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Descoberta molécula capaz de inibir a vassoura || Foto Eduardo Cesar/Revista Pesquisa Fapesp

Da Agência Fapesp

Em artigo publicado na revista Pest Management Science, pesquisadores brasileiros descreveram o desenvolvimento de uma molécula capaz de inibir o avanço da vassoura-de-bruxa – principal praga da produção cacaueira no Brasil.
A pesquisa foi realizada durante o doutorado de Mario Ramos de Oliveira Barsottini, com apoio da Fapesp e orientação do professor Gonçalo Pereira, do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB-Unicamp).

Participaram da investigação cientistas do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (Cena-USP), do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) e da Universidade de Warwick, do Reino Unido.

Causada pelo fungo Moniliophthora perniciosa, a vassoura-de-bruxa tem esse nome porque deixa os ramos do cacaueiro secos como uma vassoura velha. As áreas afetadas não conseguem realizar fotossíntese e, para piorar, liberam substâncias tóxicas que diminuem a produção de frutos. Os poucos frutos produzidos se tornam inviáveis para a fabricação de chocolate. A doença vem causando prejuízos aos produtores de cacau no Brasil desde 1989.

“Os fungicidas mais usados atacam geralmente a respiração ou a estabilidade da membrana celular do fungo. Os do primeiro grupo não funcionam contra a vassoura-de-bruxa. Já os que atacam a membrana celular funcionam em laboratório, mas não no campo, de acordo com os produtores”, disse Barsottini, primeiro autor do artigo.
O alvo das novas moléculas estudadas pelo grupo de Pereira é a enzima oxidase alternativa (AOX). Os pesquisadores descreveram seu papel na sobrevivência do fungo em artigo publicado na revista New Phytologist em 2012.Leia Mais

André Franco, ex-aluno da UESC, realizou pesquisa publicada em periódico
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Peter Moon | Agência Fapesp

Pesquisa realizada no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da Universidade de São Paulo, em Piracicaba, acaba de mensurar o impacto sobre a biodiversidade do solo da transformação de áreas de floresta em pastagens e de pastagens em canaviais.

A conclusão é que esse impacto é devastador sobre a macrofauna original do solo: 90% dela – formada por cupins, formigas, minhocas, besouros, aranhas e escorpiões – desapareceu por completo.

A pesquisa foi realizada por André Luiz Custodio Franco, durante o seu doutorado e estágio de pesquisa no exterior realizados com bolsas da Fapesp, com orientação do professor Carlos Clemente Cerri.

Os resultados do trabalho foram publicados no periódico Science of the Total Environment.

“Nossa intenção foi verificar como a mudança no uso da terra interfere na emissão de gases e no armazenamento de carbono no solo e, em consequência, na composição da matéria orgânica, ” diz Franco.

Invertebrados, microrganismos e fungos desenvolvem um grande papel na reciclagem do solo, graças à sua ação na decomposição da matéria orgânica. Eles compõem a microfauna do solo. Formigas e cupins – que integram a macrofauna do solo – são os principais agentes estabilizadores, evitando a erosão graças à construção de seus ninhos.

Para verificar o que acontece com a biodiversidade com a mudança no uso da terra, os pesquisadores retiraram blocos de solo na forma de cubos com 30 centímetros de profundidade.

Essas amostras foram coletadas em três canaviais localizados em Jataí, Goiás, Ipaussu e Valparaíso, São Paulo. Nessas áreas uma parte do pasto foi convertida em cana. A equipe também coletou blocos de áreas nativa, de mata, para demonstrar a biodiversidade do solo em um sistema estável, antes do desmatamento para pastagem.

“Quando a mata nativa é convertida em pasto, todos os predadores de topo do solo, como as aranhas e os escorpiões, desaparecem”, diz Franco. “Na ausência de predadores, as populações de cupins e minhocas explodem. A quantidade de cupins no solo aumenta nove vezes. Já a de minhocas cresce 14 vezes.”

Por outro lado, quando o pasto é convertido em canavial, as populações de cupim e minhocas também são eliminadas, em decorrência da correção química do solo.

O solo nativo é ligeiramente ácido e os invertebrados e microrganismos estão adaptados para viver num ambiente de leve acidez. Como a cana precisa de um solo mais alcalino, a agroindústria introduz quantidades maciças de calcário – além de fertilizantes, herbicidas e pesticidas. “Isto torna o solo tóxico, especialmente para as minhocas”, diz Franco.

O resultado da correção química do solo e, posteriormente, da adubação química é a eliminação quase completa de toda a sua biodiversidade. Os poucos animais e microrganismos que poderiam se adaptar a um solo levemente alcalino são eliminados pelos agrotóxicos.

“Cerca de 90% da macrofauna do solo desapareceu. Em termos de grupos animais, perdeu-se 40%”, diz Franco. Ou seja, o solo dos canaviais é um solo extirpado de biodiversidade – e, em consequência, instável.

ENGENHEIROS DO SOLO

Cupins e formigas são os “engenheiros do solo”, observa Franco. Eles são importantes para manter sua estabilidade. Onde há mais animais a estabilidade do solo é maior. Decorre daí que menos animais significa menor estabilidade e, por conseguinte, maior risco de erosão.

Outra questão a ser contabilizada é a perda de carbono do solo. A ação de cupins e formigas faz com que partículas de carbono sejam encapsuladas em microagregados de argila ou areia e permaneçam protegidas da decomposição por microrganismos.

Já as minhocas estabilizam as partículas de carbono que passam pelo seu trato digestivo e que ficam igualmente encapsuladas, fora do alcance dos microrganismos.

A perda da macrofauna coloca em risco a estabilidade do solo e a sua capacidade de armazenar carbono, além de contribuir para a liberação de carbono na atmosfera.

O artigo de André L.C. Franco, Marie L.C. Bartz, Maurício R. Cherubin, Dilmar Baretta, Carlos E.P. Cerri, Brigitte J. Feigl, Diana H. Wall, Christian A. Davies Carlos C. Cerri, Loss of soil (macro)fauna due to the expansion of Brazilian sugarcane acreage, foi publicado em Science of the Total Environment.