangente com textos de Walter da Silveira – organizados por José Umberto Dias –, reunidos no livro O Eterno e o efêmero (Oiti Editora). E não deixa de ser curioso vê-lo, em 1958, num texto sobre Kubrick, falar tantas vezes em “autor”.

Filmes da semana:

  1. Amarcord (1973), de Federico Fellini (DVDRip) (***)
  2. 2. O Lobisomem (2010), de Joe Johnston (Multiplex Iguatemi) (*1/2)
  3. O Raio Verde (1986), de Eric Rohmer (DVDRip) (***1/2)
  4. As Aventuras de Robin Hood (1938), de Michael Curtiz e William Keighley (DVDRip) (**1/2)

Curtas:

  1. Perto de Qualquer Lugar (2007), de Mariana Bastos (Porta Curtas) (**)

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Tempo de leitura: 4 minutos

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Um Olhar do Paraíso (The Lovely Bones – EUA/ Inglaterra/ Nova Zelândia, 2009), de Peter Jackson (trilogia do Senhor dos Anéis, King Kong), é um dos poucos casos em que um orçamento gigantesco se combina com um perceptível algo a dizer. E ainda que esse algo a dizer seja uma mistura desequilibrada entre prosa e poesia (de qualidades discutíveis), existem momentos que a combinação de ambas apresenta características pessoais e um certo domínio de linguagem – e isso é sempre bom.

Susie Salmon (Saoirse Ronan, expressiva) é uma adolescente assassinada aos 14 anos e que, do céu, assiste a tudo que acontece com quem ela se relacionou, os seus lovely bones – os “ossos amáveis”, numa tradução literal e pouco sonora. Nesse assistir, ela oscila entre o comentar impotente e a narração reflexiva e influente. Como em Crepúsculo dos Deuses (1950), essa narração é feita por alguém que já morreu, mas o uso do artifício do clássico de Billy Wilder, sem contar o fato de o filme se passar na década de 70, não é o único ponto que nos remete ao passado.

Peter Jackson consegue o absurdo de fazer uma criança, no além, escolher para si o nome de Holly Golightly – a Bonequinha de Luxo (1961) encarnada por Audrey Hepburn em uma das personagens mais encantadoramente fúteis do cinema. De Hitchcock ele parece buscar a inspiração para desenhar um vilão convincente e que, graças à montagem paralela e perseguição agonizante próxima ao fim, faz o espectador sofrer um bocado dentro (e talvez se esconder) da cena – num ponto alto do domínio estilístico.

Não dá para dizer, contudo, que Um Olhar do Paraíso é um filme vintage ou um balaio de referências. Peter Jackson abusa de enquadramentos que vao de clássicos planos em 35mm à subjetiva do porão de uma casa em miniatura (!) – filmada, como outras tomadas, por uma câmera digital. De quebra, ele ainda se utiliza de um visual agraciado não só pelo orçamento generoso mas também pelos efeitos possíveis – em escala e precisão – somente nos dias de hoje.

A cena que mescla os barcos em miniatura com os vistos pela filha, as “aparições” e as sensações dela, que vão das amargas mãos atadas ao maravilhoso da intervenção divina, são pontos altos do filme no seu caráter mais poético. Poesia essa que, fabulária como vem, contribui para uma coerente visão ultra-otimista da justiça (que “tarda, mas não falha”) e da felicidade pessoal – também pós-vida terrena. O que se por um lado é ingênuo (já que mostra uma certeza de uma ordem superior, certeza essa que nenhum humano vivo pode ter), é também carinhoso o suficiente para deixar a voz do moralismo menor que a da fábula e do cinema fantástico.

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Visto, em cabine de imprensa, no Multiplex Iguatemi – Salvador, fevereiro de 2010.

Um Olhar do Paraíso (The Lovely Bones – EUA/ Inglaterra/ Nova Zelândia, 2009)

Direção: Peter Jackson

Elenco: Mark Wahlberg, Saoirse Ronan, Rachel Weisz, Stanley Tucci

Duração: 135min

Projeção: 2.35:1

8mm

Invictus

Invictus (2009), de Clint Eastwood, passa basicamente duas impressões contraditórias. A primeira é de que Clint (não sei chamá-lo de Eastwood, perdão) há tempos não dá uma escorregada tão feia, e a segunda de que, apesar dos deslizes irreconhecíveis (cenas parecem realmente mal filmadas), existe ali alguém capaz de, apesar do material predominantemente simplório, trazer algo de bom – um toque de classe. Como na cena de abertura.

Todavia, é bom lembrar que em outros filmes dele (como Gran Torino e Menina de Ouro, para se restringir somente a essa década), tem-se não a suspeita, mas a certeza quase absoluta de que ninguém mais faria melhor com o que tinha em mãos. O que não parece ser o caso aqui. Infelizmente.

Cabines

Eu falei que, a princípio, não participaria mais de cabines de imprensa – e fui pra uma três dias depois. Ou seja – o que vocês já deveriam saber: não peguem nada do que escrevo como verdade definitiva. Por favor.

Filmes da semana:

  1. 1. Guerra ao Terror (2009), de Kathryn Bigelow (Multiplex Iguatemi) (***)
  2. 2. Invictus (2009), de Clint Eastwood (Cinemark) (**1/2)
  3. Sweet Sixteen (2002), de Ken Loach (DVDRip) (**1/2)
  4. Sexy Beast (2000), de Jonathan Glazer (DVDRip) (***)
  5. 5. Preciosa (2009), de Lee Daniels (Cabine de imprensa – Multiplex Iguatemi) (*1/2)
  6. 6. Um Olhar do Paraíso (2009), de Peter Jackson (Cabine de imprensa – Multiplex Iguatemi) (***)
  7. Baile Perfumado (1997), de Paulo Caldas e Lírio Ferreira (VHSRip) (***1/2)
  8. Persona (1966), de Ingmar Bergman (DVD) (*****)
  9. 9. O que Resta do Tempo (2009), de Elia Suleiman (Pré-estreia – Cine Vivo) (***)
  10. Estrada Perdida (1997), de David Lynch (DVDRip) (***1/2)

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Leandro Afonso é comunicólogo, blogueiro e diretor do documentário “Do goleiro ao ponta esquerda”

Tempo de leitura: 3 minutos

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Vício Frenético (Bad Lieutenant: Port of Call – New Orleans – EUA, 2009), não é uma simples refilmagem, assim como está longe de ser um dos filmes que mais carrega a assinatura de Werner Herzog. O que não quer dizer que a primeira afirmação seja carregada apenas de mérito e a segunda de demérito. Quer dizer sim que aí talvez resida justamente o ponto mais saliente do filme: ele é uma mistura de características teoricamente a favor com outras a princípio contra e que, juntas, chegam a um resultado heterogêneo e anômalo.

A cena de abertura, por exemplo, pode ser vista de basicamente duas maneiras distintas – cada uma com sua razão. Uma delas diz que a atitude altruísta não condiz com Terence McDonagh (Nicolas Cage, com qualidades e defeitos aproveitados), alguém cuja mistura de hedonismo e egoísmo é tão explosiva quanto límpida. A outra avalia sua atitude como uma forma de Herzog (e o roteirista William F. Finkelstein) mostrar como esse heroísmo não passa de um desvio momentâneo de alguém com uma personalidade tão desequilibrada como afetada pelas drogas.

Esse mostrar, todavia, não é explícito nem imediato. Somente com o passar do tempo é que percebemos como a aparente redundância do roteiro – com droga a toda cena – é, na verdade, uma ferramenta que demonstra toda a complexidade daquele mundo (e especialmente daquele personagem) corrompido de e por pessoas corrompidas.

O abordar esse mundo nos remete ao desfecho da versão original (spoiler), com o assassinato de Harvey Keitel. Pela pessoa, pelo tema e pela conterraneidade do diretor, era inevitável a lembrança de Martin Scorsese e o começo de seu Caminhos Perigosos (1973): “Você não paga seus pecados na Igreja, você os paga nas ruas”. No Vício Frenético de Ferrara, o tenente era punido pelo. No Vício Frenético de Herzog, vemos basicamente a mesma cena do fim, na rua, praticamente o mesmo plano, mas a morte não vem. O que vem é, além de (mais) um diálogo carregado de um nonsense de aparência calculada, outra promoção e homenagem que (como a do começo, embora não com a mesma intensidade), traz uma boa dose de ironia.

Nesse final, como especialmente nas cenas alucinógenas, Herzog bate o seu pé – (guardadas as devidas propoções) as maluquices de Klaus Kinski transpostas para Nicolas Cage, as alucinações são do jeito dele, e ele não tem que (ou não quer) punir ninguém pelo comportamento nada ortodoxo. Do que ele sempre soube tratar. Com o adendo de que, travestido de diretor de aluguel (o que de fato não deixa de ser aqui), tem seu feito ainda mais potencializado.

Visto no Multiplex Iguatemi – Salvador, janeiro de 2010.

Vício Frenético (Bad Lieutenant: Port of Call – New Orleans – EUA, 2009)

Direção: Werner Herzog

Elenco: Nicolas Cage, Eva Mendes, Val Kilmer.

Duração: 122 min

Projeção: 1.85:1

8mm

Acabou

Assim como as sessões à tarde durante a semana, acabaram-se as cabines de imprensa pra mim – ainda que seja por uma boa causa. Ou seja, no more textos escritos antes das estreias nacionais.

Mendes

Depois de Os Donos da Noite (2007) e Vício Frenético (2009), Eva Mendes foi perdoada por todas as besteiras que fez antes deles.

Filmes da semana:

  1. Um Convidado Bem Trapalhão (1968), de Blake Edwards (Telecine Cult) (**1/2)
  2. O Sabor da Melancia (2005), de Tsai Ming-Liang (DVDRip) (***1/2)
  3. Todas as Mulheres Fazem (1992), de Tinto Brass (DVDRip) (**1/2)
  4. 4. Procurando Elly (2009), de Asghar Farhadi (Cinema da Ufba) (***)

Curtas

1. Thriller (1983), de John Landis (DVD) (****)

Melhores filmes de janeiro (não incluem os dessa semana):

10. Caminhos Perigosos (1973), de Martin Scorsese (***)

9. Rosetta (1999), de Jean-Pierre e Luc Dardenne (***1/2)

8. O Pecado Mora ao Lado (1955), de Billy Wilder (***1/2)

7. Manhattan (1979), de Woody Allen (***1/2)

6. Amor à Queima-Roupa (1993), de Tony Scott (****)

5. A Aventura (1960), de Michelangelo Antonioni (****)

4. Casablanca (1942), de Michael Curtiz (****)

3. Uma Garota Dividida em Dois (2007), de Claude Chabrol (****)

2. Vício Frenético (2009), de Werner Herzog (****)

1. Lola (1981), de Rainer Werner Fassbinder (****1/2)

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Leandro Afonso é comunicólogo, blogueiro e diretor do documentário “Do goleiro ao ponta esquerda”

Tempo de leitura: 3 minutos

70-mm

Final 3

Leandro Afonso | www.ohomemsemnome.blogspot.com

Muito tem se falado, com justiça, de Anna Muylaert e seu É Proibido Fumar (2009). Acessível à maioria sem apelar para imbecilização, ele é uma exceção simples e possível dentro das crônicas urbanas do cinema brasileiro atual. Assim como também é o primeiro filme de Muylaert: Durval Discos (idem – Brasil, 2002).

A história se passa em 1995, quando a defesa do vinil como mercado (independente do som) ainda não soa anacrônica. A resistência da loja que dá nome ao filme acompanha a trajetória de Durval (Ary França), envolvido em uma situação cujo desfecho tende a ser tudo, menos simples.

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O roteiro de Muylaert parece ser tão interessante quanto difícil de fazê-lo palpável. Suas amarras por vezes têm a perfeita ligação do extraordinário com o banal, como a surpresa informada pela TV e que leva ao principal conflito do filme, mas em outras nem tanto – dando a impressão de que foram feitas por um fio menos convincente que necessário para a história acontecer.

Na primeira parte, as atuações parecem estar todas uma nota acima do tom, e embora exista aí uma sintonia, esse exagero quase teatral e que flerta com cômico não se encaixa tão bem com o rumo tomado pelo filme. Na segunda parte, quando um certo desespero casa com esse tom, o maior porém talvez seja uma reviravolta cuja morte envolvida parece difícil de engolir num pensamento mais racional. Por outro lado, como ser 100% racional numa situação tão inimaginável, e sem o devido tempo para se pensar?

O desfecho do filme traz uma melancolia que vai muito além, por exemplo, do fim dos discos de vinil como indústria – não soando apenas como a nostalgia pela nostalgia. É uma aflição que envolve a perda da inocência, e traz uma sensação de egoísmo compreensível e inerente ao ser humano, ainda que um ente deveras querido seja prejudicado – o que não é fácil de se dizer, mas Muylaert consegue. Nesse momento, antes de optar por um didatismo talvez desnecessário (e que ela evitou em É Proibido Fumar), ela tem delicadeza suficiente para deixar a tragédia ser completada pela cabeça de um. Ainda que mostre sinais de alguém que ainda pode evoluir (e o fez), também mostra a beleza de uma angústia que incomoda.
Durval Discos (idem – Brasil, 2002)

Direção: Anna Muylaert

Elenco: Ary França, Etty Fraser, Isabela Guasco, Marisa Orth

Duração: 93 minutos

Projeção: 2.35:1
Filme visto em DVDRip – Salvador, janeiro de 2010.

8mm

O Ouro do Globo

Não vi o Globo de Ouro (ô saudade da TV a Cabo…) mas, não tendo visto alguns filmes, odiei – Avatar e Se Beber, Não Case? Embora, por outro lado, depois do ano da maior crise econômica mundial em décadas, nada mais americano do que premiar filmes que, antes de qualquer outra coisa, ficaram marcados pelo retorno financeiro.

Filmes da semana:

1. Durval Discos (2002), de Anna Muylaert (DVDRip) (***)

2. Cartola – Música para os Olhos (2007), de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda (DVDRip) (***)

3. Um Namorado para minha Esposa (2008), de Juan Taratuto (**1/2) (Cine Vivo)

4. Não, Minha Filha, Você Não Irá Dançar (2009), de Christophe Honoré (***) (Cinema da Ufba)

5. A Teta Assustada (2009), de Claudio Llosa (Cinemark) (**1/2)

6. Amor sem Escalas (2009), de Jason Reitman (Multiplex Iguatemi – cabine de imprensa) (**1/2)

7. O Franco Atirador (1978), de Michael Cimino (DVDRip) (**1/2)

Curtas:

1. A Padeira do Bairro (1963), de Eric Rohmer (DVDRip) (***)

2. O Encontro (2002), de Marcos Jorge (Porta Curtas) (**)

3. Vinil Verde (2004), de Kleber Mendonça Filho (Porta Curtas) (***)

4. Noite de Sexta, Manhã de Sábado (2007), de Kleber Mendonça Filho (Porta Curtas) (****)

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Leandro Afonso é comunicólogo, blogueiro e diretor do documentário “Do goleiro ao ponta esquerda”

Tempo de leitura: 3 minutos

70-mm

uma e meia

Leandro Afonso | www.ohomemsemnome.blogspot.com

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Em seus dois primeiros longas – Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes (1998) e Snatch – Porcos e Diamantes (2000) –, Guy Ritchie conseguiu despertar alguma curiosidade como alguém com um diferencial dentro da explosão de adeptos da geração MTV. Mais de dez anos depois, contudo, ele consegue a incrível e infeliz façanha de, reiterando e – teoricamente aprimorando – algumas de suas características como diretor, fazer provavelmente o seu pior filme: Sherlock Holmes (idem – EUA, 2008).

Em todo o tempo, Guy Ritchie dá indícios de que não acredita em ninguém. Robert Downey Jr., com um carisma sem igual para personagens excêntricos e enigmáticos (como Holmes), nunca tem tempo de tela suficiente; as gags do roteiro são tão apressadas que, se comparadas aos geralmente picotados sitcom’s da atualidade, fazem estes últimos parecerem arrastados filmes mudos; e as sacadas de Holmes, de tão explicitadas, se transformam em simples explicações, que conseguem o feito de ser didáticas (por explicar tim-tim por tim-tim) e, ao mesmo tempo, confusas – pela rapidez e pelo fato de aparecerem a todo momento.

Como se não bastasse a mania de explicar e acelerar tudo, temos uma história que funciona bem até ligada no piloto automático sem, aqui, o que de melhor é inerente a ela – o mistério e o poder da sugestão. Guy Ritchie satisfaz aquele que quer dizer que Holmes é inteligente (mesmo que não faça ideia do que está vendo), mas não o outro que prefere perceber por si só essa inteligência.

Com 42 anos ainda incompletos, Guy Ritchie é um exemplo de cineasta jovem e já preso ao passado de sua formação – ou pelo menos a que chega na tela. Com seus recursos fáceis e os vícios cada vez mais específicos de sua época que de sua pessoa, ele consegue deixar sua marca cada vez mais forte: a de uma cineasta eternamente “jovem” – e bobo.

Ps: Terminada a cabine de imprensa, as duas pessoas com quem falei sobre o filme estavam bem felizes com o que viram. Até que tentei (embora não muito), mas não consegui entender.

Sherlock Holmes (idem – EUA, 2009)

Direção: Guy Ritchie

Elenco: Robert Downey Jr., Jude Law, Rachel McAdams

Duração: 128 minutos

Projeção: 1.85:1

8mm

LOLA

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Ainda me faltam ver coisas de Rainer Werner Fassbinder – afinal de contas, são mais de 40 filmes em 16 anos de carreira –, mas é provável que poucas voltem a deixar as marcas de Lola. Da abertura, com os cabelos da dita cuja em paralelo com um diálogo baseado em raciocínio sobre poesia e tristeza, até o sarcástico final; passando pela cena em que Lola parece dançar possuída depois de ser vista por quem não podia, num plano sequência que dá a impressão de ser filmado e atuado por seres (com talento) sem paralelo entre os terráqueos. Maravilha de filme.

Sem luz

Primeiro veio Viver a Vida, agora Tempos Modernos; antes Godard, depois Chaplin. Qual será a próxima heresia em nomes de novela da Globo? O Iluminado? Soberba? Kubrick e Orson Welles já se reviram…

Filmes da semana:

  1. Sweeney Todd: o Barbeiro Canibal (2006), de Dave Moore (**)
  2. Lola (1981), de Rainer Werner Fassbinder (****1/2)
  3. Casablanca (1942), de Michael Curtiz (****)
  4. Código Desconhecido (2000), de Michael Haneke (***)
  5. Deserto Vermelho (1964), de MichelangeloAntonioni (**1/2)
  6. Caminhos Perigosos (1973), de Martin Scorsese (***)

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Leandro Afonso é comunicólogo, blogueiro e diretor do documentário “Do goleiro ao ponta esquerda”

Tempo de leitura: < 1 minuto

Depois de assistir ao filme “Lula, o Filho do Brasil” no cinema do Shopping Jequitibá/Itabuna (lotado), o cidadão resolveu fazer umas comprinhas no Hiper Bompreço.

Encarando uma espera interminável para chegar ao caixa, comentou com bom humor:

-Gastei mais tempo na fila do Bom Preço do que assistindo o filho do Brasil.

E olha que o filme tem quase duas horas de duração!

Como diria Lulinha, ô fila da p…

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