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Quem assistiu, gostou. Mas o filme Lula, o filho do Brasil não encontrou eco por estas plagas. A média é de 70 pessoas, por sessão, no Starplex Cinemas, em Itabuna. Não chega a um terço dos ingressos disponíveis para cada sala de exibição.

Talvez seja reflexo do feriadão de Ano Novo. Ou não.

(Um amigo deste blog diria que essa baixa audiência da película é reflexo da pequena insatisfação dos cinéfilos com o majestoso Starplex).

Tempo de leitura: < 1 minuto

Milagres acontecem? Bom, pelo menos em Itabuna, sim. O filme Lula, o filho do Brasil já está rodando no Starplex Cinemas (Jequitibá Plaza Shopping, às 18h40min e 21h). E por que o milagre? Dificilmente o Starplex participa das estreias nacionais.

Muitas vezes, a empresa mineira responsável pelas salas de cinema roda filme com atraso de uma a duas semanas em relação às grandes salas. Alguns dizem que essa estratégia é utilizada geralmente por empresas em dificuldades, pois as películas adquiridas fora do período de estreia nacional ficam, digamos, mais em conta. Abaixo, trailer do filme-endeusamento do presidente brasileiro de maior popularidade que se tem notícia.

Tempo de leitura: 4 minutos

O PODER DA OBSERVAÇÃO

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Cópia de estrelinhas BR

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A pré-estreia em Salvador de No Meu Lugar (idem – Brasil/ Portugal, 2009), do carioca e também crítico Eduardo Valente, é um expoente dos casos em que o debate pós-sessão consegue ser tão ou mais interessante do que o filme – sem que, para isso, o demérito da obra seja maior que o mérito da discussão.

O enfoque do filme está em três famílias de classes sociais diferentes, interligadas por uma tragédia. Baseado aí, as lembranças imediatas vão de Alejandro González Iñárritu (Babel, Amores Brutos) a Robert Altman (Short Cuts – Cenas da Vida, Nashville). Mas o filme de Valente, caro ao cinema brasileiro como forma de abordar a representação do ser humano e da violência, chama mais atenção pela sua abordagem do que pela sua forma de narrativa.

A resolução da primeira cena, por exemplo, deixa uma sensação de falta de coragem (ou competência) para Valente mostrar sua (in)capacidade de encenador em um momento de tensão. Terminado o filme, contudo, a certeza é de que a recusa do início não só se justifica como potencializa o efeito da obra. Ao deixar sua câmera – e a plateia, consequentemente – alheia ao que acontece, Valente demonstra que o como aquilo acontece é menos importante do que como e o que cada um viveu até chegar ali. A impressão, depois de digerida, é semelhante à do acidente no final de O Desprezo (1963), de Jean-Luc Godard, onde o resultado é muito mais importante do que o diretor mostrar sua capacidade de saber decupar e cortar uma cena de ação.

Aqui, Valente filma o dia-a-dia de seres humanos de carne e osso, sem que precise transformar os momentos ordinários da existência em um romance épico. Ele sabe que falar do viver, aliado ao conviver com outras classes, é uma tarefa cuja profundidade é significativa o suficiente para tornar a própria observação espinhosa. E essa observação – que a princípio pode parecer apática –, se por um lado é focada basicamente em acontecimentos banais (e que algumas vezes são demasiado genéricos), por outro é filmada com uma riqueza de detalhes que transforma essa trivialidade de ações em algo notável, cuja unicidade é trazida – ou reforçada – pelos pormenores. De uma certa tensão sexual, existente em mais de uma das famílias, à resolução (ou falta dela), muita coisa fica sem resposta ou obscura; mas não por negligência ou prolixidade desnecessária – e sim por se admitir a complexidade do que trata.

Esse mostrar o caminho sem ter que finalizá-lo numa linha de chegada talvez seja exatamente o ponto mais positivo de No Meu Lugar. Um filme que trata e se passa no Rio de Janeiro, de um carioca que lá viveu praticamente seus 34 anos de vida, e que fala de uma região e de um bairro que conhece (Laranjeiras) – sem que esse universo se torne excessivamente fechado ou, no outro extremo, recheado de recursos fáceis proporcionados por tudo a que o Rio se liga.

Diferente de um Cidade de Deus e sua aparência de documento oficial-estilizado, e de Tropa de Elite e sua resolução simplória (ainda que sejam filmes interessantes), No Meu Lugar é mais contido por não querer responder e/ou documentar/estilizar em busca de uma auto-importância que ele não necessariamente tem. E, talvez justamente por isso, é mais contundente na sua força como possibilidade de um cinema ligado a política (ainda que o enfoque seja maior no ser humano do que em uma suposta ideologia – o que não é nenhum demérito) sem soar irresponsável e/ou constrangedoramente panfletário. O que Valente faz, no fim das contas, é simplesmente dar ouvidos (e vida) aos personagens e voz a um tipo de cinema – cuja coerência com o naturalismo apresentado é dos maiores altos do cinema brasileiro recente.

Filme:            No Meu Lugar (idem – Brasil/ Portugal, 2009)

Direção:         Eduardo Valente

Elenco:          Marcio Vito, Dedina Bernardelli, Luciana Bezerra

Duração:       113 minutos

8mm

Debate

Poderia (e gostaria de) falar muito mais do debate, mas o tempo é escasso. Ainda assim, bom dizer que o Valente, apesar de um cara com um incrível tesão pela fala, sabe ouvir e respeitar a opinião alheia – e inclusive admitiu que a trilha sonora principal, considerado ponto negativo por um dos espectadores, já havia sido considerada um revés do filme por outras pessoas (o que ele não precisava dizer).

Bom lembrar ainda o fato de a Vídeo Filmes ser uma das produtoras do filme. Video Filmes, de Walter Salles que – junto com seu irmão João Moreira Salles – já havia sido criticado pelo Valente crítico, o que não impediu o diretor de Central do Brasil perceber o potencial do roteiro do filme. É ótimo perceber não só a generosidade (palavra usada pelo próprio Valente) como a maturidade de Salles para separar as coisas. Por incrível (ou não) que possa parecer, a postura de Salles não é regra.

Rápido

Ah, e embora o www.imdb.com diga que o filme tenha 113 minutos (única minutagem disponível lá é a da França), a que assisti, acho, tinha menos – salvo engano, o Valente falou em 90 minutos.

Filmes da semana:

  1. 1. No Meu Lugar (2009), de Eduardo Valente (cinema – pré-estreia) (***1/2)
  2. 2. Herbert de Perto (2009), de Robert Berliner e Pedro Bronz (cinema) (***)
  3. 3. Delicatessen (1991), de Marc Caro e Jean-Pierre Jeunet (cinema) (**1/2)
  4. Ladrão de Casaca (1955), de Alfred Hitchcock (***1/2)
  5. 5. Enquanto o Sol Não Vem (2008), de Agnès Jaoui (**) (cinema)

Top 10 de outubro:

10. Amantes (2008), de James Gray (***1/2)

9. O Homem que Incomoda (2006), de Jens Lien (***1/2)

8. A Primeira Noite de Tranquilidade (1971), de Valerio Zurlini (***1/2)

7. Ladrão de Casaca (1955), de Alfred Hitchcock (***1/2)

6. No Meu Lugar (2009), de Eduardo Valente (***1/2)

5. Por um Punhado de Dólares (1964), de Sergio Leone (***1/2)

4. Por uns Dólares a Mais (1965), de Sergio Leone (***1/2)

3. Vicky Cristina Barcelona (2006), de Woody Allen (***1/2)

2. Um Filme Falado (2003), de Manoel de Oliveira (***1/2)

1. Bastardos Inglórios (2009), de Quentin Tarantino (****)

Leandro Afonso é comunicólogo, blogueiro e diretor do documentário “Do goleiro ao ponta esquerda”

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70-mm

final 4

IngloriousBasterds_2_Set2009

Antes de um filme de guerra, comédia e drama – ao mesmo tempo –, Bastardos Inglórios (Inglorious Basterds – EUA/ Alemanha, 2009) é, talvez muito mais do que todos os outros, um filme de Quentin Tarantino. O que não quer dizer exatamente que o resultado não passe de uma repetição de maneirismos em defesa de uma satisfatória e segura egotrip, mas sim que, embora exista em Tarantino um ego gigantesco (e já característico), este parece tão grande quanto a vontade de, enquanto se diverte, testar mais do que nunca seu próprio talento enquanto cineasta.

A primeira cena de Bastardos Inglórios é a mais longa numa abertura dele, mais lento e contido desde a linda apresentação de créditos. A não menos bela – e educadamente tensa – conversa entre o Coronel Hans Landa (Christoph Waltz – extraterrenamente sensacional) e Perrier LaPadite (Denis Menochet – muito bom) remete ao diálogo entre Christopher Walken e Dennis Hopper no ótimo Amor à Queima-Roupa (1993) – roteiro que ele (infelizmente) vendeu para Tony Scott –, com o adendo de aqui Tarantino se arriscar mais; pela duração, pela não interferência de personagens, e por dirigir, logicamente. Numa cena em que duas pessoas conversam durante 20 minutos, é bonito perceber a plateia em silêncio hipnótico por tanto tempo sem que, para isso, a câmera tenha de dar piruetas. QT, completamente hábil em prender a atenção do público na base da escrita e em cuidadosa decupagem, se mostra um puritano do tripé, da steady cam e de gruas – nada de câmera na mão chamando atenção para os seus próprios tremeliques.

Esse mesmo puritanismo – nada novo, mas aqui elevado a enésima potência – Tarantino demonstra no que diz respeito ao cinema como ele vê. E este cinema é película – com direito a uma quase ojeriza pelo digital – e, bem diferente da maioria de Hollywood, respeito à língua e admiração pelo cinema de outros países. O que, convenhamos, é assaz coerente com alguém cuja maior influência é de diretores italianos (de Sergio Leone a Mario Bava) e cuja produtora leva o nome de um filme francês – Bande à Part, de Jean-Luc Godard.

O mesmo respeito, todavia, não é visto no que diz respeito à história – o que não é necessariamente um defeito, e o que vejo como justamente um dos maiores trunfos aqui. Não existem apenas inúmeros filmes sobre a segunda guerra, mas sim incontáveis obras marcantes e estudiosas do tema. No entanto, nenhum filme (que eu me lembre) teve a audácia de se revelar tão (re)escritor da história já conhecida – e reconhecida. E, mais do que uma afronta, essa reconfiguração histórica funciona como um deleite impossível fora do cinema.

Vingança é o pano de fundo, a lembrança de Kill Bill é várias inevitável, mas a descarga é catártica, e chega a remeter, embora de maneira bem rápida e diferente, a Vá e Veja (1985), de Elem Klimov, filme diametralmente oposto sobre (o horror bielorusso n)a mesma segunda-guerra. O diálogo com a obra-prima soviética, porém, não vai além disso, já que o que Tarantino faz é entretenimento – de onde menos se espera. É curiosa sua construção caricata (em harmonia com o espírito do filme) e por vezes lindamente infantil dos próprios conterrâneos, especialmente de Aldo Raine (Brad Pitt – não apenas hilário), natural do Tennesse, como o próprio QT. Tarantino é absurdamente hollywoodiano no seu fim (entretenimento), mas seu êxito maior é conseguir chegar a esse fim com um tom cinéfilo e zombeteiro; comprometido acima de tudo com o cinema dele – aqui mais do que nos seus outros filmes.

Esse seu tom autoral é visto inclusive no momento em que ele parece pecar por ir onde nunca foi anteriormente, ao tornar a trilha, antes (ou além) de um reforço de estilo, um potencializador de sentimento; trazendo uma aparência surpreendentemente genérica. Abruptos cortes secos (e de atmosfera) dão a certeza de que ele não quer ser piegas, mas não a de que consegue o equilíbrio entre moderação e sensibilidade sem que, para isso, se desvirtue de um filme tão absolutamente estilizado (e num mundo diferente) até ali. Talvez, e aí vai um talvez em caixa alta, seja o próprio Tarantino (re)conhecendo um (enfim) auto-limite: “ei, isso não encaixou tão bem quanto poderia, não sou tão bom aqui quanto no resto”.

A prova de que esse talvez merece ser relativizado vem no final. Quem já leu algo do que Tarantino falou sobre Bastardos Inglórios sabe o que ele acha do filme, e – depois das mais de duas horas completamente apaixonadas – assistir a Brad Pitt dizer o que diz é imaginar as palavras saindo das mãos hiper-ativas de QT, falando em primeira e última instância de si (um tipo de personificação de um cinema) para o mundo – lembranças de Truffaut e Os Incompreendidos e Almodóvar e Má Educação foram imediatas. Com essa última frase, tudo que disse (sobre) e tudo que manifesta em Bastardos Inglórios, Tarantino nos dá a impressão de que, se não atingiu seu limite de talento – se é que isso é possível –, ele realmente fez aqui o filme que resume sua obra. Filme esse que, não por acaso, é uma ode não ao passado histórico, mas à infinita potencialidade cinematográfica de se fazer a própria história.

Numa situação hipotética, se fosse fazer um filme sobre a alarmante diminuição de água potável no mundo, Tarantino, muito provavelmente, enfocaria mesmo (o fim d)a película cinematográfica. Do que ele entende, pelo que ele se interessa, e o que ele ama o suficiente para escolher como protagonista de seus filmes mais ambiciosos – de Bastardos Inglórios à sua vida. É difícil que exista hoje, vivo, algum cineasta com tamanha combinação de audácia, talento e uma espécie de divertimento com o estado eternamente enamorado pelo próprio cinema.

P.s. 1: Ainda não sei precisar o quanto minha precária situação física influenciou no absorver do filme, mas – obviamente – irrelevante ela não foi. Muito dos Bastardos, de bom ou não, pode ter evaporado antes de ser digerido. Ou foi mal digerido…

P. s. 2: Texto escrito sem assistir ao À Prova de Morte (2007), o filme anterior de Tarantino lançado há mais de dois anos em Cannes e ainda inacreditavelmente inédito (comercialmente falando) no Brasil. A última previsão da Europa Filmes – a que tive acesso – falava em dezembro. Espero, mas não garanto.

Filme:            Bastardos Inglórios (Inglorious Basterds – EUA/Alemanha, 2009)

Direção:         Quentin Tarantino

Elenco:          Brad Pitt, Mélanie Laurent, Christoph Waltz, Eli Roth

Duração:       153 minutos

8mm

Mais Itália

E Tarantino, deixando claro que os Western Spaghetti (para ele) não se resumem a Leone-Morricone, ainda nos dá o prazer de assistir a Shosanna (Mélanie Laurent – excelente) ao som da trilha de O Dólar Furado (1965), de Giorgio Ferroni. Ah, Itália..

Sem amantes

Um filme como Amantes (2008), de James Gray e com elenco de gente da popularidade do naipe de Gwyneth Paltrow e Joaquim Phoenix, numa quinta-feira às 16h20min, em Salvador. Ou seja, uma sessão deveras acessível. Pois bem, decorridos cinco minutos de projeção, eu era o único na sala – que viu os créditos finais subirem com o dobro do público.

Filmes da semana:

  1. 1. Bastardos Inglórios (2009), de Quentin Tarantino (cinema) (****)
  2. 2. Besouro (2009), de João Daniel Tikhomiroff (cinema – pré-estreia) (**)
  3. 3. Amantes (2008), de James Gray (cinema) (***1/2)

Leandro Afonso é comunicólogo, blogueiro e diretor do documentário “Do goleiro ao ponta esquerda”

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Ainda surfando no anúncio dos Jogos Olímpicos Rio 2016 e nos sinais de retomada do crescimento econômico, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prepara-se para colecionar mais dividendos políticos, dessa vez nas telas do cinema e em pleno ano eleitoral, quando todos os esforços estarão voltados para eleger a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, sua sucessora.

Lula, o Filho do Brasil, cinebiografia sobre o petista, será lançado em 1º de janeiro de 2010 com uma estratégia de distribuição que tem como objetivo torná-lo um dos maiores lançamentos do cinema nacional, desde a retomada da produção cinematográfica do País, em 1995.

Para isso, a produção recorrerá a tradicionais bases de sustentação política de Lula, como sindicatos, e a regiões onde ele tem alta popularidade, como no Nordeste. Um universo de 10 milhões de pessoas sindicalizadas poderá comprar ingressos a preços populares para assistir ao filme, que pretende chegar aos rincões do País em 2010.

A estreia será feita em mais de 400 salas, sendo que 88 delas não fazem parte do circuito convencional. O objetivo é levar o filme para públicos populares, fora do mercado consumidor tradicional.

Reveja o trailer do filme:

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70-mm

Final 2,5

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Se a média geral de qualidade dos blockbusters é baixa, menor ainda é a média dos filmes de horror que chega à maioria de multiplexes e derivados. Assim, quando qualquer coisa tem, além de um mínimo de respeito ao espectador, relances de domínio sobre as especificidades de gênero (para dribá-las ou para usá-las), ela pode dar a impressão de ser mais do que é. E um exemplo de filme que me passou exatamente essa sensação foi A Órfã (Orphan – EUA/ Canadá/ Alemanha/ França, 2009), de Jaume Collet-Serra (do A Casa de Cera de 2005).

A apresentação à história é eficiente ao mostrar, além de um sangue que marca, o suposto parto de um bebê “nati-morto” que parece filho do demônio, tornando inevitável a lembrança de O Bebê de Rosemary (1968); onde, é bom diferenciar, o investimento maior era na sugestão, menos no horror do no terror. Aqui, no entanto, quase tudo parece sugado, como referência ou cópia disfarçada, de A Profecia (1976), de Richard Donner. O porém é que, se no caso anterior a questão era uma coisa ligada a uma certa para-normalidade não didaticamente convencível, o mistério aqui persiste até ser revelado palavra por palavra antes do final. Não há espaço para o (que pode ser charmoso e funcional) incompreensível.

Embora não tenha a mesma proposta de Pânico (1996), por exemplo, A Órfã trabalha com várias referências (apesar de em menor quantidade e tom diferente do filme de Wes Craven), mas não consegue fazer com que o filme funcione como uma coisa só. Se por um lado detalhes – ou bem mais – remetem imediatamente a clássicos, e se a princípio assistimos a uma versão interessante do já (bem) feito e filmado, por outro presenciamos o finalizar do filme com uma citação a O Chamado 2 (2005).

Esse percurso, que alguns podem (não sem razão) dizer que se foi do luxo ao lixo, não significa tornar necessariamente o resultado ruim. Mas passa a sensação de que A Órfã usa a voz de outros de maneira decepcionante. Ao invés de estudá-las para se tentar emitir um som treinado e bem referenciado (uma primeira impressão otimista), ela dialoga com elas para alcançar um timbre final apenas afinado – parece faltar talento natural para se ir além.

A personagem “diabólica”, os sustos, um possível humor, a construção do ambiente, da atmosfera, do medo, de possíveis cenas indeléveis, tudo isso não chega a ser mau feito ou constrangedor, mas não vai além do bem executado. Se for para avaliá-lo fora do gênero, ele tende a pecar já que as concessões tendem a se tornar menos indulgentes no que diz respeito à complexidade de personagens; o drama parece pré-programado a ponto de termos de voltar a vê-lo como um filme de terror para buscar alguma relevância nele. Que tem momentos inspirados, é verdade, mas que se tornam pequenos quando pensamos, também, em equivalentes (de ideia ou imagem-som) nas fontes das quais ele bebe.

Filme: A Órfã (Orphan – EUA/ Canadá/ Alemanha/ França, 2009)

Direção: Jaume Collet-Serra

Elenco: Vera Farmiga, Peter Sarsgaard, Isabelle Fuhrman

Duração: 123 minutos

8mm

Inglório

Outra vez de mudança e com tempo naturalmente escasso, o texto dessa semana chega com antecedência. O que vem na contra-mão da ideia inicial, que seria atrasá-lo para poder rabiscar as primeiras sensações após a sessão de Bastardos Inglórios (2009) – de Quentin Tarantino. A sessão não muda – se tudo der certo, verei sim no sábado (17) aqui em Salvador –, mas o texto sobre ele fica pra semana que vem.

Filmes da semana:

1. Antoine e Colette (1962), de François Truffaut (curta) (***1/2)

2. Na Natureza Selvagem (2007), de Sean Penn (**1/2)

3. A Órfã (2009), de Jaume Collet-Serra (**1/2) (cinema)

4. Por um Punhado de Dólares (1964), de Sergio Leone (***1/2)

5. Por uns Dólares a Mais (1965), de Sergio Leone (***1/2)

Leandro Afonso é comunicólogo, blogueiro e diretor do documentário “Do goleiro ao ponta esquerda”

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70-mm

Final 3,5

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Ter argumentos para criticar o estado atual das coisas só não é mais fácil do que cair em uma irritante vala de lugares-comuns na tentativa de fazê-lo. Geralmente, trata-se de repetir discursos e choros, de ser duplamente preguiçoso: primeiro ao abusar de clichês, depois ao nada fazer para ir além deles. Dito isto, é bom assistir a um (ganhador do prêmio ACID – Agência para Difusão do Cinema Independente – em Cannes) O Homem que Incomoda (Den Brysomme Mannen – Noruega/ Islândia, 2006), de Jens Lien, curioso caso de alguém com um jeito realmente especial de falar do viver contemporâneo; ainda que (ou também por isso) a realidade seja muito específica – a norueguesa.

O filme de Lien traz pouca empatia, tem relações (imagino que propositadamente) superficiais e mais um bocado de coisas que imediatamente ligamos à contemporaneidade, capitalismo, egoísmo e todo essa questão que, de um lado ou de outro, tende ao panfletário. Mas um dos grandes trunfos aqui, talvez o maior deles, está nos momentos de um ritmo mais lento, o que nos leva a uma contemplação que nos faz captar uma cena incômoda sem que ela se torne “inassistível”; a beleza é convocada em inusitadas cenas agonizantes – como a dos trilhos.

Não menos interessante é a ironia que o título carrega ao avaliarmos o personagem principal, alguém à margem da sua sociedade basicamente por ter sentimentos e problemas. Naquele mundo, a imperfeição é uma anomalia, e ele é informado de que, ali, todos são felizes – sendo assim, ele não é bem vindo. E embora esse momento assuma um didatismo que o filme conseguia brilhantemente evitar até ali, ele ajuda a representar bem o desespero que imaginamos – ou nem tanto, dado o que vemos depois – ser sentido por ele.

Quando alcança seu final, O Homem que Incomoda volta a mostrar força ao sugerir frieza e crueldade de maneira sutil, dando a cada um a possibilidade de visualizar (já que ouvimos e sentimos) a aflição alheia – que poderia ser a de muitos de nós. Em meio a uma possibilidade grande de cair em emulações fáceis, é difícil mesclar secura e delicadeza em doses razoáveis e de maneira tão equilibrada.

Filme: O Homem que Incomoda (Den Brysomme Mannen – Noruega/ Islândia, 2006)

Direção: Jens Lien

Elenco: Trond Fausa Aurvaag, Petronella Barker, Per Schaaning, Birgitte Larsen

Duração: 95 minutos

Filmes da semana:

  1. Vicky Cristina Barcelona (2008), de Woody Allen (***1/2)
  2. Roleta Chinesa (1976), de Rainer Werner Fassbinder (***)
  3. A Primeira Noite de Tranqüilidade (1971), de Valerio Zurlini (***1/2)
  4. Nós Que Nos Amávamos Tanto (1974), de Ettore Scola (***)
  5. Dançando no Escuro (2000), de Lars Von Trier (***)
  6. O Homem que Incomoda (2006), de Jens Lien (***1/2)
  7. Um Filme Falado (2003), de Manoel de Oliveira (***1/2)
  8. Faça a Coisa Certa (1989), de Spike Lee (**1/2)
  9. Benjamim (2003), de Monique Gardenberg (**1/2)
  10. Femme Fatale (2002), de Brian de Palma (***)
  11. Sorrisos de uma Noite de Amor (1955), de Ingmar Bergman (***)

Leandro Afonso é comunicólogo, blogueiro e diretor do documentário “Do goleiro ao ponta esquerda”

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O ator norte-americano Patrick Swayze morreu hoje, aos 57 anos, após longa batalha com um câncer de pâncreas diagnosticado pela primeira vez em 2008. Uma porta-voz anunciou que a família estava ao lado dele. O ator se tornou mais conhecido mundialmente como protagonista do filme “Ghost, do outro lado da vida”, de 1990.

“Patrick Swayze nos deixou pacificamente hoje com a família ao seu lado, depois de enfrentar os desafios de sua doença nos últimos 20 meses”, dizia o comunicado divulgado nesta segunda à tarde pela relações públicas do ator, Annett Wolf.

Quando foi diagnosticado o câncer, Swayze continuou trabalhando. Escreveu suas memórias em parceria com a mulher e gravou “The Beast”, série dramática produzida pela A&E para a qual ele havia feito o piloto. Quando foram ao ar nos EUA, no início do ano, os 13 episódios da primeira temporada atraíram respeitáveis 1,3 milhões de espectadores. Mas a emissora decidiu não assinar uma segunda temporada. As informações são do site UOL.

Confira trecho do filme Ghost, do outro lado da vida.

Tempo de leitura: 2 minutos

70-mm

Leandro Afonso | leandroaguimaraes@hotmail.com

três e meia

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Tentar descrever o que fica de Up – Altas Aventuras (Up – EUA, 2009), de Pete Docter (co-direção de Bob Peterson) é cair em potencialmente irritantes frases de auto-ajuda. O que, se por um lado é sintomático ao explicitar a (suposta) superficialidade do filme, também é injusto, pois ele é muito mais que um resumo de preguiçosos e otimistas lugares-comuns.

Up é, e parece feliz com isto, um filme com perguntas e respostas prontas – certas ou não, independente de sua complexidade –, mas seu grande mérito está no desenvolvimento não só de sua potencialidade como de uma certa exclusividade audiovisual. Aqui, o mundo e as coisas são possíveis e palpáveis não (apenas) no cinema, e sim, mais especificamente, na animação.

Terminada a sessão, o sentimento agridoce do viver a vida e passar o tempo é enxugado em uma esperada alegria final recomendada a produtos com público alvo tão grande. O que deixa claro que ele segue medidas seguras, mas de uma empresa autoraWall-E, Procurando Nemo, Ratatouille, Toy Story são também filhos da Pixar. Que, infelizmente, não faz parte da regra importada, de um nível um bem mais baixo – mas, felizmente, fala por bem por ela, como exceção.

Filme: Up – Altas Aventuras (Up – EUA, 2009)

Direção: Pete Docter (co-direção de Bob Peterson)

Elenco (vozes de): Edward Asner, Christopher Plummer, Jordan Nagai.

Duração: 96 minutos

8mm

Gran Torino

Não deixa de ser curioso um filme, à priori, para crianças, falar de velhice. Que, em boa parte do tempo, me lembrou o muito-muito bom Gran Torino (2008), de Clint Eastwood. Mas isto talvez não tenha nada além do óbvio superficial e seja apenas viagem de quem está de mudança e não pensou em nada de muito diferente para colocar aqui…

Filmes da semana:

1. Barfly (1987), de Barbet Schroeder (***1/2)

2. Via Crucis (2008), de Monique Alves (curta) (**1/2)

3. A Ilha dos Prazeres Proibidos (1979), de Carlos Reichenbach (***)

4. Whity (1971), de Rainer Werner Fassbinder (***)

5. A Profecia (1976), de Richard Donner (***)

6. Up – Altas Aventuras (2009), de Pete Docter (co-direção de Bob Peterson) (cinema) (***1/2)

7. Os Amores de uma Loira (1965), de Milos Forman (***)

8. Sobre Meninos e Lobos (2003), de Clint Eastwood (****1/2)

Leandro Afonso é comunicólogo, blogueiro e diretor do documentário “Do goleiro ao ponta esquerda”

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Tempo de leitura: 3 minutos

O DIFERENTE POTENCIALIZADO

70-mm

três e meia

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Eu te Amo, Cara (I Love You, Man – EUA, 2009), de John Hamburg (Quero Ficar com Polly), é o tipo de filme cujo diferencial positivo é potencializado pelo tipo de gênero inserido, e cujos defeitos são esquecíveis quando relativizados. Ou seja, ele é uma interessante anomalia dentro de uma gigantesca massa amorfa, mas também é parte integrante de um grupo de geralmente felizes exceções: as relacionadas a Judd Apatow (Superbad, Ligeiramente Grávidos, O Virgem de 40 anos), influência clara mesmo sem ligação direta com o filme.

Em Eu te Amo, Cara, o humor não é daqueles que busca te amarrar a uma camisa de força enquanto faz cócegas, mas do que se limita a uma discreta sugestão, uma piscadela – até porque a tentativa de ser mais direto é geralmente constrangedora. Aliada a uma espalhafatosa construção de personagens, essa mistura chama a atenção menos pela incompatibilidade do que pelo tom heterogêneo, distinto dentro do modelo de filme a que ele conceitualmente pertence.

No que tange as mulheres, embora elas não passem de fêmeas tolas e chatas, desde o começo já somos informados de que elas só fazem falar e nada dizer de pessoal – além de, no caso específico da “noiva”, ela nem conhecer a banda Rush –, o que pelo menos evita a decepção. Essa quase indiferença com relação ao sexo oposto só reforça um curioso olhar masculino que, se está longe de ser “másculo”, não é puramente gay. É um olhar que, além de fechado e ligado ao mundo do mesmo sexo, é sincero e, o mais importante, com um poder de mostrar um tipo de relacionamento cuja força pode ser sentida. Percebemos a afinidade, a química; acompanhamos a soma, não nos limitamos a ver o resultado.

Essa relação dentro de Eu te Amo, Cara, embora não tão brilhante, pode ser vista como uma hipotética versão de Encontros e Desencontros – de Sofia Coppola – idealizado por Judd Apatow e com um toque gay. Quando sobem os créditos, com um gosto de déjà vu temperado por uma bem vinda ironia, fica claro que a ligação maior é com o segundo. O que, se por um lado “diminui” o filme por sua forma estar próximo a uma fórmula, bom lembrar que, dentro de uma classe mais ampla – do tipo comédia-romântica-exportação-para-Multiplexes –, ele é um bastardo que se sobressai com louvor.

Filme: Eu te Amo, Cara (I Love You, Man – EUA, 2009)

Direção: John Hamburg

Duração: 105 minutos

Elenco: Paul Rudd, Rashilda Jones, Jason Segel, Sarah Burns.

8mm

Absurdo

Sidney Fife (personagem) e Jason Segel (de Ligeiramente Grávidos) são uma das maiores combinações de espontaneidade e carisma num tempo recente do cinemão comercial americano. Ponto.

Halloween

Assistir a Halloween (2007), de Rob Zombie, só potencializou meu desejo de gritar: “deixem o filme quieto”. O adendo é que, se no início a vontade era um pré-conceito baseado na ótima versão original (1978) de John Carpenter, depois ela ganhou coro pelo que fizeram com o coitado do Zombie.

A versão que assistimos não foi editada, e sim decepada – a edição brasileira tem apenas 83 minutos, contra 109 da versão já reeditada nos EUA (a original tinha 121). O “medo” da violência explícita levou a distribuidora a cortar novamente o filme, que tem algumas memoráveis quebras de ritmo – e de nexo. Que os distribuidores podem defender como elipses. É triste.

Seja como for, parece ter sido um castigo: mexeram no que não devia, de alguém que mexeu onde não devia. E embora exista algo de interessante nesse Halloween (alguma tensão, a máscara), ele definitivamente não ficou bom. E, no caso do Brasil, Zombie tem um álibi pra justificá-lo. Uma pena – nos dois casos.

Filmes da semana:

  1. Halloween (2007), de Rob Zombie (cinema)
  2. Born Into This (2003), de John Dullaghan
  3. Nome Próprio (2007), de Murilo Salles
  4. O Pagamento Final (1993), de Brian de Palma
  5. Kafka (1991), de Steven Soderbergh
  6. Eu te Amo, Cara (2009), de John Hamburg
  7. Kill Bill Vol. 1 (2003), de Quentin Tarantino

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O Cineclube Équio Reis apresenta, hoje, na Casa dos Artistas de Ilhéus, a produção nacional Anjos do Sol. O filme conta a história de uma menina de 12 anos que é levada a se prostituir após ser vendida pela família a um recrutador de prostitutas.

Depois de sofrer inúmeros abusos em um prstíbulo na Amazônia e conseguir voltar para o Rio de Janeiro, ela descobre que a prostituição não saiu de sua vida.

A projeção começa às 19 horas, com entrada franca, na Casa dos Artistas.