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claudio_rodriguesCláudio Rodrigues | aclaudiors@gmail.com

Temos que deixar a nossa hipocrisia de lado. A proibição ao consumo de drogas não livrou ou impediu que cada vez mais jovens fizessem uso dos entorpecentes. Acreditamos piamente que a única forma de vencermos os cartéis das drogas é descriminalizar o seu consumo.

As autoridades brasileiras nas três esferas de poder estão discutindo a crise no sistema penitenciário, após os massacres ocorridos nas penitenciárias de Manaus e Roraima. Quase 100 presos foram mortos na guerra das facções criminosas. Que o crime organizado domina o sistema prisional no Brasil não é novidade. As facções mandam fora e dentro dos presídios.

As disputas entre o PCC (Primero Comando da Capital, de São Paulo) e o CV (Comando Vermelho, do Rio de Janeiro), com suas ramificações por todo o País, têm o poder paralelo junto ao Estado de Direito. Hoje até candidatos a cargos eletivos são bancados por essas organizações criminosas. Por trás de tudo isso, está o tráfico de drogas, que movimenta bilhões e bilhões de dólares mundo afora.

Está provado que o enfrentamento ao tráfico não deu certo. A política antidrogas de países como os Estados Unidos, que gastam bilhões de dólares de recursos no combate às drogas, não obteve sucesso. O mesmo ocorre nos demais países. Chegou a hora de todos os países membro da Organização das Nações Unidas (ONU) discutirem uma política de descriminalização das drogas. Essa é a única maneira de eliminar o papel do traficante e, consequentemente, banir os cartéis das drogas.

Personalidades como os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (Brasil), César Gaviria (Colômbia), Ernesto Zedillo (México), Bill Clinton e Jimmy Carter (Estados Unidos) e os escritores Paulo Coelho e Mário Vargas Llosa defendem, na Comissão Latino-Americana sobre Drogas e Democracia, a descriminalização do consumo de entorpecentes. No Brasil, as drogas estão presentes nas escolas de ensino médio e fundamental (públicas e privadas), nas faculdades e universidades. Consequentemente, também se faz presente na maioria de nossas casas.

O tráfico de drogas é o principal responsável pelas mortes que ocorrem a cada ano em nosso país. Cito os exemplos das cidades de Itabuna e Feira de Santana, municípios onde moro e trabalho. Itabuna registrou 125 homicídios no ano passado, segundo o site Verdinho Itabuna, sendo que aproximadamente 85% dessas mortes estão relacionadas ao tráfico e as principais vítimas são jovens. Já Feira de Santana, de acordo com o site Acorda Cidade, registrou 375 assassinatos, 30% a mais que em 2015, a maioria dos mortos com idades entre 18 a 25 anos – e quase todos envolvidos com o tráfico de drogas.

A edição do jornal Folha de São Paulo de hoje (12/1) traz matéria sobre a disputa entre o PCC e CV pelo fornecimento da cocaína peruana para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil, que movimenta mais de U$ 14 bilhões por ano. Os nossos vizinhos sul-americanos são os principais produtores e fornecedores da cocaína consumida no Mundo e o Brasil é a principal rota de distribuição e também de consumo.

Essa guerra tem ceifado muitas vidas. Quase toda cidade brasileira tem sua cracolândia. O consumo do crack virou uma questão de saúde pública. As cracolândias produzem multidões de zumbis, e fazemos vistas grossas por achar que o problema não é nosso.

Um bom exemplo da política de descriminalização das drogas vem da Holanda. No último dia 25, o programa Fantástico, da Globo, exibiu matéria mostrando que, na última década, a população carcerária caiu 47%. Lá existem 57 presos para cada 100 mil habitantes, enquanto que no Brasil são 300 para cada 100 mil e nos Estados Unidos são 707 para cada 100 mil moradores.

Temos que deixar a nossa hipocrisia de lado. A proibição ao consumo de drogas não livrou ou impediu que cada vez mais jovens fizessem uso dos entorpecentes. Acreditamos piamente que a única forma de vencermos os cartéis das drogas é descriminalizar o seu consumo. Os recursos dos impostos arrecadados com a venda legal dos entorpecentes seriam empregados em políticas de assistência aos dependentes. Dessa forma, a figura do traficante seria eliminada. Esse é o X da questão. E as autoridades mundiais têm que começar a discutir.​

Cláudio Rodrigues é jornalista e administrador de empresas.