Fotojornalistas protestam contra Figueiredo, em 1984 || Foto J. França
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Não reivindico imparcialidade, mas a distância necessária para dosar a empatia com desconfiança e a antipatia com escuta atenta.

 

 

 

Thiago Dias

Quando ingressei no curso de Comunicação Social da Uesc, em 2007, não sabia que profissão seguir. Foi uma escolha por exclusão das ciências exatas e por alguma afeição à escrita, mas não pensava em jornalismo. Só depois de formado tive o primeiro contato com o ofício, no Blog do Gusmão, onde trabalhei por cinco anos e me profissionalizei.

Herdei de meus pais, Dagmar e Luís, duas características elementares para o jornalismo, o gosto por ouvir e contar histórias e a honestidade. Ser honesto é pressuposto do relacionamento jornalístico com as pessoas e do esforço para diminuir ao máximo a distância intransponível entre a informação e o fato reportado. Aquilo que se pode chamar, num pleonasmo, de realidade factual.

É o compromisso reiterado com a apuração da notícia que torna o repórter e o veículo de imprensa credíveis. Eis a matéria-prima da construção e manutenção da credibilidade do emissor em um contexto de circulação acelerada de informações e opiniões.

Não reivindico imparcialidade, mas a distância necessária para dosar a empatia com desconfiança e a antipatia com escuta atenta. A busca desse equilíbrio reduz, de um lado, os pontos cegos do olhar emotivo e, de outro, permite a abertura para um diálogo capaz de rechaçar um preconceito injusto ou de reafirmar uma posição crítica.

Essa é das lições mais exercitadas nos meus três anos e três meses neste PIMENTA. Na redação, o convívio com os jornalistas Ailton Silva e Davidson Samuel é fonte de aprendizagem diária. Nos seus textos, aprendi a admirar o rigor descritivo e a frase curta e direta como expressões sofisticadas da clareza a serviço da notícia.

Além das lições, o PIMENTA também me abriu portas valiosas, como a do Jornal das Sete, da Morena FM 98.7, rádio dirigida pelo jornalista Marcel Leal, com quem divido a redação do informativo, que vai ao ar de segunda a sexta, às 18h40min. Ilheense, quis o destino me abrigar em dois veículos na cidade vizinha, apresentando-me, ainda que de forma mediada, uma Itabuna que eu não conheceria se não fosse o jornalismo.

Está aí um presente que a profissão me deu em 11 anos de estrada. Descobri uma Itabuna de forte presença das associações civis e da imprensa como forças de pressão organizada e de dinamismo político. Quando compartilho essas impressões com amigos itabunenses, boa parte deles diz que estou superestimando o verde da grama da casa vizinha.

Será? Penso que não, especialmente por causa do papel relevante que vejo a imprensa exercer no debate público de Itabuna – um autoelogio que o Dia do Jornalista, comemorado neste domingo (7), nos autoriza a cometer.

Thiago Dias é repórter do PIMENTA e do Jornal das Sete (Morena FM 98.7).

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Mas hoje, 7 de abril, Dia do Jornalista, vamos exaltar os mágicos resultados do trabalho feito com compromisso. Aquele que permite ver a alegria de uma mulher aposentada após penar por anos com uma doença crônica e saber que um texto seu contribuiu com tal resultado.

 

Celina Santos

Em plena era da liberdade de expressão, o jornalista não pode fazer perguntas alusivas a assuntos de interesse público? Precisa mesmo responder de forma grosseira quando algo provocou constrangimento em nossas autoridades? Que democracia é essa, para vermos exaltação ao tempo em que não se podia formar um grupo de amigos no meio da rua para bater o bom e velho papo?

Desculpem o desabafo, mas é doloroso ver um companheiro de trabalho apurar um fato o dia inteiro, com RESPONSABILIDADE, para dar a notícia ao vivo no dia seguinte e ver duas pessoas saltarem em frente à câmera berrando que aquele veículo era lixo.

Como assim? O trabalho exercido há anos, com toda dignidade, não merece atenção e respeito? Eis um exemplo recente em Itabuna, sul da Bahia, mas sabemos de acontecimentos semelhantes em vários estados, Brasil afora. La-men-ta-vel-men-te!

Esta semana, vimos uma manifestação pública pelas tão perigosas redes sociais fazendo piada com o passado de uma jornalista que fora presa grávida, por três meses, durante a Ditadura Militar (sem eufemismos, por favor!). Parte desse tempo, testemunhou, na companhia nada aprazível de uma cobra.

A ironia recordando o tal episódio na prisão deu-se um dia após a profissional exercer a liberdade de criticar uma autoridade (sim, posição conferida pelo voto popular a cada quatro anos). A vontade é ralhar: “seus pais não lhe deram educação?”. Opa …

É triste ver que o trabalho sério daqueles que buscam averiguar os fatos antes de noticiá-los (sim, eis um dos papéis do verdadeiro jornalista) relegado à suspeita de “fake” (termo norte-americano para designar o que é falso). Tudo aquilo que não cabe num legítimo veículo de comunicação, vale reiterar.

O mais perverso é ver tantas pessoas acreditando no que leem por aí; colocando a própria saúde e/ou o bem-estar dos filhos em risco; alguns até confessando que não se informam pelos canais onde haja jornalistas (diferente dos que espalham boatos, pois a esses cabe apenas o velho termo fofoqueiro).

Mas hoje, 7 de abril, Dia do Jornalista, vamos exaltar os mágicos resultados do trabalho feito com compromisso. Aquele que permite ver a alegria de uma mulher aposentada após penar por anos com uma doença crônica e saber que um texto seu contribuiu com tal resultado.

Aqui falamos de dona Edna Oliveira Melo. Lembram dela? (Essa história foi tornada pública em 2009, a partir de um texto assinado por esta que vos escreve e logo abraçada pelos colegas jornalistas em Itabuna. No ano passado, em tempos de pandemia, ela seguiu para outro plano).

E a alegria de alguém que encontra um familiar desaparecido, quando foi vista a imagem dele em uma reportagem escrita ou em vídeo? Ou a festa quando entrevistamos um centenário ou centenária, dali colhendo lições de vida que não têm preço…?

Eu poderia citar (com licença para encerrar na primeira pessoa do singular) “n” exemplos, mas fico por aqui celebrando nossa valorosa profissão. Ao mesmo tempo, rogando para prevalecer na sociedade a certeza de que são maioria, sim, aqueles a honrar nossa profissão.

Celina Santos é chefe de redação do Diário Bahia e, concursada, integra a assessoria da Câmara de Itabuna. Formada em Comunicação Social (Rádio e TV) pela Uesc; Jornalismo pela UniFTC; e pós-graduada em Jornalismo e Mídia pela então FacSul (Unime).

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O Curso de Jornalismo da Unime Itabuna promoverá um bate-papo com profissionais da área, nesta quinta (5), a partir das 18h, no Shopping Jequitibá, na área em frente à C&A.
Ramiro Aquino, Marcel Leal, Lohana Magnavita e Karen Póvoas, além do professor Tuca Souza, vão abordar a relevância e as perspectivas do jornalismo regional. A programação é alusiva ao Dia do Jornalista, 7 de abril.
O bate-papo com os profissionais de veículos como Morena FM, Jornal A Região, e TVs Cabrália e Santa Cruz terá mediação de Laísla Ohara.
Após o bate-papo, haverá stand up comedy reunindo nomes como Lucas Hussein e Hanny Montenegro. Para o professor Rodrigo Muniz, a atividade dá vazão às atividades desenvolvidas pelos alunos durante o curso.

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Vily Modesto e Odilon Pinto, ícones do jornalismo baiano.
Vily Modesto e Odilon Pinto.

Vily Modesto, marcou época na Rádio Jornal de Itabuna, com o programa matinal das 7 às 9 da manhã, que levava seu nome. Músicas (com destaque para seu ídolo e amigo Roberto Carlos), notícias e entretenimento, em duas horas diárias do melhor que o rádio podia oferecer em termos de qualidade.

Odilon Pinto fez história,  também na Rádio Jornal, com um programa voltado para o homem do campo. Das 5 as 7 da manhã, a voz de Odilon ressoava por todo o Sul da Bahia, tendo como ponto alto o quadro “Vida na Roça”,  cartas dos ouvintes contando experiências de vida, que Odilon dramatizava e que depois se transformam em livro editado pela Via Litterarum e numa coluna fixa, Coisas da Vida,  no Diário Bahia.

Vily e Odilon, dois marcos e mestres da comunicação regional, se afastaram dos microfones e vivem, por opção ou necessidade, períodos de reclusão.

Fizeram história e fossemos mais cuidadosos em homenagear quem efetivamente merece, deveriam ser reverenciados inclusive pelos cursos de comunicação, tão desleixados que são quando se trata de olhar para o passado, de assimilar experiências extraordinárias.

No Dia do Jornalista, o Blog do Thame celebra Vily e Odilon, dois grandes jornalistas que fazem falta, muita falta.

Viva Vily. Viva Odilon.

Vivam ambos, protagonistas e não meros figurantes nessa vida que a gente vive uma vez só.

Do Blog do Thame

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– Assassinos e mandantes tiveram proteção do aparato policial

Valéria, Denise, Wagner e Marcel: reparação à morte de Manuel Leal (Foto Manu Dias).

A família do jornalista e proprietário do jornal A Região, Manuel Leal, assassinado em 14 de janeiro de 1998 em Itabuna, recebeu das mãos do governador Jaques Wagner a indenização de R$ 100 mil recomendada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), da Organização dos Estados Americanos (OEA), num ato ocorrido há pouco, no CAB.

Participaram do ato na governadoria os filhos Marcel e Valéria Leal e a superintendente da Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, Denise Tourinho. O governador baiano disse que “a indenização não devolve a vida do jornalista, mas é um passo a mais contra a impunidade no estado”.

A indenização é paga no Dia do Jornalista, 7 de abril. Também é um reconhecimento do estado de sua inoperância (ou negligência) no caso. Todas as investigações, sejam policiais ou conduzidas pela própria família, apontavam para uso do próprio aparato policial do estado para proteger mandantes e assassinos.

Leal morreu quando denunciava irregularidades na prefeitura de Itabuna (Foto Arquivo).

Manuel Leal foi assassinado quando chegava à sua residência, no bairro Jardim Primavera, em Itabuna, há 12 anos. Três homens desceram de uma caminhonete GM Silverado e executaram o jornalista com seis tiros. Apesar da residência de Leal estar situada entre o complexo policial de Itabuna e o 15º Batalhão da Polícia Militar, e a menos de 400 metros de um e de outro aparelho policial, ninguém foi preso.

A investigação se arrastou por muito tempo e registrou vários “equívocos” de delegados do caso, dentre eles Jacques Valois Coutinho, Gilberto Mouzinho e Raimundo Freitas, e o promotor público Ulisses Campos Araújo. Apenas um dos apontados como executores do jornalista chegou a ser preso, o ex-agente da polícia civil Monzar Brasil, que foi demitido da Secretaria de Segurança Pública da Bahia em 4 de dezembro do ano passado.

O inquérito do  caso deverá ser reaberto. Dos apontados como envolvidos na execução, também foi a júri o ex-presidiário Marcone Sarmento, que acabou sendo absolvido por um conselho de sentença formado por parentes do ex-prefeito e ex-deputado Fernando Gomes e funcionários da prefeitura de Itabuna à época. Dias antes do assassinato, Leal recebeu ameaças de assessores diretos do prefeito, o que fez aumentar as suspeitas da autoria do atentado à liberdade de imprensa.

Fernando era sempre citado no rol de mandantes do crime contra Leal, assim como a ex-secretária de Governo Maria Alice Pereira Araújo e o delegado da polícia civil, Gilson Prata. Marcone tinha ligações com Maria Alice e Fernando Gomes. Hoje ele é funcionário do diretório itabunense do DEM e nega relação com o crime.

Leal foi um dos dez jornalistas e radialistas assassinados na Bahia nos anos 1990. Nenhum dos mandantes de crimes estão na cadeia. Em 1998, momentos depois da morte de Leal, o ex-governador Paulo Souto visitava Itabuna e afirmava que esclarecer o crime era “uma questão de honra” para o estado. Não esclareceu.