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Durval Filho - diretor da Biblioteca Afrânio Peixoto - Foto Walmir Rosário (1)Durval Pereira da França Filho

 

Clodoaldo sonhou em escrever um livro a respeito de crítica de arte, principalmente sobre a memória do teatro baiano. Iniciou a pesquisa, mas ficou impossibilitado de dar continuidade em razão das dificuldades decorrentes de um transtorno bipolar que o levou a diversas crises e internamentos, e que foi se agravando ao longo do tempo.

 

Faleceu no dia 18 de julho de 2016, em Salvador, o jornalista e crítico teatral  José Clodoaldo Multari Lobo. Nascido em Canavieiras, em 26 de abril de 1953, era filho de Aurivaldo Lobo (Ten. Lobo) e Joselita Multari Lobo (D. Lalá). Realizou seus estudos fundamentais com a professora Florinda Barbosa (Filuzinha) e o ginasial no Colégio Estadual Osmário Batista, em Canavieiras.

Em 1967 foi para Salvador, onde fez o segundo grau no Colégio Severino Vieira, e logo depois ingressou na Faculdade de Jornalismo da Universidade Federal da Bahia – UFBA, curso que concluiu em 1974, possivelmente.

Seu primeiro emprego foi na Fundação Cultural. Depois, no jornal A Tarde, oficialmente a partir de 1984, e onde permaneceu por um período de 18 anos, na qualidade de crítico cultural, tempo em que atuou também no Correio da Bahia. Em 1997, também foi homenageado através de publicação.

Tempos depois, Clodoaldo sonhou em escrever um livro a respeito de crítica de arte, principalmente sobre a memória do teatro baiano. Iniciou a pesquisa, mas ficou impossibilitado de dar continuidade em razão das dificuldades decorrentes de um transtorno bipolar que o levou a diversas crises e internamentos, e que foi se agravando ao longo do tempo.

Mas a ideia não morreu. O projeto foi levado adiante através dos seus amigos que deram continuidade ao pensamento de Clodoaldo, por meio de suas anotações a partir de 1988. Por seu relevante trabalho de crítica teatral, Clodoaldo foi mais uma vez homenageado em 2012, através do Prêmio Braskem de Teatro e, em 2013, seus textos, publicados no jornal A Tarde, foram recolhidos e organizados no livro Memória de uma Crítica Encantada editado pela Fundação Cultural do Estado da Bahia.

A organização do trabalho foi da jornalista Nadja  Miranda, doutora em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia, com incentivo da Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, através do secretário Professor Doutor. Antônio Albino Canelas Rubim (belmontense) e da Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB), representada por sua diretora Nehle Franke e outros consagrados jornalistas, como Kátia Regina M. Borges, também professora e escritora; Luiz Marfuz, doutor em Artes Cênicas, diretor teatral e professor, e Marcus Gusmão.

O trabalho reúne críticas teatrais, um conteúdo que expressa aspectos da história recente do Teatro da Bahia, com o objetivo de promover a difusão de produções sobre crítica, mais especificamente aquela relacionada às artes baianas. Trata-se de destacada contribuição em favor do debate e do incentivo às questões da área teatral. Assim, o livro cumpre um dos papéis propostos pela série Crítica das Artes: resgatar produções de profissionais notórios, tornando-os referência daquilo que a crítica é capaz de fazer.

O lançamento do livro Memória de uma Crítica Encantada ocorreu em 02 de abril de 2014. A dedicatória que ele fez no meu exemplar está ilegível, porque a doença já havia deixado suas marcas cruéis. Este é o José Clodoaldo Multari Lobo que conhecemos, ou simplesmente Clodoaldo Lobo, considerado o maior jornalista crítico de teatro da Bahia, orgulho canavieirense. Não casou, não gerou filhos biológicos, porque as suas criações foram gestadas no intelecto.

Finalmente, foi vencido pela doença que o incomodou por muitos anos, deixando um vazio no cenário intelectual baiano.

Durval Pereira da França Filho é historiador e membro da Academia de Letras e Artes de Canavieiras (ALAC).