Última Ceia, de Leonardo Da Vinci (1452-1519)
Tempo de leitura: 3 minutos

Se Jesus veio após todos os livros e lições do Antigo Testamento, é porque este tornou-se insuficiente, fazendo-se necessário que a Luz do Cristo brilhasse mais alto.

 

 

 

 

 

Julio Gomes

Chama a atenção um fenômeno cada vez mais recorrente entre pessoas da atualidade, quanto à vivência da religiosidade no âmbito do cristianismo: a substituição, cada vez em maior quantidade, das narrativas diretamente relacionadas a Jesus contidas no Novo Testamento por referências diretas aos textos e passagens que vão do Livro do Gênesis até o Livro de Malaquias, todos do Antigo Testamento.

Essa percepção é fruto de uma convivência religiosa que procura ser o mais livre de preconceitos possível, escutando nas ruas, junto à juventude e às pessoas maduras, nos locais de trabalho, nas atividades esportivas e em família, quando das preces que abrem ou encerram eventos, as orações de pessoas de diversas religiões cristãs: católicos, espíritas e, sobretudo, evangélicos.

A referência ao Antigo Testamento é, sim, bem-vinda, pois o próprio Jesus, pilar e origem do Cristianismo, vem de uma sociedade e família de religião judaica. Fundamentada, portanto, na Torá ou Pentateuco, os cinco primeiros livros do Antigo Testamento, e nos demais livros e tradições que o compõem.

Porém, o que causa estranheza não é a presença de referências à Lei Antiga, mas a ausência, por vezes quase total, de citações, trechos e passagens relacionadas a Jesus, aos atos de seus apóstolos e à expansão da fé cristã após o assassinato de Jesus.

Embora sejam vibrantes e sinceras em suas crenças, dotadas de fervor por vezes admirável, essas pessoas, ao usar a palavra nos momentos de oração, quase nunca se reportam a Jesus senão para abrir a oratória e, por vezes, para fechá-la, mas fixam-se durante sua preleção em Profetas, Reis, Salmos, Êxodo e outras referências do Antigo Testamento, mesmo se considerando inteiramente cristãs.

Ora, por definição lógica e etimológica, cristão é quem segue ao Cristo, a Jesus.

Obviamente que isso não exclui outras influências, atualizações ou reflexões quanto à origem do Cristianismo, mas Jesus tem de ser, obrigatoriamente, o centro, o fulcro, o cerne da doutrinação, dos exemplos e da vivência de cada cristão!

Não ouço referência aos milagres realizados por Jesus. Nem ao perdão que livra da morte, como ocorreu com a mulher flagrada em adultério que seria apedrejada em praça pública. Nem à cura de enfermidades que até a presente data são, muitas delas, simplesmente incuráveis. Também não vejo referência aos questionamentos que Jesus fazia quanto à sociedade e à conduta das pessoas de seu tempo, erros e vícios que quase todos nós continuamos a reproduzir em nossas condutas até hoje.

Não vejo a exaltação do papel social de Jesus, chamando a todos de irmãos em um tempo em que existia escravidão, em que uma pessoa podia ser literalmente dona de outra. Nem constato a exemplificação ou mesmo menção ao relevo, respeito e igualdade em que Jesus colocou as mulheres com relação aos homens, mesmo estando em uma sociedade extremamente machista e misógina, como a judaica de dois mil anos atrás, em que a mulher, na prática, sequer era reconhecida como cidadã.

Necessitamos, desesperadamente e cada vez mais, de Jesus e sua doutrina, de Jesus e sua essência. Para isso, temos de desapegar do Antigo Testamento, sem desmerecê-lo ou desprezá-lo, mas colocando as coisas em seu devido lugar. Se Jesus veio após todos os livros e lições do Antigo Testamento, é porque este tornou-se insuficiente, fazendo-se necessário que a Luz do Cristo brilhasse mais alto. Sejamos, pois, cristãos com o Cristo, pois é Dele que o mundo de hoje precisa!

Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela Uesc.

O comandante Tedesco em sua cadeira de alumínio e titânio
Tempo de leitura: 4 minutos

O que mais me chama a atenção é que esses generosos amigos sabem tudo a meu respeito, como o número do telefone (é claro, não a operadora), o endereço, o tal do CPF, carteira de identidade e até o banco por onde recebo minha parca aposentadoria. Pelo que me lembro, nunca repassei esse tipo de informação, nem mesmo numa boa farra. Mas, para nos ajudar, os verdadeiros amigos fazem de tudo.

Walmir Rosário

Já faz um bom tempo que venho matutando sobre a minha participação nas ditas redes sociais. Esse é um incômodo que vem me atormentando terrivelmente e, às vezes, me sinto devassado, a ponto de não saber mais se sou eu quem me domino ou os chamados amigos e seguidores. Volta e meia acredito que as pessoas sabem mais ao meu respeito do que eu mesmo.

De um certo tempo pra cá passei a ser mais seletivo ao atender ao telefone celular. Não sei como, todo o mundo sabe de cor e salteado o número do meu aparelho e tentam falar comigo. Não sou uma pessoa mal-educada, isso é fato, mas não tenho condições de atendê-los a qualquer hora do dia ou da noite. E o que é pior, atendo amigos que nem sei quem são e como os tornei do meu ciclo de amizades digitais.

Constrange-me viver a dizer não a essa legião de amigos, que entram em contato comigo com a finalidade de me servir. E bem, diga-se de passagem. Oferecem-me de tudo, desde dinheiro emprestado, cartões de crédito com recursos consideráveis liberados para que eu compre até o que não preciso. Sinto-me lisonjeado com a bondade de amigos que nem conheço e a confiança que em mim depositam.

Não raro me oferecem condições especiais para conhecer o mundo inteiro em moderno e maravilhosos transatlânticos, em viagens temáticas onde me sentiria um rei. Por vezes fico balançado em singrar os mares gozando do luxo disponível, mas nem sempre me sinto corajoso a ponto de me tornar um Pedro Álvares Cabral, um Américo Vespúcio, a descobrir terras desconhecidas. Minhas combalidas finanças não aguentam essas aventuras.

Bobagem, me dizem ao telefone. Você terá um prazo de parto de égua para pagar e em módicas prestações. Recebo uma aula das vantagens e do custo-benefício, das mordomias em terra e além-mar, do luxo das cabines, das quase 10 refeições diárias, da festa de gala com o comandante. E sem mais nem menos arrematam, basta apresentar seu cartão de crédito internacional que terá uma banda do mundo à disposição. Mas é aí que a porca torce o rabo.

Há algum tempo descobriram que sou uma pessoa religiosa e a partir de então minha caixa de Correios vive abarrotada. Recebo, regularmente, envelopes com terços, escapulários, fotos de santos, todas devidamente acompanhadas de um boleto com código de barras, onde descubro o preço dos mimos santificados a mim ofertados, desde que repasse uma contrapartida financeira.

O que mais me chama a atenção é que esses generosos amigos sabem tudo a meu respeito, como o número do telefone (é claro, não a operadora), o endereço, o tal do CPF, carteira de identidade e até o banco por onde recebo minha parca aposentadoria. Pelo que me lembro, nunca repassei esse tipo de informação, nem mesmo numa boa farra. Mas, para nos ajudar, os verdadeiros amigos fazem de tudo.

Num passado bem recente cheguei a receber – via e-mail – uma tentadora proposta de um corretor para adquirir uma linda e promissora fazenda no Mato Grosso, na qual poderia desfrutar de todos os prazeres da terra na casa mansão cercada de piscina, bares e churrasqueiras e áreas de esportes, enquanto administrava a propriedade. Aptidões não faltavam para plantar soja, algodão e criar milhares de bovinos. Esse, sim, realmente é um amigo que quer o meu bem.

De vez em quando me pego pensando não ser uma pessoa sociável, pois nada faço para retribuir a amizade e generosidade quem têm para comigo. Sou incapaz de convidá-los para um fim de semana em casa, um almoço ou até uma chegada num bar para desfrutarmos umas cervejas com um belo torresmo mineiro. Juro a mim mesmo que mudarei essa minha personalidade individualíssima.

Mas, confesso a vocês que nas redes sociais nem tudo são flores e já estou organizando uma lista para promover um corte na relação dos amigos de grupos de Whatsapp, que enchem nossa paciência e a memória do celular. Esses, sim, são mais individualistas que eu, pois chegam ao cúmulo de firmar uma série de obrigações e, além de não cumprirem, ainda exijam que eu faça por eles.

Todos os santos dias recebo mensagens e mais mensagens com cartões onde fazem promessas aos seus santos padroeiros e nos ameaçam caso não rezemos a quantidade de Pai Nosso e Ave Maria estipuladas. E é do tipo dá ou desce: se rezar sua conta no banco se encherá de dinheiro, mas, caso despreze as recomendações, todos os malefícios cairão sobre nossa descoberta cabeça. Fazem promessas e querem que eu pague. Porreta!

Prometo que deixarei as redes sociais e me aliarei ao capitão Miguel Fróes, ao comandante de longo curso Tedesco e ao artista plástico Eliomar Tesbita no estudo semanal das ilhas e barras canavieirenses. Singraremos da Barra Velha à Barra do Albino, com paradas para estudos e lazer, sem qualquer compromisso com redes sociais. Falta-me apenas adquirir uma cadeira reforçada como a de Tedesco, feita de alumínio e titânio, para instalar na lancha, um reforçado isopor para as cervejas e zarpar na próxima viagem.

Sem qualquer sinal de internet!

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

Tempo de leitura: 3 minutos

Numa análise aprofundada, o retorno das duas instituições líteras, etílicas e mundanas foi por demais proveitoso, com a aprovação da filiação do debutante Miron à Confraria d’O Berimbau, enquanto aguarda a decisão do Clube dos Rolas Murchas. A próxima assembleia promete assanhar os velhinhos.

Walmir Rosário

Finalmente! Agora, sim, comecei a levar fé que o mundo está voltando a ser o mundo de antes, modificado que foi nestes tempos em que a tal da Covid-19 esfacelou tudo de bom que existia neste Brasil de meu Deus e por aí afora. Uma simples convocação feita pelo whatsapp foi prontamente atendida por boa parte dos membros da Confraria d’O Berimbau e do Clube dos Rolas Cansadas.

É certo que não se tratava de uma simples reunião, mas da comemoração do confrade Antônio Alves (que também atende como Tonhão ou Tonhe Elefoa), o que envolve um substancial prato da mais forte culinária. E desta vez foi servido um lauto mocofato, prato de sustança para os que se reúnem para tratar de coisas bastantes sérias numa mesa de bar, sem horário para o fim do encontro.

Como sempre alguns recalcitrantes teimaram em não aparecer, dando como escusas compromissos assumidos anteriormente, hoje em dia uma desculpa indelicada e não levada a sério. Entre os faltosos, o Almirante Nélson, que amarelou, seguido por Valdemar Broxinha, que agora somente comparece aos encontros caso tenha sido anunciado pelo comunicador Mário Tito pelas ondas da Rádio Sociedade da Bahia e mais uns três.

O aniversário – com os tradicionais parabéns pra você –, na verdade, era apenas um pretexto motivador para a presença dos confrades. Dois temas da maior relevância constavam da pauta: o retorno das reuniões semanais às quintas-feiras (Clube dos Rolas Cansadas), de forma itinerante, e aos sábados, no bar Mac Vita, ambiente aberto e ventilado, longe dos perigos dos vírus que circulam por aí.

Mas nem tudo seguiu conforme o planejado, haja vista o comportamento desajustado dos velhinhos após a ingestão de alguns copos de cerveja, tratando de alguns temas extrapauta. A começar pela data do aniversário, que seria no dia 4 de julho, transferido para o dia 5 por Tonhão, por conta da coincidência da independência americana, ficando longe do capitalismo do Tio Sam.

Já a segunda discussão animou os confrades, pelo pagamento de uma dívida. Calma, eu explico. É que no dia 24 de março de 2018, o conceituado Grupo RM, como se intitula (embora maldosos digam que representa Rolas Murchas) veio a Canavieiras exclusivamente para se encontrar com as coirmãs e estabelecer laços de amizade e troca de informações institucionais.

Em Canavieiras, a representação de alto nível, capitaneada pelo presidente Cal e os membros Zé Leite, o saudoso Gileno Alves, Coronel Jamil e Zé Nílton, isso em veículo próprio conduzidos pelo motorista abstêmio Paulo Taquari. Por aqui fizeram uma tournée pelo centro histórico, praia, Igreja de São Boaventura, Bar Laranjeiras, finalizando na Confraria d’O Berimbau.

Recebidos pelos confrades das duas instituições líteras, etílicas e mundanas, trocaram juras de amizade e juraram solenemente manter contatos recíprocos entre as duas sedes: Ilhéus e Canavieiras. Na sede d’O Berimbau a conversa rolou solta até quase o fim da tarde e sessão de fotos, devidamente acompanhadas das melhores cachaças, cerveja bem gelada e comida de sustança.

Como disse que existe a dívida, conto também os motivos que até hoje o motivo da inadimplência, o que tem deixado alguns confrades avexados. E todas as culpas recaem no planejamento (ou falta dele) da viagem a Ilhéus, por conta de Tyrone Perrucho e Demostinho. Os 110 quilômetros que separam as duas cidades não recomendam viagem dirigindo os próprios carros, por questões de absoluta segurança.

A solução foi contratar uma van ou micro-ônibus para a viagem. Aí foi que apareceram os insolúveis problemas: As vans de sete lugares não comportavam os poucos confrades, já os micro-ônibus eram grande demais para fazer a viagem com tão poucos passageiros. Até nos dispusemos a avaliar a proposta do confrade Tedesco, de que nos deslocássemos a Ilhéus de num barco de pesca, ideia abortada pelos frágeis estômagos dos confrades.

Sem encontrar solução, não conseguimos aportar na Barrakitika, sede dos encontros de sábado do Grupo RM. Para que não seja considerada incompetência, já recorremos ao adjutório do Secretário Plenipotenciário d’O Berimbau, Gilbertão, que virá de Santa Cruz Cabrália para definir o compromisso de tal monta. A viagem urge e pelo emocional dos confrades, desse ano não passa.

Numa análise aprofundada, o retorno das duas instituições líteras, etílicas e mundanas foi por demais proveitoso, com a aprovação da filiação do debutante Miron à Confraria d’O Berimbau, enquanto aguarda a decisão do Clube dos Rolas Murchas. A próxima assembleia promete assanhar os velhinhos.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

Tempo de leitura: 4 minutos

 

Daquela época aos dias de hoje, o bairro passou por várias etapas de crescimento e desenvolvimento, com boas escolas públicas e privadas; na área de lazer e esportes (…). Mais que isso, sua gente se destaca na sociedade nas mais diversas áreas – literária, artística, esportiva e profissional.

 

Walmir Rosário

De forma bastante singela, acredito que o ato de viver pode ser comparado a assumir a direção de um veículo. Ter foco no presente do caminho que lhe rodeia, olhando, sempre, pelo retrovisor o passado, e analisando as possibilidades do futuro, do que possa vir pela frente. São através das histórias do passado que poderemos entender mais sobre nós mesmos, para que possamos encarar o futuro sem qualquer receio.

Dito isso, passo a narrar, com alegria, um “achado” importante da minha infância, vivida no bairro da Conceição em Itabuna. Essa descoberta é um memorial de autoria das professoras Edith Oliveira de Santana e Jiunice Oliveira de Santana e do engenheiro agrônomo e pesquisador aposentado da Ceplac Sandoval Oliveira de Santana, que conta grande parte da história do bairro, em textos e fotos.

O trabalho, que leva o nome Bairro da Conceição e os Primórdios, foi elaborado para homenagear o cinquentenário da implantação da Paróquia Nossa Senhora da Conceição (8-12-1958 a 8-12-2008), com informações antecedentes ao ano de 1958. Todo o trabalho foi realizado por meio de consultas aos moradores descendentes dos desbravadores, com registros dos personagens.

E os três autores tinham motivos pra lá de especiais para elaborar o memorial, haja vista que eram filhos de Marinheiro e dona Janu (Antônio Joaquim de Santana e Joana Oliveira de Santana), casal que ostenta o título de quarto morador do bairro e o primeiro da rua Bela Vista. Os 13 filhos (uma adotiva) do casal se criaram no hoje bairro da Conceição, local que ainda residem filhos, netos e bisnetos.

Marinheiro, sergipano do distrito de Outeiro, município de Maruim, era um homem conhecedor do mundo, sempre a bordo dos navios da Marinha de Guerra Brasil e participou ativamente da “Revolta da Chibata”. Pretendendo mudar de vida, aporta em Ilhéus e vai trabalhar nas roças de cacau, tornando-se, posteriormente, administrador de fazendas e especialista no plantio e manutenção de cacaueiros.

Em 1932, Marinheiro muda-se para Itabuna em busca de escola para seus seis filhos, construindo uma casa na recém-criada Abissínia (bairro da Conceição), que se tornara promissora com a construção da ponte Góes Calmon, sobre o rio Cachoeira e a estrada para Macuco (hoje Buerarema). Conhecedor do mundo, Marinheiro participava da política local com ideias inovadoras para as campanhas políticas e a administração municipal.

Formalmente, o Conceição é o segundo bairro criado, embora em sua área, a Marimbeta, ostente a primazia de abrigar a primeira casa construída de Itabuna, na roça de Félix Severino do Amor Divino, um dos fundadores de Itabuna. E o memorial descreve que morar ali na década de 1930 era uma demonstração de coragem e trabalho, por ser um local de vegetação densa e contar com muitos animais silvestres.

Àquela época as casas eram feitas de taipas, adobes (crus ou queimados), telhados de palmeiras e poucos de telhas, que já serviam para se defender as intempéries, das onças e outros animais selvagens, muitos destes transformados em misturas na alimentação. Naqueles tempos bicudos, para matar a sede os moradores recorriam aos leitos dos ribeirões e à noite utilizavam fifós e placas, alimentados com querosene.

Para cozinhar bastava cortar a madeira na mata, tocar fogo e colocar as panelas de barro. Os mais abastados possuíam fogões a lenha, geralmente fora de casa. Nas panelas, feijão, carnes de caça, peixes do rio Cachoeira em abundância e muitas frutas na sobremesa. As vestimentas para os marmanjos eram calça curta, depois comprida, camisas com botões e cuecas samba canção; a depender da condição financeira, ternos de linho ou gabardine. As mulheres: vestido, saia, blusa, capote, combinação, anágua e calçola.

Aos poucos, o arruamento foi tomando forma urbana devido a crescente construção de casas, apareceram as primeiras vendas (mercearias) e padarias, melhorando as condições de vida da população. Mesmo assim, o “bairro” começou a ser chamado pejorativamente de Aldeia, e mais pra frente de Abissínia, devido a algumas mortes decorrentes de briga, injustamente comparada com a guerra no país africano.

No final da década de 1940, mesmo um aglomerado urbano de condições inóspitas, o bairro da Conceição possuía uma economia próspera, ganhando destaque nos anos 1950, quando começou a se consolidar. Nesse período, com as secas em Sergipe, os moradores de Itabuna convidavam os parentes para morar no “eldorado do cacau”, época em que o bairro da Conceição recebeu uma grande leva de migrantes.

Se em 1° de março de 1928 o bairro ganha a ponte Góes Calmon como primeiro vetor de crescimento, em 1955 veio o segundo com a construção da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, inaugurada em 08 de dezembro de 1958, quando a velha capela de madeira deu lugar a uma grande matriz. Neste mesmo período a fé dos moradores era atendida pelas igrejas Assembleia de Deus, Batista Teosópolis e Cristã do Brasil.

Construída pela batuta dos frades capuchinhos Isaías e Justo (italianos) e Apolônio (brasileiro/pernambucano), a Igreja de Nossa Senhora da Conceição marcou, decisivamente, o desenvolvimento do bairro. Enquanto a obra ia sendo tocada, a prefeitura passou a urbanizar o bairro, com a abertura e rebaixamento de ruas, a praça em frente a igreja e a canalização de água em algumas ruas.

Daquela época aos dias de hoje, o bairro passou por várias etapas de crescimento e desenvolvimento, com boas escolas públicas e privadas; na área de lazer e esportes – clube social, times de futebol, a sede do Itabuna Esporte Clube, bares e restaurantes, supermercados, dentre outros equipamentos urbanos. Mais que isso, sua gente se destaca na sociedade nas mais diversas áreas literária, artística, esportiva e profissional.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

Chuva provoca alagamentos em Canavieiras || Foto TV RBR
Tempo de leitura: 3 minutos

 

Antes dessa próxima e urgente reunião extraordinária, aproveitarei os festejos de Nossa Senhora da Conceição, no bairro do mesmo nome, em Itabuna, para rogar à Mãe do Salvador sucesso nessa importante empreitada.

 

Walmir Rosário

Acredito que Canavieiras vai se acabar em águas. Pela quantidade e violência das chuvas, acompanhadas de trovoadas e relâmpagos, pensei que seria minhas últimas horas como um ser vivente. Deve ser o pecado desse povo! Valha-me Deus! Pelo que me lembro, várias profecias e teses profanas já vaticinaram o fim do mundo, desta vez em fogo, mas eu tenho medo é da chuva. E como tem chovido!

Na madrugada de sexta-feira pra sábado, da semana atrasada (20 de novembro), ela chegou como quem não queria nada e provocou pânico, alagando ruas e casas, da maneira mais democrática possível. Acordou a população, que se armou de vassouras e rodos para limpar a sujeira deixada no interior das residências e casas comerciais. Sujeira maior ficou nas ruas, atulhadas com os móveis e outros objetos danificados.

No fim de semana passada não deixou por menos e voltou a incomodar, um pouco mais fraca, é verdade, deixando o povo em polvorosa, acordado, pronto para repelir a temida invasão. E não é que repetiu na noite desta segunda para terça-feira (29). Pelos cálculos dos meteorólogos, nunca choveu tanto na cidade e muito ainda há por vir, e com bem mais intensidade.

Eu não sou dado a noticiar fatos ou previsões com estardalhaços, para atemorizar a população, já cansada das notícias escabrosas veiculadas pela grande mídia, mas confesso que estou temeroso do que poderá acontecer. E por um simples motivo: as chuvas que têm caído aqui pra nós são bem diferentes daquelas que fazem o rio Pardo transbordar e invadir tudo o que tem pela frente, sem pedir permissão.

Agravante maior me veio à mente com a tese de uma caranguejóloga sergipana, que no ano 2000 disse, com todas as letras, que Canavieiras seria engolida pelo mar e o rio Pardo, em no máximo 20 anos. À época, cheguei a traçar um plano B para abrigar os amigos em terras mais altas, a exemplo dos morros de Itabuna, projeto que estou desengavetando e que pretendo colocar em prática o mais rápido possível.

E não me baseio apenas na tese da especialista sergipana. Também fiz questão de recorrer ao oráculo, notadamente a São Boaventura, padroeiro de Canavieiras e seráfico doutor da Igreja Católica. Uma certa feita, há muitos anos, a imagem do Santo desapareceu da Igreja, em Canavieiras, e posteriormente foi encontrada no distrito do Puxim, local em que apareceu após o naufrágio do navio português em que viajava.

Pois bem, para melhor esclarecimento dos fatos, por ocasião dos festejos dos 300 anos da Paróquia de São Boaventura, um grande pôster com sua foto foi encontrada de cabeça pra baixo, no local da exposição. Somente esta foto. À época, tal estripulia foi creditada ao ateu Tyrone Perrucho, que teria visitado a exposição em companhia do confrade Antônio Tolentino (Tolé), este vizinho da matriz.

Pesquisando os fatos históricos, tomei conhecimento que desde o sumiço de São Boaventura da Igreja Matriz, se tornou conhecido o motivo de seu retorno ao Puxim. E tal decisão chegou ao extremo, dado o número de pecadores que grassam na cidade. Outro Santo bastante amado em Canavieiras, São Sebastião, há uns três anos também teria se mostrado descontente, tanto assim que o mastro em sua homenagem não foi erigido, por mais que os carregadores tentassem.

Com esses avisos divinos e a teoria científica, achei melhor colocar minhas barbas de molho e apresentar o projeto aos confrades. Em vão! Não consegui alcançar o quórum exigido pelos estatutos da Confraria d’O Berimbau e do Clube dos Rolas Cansadas, ocupação que era de obrigação de Tyrone Perrucho, levado extemporaneamente e a contragosto pela tal da Covid.

Diante de tal relevante fato, terei que adotar medidas extremas, batendo à porta de cada um dos confrades para dar ciência da gravidade do problema e apresentar a solução cabível requerida ao caso. Para tanto, teremos que recambiar o engenheiro de minas Gilbertão, atualmente em Santa Cruz Cabrália; tirar Tedesco dos seus estudos sobre navegação e, quem sabe, conseguir libertar Alberto Fiscal de seu retiro na Atalaia.

Antes dessa próxima e urgente reunião extraordinária, aproveitarei os festejos de Nossa Senhora da Conceição, no bairro do mesmo nome, em Itabuna, para rogar à Mãe do Salvador sucesso nessa importante empreitada. Como todo o brasileiro que tem um pé no religioso e outro no profano, participarei de reuniões com o apoio dos confrades Augusto e Ériston, nos bares de Leto e Valtinho, requerendo apoio aos futuros desabrigados.

E tudo tem que ser feito com urgência, antes do Carnaval chegar…

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

Tempo de leitura: 2 minutos

 

Nessa hora, a mulher tentou segurar o riso cheio de malícia e contestou o amado, porém visivelmente com outros pensamentos, afirmando: “furar você fura sim, todo dia!”.

 

Ricardo Ribeiro 

Plantão dá é coisa!

Dia desses, caminhávamos já pelas 3 horas da madrugada, dia sossegado, eu quase achando que não apareceria mais nada… Eis que, não mais que de repente, chega a PM com um casal, situação de possível violência doméstica, vítima sem lesão e aparentemente não muito satisfeita com a condução para a Delegacia.

Nem bem começo a perguntar o que tinha acontecido, quando a mulher, quase aos prantos, apela: “Doutor, não prenda meu marido não, ele é minha valença, faz tudo pra mim em casa, é ele que lava roupa, faz a comida…”, advogava a suposta vítima, esclarecendo ainda que sofria de hérnia de disco e dependia daquele sujeito pra quase tudo. Segundo ela, a confusão não passara de uma briga besta de casal, que ela não sabia como tinha começado, e que possivelmente vizinhos mal-intencionados teriam acionado a polícia só para promover a infelicidade alheia.

Estupefato, pero no mucho, olhei pra mulher, pros PMs e por fim para o cidadão que era a “valença” daquela cidadã desesperada. O sujeito, com lágrimas nos olhos (certamente emocionado com a defesa veemente de sua amada), declarou amar sua mulher, disse que jamais a agredira ou maltratara, que não sabia porque estava ali etc. No meio da argumentação, o ora conduzido afirma: “doutor, eu juro que nunca furei ela!”.

Nessa hora, a mulher tentou segurar o riso cheio de malícia e contestou o amado, porém visivelmente com outros pensamentos, afirmando: “furar você fura sim, todo dia!”.

Com essa frase, sem viés acusatório, mas sim proferida como demonstração de que aquele casamento ia muito bem obrigado, o jeito foi liberar os pombinhos para que seguissem rumo ao seu ninho.

E o plantão terminou em paz! E amor…

Ricardo Ribeiro é delegado da Polícia Civil-BA.

Tempo de leitura: 3 minutos

Do alto dos seus 81 anos, e com toda a experiência adquirida em todos esses anos, acredito que Fernando Gomes tenha adotado uma tática para “derrubar” seus adversários, se mostrando em pleno vigor aos seus eleitores.

Walmir Rosário || walmirrosario.blogspot.com

Com a terrível e apavorante pandemia do Coronavírus não teve um filho de Deus neste mundão que não mudou seu comportamento, não importa se pra melhor ou pior, o certo é que as circunstâncias decidiram quais e pra onde. Na maioria dos casos que analisei, o consumo de bebidas e comidas foi lá pra cima e muita gente boa não quer passar perto de uma balança. Nem morto, como diziam antigamente.

Ah, parece até que foi combinado nessas lives, que entraram de vez da vida do povo e estão dando o que falar. Estão fazendo live para acertar a data e horário da promover uma live sobre determinado assunto. Das que cheguei a ver, tinha político falando de política e até votando matérias no congresso, numa espécie da “gazeta”, falta institucionalizada, enquanto outras falavam de economia e a maioria de vinhos e comidas.

Pouquíssimas de educação física, e mesmo assim meu filho explicando conceitos e vantagens da prática do kettlebell, instrumento criado há mais de mil anos e que está virando febre no Brasil e no mundo. Se todos prestavam atenção às aulas teóricas, as práticas não se fizeram presente na telinha do meu computador. Ficar em forma, malhar, suar nas esteiras, levantar peso, pedalar bicicleta sem sair do lugar, nada.

E as desculpas eram as mais variadas, a começar pela proibição de funcionamento das academias de ginásticas. Pelo que soube – apenas por ouvir dizer –, descobriram que o Coronavírus tinham predileção pela forma física e, para precaver, as autoridades vedaram o ingresso dos atletas e candidatos a Hércules para evitar uma contenda qualquer. Nunca se sabe o que poderia acontecer numa luta entre uma pessoa e um vírus desconhecido.

Em moda há, pelo menos, uma década, as academias ao ar livre também foram desprezadas. Intocadas, permaneceram nas praças, rejeitadas pelos atletas de rua, que nem mesmo lembravam da necessidade de fazer um alongamento antes da corrida ou caminhada. Pelo que percebi, em vez da população, quem permaneceu de quarentena foram os aparelhos de musculação.

E eu, que sou um atleta bissexto, me incluo nesse time da inatividade física durante esse período, mas prometo voltar aos exercícios de kettlebell, às caminhadas matutinas pela praia da Costa e centro da cidade. Vontade não falta, mas o incômodo da máscara que me faz inalar gás carbônico é terrível e tenho pena de submeter meus queridos pulmões a esse terrível sacrifício. Um dia retomarei com gosto de gás (simples expressão).

E prometo que vai ser pra já, pois me inspirei na força de vontade do octogenário prefeito de Itabuna, Fernando Gomes, depois que o vi numa academia ao ar livre subindo e descendo num exercício de barra fixa, sob os aplausos de outros malhadores presentes. É certo que a demonstração de Fernando Gomes não foi das melhores, mas ao que parece foi uma espécie de liberação tácita dos exercícios físicos em Itabuna.

Aos 81 anos, vai precisar de muita malhação para subir e descer ladeiras pedindo votos, prática bastante comum entre todos os candidatos, se bem que agora substituída pelas lives, redes sociais e outras modernidades eletrônicas. Mas tenho certeza de que os candidatos precisarão se exercitar, para queimar as calorias dos pratos de sustança que haverão de comer nas casas dos considerados.

Quanto aos outros candidatos, ainda não vi nenhuma demonstração de preparo físico, pelo menos nas redes sociais. Quem sabe, recomendação dos marqueteiros para não entregar o “ouro ao bandido” e conseguir entrar pelo bairro de Fátima e sair no Califórnia de um fôlego só. Um bom treino é entrar pela rua da Floresta, no São Caetano, passar pela Baixa Fria, subir o Morro do Urubu, descer o Daniel Gomes e descambar pelo Zizo.

Aí, sim, sei que ficou pronto durante a pandemia, fazendo os exercícios na surdina, dentro de casa, para não despertar suspeitas aos olheiros dos adversários políticos, ávidos para mostrar o serviço de espionagem ao seu candidato. Vou pedir a um amigo meu, conhecedor dessas arapongagens, para pendurar umas câmeras de vídeos em locais próximos às academias ao ar livre para tentar flagrar os políticos em exercícios.

Pelo que observei atentamente, essas lives de educação física não são bons cabos eleitorais, do contrário o que teria de candidato se esforçando para conquistar o eleitor não estaria nos gibis. Pelo sim, pelo não, recomendo aos candidatos dispostos a ganhar fôlego que procurem uma boa academia e se exercitem com as recomendações e acompanhamento de um profissional de educação física.

Do alto dos seus 81 anos, e com toda a experiência adquirida em todos esses anos, acredito que Fernando Gomes tenha adotado uma tática para “derrubar” seus adversários, se mostrando em pleno vigor aos seus eleitores. Por outro lado, caso os adversários “comam a isca”, nunca mais ele aparecerá em frente a uma academia ao ar livre e praticará as caminhadas no sobe e desce das ladeiras itabunenses.

Como dizia o saudoso técnico de futebol Sotero Monteiro, pelo arriar das malas é que se conhece o jogador.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

Tempo de leitura: 3 minutos

Tal e qual o pombo liberado por Noé para ver se ainda existia vida na terra, devidamente mascarado e com um vidrinho de álcool em gel nas mãos, me aventurei por outros dois quarteirões.

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook

Aos poucos, as livrarias começaram a nos oferecer livros sobre as causas e efeitos da pandemia, primeiramente com livros reportagens, contando, passo a passo, o início, o meio e as previsões para o fim. O que mais me chamou a atenção – mesmo não tendo adquirido nenhum deles, e sim ao ler resenhas – é que não existirá um fim para a Covid-19, no máximo uma trégua.

Trégua essa que depende dos avanços da ciência na apresentação de medicamentos e, sobretudo, vacinas, já em experimentos em diversos países e com a participação do Brasil nas pesquisas. Essa seria uma boa notícia se eu não tivesse lido por aí que o Coronavírus é chegado a mutações e poderemos ter pela frente o Covid-20, 22, 38, 45, de acordo com a vontade dos chineses.

Se nos bastasse o grande incômodo da doença, agravada pelas notícias da grande mídia terrorista, também seremos assediados pelas publicações de livros de luxuosas capas e conteúdo aterrorizador. Monografias de especializações, dissertações de mestrado e teses de doutorados invadirão nossos cérebros, sugando nossa massa cinzenta, tal e qual o tamanduá do cartunista Henfil.

Quem também está de volta, reestilizado, é o Cabôco Mamadô, cujas vítimas não mais serão enterrados no cemitério dos mortos-vivos e sim pomposamente cancelados com ampla repercussão nas redes sociais. É os tempos mudaram. Por mais que alguns se esforcem, a tese marxista continua sendo levada ao pé da letra: A história se repete, primeiro como tragédia, depois como farsa.

Mas voltando às edições sobre a pandemia, termos livros sobre todas as óticas e ideologias, sempre aos olhares atentos dos antropólogos, sociólogos, filósofos, juristas, historiadores, ideólogos e, quem sabe, sem especialidade alguma, como eu. Uma barafunda de ideias que – por certo – fará corar o mais sabidos dos sofistas que pululam os programas de televisão de norte a sul do país.

Enquanto gastaremos nosso precioso tempo em ler, ouvir e ver tais “verdades absolutas”, quem sabe esqueceremos os absurdos que vimos e presenciamos durante o tempo em que ouvimos insistentemente: “Não saiam, fiquem em casa”. Presos – ou melhor, “debaixo de ordens” –, não tivemos nem mesmo que pensar sobre o livre arbítrio ou o princípio constitucional do direito de ir e vir.

Como se não bastasse a queda, ainda levamos o coice. Não temos nem o sagrado direito de informação sobre o trâmite dos recursos destinados a dar um freio na pandemia, gastos como se investidos fossem nas mais variadas formas de tratamento. Salvo por uma ou outra operação da Polícia Federal, não temos como traçar um simples roteiro do dinheiro desde que saiu de Brasília.

Nos tempos modernos de hoje, esse dinheiro nem precisa viajar pelas estradas, como nas diligências nos velhos filmes de faroeste, ou mais recentemente pelos carros-fortes, sempre alvo dos assaltantes. Agora viajam por meio eletrônico e não levam dois segundos sequer para chegar aos destinos. Pelos meus imprecisos cálculos, essa viagem é tão acelerada que não dá parar no destino. Faltam os freios, acho eu.

Enquanto fico em casa sem ter o que fazer, a não ser ajudar a mulher em pequenas tarefas domésticas, me atenho aos meios de comunicação disponíveis para continuar informado se o mundo ainda consegue se equilibrar no firmamento. Numa de minhas saídas consegui ver um carro-pipa jogando água nas paredes, passeios e ruas e fui informado pelo motorista que era água sanitária para matar o vírus. Tiro e queda!

Nem eu mesmo sabia dessas ricas propriedades da água sanitária e enquanto me debruço ao computador para aprender o que poderia fazer com a que tenho em casa, eis que ouço de novo num carro de som a mensagem para não sair de casa. Até que me alegrei pois me era concedido o direito de ir à padaria, supermercado e farmácia. Viajar! Jamais! Me aquietei por uns dias.

Tal e qual o pombo liberado por Noé para ver se ainda existia vida na terra, devidamente mascarado e com um vidrinho de álcool em gel nas mãos, me aventurei por outros dois quarteirões. Conversei com uns dois amigos no jardim de suas casas, perguntei pelas novidades e se já tinham descoberto algum medicamento para nos livrar dessa maldita doença. Qual nada, tudo na mesma.

Depois de uma meia hora encontro um cidadão bem informado sabedor dos fatos, cabo eleitoral dos bons, gente importante na política municipal e estadual, e que me confidencia e recomenda: “É melhor ficar quieto em casa, pois não tem remédio que bata a testa com a doença, que teima em aumentar a cada dia, desembestada igual mula antes de amansar”.

Não me contento e pergunto:

– E a água sanitária não resolveu a parada?

– Que nada, parece que não surtiu efeito, respondeu e continuou sua viagem.

Da maneira que ele falou, achei que já estavam falsificando a água sanitária. Vou até mandar a que comprei em casa para fazer um teste no laboratório.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado. Confira crônicas e histórias no Blog Walmir Rosário.

Tempo de leitura: 3 minutos

Só espero que da próxima vez o governador tenha a bondade de avisar com bastante antecedência para que possamos providenciar os insumos adequados para as tradicionais comemorações. Que o novo decreto também satisfaça nossas necessidades financeiras na forma de um auxílio emergencial para a aquisição das bebidas e comidas, pois ninguém aguenta essas despesas extras em tempos de crise.

Walmir Rosário || wallaw2008@outlook.com

Alto lá! Em meus feriados ninguém lança a mão, são imexíveis! Afinal, lutei tanto para conseguir a minha sagrada aposentadoria e agora não tenho o sagrado direito de gozá-los como me convêm. Esse é mais um absurdo praticado em nome do todo-poderoso Covid-19, que tem mais poderes do que a nossa constituição, rasgada e esfacelada ao bel-prazer dos que estão nos governos. Tudo em vão, fui vencido.

Os donos do poder passam a vida inteira esculhambando o brasileiro por não ser afeito ao planejamento e agora desandam tudo, causando um prejuízo sem precedentes naqueles que ouviram e confiaram nos conselhos. Meus antepassados sempre me aconselharam a desconfiar dos atos dos governos e olha que eles nunca foram adeptos ao anarquismo como forma de governo. Simplesmente não acreditavam e pronto.

Agora, sem mais nem menos, elaborei uma planilha para festejar nesta segunda-feira (25) o aniversário dos 129 anos de emancipação político-administrativa de Canavieiras e agora descubro que estou por fora um eito, como se diz lá na roça. Todo o meu planejamento veio por água abaixo quando fui informado que nesta data será comemorado o São João. Custei acreditar, mas depois que vi o decreto do governador, capitulei.

Desde que me conheço por gente, aprendi na escola que a festa de São João é realizada logo depois do solstício de inverno (21 de junho), para comemorarmos a renovação da vida, a começar com a colheita. Agora, teremos que desaprender tudo e, ainda por cima, passar o São João no maior miserê, sem um prato de canjica, uma pamonha, um milho assado na fogueira.

Nesta sexta-feira, assim que soube na notícia que custei a acreditar, tentei me preparar para os festejos juninos e não tive o menor êxito. E sabe qual a desculpa? A tal da logística. Liguei para cada um dos meus fornecedores – todos artesãos – e ouvi o que não queria. O licor nem foi para a infusão por falta de gente para colher os jenipapos. Pelo que entendi, estavam todos na fila dos seiscentos. Só para o mês que vem, me garantiram.

Tudo por falta de planejamento do governo. Todo o mundo está cansado de saber que o milho para o São João tem que ser plantado no dia de São José (19 de março) e colhido no dia 22 de junho para ficar no ponto exato da canjica. Fui questionar o meu fornecedor e tiver que ouvir lero:

– Diga aí para as autoridades acertarem com a Embrapa para fazer um milho mais precoce que terei todo o prazer de plantar. Por enquanto vale o milho criado por Deus com licença de São José e São João, com a ajuda de São Pedro.

Diante de tamanha evidência, não me restou outra escolha que não ser me recolher à minha científica insignificância. Não satisfeitos de todo, liguei para Beco dos Fogos, que também me deu um má notícia, o pedido feito por ele ainda não saiu da fábrica e só dispõe de rojões, mesmo assim reservado para as festas da prefeitura. Como sou precavido, não vou liberar esse tipo de fogos para as crianças.

Meu consolo seria participar do desfile cívico do Dia da Cidade, apreciando a juventude escolar fardada marchando ao som das bandas e evoluções das fanfarras. Qual nada, o cortejo foi cancelado por conta do isolamento. Minha única esperança seria o feriado de terça-feira (26), onde nós veríamos os caboclos, Maria Quitéria, a irmão Joana Angélica e os garbosos oficiais das forças baianas que expulsaram os portugueses do Brasil. Tudo cancelado.

Em meio ao festival de cancelamentos, me resta continuar recolhido em casa, dando azo às comemorações etílicas de costume, mesmo desprezando a gastronomia junina tão a gosto de um descendente de caatingueiros. Mas como sou obediente às ordens superiores, só me resta pedir licença ao fígado e quebrar o porquinho chamado por nós de mealheiro para abastecer convenientemente a adega.

Ao ligar para um amigo em Itabuna para desabafar dos desencontros, após me ouvir pacientemente, respondeu em tom de gozação:

– Pois fique sabendo que você não sabe da missa a metade. Aqui em Itabuna vamos gozar da esbórnia a semana inteira. Pra mim, foi a mesma alegria de ganhar a mega sena acumulada. Graças ao prefeito Fernando Gomes, que tem know how em festas antecipadas, comemoraremos o São João na segunda, o 2 de julho na terça, o Dia da Cidade (28 de julho) na quarta (27). E de lambuja, a quinta e a sexta será ponto facultativo público e privado.

Só espero que da próxima vez o governador tenha a bondade de avisar com bastante antecedência para que possamos providenciar os insumos adequados para as tradicionais comemorações. Que o novo decreto também satisfaça nossas necessidades financeiras na forma de um auxílio emergencial para a aquisição das bebidas e comidas, pois ninguém aguenta essas despesas extras em tempos de crise.

Já quanto à saúde hepática, dá para negociar com o fígado o conforto de uma semana atípica.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado.

Tempo de leitura: 2 minutos

ricardo ribeiroRicardo Ribeiro | ricardo.ribeiro10@gmail.com

 

A expressão parecia traduzir o desalento de quem sofre com uma cidade que não tem água pra beber, mas mata um rio com seu esgoto.

 

O que aquelas pessoas olhavam com tanta curiosidade? Era um bolo de gente na ponte, todo mundo mirando o rio quase morto, todos ávidos diante de algum espetáculo, provavelmente bizarro.

Ainda vendo a cena de longe, pensava no que poderia ser o foco de tanta atenção. Algum corpo, talvez. De repente, um viciado que escolheu aquelas pedras do rio para se acabar com outras pedras. Ou, quem sabe, mais uma daquelas famílias de capivaras que chegam às dezenas para assistir ao velório do Cachoeira…

Não, não era nada disso.

Cheguei mais perto e juntei-me aos curiosos. O que lhes tomava o tempo era um desesperado cardume de bagres africanos, que se debatiam, bloqueados entre as pedras e um amontoado de baronesas. As bocas abriam e fechavam, em um compasso de morte. E os passantes interrompiam a caminhada para observar o triste fim daqueles bagres.

Não faltou quem desconsiderasse a podridão do rio, com seus ameaçadores coliformes, e imaginasse os peixes convertidos em moqueca. Alguém com inegável tino comercial previu que logo aqueles condenados estariam na feira livre mais próxima, confirmando o adágio de que morre o boi para a alegria do urubu…

Mas tinha também gente olhando tudo com espanto e certa tristeza. A expressão parecia traduzir o desalento de quem sofre com uma cidade que não tem água pra beber, mas mata um rio com seu esgoto, de quem lamenta a falta de perspectiva, as falsas mudanças e, acima de tudo, as velhas novidades.

Olhei mais uma vez aqueles pobres peixes no leito do rio, o seu fétido e lamacento leito de morte. Como a cena agonizante remetia à própria cidade e às suas dores!

Aparentemente sem rumo e sem saídas, sedenta, asfixiada e triste, Itabuna é como uma poça em um rio moribundo, com um povo desiludido, que clama por socorro. Nessa lamentável e preocupante situação, só nos resta pedir que Deus a livre das redes dos velhos pescadores de águas turvas!

Tempo de leitura: 2 minutos

marivalguedesMarival Guedes | marivalguedes@gmail.com

Numa movimentação, o mediador Ramiro Aquino percebeu um revólver na cintura do médico Amilton Gomes. Esperou o intervalo e pediu que a arma lhe fosse entregue, discretamente, para ser guardada pelo segurança.

Dirigentes políticos se reuniram para definir a chapa majoritária nas eleições de 2004 em Juazeiro. Participaram Osmar Galdino (Jojó), presidente do PT, Joseph Bandeira, pré-candidato a prefeito ( PT), Paganini Nobre Mota, presidente do PMDB e Geraldo Andrade, coronel reformado da PM e dirigente do PSB.

A discussão foi sobre a vice, cargo disputado por Paganini e Geraldo Andrade, que fez uma pergunta afirmativa: “Eu sou o candidato a vice ou não sou?”

O argumento havia sido colocado em cima da mesa: um revólver calibre 38, carregado. Todos ficaram convencidos e o coronel foi escolhido por unanimidade.

Em Itabuna na campanha de 88 para prefeito, a TV Cabrália promoveu uma série de debates. Num deles, participaram os candidatos Aurélio Laborda, Dr. Zito, Jairo Muniz, Amilton Gomes e Fernando Gomes. Os dois últimos “em pé de guerra”.

Numa movimentação, o mediador Ramiro Aquino percebeu um revólver na cintura do médico Amilton Gomes. Esperou o intervalo e pediu que a arma lhe fosse entregue, discretamente, para ser guardada pelo segurança.

Cenas do debate histórico na TV Cabrália em 1988.
Cenas do debate histórico na TV Cabrália em 1988. Amilton, à direita, estava armado.

Joaci Góes, então Deputado Federal, quando brigou com o senador ACM, passou a portar uma arma. Ele conta que havia a expectativa de ser imobilizado pelos guarda-costas do senador para causar-lhe danos físico e moral. “Então, me preparei para matar ou morrer.”

O ex-presidente escritor José Sarney, quando presidia o PDS, foi com um “três oitão” ao congresso do partido, em 1984, discutir a candidatura de Maluf contra Tancredo.

Sarney articulava contra Maluf e quando chegou ao local poetizou: “estou armado e quem tentar me desmoralizar eu dou um tiro na cara.”

Ele confessou, anos depois, em entrevista ao programa Roda Viva e justificou que os malufistas “falaram que iam me tirar à tapa da presidência do partido, que iam arrancar meu bigode, cabelo por cabelo. Então, achei prudente que eu fosse armado. É chocante, mas é verdade. Não é do meu feitio”.

Outro destaque é o pastor Malafaia, admoestando ovelhas e carneiros a não denunciarem os ladrões: “Teu pastor é ladrão, é pilantra? Sai e vai pra outra igreja.” Encerra com duas frases, uma trágica: “Eu já vi gente morrer por causa disso”. Outra cômica: “Ungido do senhor é problema do senhor. Não é problema teu.”

Marival Guedes é jornalista e escreve crônicas aos domingos no Pimenta.

Tempo de leitura: < 1 minuto

marivalguedesMarival Guedes | marivalguedes@gmail.com

No programa especial Entre Páginas, um dos melhores da Bahia, coordenado por Mário kertész, o escritor Lira Neto, autor da trilogia Getúlio, conta a primeira decisão/lição política do ex-presidente Vargas.

Quando criança Getúlio, filho do general Vargas, brincando com um amigo dentro de casa, quebrou acidentalmente um quadro de um ídolo do pai. Temendo o castigo fugiram e se esconderam em cima de uma árvore.

Furioso, o general mandou os capangas da fazenda buscarem os garotos. Com o passar das horas, a mãe começou caminhar de um lado para outro demonstrando preocupação. Depois tensão. Da árvore, os garotos acompanham tudo. Ao anoitecer o amigo sugere que é hora de retornar. Getúlio diz: “não, vamos aguardar o desespero.”

Na manhã do dia seguinte vendo o desespero total, ele fala ao amigo: “agora sim, é hora de descer”. Voltam e são recebidos com festa pelos pais e amigos. O general nem se lembrou do quadro quebrado.

Segundo Lira Neto, o próprio Getúlio contava esta história dizendo que foi a sua primeira lição política: “Jamais descer do umbuzeiro antes da hora”.

No dia 24 de agosto de 1954, acuado por grupos de direita liderados por Carlos Lacerda, Getúlio definitivamente decidiu descer de outra árvore, a árvore da vida.

Marival Guedes é jornalista e escreve crônicas semanais no Pimenta.

Tempo de leitura: < 1 minuto

Antônio Lopes

Obra ganha nova edição, atualizada e com duas crônicas inéditas.
Obra ganha nova edição, atualizada e com duas crônicas inéditas.

O jornalista Antônio Lopes lançará na próxima quinta-feira (6), às 19h, na Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania (Ficc), a nova edição do livro de crônicas Luz sobre a memória. O livro foi lançado em 2001.
O escritor apresenta novidades nesta edição. Às 34 crônicas da edição anterior, somam-se outras duas, inéditas.
Gustavo Felicíssimo, da Editora Mondrongo, informa que as crônicas foram feitas para o atual momento e as demais foram atualizadas em sua linguagem por Lopes.
A nova edição teve grande lançamento na Casa da Cultura Jonas & Pilar, em Buerarema, em dezembro.
A obra tem apresentação do saudoso Marcos Santarrita, que coloca o jornalista Antônio Lopes entre grandes nomes da crônica brasileira, dentre eles Machado de Assis e Fernando Sabino.
Tempo de leitura: 3 minutos

GUSTAVO HAUNGustavo Haun | g_a_haun@hotmail.com
 

Durante as duas semanas seguintes, o conhecido cacauicultor mandava alguns dos seus mais de trezentos funcionários irem ao comerciante, um ou dois por dia, para perguntar se tinha pedra de amolar para vender.

 
Sêo Oscar era um dos homens mais ricos da Bahia, com certeza o maior cacauicultor individual do mundo à sua época.
A fama dele corria léguas e mais léguas: homem previdente, astuto e trabalhador. Ninguém lhe passava a perna. Corria a estória de que até seu genro tinha tentado assassiná-lo (de olho na gorda fortuna!), porém não havia logrado êxito, pois Sêo Oscar fora mais esperto…
Havia migrado de Sergipe para o sul da Bahia em busca de terras e riquezas. E as conseguiu, com muito suor e dedicação.
O tempo passava e Sêo Oscar só prosperava ainda mais.
Certa feita ele se dirigiu ao antigo Banco Nacional – era um dos maiores correntistas da instituição – e pediu para reaver sua aplicação.
Era muito dinheiro. O Banco consultou o saldo: mais de milhões! Trabalheira danada. Contaram, recontaram. Colocaram em várias maletas o seu valioso vintém. No fim do dia, quando lhe entregaram o montante, ele disse ao gerente:
– Ô, seu menino, sabe de uma, não vou levar o dinheiro, não… Só queria saber se vocês tinham guardado ele bem, aí…
As más línguas criaram inúmeras lendas sobre Sêo Oscar, como a de que ele amarrava um comprimido de melhoral e tomava para passar a dor de cabeça constante. Quando estava bom da dor, puxava de volta o cordão, guardando o remédio para uma próxima vez…
Como disse, muitas, muitas lendas! E o homem era famoso por elas.
Leia Mais

Tempo de leitura: 2 minutos

Marival Guedes | marivalguedes@yahoo.com.br

Se o juiz não conhece, experimente, pois vale a pena. A fruta é rica em fibras, portanto recomendada contra problemas intestinais.

Em 1962, quando Maria Olívia Rebouças Cavalcanti ganhou o primeiro lugar no concurso Miss Brasil, uma polêmica acirrou a rivalidade entre Itabuna e Ilhéus. Equivocadamente, o então deputado Demóstenes Berbert publicou nota parabenizando a vencedora e destacando o orgulho dos ilheenses em tê-la como conterrânea. Afirmou que Maria Olivia nascera em Rio do Braço, distrito de Ilhéus.

Segundo Adriana Dantas, no livro “Itabuna:História e Estórias”, a notícia caiu feito uma bomba e os itabunense reagiram de imediato. Uma comissão formada por Elza Cordier, Célia Vita, Simone Neto, Olga Oliva, Cremilda Lima, Célio Franco, Adelindo Kfoury e Paulo Lima foi pesquisar nos cartórios e conseguiu a certidão de nascimento da bela Maria Olívia, comprovando que a Miss era itabunense.

Não satisfeitos, os itabunenses, num ato de provocação, foram a Ilhéus e colaram cópias do registro nas paredes de várias casas. Itabuna vibrou quando a Miss Brasil desfilou em carro aberto pelas ruas da cidade e até as pessoas que não se interessavam pelo concurso festejaram. Para se ter uma ideia, foi algo semelhante a uma conquista da Copa do Mundo pela Seleção Brasileira.

Indiscutivelmente, um fato histórico. Nem o famoso mão-de-figa José Oduque Teixeira resistiu. Num momento de emoção, enfrentou a “cobra” que carrega no bolso e pagou faixas em homenagem à vencedora. Também ofereceu almoço a ela e para autoridades em sua residência.

Alguns ilheenses ficaram inconformados com a derrota. Eles pensavam que Maria Olivia desembarcaria em Ilhéus ( o avião aterrissou em Itabuna). Em protesto, foram até o aeroporto e espalharam cascas de jaca. Para completar, fincaram uma placa na pista com a inscrição: MISS PAPA-JACA.

Foi a reação dos papas-caranguejos.

50 ANOS DEPOIS

Meio século depois, o juiz Valdir Viana “xinga” o presidente da OAB itabunense, Andirlei Nascimento, de papa-jaca. Confesso que não entendi e assumo que tenho o privilégio de ser papa-jaca. Fruta tropical excelente e com a característica de oferecer duas opções: jaca mole (dos bagos moles) e dura.

Se o juiz não conhece, experimente, pois vale a pena. A fruta é rica em fibras, portanto recomendada contra problemas intestinais; tem vitaminas do complexo B, cálcio, ferro e fósforo. Os caroços cozidos em água e sal dão um bom tira-gosto.

Faço questão de dizer também que sou papa-caranguejo. De maio a agosto, período em que estão gordos, degusto este marisco semanalmente no Katikero (jabá gratuito) do casal Mari e Zequinha, em Itabuna.

Um adendo: o bom é trabalhar com respeito mútuo e comer jaca e caranguejo para não ficar estressado.

Marival Guedes é jornalista e escreve no PIMENTA às sextas-feiras.